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Ah, chegou sexta, galera! E, ó, está quase na hora do happy hour. Aí, para fazer um aquecimento em alto estilo até que as seis chegue e com ela a boa folga do final de semana, nada melhor que uma musiquinha boa para relaxar, não é mesmo? Bora aumentar o som? Criolo – Fermento Pra Massa DJ Dolores & Orquestra Santa Massa - Essa Dança é Moda Hozier – Take Me To Church La Roux – Bulletproof Lily Allen – Fuck You MOONSPELL – Lickanthrope Queen – Bohemian Rhapsody Queens of the Stone Age – I Sat By The Ocean Sara Bareilles – Gravity Soulstripper – Não Trocaria um Sorvete de Flocos Por Você The Beatles - Help The Doors – Riders on the Storm

Desabafo de segunda-feira

[caption id="attachment_30448" align="alignright" width="620"]Reprodução/Beyoncé Reprodução/Beyoncé[/caption] Alexandre Parrode Sabe aquelas coisas das comédias românticas norte-americanas melosas e que cheiram pipoca encaramelada de anilina rosa, nas quais dois estranhos se encontram, se apaixonam à primeira vista e vivem um fim de semana de amor inesquecível, num parque de diversões no cair da noite? Pois é, baby, não acontecem na vida real. Este é um relato do que aconteceu com um conhecido meu — amigo próximo, confidente de barzinho. Mas também é uma história que já aconteceu com uma amiga, com o amigo de uma amiga, com a prima da minha colega de trabalho e com o padeiro da prima da minha colega de trabalho e várias vezes com a filha dele, no auge de seus 30 anos. Já aconteceu com a pequenina torcida do flamengo; talvez e inevitavelmente, pode já ter acontecido com você. O meu amigo, todo iludido, viajou mais de mil quilômetros para passar um fim de semana com um affair on-line. Planejou tudo, desde o corte de cabelo ao apartamento que ficaria. Contou os dias para o tal encontro. A promessa era de romance e, claro, certas safadezas carinhosas, entre lençóis. Lá foi ele, embriagado de expectativas e preso à segurança do combinado. Falsa, por sinal. Já no aeroporto, foi recebido com certa frieza. Em troca de um abraço carinhoso e talvez até um beijinho, ganhou apenas um “oi” e aquele rápido encontro de corpos constrangidos, onde sequer o aperto de mão é decente — imagine lá o abraço. “É o jeito dele. É a cultura daqui que é diferente da minha”, pensou meu tão conhecido. O caso é que, quando queremos que as coisas aconteçam do nosso jeito, num passo a passo, achando que controlamos o destino só com nossa imaginação, tendemos a distorcer a tal imprevisibilidade da realidade e fingir que não estamos vendo o que, de fato, está acontecendo. Acredito que seja uma maneira do cérebro acalentar o peito, quando este está prestes a ser aberto, sem anestesia alguma. Aberto na tora. Foram a uma balada da cidade. Antes fosse que estivessem de mãos dadas. Mas nada disso. Nada de abraços ou beijos apaixonados. Aquele abismo desconfortável entre os dois continuava a incomodar meu conhecido, feito sapato apertado que encharca. Até chegou a perguntar ao rapaz se ele não havia se interessado por seus olhos azedos, imaginando se o problema fosse esse ou o tom da voz ou, ainda, se o maldito cabelereiro tinha errado no corte de cabelo e fosse esse o motivo daquele silêncio todo que sai da boca dele. Antes que saísse tais perguntas, indagou se ele queria que fossem apenas “amigos” — como se isso, naquele ponto, fosse possível.  Resposta negativa seguida de um beijinho mixuruca, como se o rapaz estivesse com medo de ser visto por alguém ali na festa. Estava mesmo: “Certeza que meu ex está aqui”, disse ele ao meu conhecido. Ora, que tipo de pessoa fala do ex-namorado no primeiro encontro e, pior, demonstrando preocupação? — transtornei-me, quando meu amigo me contou. A esse ponto muita gente já deve estar se arrepiando aí na frente do computador, pensando “que cara babaca”. Bem babaca, é isso mesmo. A certa altura da noite, ele sentiu que o rapaz estava demorando demais para voltar com sua cerveja. Perambulou a pista de dança, cheia de luzes e pessoas vibrando, e não precisou muito para encontrá-lo... nos braços de outro cara. Ficou cego de raiva. Mas não raiva só do rapaz, que agora dava os tais beijos safados e carinhosos noutros lábios. Raiva de si mesmo. Quando se chora e o vermelho do nariz escorre não dá mais para ficar se fazendo de palhaço. Ao se deparar com tal cena, meu conhecido se deparou também com todas as certezas que ele tinha tido visto no silêncio do tal rapaz. Ainda assim, não queria aceitar, pois se negava a crer que tudo aquilo que ele havia planejado tinha ido por água abaixo. Pôs o circo abaixo. Gritou. Xingou. Esperneou. Sofreu. Chorou. Voltou para o apartamento com uma nova expectativa, tão conhecida, de que o rapaz viesse atrás, correndo, se desculpando, oferecendo-lhe o céu e a Terra e o diabo a quatro da Via Láctea inteira. Ou, quem sabe, com apenas um pouco de afeição, carinho e interesse debaixo do braço, em meio ao silêncio que ainda restava. Viesse atrás com o que ele havia ido buscar. Acordou com ressaca moral e com o rapaz dormindo ali do lado. Queria acreditar que ele não tinha ficado com outro na sua frente, sob a desculpa de que “o menino tinha ido à festa apenas para ficar com ele”. Parece piada, mas não é. Inclusive, o rapaz se disse “assustado” com a atitude de meu conhecido, porque achava que ele tinha embarcado no avião para “curtir” a cidade — e não para ficar de “casal”. Dizem que existem sempre duas verdades. A cama era de casal, mas a viagem não. As mensagens trocadas durante meses para combinar o encontro eram de casal, mas a viagem não. Daí, passaram aquele sábado como “amigos”. O rapaz, ainda ultra “assustado” com tudo, se manteve na mesma: distante. Deixou meu conhecido agonizar a frustração, sentir a dor da rejeição e consolou-lhe com sua simpatia — muy simpático! Ressentido e infeliz com o que havia se tornado seu fim de semana cinematográfico — que havia passado de “Diário de Uma Paixão” a “O Albergue” —, meu conhecido ainda tentou reverter a situação. Engoliu o orgulho, passou por cima de todo seu amor-próprio e, ainda, foi lá mendigar carinho. Conseguiu, então, a simpatia do rapaz ao dizer que tinha ido ali para ficar com ele, que lhe respondeu: “Então fique”. Ah! Se fosse tão fácil assim, não estariam naquela situação. Como diz a música “Um bom encontro é de dois”. E, claramente, meu conhecido era só “um” naquela empreitada. Ainda no sábado, que estava mais para uma terça-feira, foram novamente para uma balada. Exausto de se humilhar, ele acabou por se contentar com o álcool. Ah, ele se afogou naquele companheiro que, mais que teoricamente, não o abandonaria. Triste, caminhou para o hotel com o rapaz, acreditando que poderia dar certo. Voilá, outro ledo engano. Dormiu sozinho. Apesar de o rapaz estar lá, estirado ao seu lado. Não o procurou em sequer meio milésimo da noite. O deixou ali, como uma presa em teia de aranha. Imóvel, atordoada pelo veneno, sentindo a dor consumir-lhe as entranhas, mas consciente. Em vez de comer-lhe de uma vez, desimportando o peito aberto, o rapaz, como a aranha, o prendeu. E não o deixou ir até que tivesse sofrido toda a agonia. “Que babaca”, foi assim que reagi ao saber de cada detalhe história. Claro, óbvio que não consigo entender o que meu conhecido passou lá. É claro que não consigo, afinal essas dores do coração, como a morte, só quem experimenta, sabe. No entanto, perguntei-lhe o que o havia machucado mais e ele me respondeu de pronto: “A frustração. Mesmo arrasado, eu queria que ele me procurasse. Queria que ele me tomasse em seus braços e me beijasse com paixão. Mas me restou, apenas, compaixão”. No espelho, olhando para mim, meu conhecido refletiu mais um pouco e concluiu: “I’m a pretty fucking douchebag”. E já era segunda-feira.

As 10 bandas goianas de rock que você não deve deixar de ouvir

[caption id="attachment_30393" align="aligncenter" width="620"]Foto: Venâncio Cruz Foto: Venâncio Cruz[/caption] Goiânia é o centro do rock cravado no meio do Cerrado e isso já não é novidade para ninguém. Apesar de a cidade ser rotulada como a capital da música sertaneja, outros estilos musicais também conquistaram espaço e conseguem produzir excelentes artistas e bandas de destaque nacional e, até mesmo, internacional. Segue a lista das 10 bandas de rock “made in Goiás” cujas sonoridades ganham e ganharam notoriedade além das divisas do Estado e que não podem passar despercebidos:   Black Drawing Chalks Poucas foram as bandas que levaram o nome de Goiás para tão longe como Black Drawing Chalks. O grupo teve seu nome tirado de uma caixa de lápis carvão alemão muito antigo. Era formada por Victor Rocha e Douglas de Castro, enquanto ainda eram alunos da faculdade de Design. A banda cresceu e é apontada, atualmente, como a maior revelação do rock brasileiro, visto que foi a legítima representação do Brasil no palco alternativo do festival Lollapalooza, em São Paulo, em 2012:   Boogarins Com nome de flor, a de jasmim, que exala o “amor puro”, Boogarins é a mais grata recente revelação da cena rockeira destes campos. Com pegada psicodélica, o quarteto conseguiu um contrato de três discos com o selo Other Music Recording, uma importantíssima loja de discos de Nova York. Capitaneada por Fernando Almeida, o conhecido “Dinho”, e Benke Ferraz, a mais genuína herdeira da tradição do indie rock de Goiânia se apresentou recentemente na Espanha e é uma das atrações principais do festival Lollapalooza deste 2015, em São Paulo, com apresentação marcada para o dia 28 de março:   Violins O que falar de Violins? Misture aí Beatles, Zombies, Beach Boys, uma pitada progressiva de Pink Floyd e marine no Grunge e no indie 90´s. Adicione também música brasileira da melhor qualidade, como Chico Buarque e Caetano. Tcharam: Violins! O grupo foi formado em 2001 como Violins and Old Books (e que rendeu o EP “Wake up and Dream”), mas em 2003 já chamava a atenção com uma bela estreia, “Aurora Prisma”. Vieram em seguida seguir o esplendido “Grandes Infiéis”, “Tribunal Surdo” (2007) e “Redenção dos Corpos” (2008). Os discos trazem uma musicalidade trabalhada nos detalhes, nas palavras de alguém que percebe muito bem o que está acontecendo no mundo à sua volta. Beto Cupertino é o cara das letras escritas e cantadas pelo Violins, no qual cravaram um de seus álbuns (Grandes Infiéis) entre os 10 melhores discos nacionais dos anos 2000, em votação feita pelo site Scream & Yell:   Cambriana Cambriana é uma banda jovem que apostou numa estratégia bem atual de divulgação de seu trabalho: a internet. Por meio do universo digital, dispondo suas músicas para download em blogs, sites e, claro, nas redes sociais, o grupo angariou e conquistou seu espaço. As letras da banda abordam aspectos da vida que são passíveis de identificação por grande parte do público, levando em consideração que as músicas são cantadas em inglês. O álbum de estreia da banda foi gravado em estúdios caseiros, o que não interfere em nada na qualidade sonora do conjunto. As músicas são leves, de batidas contagiantes, instigantes, enfim, som de gente grande feito para um público de ouvidos refinados:   MQN Formada em 1994, o MQN foi uma das mais tradicionais bandas não somente de Goiás, mas de todo o Brasil — pelo menos no cenário do indie rock brasileiro. O quarteto que abandonou os palcos em 2012, já fazia rock quando Goiânia era de fato uma cidade pacata do interior do Brasil, cuja turma da botina, viola e chapéu reinava soberanamente nessas bandas do “velho oeste brasileiro”. As músicas do grupo eram marcadas por refrãos carregados da mais pura essência do roqueiro que beberam da água dos anos 1990: shows agressivos, repletos de gritos, palavrões, cusparadas, cerveja, invasões de palco e empurrões. Era esse veneno que destilava a víbora do Cerrado. Como o próprio nome da banda diz: Melhor do que nada (riso):   Hellbenders A banda goiana de metal stoner está em estúdio, gravando seu segundo disco no renomado Rancho De La Luna (onde apenas convidados podem gravar), na Califórnia, nos Estados Unidos. O Hellbenders será a primeira banda brasileira a ter um álbum produzido nos estúdio onde discos de conjuntos como Kyuss, Queens Of The Stone Age e Foo Fighters foram gestados. É por essas e outras que este quarteto, que surgiu em Goiânia em meados de 2007 e que fazem o legítimo rock garagem goianiense, está por aqui:   Carne Doce A banda liderada pelo casal Salma Jô e Macloys Aquino tem feito nos últimos tempos muito barulho! Melhor dizendo, tem adoçado muitos shows por aí. Com letras sobre luxúria, ciúmes e sobre a mercantilização do sertão, o som tem agradado as mais diversas línguas. Além de batidas leves, com bases harmônicas combinadas com uma melodia impulsionada por um vocal poderoso, esse grupo merece nossa atenção:   Girlie Hell Essa banda feminina de metal já fez apresentações ao lado de nomes de peso como Bad Religion, Kyuss Lives, Sepultura e a Crucified Barbara –– com quem fizeram uma pequena turnê pelo país. Lançado em 2012, o disco de estreia “Get Hard!” foi presença constante entre as listas dos melhores do ano e recebeu muitos elogios da crítica especializada: “Hard rock bem consistente e convincente”, declarou Silvio Essinger de O Globo. Então segura o som pesado destas goianas:   Overffuz O som deste trio tem evoluído, portanto nada mais justo deles terem se apresentado nos principais festivais que rolam em Goiânia, como o Bananada e demais eventos no decorrer do ano. Não fosse só o som produzido pela banda e a necessidade de se apresentar, o Overfuzz também é conhecido por apresentações poderosas.   Trivoltz Trivoltz é um trio muito barulhento que vem da efervescente cena hard rock de Goiânia e lançou seu primeiro disco de estúdio em 2010, tendo prensado o trabalho em vinil na República Tcheca e viajado para divulgar o álbum nos anos seguintes. A banda se destaca pela boa produção, acompanhada da vitalidade do rock and roll sem deixar de lado a criatividade e a vontade de fazê-lo muito bem feito. O trabalho desses caras merece ser notado:

Na contramão de Kubrick, mineiro condena a violência de mãos dadas com a civilização

Matheus Moura faz, em seu romance gráfico, o que Coetzee não fez: explicita sua militância a favor dos chamados Direitos dos Animais

A expansão do mercado de arte em Goiânia

Muitos ainda veem quadros e esculturas como peças de decoração financeiramente inacessíveis. Não é bem assim

Lançamentos

livroLivro Contrastar a visão de um eclipse total do sol com a dos pei­xes num aquário de Londres. Imagine quem poderia fazer isso. Apenas a mestre Vir­gi­nia Woolf. O SOL E O PEIXE Autor: Virginia Woolf Preço: R$ 37,90 -- Autêntica             Música2 Música O tão aguardado 13° álbum da rainha do pop chega às prateleiras mais cedo. O motivo? O álbum vazou, o que não foi ruim, pois acabou emplacando um hit: “Living For Lo­ve”. Rebel Heart (Deluxe Edition) Intérprete: Madonna Preço: R$ 38,90 -- Universal     Filme   Filme “Eu posso te amar. É? Acho que sim. Você quer me amar. Quero. Têm vários tipos de amor, qual você quer?”. Baseado em um conto de Jorge Furtado, este é “Boa Sorte”. Boa Sorte Direção: Carolina Jabor Preço: R$ 39,90 -- Imagem Filmes

Agenda

  • Que tal aproveitar a viagem a São Paulo –– essa que o leitor vai fazer para ver Zaz, Tulipa e Céu no Circuito Cultural –– e dar um mergulho no universo de Marina Abramović?
  • A exposição “Terra Comunal + MAI”, que promete ser uma das maiores retrospectivas da artista sérvia já realizada na América do Sul, fica em cartaz de 11 de março a 10 de maio.
  • A performer vem ao Brasil para oito encontros –– que prometem ser inesquecíveis –– com o público. Não perca!

Ao centenário!

Não é de ver que já faz 100 anos? Nasceu em um verão de 1915 e já se foi, deixando literatura imaginada como herança. Jus às boas palavras de José J. Veiga, o Sesc Goiás e a UFG homenageiam o mais cosmopolita dos goianos com seminários nos dias 18 e 19 de março. A Companhia das Letras deixará, sobre a mesa: “Os cavalinhos de Platiplanto” e “A hora dos ruminantes” –– as duas primeiras obras de Veiga. Fique atento que as inscrições terminam no dia 13. Tudo acontecerá no Sesc Centro.

Je veux Zaz, Tulipa e Céu no Circuito SP de Cultura

[caption id="attachment_30540" align="alignnone" width="620"]Foto: Reprodução Foto: Reprodução[/caption] Pode botar uma roupa toda francesa na mala, enfeitar-se com flores do jardim e conchas do mar. Por quê? Ora, é que Zaz, Tulipa Ruiz e Céu vão embalar os palcos do Ibira­puera, em São Paulo. E, ó, temos que comprar logo as passagens, pois o show já é neste dia 22 de março. As canções de “ZAZ”, primeiro álbum da cantora francesa, “Recto Verso” e do recente “Paris”, junto às malemolências de “Caravana Sereia Bloom” e “Vagarosa”, da Céu, e ao aroma de “Tudo Tanto” e “Efêmera”, de Tulipa, celebram a música além de todas as fronteiras e prometem uma super abertura da segunda edição do Circuito São Paulo de Cultura. E pode ficar tranquilo porque a entrada é totalmente free! Te vejo lá.

Local de artes novinho em folha para Goiânia: Culturama!

Ó, pode se animar porque tem um lugar novinho em folha, em Goiânia, totalmente dedicado às artes. É o Culturama! Fica bem ali, no Setor Bueno, e na direção estão Ruskaya Maia e Ceres Lêda F.F. Rúbio, ambas da psicanálise. O interessante é que tem uma galera reconhecida pelo que faz na cidade cuidando do espaço. São eles: o cineasta Pedro Novaes; o filósofo e professor da UFG Daniel Christino; a artista plástica Sophia Pinheiro; a jornalista e escritora Larissa Mundim. E o que tem lá? Vai vendo: tem cibercultura, audiovisual, artes visuais (desenho e fotografia) e literatura como eixos de atuação. Na tarde desta sexta-feira, 13, o designer Polli di Castro ministra a oficina Cartaz de Cinema. E neste março que se inicia ainda tem: oficina de desenho e lambidaço; curso sobre site responsivo e cibercultura; além de um bate papo sobre o case “Nega Lilu”. Vai perder? Para saber mais informações sobre o local é só clicar www.espacoculturama.com.br.

Agosto

Marcela Haun Especial para o Jornal Opção [caption id="attachment_30342" align="alignnone" width="620"] Reprodução[/caption] O sol do inverno iluminava os vários tons de verde da praça. O vento gelado, que cortava os meus lábios, parecia querer retornar o meu corpo para a minha cama. Três ou quatro pessoas atravessavam as ruas, todas com direções e tempos diferentes. Sentei-me no banco de concreto. Sabia que eu estava ali mais cedo do que de costume, mas é que não existe coisa mais bonita do que apreciar o sumiço dos orvalhos ou o brilho do sol tremeluzindo através das folhas das altas árvores. Queria ter escrito sobre isso antes. Enquanto esperava a minha carona de todos os dias, observava a casa à minha frente: portão branco e paredes verdes, recém-pintadas, com um banquinho na entrada. E, nele, uma história da qual tive o prazer de acompanhar por muito tempo. Todos os dias, um senhor de bicicleta amarela chegava às sete da manhã e tocava a campainha. Ele sentava no banco, arrumava o cabelo com as mãos e tentava sentir o próprio hálito. Depois de alguns minutos, uma mulher ruiva abria a porta e sentava-se ao lado dele, dando-lhe um beijo que ela mesma interrompia. Talvez por preferir beijos que ficam a desejar, que deixam aquele gosto interminável na boca. Era sempre assim. Não im­portava se o sol nascia com gosto ou se os pingos grossos de uma chuva ameaçavam por entre nuvens carregadas. A bicicleta amarela sempre voltava a fazer as mesmas rotações. Às vezes o senhor carregava consigo uma flor recolhida no caminho ou a mulher saía da casa calçando um sapato às pressas. Eu sempre gostava de tentar adivinhar as conversas: astrologia, piadas, sacanagens e afins. Os gestos variavam: ora apontavam para cima, ora só entrelaçavam as mãos. E assim ficavam e iniciavam as manhãs de agosto com uma perfeita doçura. Mas o tempo nunca foi muito amigo. Os minutos deles pareciam passar exageradamente depressa, até dava para sentir pena disso. Não houve livro que conseguisse me fazer chamar mais atenção do que aquela paixão gastada no banquinho da casa. Simplório e sincero, que pode ter surgido de um amor antigo de colégio, ou de algum amigo em comum ou até mesmo de um esbarrão numa padaria qualquer. Destino. Mas é que hoje não houve beijo, não houve risada, não houve amor. O mesmo senhor, com a mesma bicicleta amarela, chegara no horário e local de sempre. Tocou a campainha com o mesmo dedo, sentou do lado direito do banco e esperou, passivamente, para ver os mesmos olhos que almejava por todos esses tempos. Dois, sete, quinze minutos. A cabeça baixa e a não insistência em fazer o som da campainha se alastrar pela casa verde diziam mais que mil palavras ou mil lágrimas. Ela não viria. E nem ele voltaria. Marcela Haun é jornalista e cronista

Playlist Opção

Ihuul! Chegou sexta-feira e o que a gente mais quer? Ah, a gente quer tirar a gravata, o sapato apertado e quer muita música. Muita música! Seja para relaxar, quase até que para uma sonequinha, ou para animar a galera, os amigos, para badalar. Então, aí estão as músicas que mais embalaram a redação do Jornal Opção, esta semana! Chet Faker – (Lover) You Don't Treat Me No Good (Sonia Dada cover) Cícero - Barely Legal (Strokes Cover) Karol Conka feat.Tropkillaz – Tombei Kelly Clarkson - Run Run Run ft. John Legend Nonpoint - Alive and Kicking Oficina G3 – People Get Ready Tegan & Sara - Where Does The Good Go The Strokes - Last Nite

Uma lista impossível: os 15 melhores poemas de amor

Yago Rodrigues Alvim Sabe aqueles textos que te inquietam, agoniam sem sequer uma palavra estar escrita? E nem precisa ser texto. Sabe aquela coisa que te bota medo, antes mesmo que exista uma ínfima possibilidade que aconteça? Que te estremece mesmo, que te deixa perdido, sem qualquer indicação de caminho? Foi bem assim ter que elencar alguns poemas e intitulá-los como “os melhores poemas”. Por isso, alguns jornalistas, escritores, artistas ajudaram a preencher as próximas linhas de mais puro amor. Para esclarecer, não seguem uma hierarquização de “qual é o melhor”, até porque, às vezes, o melhor poema de amor pode ser um olhar, um sorriso, um abraço. Pode ser qualquer coisa que te diga, te faça sentir que “te amo”. Antes, bem vale dizer que só seria uma lista definitiva se todas as poesias fossem conhecidas e se fosse possível todas lê-las e, ainda, se todas escritas já tivessem sido. Como não, é efêmera a lista, breve, tal qual um susto de amor. E, ainda há o alerta: é quase impossível não repetir Drummond, não repetir Vinícius, assim como é quase impossível viver sem amar ou não ser ridículo, caro Pessoa, ao falar de amor. [caption id="attachment_29916" align="alignnone" width="620"]"O Beijo" de Gustav Klimt "O Beijo" de Gustav Klimt[/caption] As sem razões do amor - Carlos Drummond de Andrade Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, E nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça E com amor não se paga.   Amor é dado de graça É semeado no vento, Na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários E a regulamentos vários.   Eu te amo porque não amo Bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca, Não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, Feliz e forte em si mesmo.   Amor é primo da morte, E da morte vencedor, Por mais que o matem (e matam) A cada instante de amor.   Quero - Carlos Drummond de Andrade Quero que todos os dias do ano todos os dias da vida de meia em meia hora de 5 em 5 minutos me digas: Eu te amo.   Ouvindo-te dizer: Eu te amo, creio, no momento, que sou amado. No momento anterior e no seguinte, como sabê-lo?   Quero que me repitas até a exaustão que me amas que me amas que me amas. Do contrário evapora-se a amação pois ao não dizer: Eu te amo, desmentes apagas teu amor por mim.   Exijo de ti o perene comunicado. Não exijo senão isto, isto sempre, isto cada vez mais. Quero ser amado por e em tua palavra nem sei de outra maneira a não ser esta de reconhecer o dom amoroso, a perfeita maneira de saber-se amado: amor na raiz da palavra e na sua emissão, amor saltando da língua nacional, amor feito som vibração espacial. No momento em que não me dizes: Eu te amo, inexoravelmente sei que deixaste de amar-me, que nunca me amastes antes.   Se não me disseres urgente repetido Eu te amoamoamoamoamo, verdade fulminante que acabas de desentranhar, eu me precipito no caos, essa coleção de objetos de não-amor.   Um poema de amor - Charles Bukowski (Tradução: Jorge Wanderley) todas as mulheres todos os beijos delas as formas variadas como amam e falam e carecem.   suas orelhas elas todas têm orelhas e gargantas e vestidos e sapatos e automóveis e ex- maridos.   principalmente as mulheres são muito quentes elas me lembram a torrada amanteigada com a manteiga derretida nela.   há uma aparência no olho: elas foram tomadas, foram enganadas. não sei mesmo o que fazer por elas.   sou um bom cozinheiro, um bom ouvinte mas nunca aprendi a dançar — eu estava ocupado com coisas maiores.   mas gostei das camas variadas lá delas fumar um cigarro olhando pro teto. não fui nocivo nem desonesto. só um aprendiz.   sei que todas têm pés e cruzam descalças pelo assoalho enquanto observo suas tímidas bundas na penumbra. sei que gostam de mim algumas até me amam mas eu amo só umas poucas.   algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas; outras falam mansamente da infância e pais e paisagens; algumas são quase malucas mas nenhuma delas é desprovida de sentido; algumas amam bem, outras nem tanto; as melhores no sexo nem sempre são as melhores em outras coisas; todas têm limites como eu tenho limites e nos aprendemos rapidamente.   todas as mulheres todas as mulheres todos os quartos de dormir os tapetes as fotos as cortinas, tudo mais ou menos como uma igreja só raramente se ouve uma risada.   essas orelhas esses braços esses cotovelos esses olhos olhando, o afeto e a carência me sustentaram, me sustentaram.   Eu Te Amo - Chico Buarque  Ah, se já perdemos a noção da hora Se juntos já jogamos tudo fora Me conta agora como hei de partir   Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios Rompi com o mundo, queimei meus navios Me diz pra onde é que inda posso ir   Se nós, nas travessuras das noites eternas Já confundimos tanto as nossas pernas Diz com que pernas eu devo seguir   Se entornaste a nossa sorte pelo chão Se na bagunça do teu coração Meu sangue errou de veia e se perdeu   Como, se na desordem do armário embutido Meu paletó enlaça o teu vestido E o meu sapato inda pisa no teu   Como, se nos amamos feito dois pagãos Teus seios inda estão nas minhas mãos Me explica com que cara eu vou sair   Não, acho que estás te fazendo de tonta Te dei meus olhos pra tomares conta Agora conta como hei de partir   Poeminha Amoroso - Cora Coralina Este é um poema de amor tão meigo, tão terno, tão teu... É uma oferenda aos teus momentos de luta e de brisa e de céu... E eu, quero te servir a poesia numa concha azul do mar ou numa cesta de flores do campo. Talvez tu possas entender o meu amor. Mas se isso não acontecer, não importa. Já está declarado e estampado nas linhas e entrelinhas deste pequeno poema, o verso; o tão famoso e inesperado verso que te deixará pasmo, surpreso, perplexo... eu te amo, perdoa-me, eu te amo...   Todas as cartas de amor… - Fernando Pessoa Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas.   Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas.   As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas.   Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas.   Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas.   A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas.   (Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.)   Amar - Florbela Espanca Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente Amar! Amar! E não amar ninguém!   Recordar? Esquecer? Indiferente!... Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente!   Há uma Primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!   E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar...   Amor que morre - Florbela Espanca O nosso amor morreu... Quem o diria! Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta, Ceguinha de te ver, sem ver a conta Do tempo que passava, que fugia!   Bem estava a sentir que ele morria... E outro clarão, ao longe, já desponta! Um engano que morre... e logo aponta A luz doutra miragem fugidia...   Eu bem sei, meu Amor, que pra viver São precisos amores, pra morrer, E são precisos sonhos para partir.   E bem sei, meu Amor, que era preciso Fazer do amor que parte o claro riso De outro amor impossível que há de vir!   Elegia: Indo para o leito - John Donne (Tradução de Augusto Campos) Vem, Dama, que eu desafio a paz, Até que eu lute, em luta o corpo jaz. Como o inimigo diante do inimigo, Canso-me de esperar se nunca brigo. Solta esse cinto sideral que vela, Céu cintilante, uma área ainda mais bela. Desata esse corpete constelado, Feito para deter o olhar ousado. Entrega-te ao torpor que se derrama De ti a mim, dizendo: hora da cama. Tira o espartilho, quero descoberto O que ele guarda, quieto, tão de perto. O corpo que de tuas saias sai É um campo em flor quando a sombra se esvai. Arranca essa grinalda armada e deixa Que cresça o diadema da madeixa. Tira os sapatos e entra sem receio Nesse templo de amor que é nosso leito. Os anjos mostram-se num branco véu aos homens. Tu, meu Anjo, é como o Céu De Maomé. E se no branco têm contigo Semelhança os espíritos, distingo: O que o meu Anjo branco põe não é O cabelo mas sim a carne em pé. Deixa que a minha mão errante adentre Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre. Minha América! Minha terra à vista, Reino de paz, se um homem só a conquista, Minha Mina preciosa, meu Império! Feliz de quem penetre o teu mistério! Liberto-me ficando teu escravo; Onde cai minha mão, meu selo gravo. Nudez total! Todo prazer provém De um corpo (como a alma sem corpo) Sem vestes. As jóias que mulher ostenta São como bolas de ouro de Atlanta: Os olhos do tolo que uma gema inflama Ilude-se com ela e perde a dama. Como encadernação vistosa, feita Para iletrados, a mulher se enfeita; Mas ela é um livro místico e somente A alguns (a qual tal graça se consente) É dado lê-la. Eu sou um que sabe; Como se diante da parteira, abre-Te: Atira, sim, o linho branco fora, Nem penitência nem decência agora. Para ensinar-te eu me desnudo antes: A coberta de um homem te é bastante   Bilhete - Mário Quintana  Se tu me amas, ama-me baixinho Não o grites de cima dos telhados Deixa em paz os passarinhos Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...   Poema XLIV - Pablo Neruda  Saberás que não te amo e que te amo pois que de dois modos é a vida, a palavra é uma asa do silêncio, o fogo tem a sua metade de frio.   Amo-te para começar a amar-te, para recomeçar o infinito e para não deixar de amar-te nunca: por isso não te amo ainda.   Amo-te e não te amo como se tivesse nas minhas mãos a chave da felicidade e um incerto destino infeliz.   O meu amor tem duas vidas para amar-te. Por isso te amo quando não te amo e por isso te amo quando te amo.   Os espaços do sono - Robert Desnos (Tradução de Eclair Antônio Almeida Filho) À noite há naturalmente as sete maravilhas do mundo e a grandeza e o trágico e o encanto. Nela as florestas se chocam confusamente com criaturas de lenda escondidas nos bosques. Há você. Na noite há o passo do caminhante e o do assassino e o do agente de polícia e a luz do revérbero e a da lanterna do trapeiro. Há você. Na noite passam os trens e os barcos e a miragem dos países onde é dia. Os derradeiros sopros do crepúsculo e os primeiros arrepios da aurora. Há você. Uma ária de piano, um brilho de voz. Uma porta range. Um relógio. E não somente os seres e as coisas e os ruídos materiais. Mas ainda eu que me persigo ou sem cessar me ultrapasso. Há você a imolada, você que eu espero. Por vezes estranhas figuras nascem no instante do sono e desaparecem. Quando cerro os olhos, florações fosforescentes aparecem e murcham e renascem como carnosos fogos de artifício. Países desconhecidos que percorro em companhia de criaturas. E há você sem dúvida, ó bela e discreta espiã. E a alma palpável do espaço. E os perfumes do céu e das estrelas e o canto do galo de há 2 000 anos e o choro do pavão em parques em chama e beijos. Mãos que se apertam sinistramente numa luz baça e eixos que rangem sobre estradas medusantes. Há você sem dúvida que não conheço, que conheço ao contrário. Mas que, presente em meus sonhos, te obstinas a neles se deixar adivinhar sem aparecer. Você que permanece inapreensível na realidade e no sonho. Você que pertence a mim por minha vontade de possuí-la em ilusão, mas que não aproxima seu rosto do meu como meus olhos fechados tanto ao sonho como à realidade. Você que a despeito de uma retórica fácil em que a onda morre nas praias, em que a gralha voa em usinas em ruínas, em que a madeira apodrece rachando-se sob um sol de chumbo. Você que está na base de meus sonhos e que excita meu espírito pleno de metamorfoses e que me deixa sua luva quando beijo sua mão. À noite há as estrelas e o movimento tenebroso do mar, dos rios, das florestas, das idades, das relvas, dos pulmões de milhões e milhões de seres. À noite há as maravilhas do mundo. À noite não há anjos da guarda, mas há o sono. À noite há você. No dia também.   Monólogo de Orfeu - Vinicius de Moraes Mulher mais adorada! Agora que não estás, deixa que rompa o meu peito em soluços Te enrustiste em minha vida, e cada hora que passa É mais por que te amar a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.   E sabes de uma coisa? Cada vez que o sofrimento vem, essa vontade de estar perto, se longe ou estar mais perto se perto Que é que eu sei? Este sentir-se fraco, o peito extravasado o mel correndo, essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu; Tudo isso que é bem capaz de confundir o espírito de um homem.   Nada disso tem importância Quando tu chegas com essa charla antiga, esse contentamento, esse corpo E me dizes essas coisas que me dão essa força, esse orgulho de rei.   Ah, minha Eurídice Meu verso, meu silêncio, minha música. Nunca fujas de mim. Sem ti, sou nada. Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada. Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível! A existência sem ti é como olhar para um relógio Só com o ponteiro dos minutos. Tu és a hora, és o que dá sentido E direção ao tempo, minha amiga mais querida!   Qual mãe, qual pai, qual nada! A beleza da vida és tu, amada Milhões amada! Ah! Criatura! Quem poderia pensar que Orfeu, Orfeu cujo violão é a vida da cidade E cuja fala, como o vento à flor Despetala as mulheres - que ele, Orfeu, Ficasse assim rendido aos teus encantos?   Mulata, pele escura, dente branco Vai teu caminho que eu vou te seguindo no pensamento e aqui me deixo rente quando voltares, pela lua cheia Para os braços sem fim do teu amigo   Vai tua vida, pássaro contente Vai tua vida que estarei contigo.   Namorados no Mirante - Vinicius de Moraes  Eles eram mais antigos que o silêncio A perscrutar-se intimamente os sonhos Tal como duas súbitas estátuas Em que apenas o olhar restasse humano. Qualquer toque, por certo, desfaria Os seus corpos sem tempo em pura cinza. Remontavam às origens - a realidade Neles se fez, de substância, imagem. Dela a face era fria, a que o desejo Como um hictus, houvesse adormecido Dele apenas restava o eterno grito Da espécie - tudo mais tinha morrido. Caíam lentamente na voragem Como duas estrelas que gravitam Juntas para, depois, num grande abraço Rolarem pelo espaço e se perderem Transformadas no magma incandescente Que milênios mais tarde explode em amor E da matéria reproduz o tempo Nas galáxias da vida no infinito.   Eles eram mais antigos que o silêncio...   Soneto de Fidelidade  - Vinicius de Moraes De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.   Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento   E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama   Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

Espetáculo mergulha em Guimarães Rosa, escorrendo literatura e dança pelos palcos

Do diretor e bailarino da Quasar, o mineiro João Paulo Gross, “O Crivo” reflete os vazios das relações e essência humanas

A inteligência e a sagacidade de mulheres que mudaram a História

Adelto Gonçalves Especial para o Jornal Opção [caption id="attachment_29567" align="alignleft" width="620"]A professora Dirce Lorimier destaca o papel da mulher na história em seu novo livro, Rainhas da Antiguidade A professora Dirce Lorimier destaca o papel da mulher na história em seu novo livro, Rainhas da Antiguidade[/caption] I A História do Brasil, como a de tantos países, até hoje tem sido escrita sob uma ótica masculina. Neste país, quando se lê livros da época colonial, é como se as mulheres sempre tivessem vivido numa penumbra social, limitando-se a reproduzir. Até mesmo nesta função sua presença tem sido relativizada. Basta ver que os chamados bandeirantes até hoje são idealizados em gravuras e estátuas como se fossem brancos, bem vestidos, embora nos séculos XVII e XVIII a presença de mulheres brancas na América portuguesa fosse insignificante. Na imensa maioria, os bandeirantes seriam filhos de indígenas, de africanas ou de miscigenadas, pois poucas mulheres brancas enfrentaram o desafio de atravessar o Atlântico. Foi preciso que o historiador Luciano Figueiredo, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), escrevesse dois livros basilares sobre o assunto –– O avesso da memória: cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII (Rio de Janeiro, José Olympio, 1993) e Barrocas famílias: vida familiar em Minas Gerais no século XVIII (São Paulo, Hucitec, 1997) para que se descobrisse que, no século XVIII em Minas Gerais, parte significativa das mulheres negras e mestiças atuou no comércio, contribuindo decisivamente para o crescimento da economia da capitania. Muitas dessas mulheres eram conhecidas como as negras de tabuleiro, enquanto outras eram proprietárias de vendas, as vendeiras. Neste caso, sua importância foi inegável para o abastecimento das zonas mineradoras. Outras se envolveram com ofícios mecânicos, sozinhas ou, às vezes, lado a lado com seus maridos ou concubinos em padarias, tecelagens ou alfaiatarias. Se assim foi em Minas Gerais, com predominância de mulheres negras, em outras regiões, como em Goiás, a presença maior teria sido das indígenas e miscigenadas. Nenhuma delas, porém, ao que se saiba, chegou a se afirmar em patamar de igualdade no jogo do poder, embora muitas tenham tido papel relevante nas questiúnculas palacianas, valendo-se provavelmente da atração física para barganhar favores junto a governadores e outras autoridades. Na Antiguidade, porém, há alguns exemplos de mulheres que se celebrizaram em épocas, espaços e sociedades distintas, exibindo em comum a força e a ousadia do enfrentamento com os homens e o poder instituído, de que a Rainha de Sabá, talvez, seja o exemplo mais clássico, até porque aparece na Bíblia (I Reis, 10:1-13). Mas há também os casos de Elisa, Cleópatra e Zenóbia, que se destacaram na História por sua sagacidade e inteligência, personagens do livro Rainhas da Anti­guidade: sedução e majestade, ensaio de História do mundo antigo da professora Dirce Lorimier Fernandes, doutora em História Social pela USP, que acaba de ser lançado pela editora Letra Selvagem, de Taubaté-SP. II A princesa fenícia Elisa é a Dido, a imortal musa de Virgílio (70 a.C-19 a.C), aquele que foi escolhido por Dante Alighieri (1265-1321) para descer ao Inferno em A divina comédia. No livro II da Eneida, Dido acolhe Eneias em Cartago e lhe pede que conte a tragédia da derrocada de Troia. Tornam-se amantes e o idílio vai até o livro V, quando o destino obriga Eneias a seguir viagem para fundar o reino da Itália. Amargurada, a rainha africana atira-se a uma pira funerária. A segunda personagem deste livro é a rainha egípcia Cleópatra (69 a.C-30 a.C), aquela que subjugou pela paixão os imperadores romanos César (62 a.C-14 d.C) e Marco Antônio (82 a.C-30 a.C). Era descendente de Ptolomeu (366-283 a.C), general de Alexan­dre, o Grande (356 a.C-323 a.C), que depois da morte do comandante macedônio, resolveu criar um império no Egito. Cleópatra não desempenhou apenas o papel de princesa romântica, lasciva e pérfida que as lendas e o cinema lhe impuseram, mas foi uma militante política, obcecada pela restauração do reinado ptolomaico. Já Zenóbia (século III d.C), a Rainha do Deserto, três séculos adiante das duas personagens anteriores, tornou-se soberana absoluta na pequena Síria, então reino de Palmira. Apoiou o judaísmo, patrocinou poetas e pesquisadores e lançou-se a uma aventura expansionista, desafiando o poder de Roma. Proclamando-se parente de Cleópatra, conquistou o Egito, mas sucumbiu diante do exército de Aureliano (214-275). III A escolha dessas três mulheres incomuns pela historiadora Dirce Lorimier Fernandes para personagens de seu livro mostra, segundo Joaquim Maria Botelho, autor do texto de apresentação publicado nas “orelhas”, a admiração da autora “pelas mulheres fortes – mesmo as que pereceram, vitimadas pelas próprias fraquezas”. Para Botelho, “este livro é uma composição narrativa de verdades e mitos, descortinando informações que ultrapassam a frieza histórica”. [caption id="attachment_29568" align="alignleft" width="250"]Rainhas da Antiguidade: sedução e majestade (Elisa, Cleópatra e Zenóbia) / Autora: Dirce Lorimier Fernandes / Pre­ço: R$ 25 Letra Selvagem Rainhas da Antiguidade: sedução e majestade (Elisa, Cleópatra e Zenóbia) / Autora: Dirce Lorimier Fernandes / Pre­ço: R$ 25 Letra Selvagem[/caption] Na introdução, a historiadora explica que o enfoque do trabalho é “o papel dessas mulheres na História, especialmente na vida pública, fora da oika (casa), ambiente que as mulheres do entorno da nobreza continuavam dirigindo, ao mesmo tempo em que algumas privilegiadas atuavam em vários setores do saber”. Ela lembra que foram raras as civilizações antigas, com exceção do Egito, em que a mulher alcançou postos sociais importantes. Fora do círculo de Elisa e de Cleópatra, diz, na Grécia, a situação feminina era ainda mais degradante, pois, não tendo personalidade jurídica nem política, sempre estava à sombra da figura masculina que se encarregava de tratá-la como uma possessão em todos os sentidos. “Esta dependência gerava o analfabetismo e, em muitos casos, as mulheres deviam se conformar com a educação recebida de sua mãe”, acrescenta. Segundo a professora, quanto ao matrimônio, a mulher era objeto de troca, não somente do possuidor senão que, geralmente, se dotava com propriedades por parte do pai ao prometido para assegurar o acordo matrimonial, mais parecido a uma transação econômica. Aliás, um comportamento que ainda valia para o século XVIII em Portugal e suas possessões ultramarinas, pois foi só com o Romantismo que o casamento passou a ganhar outro foro com a valorização do amor, da fé, do sonho, da paixão e da intuição. IV Dirce Lorimier Fernandes é professora universitária, licenciada e pós-graduada em Letras pela Uni­versidade São Judas Tadeu (USJT) e doutora em História Social pela USP. Além de crítica literária e ensaísta, membro da diretoria da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), Dirce é coautora dos livros: Meu Nome é Zé (São Paulo, Ideograma Técnica e Cultura), Antologia de Contos da UBE (São Paulo, Editora Global, 2009) e Inquisição Portuguesa –– Tempo, Razão e Circunstância (Lisboa, Prefácio, 2007). É, ainda, organizadora e coautora do livro Religiões e Religiosidades –– Leituras e abordagens (Arké, 2008). É também autora de A literatura infantil (Edições Loyola, 2003), A Inquisição na América Latina (Editora Arké, 2004) e Rainhas da Antiguidade: entre a realidade e a imagem do poder – Teodora, a imperatriz de Constantinopla, Urraca e Teresa, duas rainhas obstinadas (São Paulo, Clube dos Autores, 2012), entre outros. Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), entre outros.