Ponto de Partida

O que explica o fato de o PMDB estar na bica de emplacar sua quinta derrota seguida na disputa pelo governo do Estado e mesmo assim continuar sendo a principal referência da oposição?

Aterrorizado com a possibilidade cada vez mais real de ser apeado do poder, o PT quer assustar o eleitor comparando a adversária a Jânio Quadros e Collor de Mello

Eleitor goiano tem a oportunidade de mandar para a Câmara dos Deputados um dos maiores gestores do País na área de saúde, o ex-secretário Antônio Faleiros, que tem propostas concretas para o setor
Temas incômodos devem sim entrar na pauta de debates e entrevistadores não podem apenas ‘”levantar a bola” para entrevistados

A campanha no rádio e na TV começa nesta semana e a dúvida é se com ela a oposição conseguirá abalar o favoritismo de Marconi
[caption id="attachment_12913" align="alignleft" width="3411"] Iris Rezende, Vanderlan Cardoso e Antônio Gomide: opositores saberão usar o tempo no rádio e na TV para reverter o favoritismo que as pesquisas estão dando cada vez mais a Marconi Perillo?[/caption]
A morte de Eduardo Campos (PSB) conflagra a sucessão presidencial, embora ainda não se possa aferir quanto. Certamente mexerá também no quadro sucessório em Pernambuco e/ou outros Estados do Nordeste brasileiro.
Mas não há porque considerar que possa haver influência em Goiás, mesmo lembrando que Eduardo tinha palanque aqui com Vanderlan Cardoso, do mesmo partido. A saída de cena do pernambucano talvez influencie especificamente a campanha de Vanderlan, e não de forma positiva para o empresário goiano, mas não é esse o objeto da análise a seguir.
O que se vai considerar neste texto é a possível influência do horário eleitoral gratuito, que começa nesta semana, sobre o quadro sucessório local. Desde o ano passado, o governador-candidato à reeleição Marconi Perillo (PSDB) vem liderando as pesquisas de intenção de voto. Nas primeiras a diferença não foi mais expressiva. O problema para a oposição é que essa frente vem se consolidando paulatinamente, pinga-pingando de forma inexorável a cada levantamento.
Cito as duas pesquisas mais “frescas” como exemplos. Na aferição Fortiori que o Jornal Opção divulga nessa edição, Marconi tem 38% das intenções de votos, contra 26% de Iris rezende (PMDB), 8% de Vanderlan e 7% de Antônio Gomide (PT). São 12 pontos de diferença entre Marconi e Iris, o que amplia em dois pontos a diferença constatada no levantamento Fortiori anterior, divulgada no dia 20 de julho, já que o tucano manteve seu índice, mas o peemedebsita caiu dois pontos.
A pesquisa Ibope divulgada na sexta-feira, 15, mostra que Marconi Perillo já tem 41% das intenções de voto, contra 28% de Iris Rezende, são 13 pontos de diferença. Vanderlan Cardoso tem 6% e Antônio Gomide 5%. Marconi subiu seis pontos em relação ao levantamento anterior do Ibope. Iris subiu apenas dois pontos. Vanderlan caiu três pontos e Gomide caiu um ponto.
E o pior para os adversários do tucano é que as projeções com as margens de erros são muito ruins para Iris — nem carece projetar os índices de Vanderlan e Gomide nesse critério. A diferença já configura um arco ascendente pró-Marconi que dificilmente poderá ser alcançado. A possibilidade de vitória do governador no primeiro turno se desenha cada vez mais real. Não é difícil imaginar que comece a bater certo desespero nos oponentes do tucano.
Bem, pesquisa é pesquisa, retrata momentos e cenários. O próprio passar do tempo pode mudar o cenário. Pelo andar da carruagem, resta à oposição se apegar a isso.
Exemplos de viradas eleitorais não faltam, tanto aqui em Goiás quanto em outros Estados. O mais notório, e nunca é demais repetir, se deu em 1998, quando Marconi tinha 3% das intenções de votos e virou contra Iris Rezende, que partia com mais de 70% das intenções de voto e tinha a máquina governamental a seu dispor.
É preciso que se registre: em 1998, a propaganda eletrônica foi a grande alavanca para a virada do tucano em cima de Iris, mas não apenas ela. As veiculações da então oposição no rádio e na TV deram um banho de criatividade, aliando bom humor, exploração das falhas do adversário e exaltação à boa imagem de um candidato novo sem desgaste. Mas havia ali um caldo de cultura que pedia mudança. A propaganda do tucano potencializou isso e impulsionou a virada.
Nesta quarta-feira, 20, começa a ser veiculada a propaganda eleitoral gratuita (?) no rádio e na TV para os candidatos ao governo — as veiculações começam no dia anterior, com os candidatos à Presidência da República e à Câmara dos Deputados. É por aí que Iris, Vanderlan e Gomide — pelo que se viu até agora, os candidatos nanicos não contam nessa conta — esperam começar a mudar o quadro atual de favoritismo do tucano.
Os adversários de Marconi Perillo estão certos. Há sim a possibilidade de começar a mudar o quadro eleitoral com a propaganda eleitoral gratuita, robustecendo um pouco que seja índices até aqui anêmicos, principalmente nos casos de Vanderlan e Gomide. O problema é que Marconi Perillo também tem direito à propaganda. E, pior ainda mais para Iris, Vanderlan e Gomide, o tucano tem mais tempo.
A coligação Garantia de um Futuro Melhor para Goiás, de Marconi Perillo, terá cerca de 60% a mais de tempo que a chapa Garantia de um Futuro Melhor para Goiás, de Iris Rezende. Serão 7 minutos e 30 segundos diários em cada um dos quatro blocos do horário eleitoral (no rádio, eles são das 7h às 7h50 e das 12h às 12h50; e na televisão, das 13h às 13h50 e das 20h30 às 21h20).
Em termos porcentuais, Marconi ocupa mais de 37% do bloco de 20 minutos para aspirantes a governador goiano. Iris Rezende toma cerca de 22% do tempo, com os 4 minutos e 18 segundos da sua coligação. Ou seja, os dois principais adversários ocupam 60% do tempo total. Vanderlan Cardoso terá 2 minutos e 5 segundos, enquanto Antônio Gomide vai dispor de 3 minutos e 9 segundos.
Claro, tempo maior não quer dizer que a batalha eletrônica está automaticamente ganha. Mas é uma baita vantagem. Mesmo porque há tempo para apresentar propostas e ainda fazer algumas “firulas” atrativas visualmente. Em TV isso pode contar pontos. O leitor verá, por exemplo, o que os programas do PT farão para Dilma Rousseff na campanha à Presidência, com imagens mirabolantes, mesmo que a candidata deixe muito a desejar em termos de conteúdo.
Mas, tempo demais na TV, se não for usado com inteligência pode ser um tiro pela culatra. O excesso de exposição tende a desgastar o candidato. Como os opositores de Marconi não terão tempo em excesso, pode ser que eles usem esse espaço valioso para apresentar propostas.
Os ataques — e principalmente o PMDB já deixou claro que serão priorizados — deverão ser intensificados no rádio, veículo que se presta mais a essa tática. É lícito pensar que a coligação de Iris vai utilizar a TV para um trabalho que é um autêntico desafio: modernizar a imagem de seu candidato, um homem ainda afeito a coisas e fatos do passado, até em sua linguagem, cheia de referências a mutirões e mamutes estatais como Crisa, Dergo e outros.
É bom que a oposição tenha alento com o horário eleitoral. Resta saber se saberá utilizá-lo de forma inteligente como o adversário governista fez em 1998. Naquela eleição a propaganda ajudou sobremaneira a virar uma eleição que muitos tinham como perdida.

Os oposicionistas Aécio Neves e Eduardo Campos defendem enxugamento dos 39 ministérios de Dilma Rousseff

Se ocorrer o foco com prioridade na aprovação ou não da figura do governador, o quadro tende a piorar para seus adversários

Em Goiás, no ano passado, outro prefeito goiano também reclamou da atribuição da corte em analisar números de Executivo municipal
[caption id="attachment_11124" align="alignleft" width="620"] Ex-prefeito Antônio Gomide, candidato do PT ao governo do Estado: TCM é assessoria das Câmaras Municipais” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Afinal, o Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-GO) tem ou não competência para julgar contas de prefeitos? Nos últimos dias tal competência tem sido contestada pelo candidato do PT ao governo, o ex-prefeito de Anápolis Antônio Gomide.
Na coluna Ponto de Partida da semana passada, Gomide voltou ao tema, que mereceu do TCM uma resposta direta e objetiva. Como o assunto se reveste de grande importância, afinal, trata-se de um candidato majoritário, repete-se a seguir (em itálico), o trecho da coluna com as argumentações do ex-prefeito; na sequência, a resposta do TCM enviada à coluna.
Contas
Sobre o imbróglio das contas não aprovadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Gomide diz que é uma pedra que está sendo colocada com o intuito de fazê-lo perder energia. Lembra que o departamento jurídico da campanha está respondendo e não haverá problema. Ele diz que foram aprovados os balanços gerais da Prefeitura de Anápolis de 2009, 2010 e 2011 da administração, e o TCM faz questionamento de um balanço de gestão de 2009, que está em grau de recurso, ou seja, não foi julgado. Segundo o candidato petista, se o TCM tivesse tido o interesse de julgar nestes últimos sete meses, já teria julgado. Segundo ele, o tribunal segurou justamente para dizer que tem um grau de recurso não julgado. “Vamos fazer a defesa no TRE, que vai registrar nossa candidatura. Estamos tranquilos.” O candidato lembra que o TCM é uma assessoria das Câmaras Municipais e, no limite, quem teria de aprovar ou não algum balancete seria a Câmara de Vereadores de Anápolis. “Mas temos de imaginar que o TCM pudesse fazer a parte dele, que é julgar e encaminhar o parecer à Câmara de Vereadores para o resultado final. Mas isso não foi feito, tem grau de recurso lá.” Gomide acusa o adversário tucano de manobrar para prejudicá-lo. A defesa no momento certo no TRE, assegura, lhe dará o registro “mesmo sem a vontade do PSDB de que disputemos a eleição.” O ex-prefeito de Anápolis diz que o PSDB está trabalhando para prejudicar sua campanha. “Honor Cruvinel foi líder de governo do governador Marconi Perillo na Assembleia Legislativa e, infelizmente, faz um papel que não é condizente com o cargo que ocupa hoje, que é o chefe maior do Tribunal de Contas dos Municípios, um órgão que tem vários técnicos sérios. O TCM está sendo usado como artifício político para prejudicar minha candidatura.” O TCM respondeu a acusação de Antônio Gomide, em informe público, de que o trabalho da corte é técnico.Resposta do TCM
Em resposta à matéria publicada em 20/07/2014, do Jornal Opção, o Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás esclarece que o Sr. Antônio Roberto Otoni Gomide encontra-se totalmente equivocado quanto às competências desta Corte, visto que, consoante artigo 71, inciso II, da Constituição Federal compete privativamente ao Tribunal de Contas o julgamento das contas dos gestores públicos, denominada tecnicamente de Contas de Gestão, formalizada por meio de balancetes mensais. Este Tribunal emite Parecer Prévio, a ser julgado pela Câmara Municipal, apenas nas contas anuais do Chefe do Poder Executivo, denominada tecnicamente de Contas de Governo, formalizada por meio do balanço geral. Conforme já esclarecido em nota, as Contas de Gestão do Município de Anápolis, exercício de 2010, de responsabilidade do Sr. Antônio Roberto Otoni Gomide, foram julgadas irregulares por este Tribunal, consoante Acórdão AC-IM/ID nº 09196/12. Julgamento mantido irregular em sede de recurso ordinário, consoante Acórdão AC-IM/ID nº 06185/13. Igualmente equivocado está o ex-Prefeito quando afirma que este Tribunal “segurou” o julgamento do recurso de revisão interposto em face do Acórdão AC-IM/ID nº 06185/13. Citado recurso ainda não foi julgado pelo Plenário desta Casa por ações protelatórias do próprio gestor. Em 30/06/14 o gestor solicitou à relatora do recurso, Conselheira Maria Teresa F. Garrido Santos, a juntada excepcional de novos documentos, na tentativa de sanear as irregularidades remanescentes, o que ensejou o retorno dos autos à unidade técnica para reanálise; em 01/07/2014 foram interpostos embargos de declarações, os quais não foram conhecidos por não cumprir os requisitos de admissibilidade previstos no Regimento Interno; e, em 11/07/2014, foi interposta Reclamação contra decisão que não conheceu dos Embargos de Declaração. Tais condutas protelatórias interromperam a análise e julgamento do recurso de revisão que, após decisão do Pleno acerca da Reclamação, seguirá a tramitação normal. Goiânia, 22 de julho de 2014 Assessoria de Comunicação Social.
Reclamação semelhante foi rejeitada pelo Supremo em 2013
Está no sítio eletrônico do Supremo Tribunal Federal: (http:// www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=243103), datado de 8 de julho de 2013: “Ministro nega liminar requerida por ex-prefeito que teve contas rejeitadas”. [caption id="attachment_11128" align="alignright" width="150"]

Petista diz que conversações com o comando nacional do PT estão adiantadas e que há possibilidade de o ex-presidente vir ao Estado já na primeira quinzena de agosto

Um susto não é de todo improvável a Ronaldo Caiado se ele confiar demais na sua liderança disparada e priorizar campanha para “bater” no governo
[caption id="attachment_9700" align="alignleft" width="1990"] Ronaldo Caiado lidera as pesquisas, com Marina Sant’Anna em segundo e Vilmar Rocha em terceiro: haverá espaço para alguma surpresa, como aconteceu em 2002, quando o líder Iris Rezende perdeu? | Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Está certo que a frente de Ronaldo Caiado (DEM) na corrida pelo Senado é magnífica. No levantamento Serpes mais recente, ele ostenta 33% das intenções de voto, contra 14% da petista Marina Sant’Anna e 10% de Vilmar Rocha (PSD). Para se ter uma ideia mais precisa da diferença, a soma de todos os adversários de Caiado, incluindo os nanicos, não chega a 30%.
Não se discute o conhecimento que Ronaldo Caiado desfruta junto ao eleitorado goiano. São cinco mandatos como deputado federal, com votações mais do que expressivas em alguns deles. Só na Câmara dos Deputados são 20 anos de presença. Além disso, consta de seu vasto currículo uma campanha à Presidência da República (em 1989, quando obteve menos de 1% dos votos) e uma ao governo do Estado (em 1994, quando nem chegou ao segundo turno).
Por aí se vê que o eleitor, principalmente os de meia idade para frente, tem elementos suficientes para conhecer Ronaldo Caiado. Se isso é vantagem — é indiscutivelmente é —, por outro lado tem aspectos problemáticos para o deputado candidato a senador. Muita gente não gosta de Ronaldo Caiado, razão porque sua rejeição na mesma pesquisa Serpes é a mais alta.
Nada menos que 14,4% dos eleitores rejeitam o líder dos produtores rurais, contra 9,1% dos que não querem Marina e 8,9% que refugam Vilmar Rocha. E 76% dos pesquisados formam no bloco dos que ainda não rejeitam ou não decidiram a quem rejeitar. Boa parte desses 76% vai optar por algum nome, mas outra parte vai continuar rejeitando alguém, principalmente a partir do momento em que ver os candidatos em campanha.
O perigo para Ronaldo Caiado está justamente aí. Figura forte, que muitos dizem passar uma ideia de autoritarismo, ele pode ver aumentado seu índice de rejeição assim que colocar a cara no vídeo. O sobrenome de uma oligarquia que por muito tempo — em tempos que a política não raro era exercida com truculência — mandou na política goiana pode reforçar essa ideia. Mas que fique bem claro aqui, Ronaldo Caiado não tem nada a ver com o que fez ou deixou de fazer qualquer antepassado seu.
O risco de perda de votos, portanto, existe naquilo que é específico do próprio Ronaldo Caiado. A par disso, a aliança organicamente inexplicável, a não ser pelo oportunismo político, com o PMDB de Iris Rezende também é complicada. DEM e PMDB são adversários, mais que isso, inimigos em muitas cidades. Caiado foi um dos mais severos críticos de Iris em passado recente. O eleitor anti-PMDB por convicção, e há muitos deles, pode deixar Caiado por rejeição a essa aliança estranha.
Por outro lado, há os adversários, que têm potencial de crescimento. Comecemos por Vilmar Rocha, o candidato da base aliada. É de se imaginar que a capilaridade de apoios dos adeptos de Marconi Perillo possa ajudar Vilmar em alguma medida. O próprio PSD (com muitos ex-DEM), presidido por Vilmar, tem uma razoável estrutura no interior goiano. Aí Vilmar Rocha pode ganhar votos que seriam destinados a Caiado.
Explica-se: os votos do líder ruralista estão na base aliada governista. Nesse sentido, se ele priorizar sua campanha em bater no governo, insistindo na desqualificação do governador, estará atritando com seu próprio eleitor. O registro se baseia em declarações em tom belicoso do próprio deputado na pré-campanha.
Já se ouviu que Iris seria preservado do papel agressivo contra Marconi, priorizando a apresentação de propostas, enquanto a Caiado caberia o papel de “malvado” contra o governador. Se ele entrar nessa, pode perder votos na base, além de ratificar a imagem de autoritário e irascível que de certa forma já está colada a ele.
É bem verdade que também se ouve nos bastidores Caiado vai mudar sua tática, ou seja, não se prestará a ser um “cabo de chicote” do PMDB na campanha ao governo, justamente para não atritar com seu nicho eleitoral.
E a petista Marina Sant’Anna pode vir a ser outro fator a balançar a tranquilidade das águas calmas do líder ruralista. Ela detém os votos fechados dos militantes petistas na capital e em algumas cidades. Nesse aspecto, Marina tem um ponto de partida razoável.
A suplente de deputado federal possui um histórico eleitoral interessante. Foi três vezes vereadora em Goiânia, ficou numa primeira suplência para deputado estadual e em 2002 foi candidata ao governo. Teve 15% dos votos, ou mais de 385 mil sufrágios. Nada menos que 25% dos votos na capital foram dados a ela. Marina deu uma “canseira” nos adversários e quase provocou um segundo turno entre Marconi e Maguito — a eleição foi vencida pelo tucano.
Marina tem um trabalho interessante junto aos públicos jovem, feminino e gay, tanto na Prefeitura de Goiânia (gestão de Pedro Wilson), como vereadora e ultimamente na Câmara dos Deputados. É dona de um discurso ameno, polido, propositivo, que tem ressonância principalmente no público universitário. Resumindo, Marina tem potencial de crescimento.
Por tudo isso, a eleição de Ronaldo Caiado, tida por muitos — e parece que por ele também — como favas contadas, pode causar um susto. Já pensou?
Exemplos não faltam. Lembremos um que envolve o próprio Iris. Em 2002, com duas vagas em disputa, o líder peemedebista foi candidato ao Senado. Liderava as pesquisas. Ao final, foram eleitos Demóstenes Torres, então no PFL, e Lúcia Vânia, do PSDB. Foi a segunda derrota fragorosa de Iris, que no pleito anterior tinha sido batido por Marconi Perillo na corrida ao Palácio das Esmeraldas.
Não se está dizendo aqui que a história vai se repetir em 2014, com o líder perdendo a corrida no apurar das urnas. Mas já diziam os antigos, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
Mas o PSDB também cresceu e fechou com mais 15 siglas; com as chapas majoritárias definidas, candidatos podem iniciar neste domingo a propaganda nas ruas
Dos 26 países que adotam regime de metas, apenas 3 têm inflação maior que a do
Brasil; segundo projeção em relatório do Banco Central, a carestia em 2014 será de 6,4%
[caption id="attachment_8519" align="aligncenter" width="620"] Nas gôndolas dos supermercados os consumidores constatam que a carestia nos preços dos alimentos é crescente[/caption]
Na semana passada, numa das unidades de uma grande rede de supermercados em Goiânia, a dona de casa Tereza (o sobrenome eu não ouvi), moradora na Vila Pedroso, reclamava a uma amiga dos preços dos alimentos. Muito caros, segundo ela. Dona de uma memória aguda, ela pegava um ou outro produto e comparava o preço em relação há alguns meses. Teve um que a diferença passava de 50%.
O que a dona de casa Tereza reclamava é constatável por qualquer pessoa que tenha o hábito de fazer compras. A inflação é uma realidade no Brasil e só não vê quem não quer. Ou quem tem interesse de dizer que não é bem assim.
Na quinta-feira, o Banco Central divulgou o Relatório Trimestral de Inflação, que mostra que a inflação acumulada nos últimos quatro anos bate em 27%, com crescimento médio anual da economia de apenas 2%. É o pior resultado desde o governo de Fernando Collor de Mello. Os números fazem o resumo de uma ópera triste: os anos Dilma são uma combinação de inflação em franca aceleração e crescimento econômico pífio, o pior entre os países emergentes.
Na semana passada, o jornal “Valor Econômico” trouxe interessante reportagem sobre o tema. Mostra o texto que dos 26 países que adotam o regime de meta (um índice de inflação que serve de base, ou seja, uma meta que a política econômica do governo deve perseguir), em apenas 3 o índice de preço ao consumidor supera a alta de 6,4% registrados pelo indicador do Brasil nos 12 meses encerrados em maio.
E nenhum desse três está na América Latina, cujos países adotam metas bem mais ambiciosas que no Brasil. Aqui, a meta é de 4,5% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até 2016, com dois pontos porcentuais de variação. Já Chile, Colômbia e México têm meta de inflação de 3%; no Peru, 2%.
E esses países têm apenas um ponto porcentual de variação. Ou seja, o maior rigor mostra que nossos vizinhos continentais estão efetivamente preocupados em não baixar a guarda para a inflação. O que não tem ocorrido com o governo brasileiro, que tem se mostrado leniente com o dragão.
A propósito, os três países com inflação maior que a brasileira são Gana, Turquia e Indonésia.
No Brasil, a inflação nos preços de serviços chegou a 8,7% no ano encerrado em maio; nos alimentos, por volta de 7%. O mais preocupante nesse quadro é que a carestia de preços ocorre com baixo ritmo de crescimento da economia, que deveria ditar exatamente o contrário, ou seja, queda de inflação.
Baixo crescimento, inflação em alta. Um cenário nada bom para a campanha de reeleição da presidente. O descompasso econômico é reflexo de medidas equivocadas da equipe da petista, que quer mais um mandato de quatro anos. Resta saber se o eleitor vai dar esse crédito.
O marqueteiro norte-americano James Carville uma vez decretou que a economia determina em maior grau a possibilidade de sucesso ou não de um candidato. Nesse sentido, a previsão do Banco Central não é nada alvissareira para Dilma Rousseff.
[caption id="attachment_8515" align="alignright" width="300"] José Sarney: o mais nefasto político brasileiro vivo anuncia aposentadoria. Será verdade?[/caption]
A notícia é velha, mas vale um comentário dada a importância para os brasileiros. No início da semana passada o caquético líder político José Sarney, do PMDB, anunciou sua aposentadoria. Uma conjugação de fatores na política local no Amapá, Estado pelo qual ele vinha se elegendo senador, dificultava sua candidatura à reeleição.
Mas não há dúvida de que pesou na decisão do ex-presidente da República a sequência de vaias que levou num evento de entrega de casas com a presidente Dilma Rousseff, em Macapá, na segunda-feira, 23. Para não “pegar mal”, apaniguados de Sarney propagaram a informação de que a decisão da aposentadoria estava tomada desde sexta-feira, 20.
Ele realmente estava pensando em não disputar, mas mantinha a possibilidade em banho-maria na expectativa de que talvez Lula da Silva interferisse pessoalmente no enquadramento dos petistas no Estado, facilitando sua reeleição. Para isso, o PT local teria de deixar de apoiar o governador Camilo Capibe-ribe, do PSB, em favor de Waldez Goes, do PDT, um cordeirinho de Sarney. Lula é esperto bastante para não entrar em barca furada. Aliás, aos poucos Lula está deixando Sarney ao relento.
Com a sequência de sete vaias durante a solenidade ao lado de Dilma, Sarney teve um “gráfico” de que seu tempo passou. Na vida pública desde 1955, ele é chefe do clã que comanda a oligarquia que chupinha um Estado, o Maranhão, que não por acaso ostenta os piores indicadores sociais da Brasil. Enquanto a família Sarney e seus aliados se enriquecem cada vez mais.
De José Sarney não é exagero dizer que se trata do mais nefasto político brasileiro vivo, tal a sua influência nos meandros do poder, sempre em favor de si e de seus seguidores. E nem é preciso lembrar que foi um apoiador de primeira hora da ditadura militar. Sarney é o autêntico político “superbonder”, que adere ao governo, qualquer governo, aliado dos todos os presidentes desde Juscelino Kubitschek.
Ele continuará exercendo influência sobre uma boa parte da bancada peemedebista (e de outros partidos) no Congresso e não deixará de manobrar nos bastidores. Sempre a favor de quem estiver no poder, porque assim está trabalhando em seu próprio favor. Ou seja, vai continuar fazendo mal ao Brasil, embora de forma menos direta e ostensiva.
Mas é bom aguardar um pouco mais. Sarney pode estar blefando. Ele já anunciou aposentadoria outras vezes e depois desistiu de desistir. A boa notícia pode não se concretizar. l

Apupos com que a torcida premiou a presidente não é questão de segurança nacional, como governistas tentam vender à opinião pública

PMDB mantém aliança com a presidente petista, mas a divisão na sigla em relação ao PT ficou escancarada na convenção nacional
O PMDB, como maior partido brasileiro em número de filiados e em fisiologismo, tem uma capacidade incrível para perceber para onde o vento sopra. Não é por outra razão que uma parte considerável da sigla vem pregando abertamente o rompimento da aliança com o PT em favor da reeleição de Dilma Rousseff.
Outra parte, por enquanto a maioria, capitaneada pelo vice-presidente Michel Temer, quer a manutenção da coligação. A sigla está dividida, o que ficou evidente na convenção nacional realizada na terça-feira, 10, em Brasília.
O apoio à reeleição da petista teve 398 votos a favor, ou 59%, e 275 votos contra, 41%. O índice cai a 54% se considerados os 737 votos possíveis na convenção, que registrou 64 votos brancos e nulos ou abstenções. Matematicamente foi uma vitória para Dilma, mas politicamente as coisas são bem mais complicadas.
[caption id="attachment_7066" align="alignleft" width="620"] Presidente Dilma cumprimenta líderes peemedebistas após a convenção do partido: apoio à aliança pela reeleição teve menos votos que em 2010 | Foto: Wilson Cruz / ABr[/caption]
Na verdade, foi um constrangimento para a presidente, que na eleição passada teve nada menos que 85% dos votos dos convencionais peemedebistas, quando foi apresentada por Lula da Silva como a candidata governista. O recado está mais do que claro: o PMDB sente que a vitória de Dilma não tem nenhum garantia no horizonte. Sim, porque se a petista estivesse mantendo com tranquilidade a liderando nas pesquisas, não há dúvida de que o placar da convenção peemedebista seria bem mais favorável a ela. O partido está sentindo o cheiro de queimado na reeleição de Dilma Rousseff.
Mas, independentemente do momento não exatamente auspicioso em termos eleitorais para Dilma, há líderes peemedebistas que percebem o perigo não só na perda da eleição presidencial com a petista, uma vez que o partido se arruma fácil, fácil com quem derrotar Dilma, se isso vier a acontecer. A preocupação desses líderes passa também pela certeza do enfraquecimento do partido em função da aliança com o PT.
É fato que PMDB e PT formam a coluna vertebral de apoio parlamentar do governismo. O problema é que o PMDB sabe que sua existência está cada dia mais ameaçada, por que o parceiro aumenta sua potência predatória na medida em que fortalece as próprias bancadas na Câmara e no Senado.
Neste ano, não custa lembrar o óbvio, realiza-se a eleição para presidente da República. Mas não só, e novamente lembrando o óbvio, serão eleitos também governadores, deputados estaduais e federais e um senador por Estado.
O fortalecimento de qualquer partido se dá na medida em que consiga manter bancadas robustas e o máximo de Executivos estaduais. É aí que mora o perigo para o PMDB, porque o PT pode lhe tirar vagas importantes.
Se na convenção de terça-feira o PMDB fechou com Dilma, o descontentamento no partido com o governo também ficou escancarado. Integrantes da ala contra Dilma discursaram e distribuíram panfletos com acusações de ineficiência e corrupção no governo.
Mesmo adepto incondicional da aliança, o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), disse que o partido apresentará propostas de governo a Dilma, entre elas o ensino em tempo integral e a “defesa permanente da liberdade de expressão e pensamento”, o que bate de frente com viés totalitarista do PT, que tem uma ala propugnando censura à imprensa. Raupp expressou o que talvez seja um espasmo de altivez do partido na questão programática.
O grupo mais crítico com os petistas foi o do PMDB do Rio. Lá, o candidato do PT ao governo, Lindbergh Farias, faz campanha desancando o governo de Sérgio Cabral, patrono de Luiz Fernando Pezão, o governador que concorre pelo PMDB. Cabral, o político que mais se desgastou com as manifestações do ano passado, esperava apoio dos petistas, mas estes jogaram mais gasolina na fogueira.
Na convenção, até Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara, candidato ao governo do Rio Grande do Norte, reclamou da falta de solidariedade dos petistas em seu Estado.