“Orgia” partidária faz PMDB crescer em relação a 2010
05 julho 2014 às 13h53
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Mas o PSDB também cresceu e fechou com mais 15 siglas; com as chapas majoritárias definidas, candidatos podem iniciar neste domingo a propaganda nas ruas
O PMDB de Iris Rezende vai marchar com mais seis partidos na disputa pelo governo estadual em outubro. É mais que o dobro do que teve na eleição passada, quando coligou com apenas mais duas legenda. O fato não deixa de ser auspicioso para os peemedebistas, mas tem de ser relativizado quando se faz a comparação com a coligação governista de Marconi Perillo, que reuniu 16 siglas na chapa majoritária para sustentar a campanha à reeleição do tucano.
Marconi Perillo e Iris Rezende polarizaram a pré-campanha e dificilmente será diferente na campanha propriamente dita. A configuração das chapas majoritárias leva a crer que Vanderlan Cardoso (PSB) e Antônio Gomide (PT) devem continuar a exercer o papel de coadjuvantes, no máximo evitando que a eleição seja decidida no primeiro turno.
Os dois adversários principais conseguiram mais legendas justamente pela perspectiva de poder que representam. Na situação, como é natural, a grande sopa de letrinhas reflete o ajuntamento de uma ampla base já estabelecida no comando político-administrativo do Estado.
Já na oposição, principalmente no que se refere ao conjunto de siglas encabeçado pelo PMDB, resultou naquele tipo de arranjo, também natural no sistema político-eleitoral brasileiro, em que o programático cede lugar ao pragmático.
O exagero dos arranjos partidários é tanto que o deputado Alfredo Sirkis, do PSB do Rio de Janeiro, referindo-se à bagunça das alianças em seu Estado, recentemente cunhou a curiosa expressão “suruba partidária”. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), usou o sinônimo “bacanal”.
Como não considerar uma verdadeira “suruba”, “bacanal” ou “orgia” a aliança do PMDB com o DEM em Goiás, siglas que são como água e óleo principalmente no interior, uma rivalidade histórica que remonta aos antigos PSD (do qual se originou o PMDB) e a UDN (sigla da qual surgiram PP, PFL e DEM)? Lembrando ainda que na aliança está o PCdoB. Ou seja, comunistas e ruralistas numa mistura indigesta a muitos.
E quando se olha o quadro nacional, então, as contradições ficam ainda mais gritantes: Iris está com Dilma Rousseff (PT), enquanto Caiado apoia Aécio Neves (PSDB).
Em termos de chapas majoritárias, são sete opções para o eleitorado goiano: uma de situação, cinco de oposição e uma neutra — que a rigor pode até desistir da disputa a qualquer momento para voltar a integrar a base governista oficiosamente. É sobre cada uma delas que se vai falar em seguida.
A chapa situacionista é a maior em termos de siglas. O governador Marconi Perillo (PSDB) será candidato à reeleição com o apoio de 16 partidos — em 1998 foram 5; em 2002, 10; e em 2010, 12. O tucano vai com o mesmo vice da eleição anterior, José Eliton, que era do DEM e agora está no PP. Como candidato ao Senado, o deputado federal Vilmar Rocha, presidente do PSD goiano.
A chapa majoritária da situação foi definida com certa antecedência, mas não foi um processo que transcorreu em calmaria. Uma parte da base aliada queria o deputado Ronaldo Caiado, do DEM, como candidato ao Senado. Para Caiado seria muito interessante e ele fez movimentos junto às cúpulas nacionais de seu partido e do PSDB.
Ocorre que o líder ruralista queria as vantagens do casamento mantendo ao mesmo tempo as vantagens da solteirice, ou seja, ser o candidato pela base, ter a estrutura da base, sem precisar subir no palanque de Marconi Perillo e para ele pedir voto. A partir daí, cristalizou-se um repúdio natural a Caiado entre os governistas. Dessa forma, Vilmar Rocha se consolidou na posição.
Também a vice de Marconi chegou a causar um início de tremor na base. Principalmente o PTB de Jovair Arantes sempre cobiçou a vice, por considerar que o partido merecia maior espaço na aliança. Na presidência do PP, José Eliton se aliou ao PSD de Vilmar Rocha para que não houvesse mudança na majoritária, conseguiu se sustentar e vai continuar como companheiro de chapa do tucano.
Campanha na rua começa neste domingo
Os candidatos, partidos e coligações podem começar neste domingo, 6, a propaganda nas ruas, conforme determina o calendário da Justiça Eleitoral. Eles já podem fazer funcionar, das 8 às 22 horas, alto-falantes ou amplificadores de som, nas suas sedes ou em veículos, bem como realizar comícios e utilizar aparelhagem de sonorização fixa, das 8 às 24 horas.
Os candidatos, os partidos e as coligações podem, também, fazer propaganda eleitoral na internet, embora seja vedada a veiculação de qualquer tipo de propaganda paga na rede.
Com o término do prazo para a realização das convenções partidárias, e o início da propaganda eleitoral na rua, em termos de apresentação à sua majestade, o eleitor, o senhor da palavra final, o processo eleitoral começa de fato. Até então, o que se tinha era muito especulação, muito balão de ensaio, muita conversação e pouco fato.
Como o quadro eleitoral continua polarizado entre Marconi e Iris, para os candidatos atrás nas pesquisas, é interessante começar o trabalho o quanto antes. Na semana passada, Gomide e Vanderlan anunciaram que antecipariam o início da campanha nas ruas. Vanderlan disse que começaria neste fim de semana, uma vez que não pode perder tempo por ter estrutura de campanha e militância menores que a de outros adversários. Já o petista disse que intensificaria as visitas que fez na pré-campanha.
Agora que o eleitor já sabe quais são os candidatos, pode pesquisar currículo e potencial dos nomes que vão começar a pedir seu voto. A imprensa livre ajuda na divulgação de informações que ajudam a formar conceitos.
São cinco chapas de oposição e uma neutra
As oposições vêm com cinco chapas. A maior delas, liderada pelo PMDB e com mais seis siglas, tem o ex-prefeito e ex-governador Iris Rezende como candidato ao governo. Na vice, o deputado federal Armando Vergílio (SDD), um ex-aliado de Marconi. Como candidato ao Senado, o deputado federal Ronaldo Caiado, que também foi da base governista, mas há um bom tempo atua como independente ou faz oposição pessoal a Marconi.
A coligação peemedebista tem um trunfo aparente. Ao totalizar sete partidos, a legenda conseguiu uma “vitamina” política significativa, mais que dobrando o número de legendas da eleição passada, quando conseguiu atrair apenas o PT e o PCdoB. Em termos políticos, porém, há um problema: boa parte do DEM de Ronaldo Caiado integra a base governista e, mesmo informalmente, vai fazer campanha pelo governador.
A segunda maior chapa da oposição, com três partidos, tem o empresário e ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso (PSB), como candidato ao Palácio das Esmeraldas. Na vice, Professor Alcides, do PSC, ex-vereador em Aparecida de Goiânia. O candidato ao Senado é o procurador federal neófito na política Aguimar Jesuíno, do Rede Sustentabilidade mas formalmente filiado ao PSB.
Vanderlan Cardoso teve muitas dificuldades para fechar sua chapa majoritária, o que ele sempre negou. Essa dificuldade reflete, de certo modo, a estagnação de sua pré-campanha, em que ele esperava crescer mais em relação ao pleito de 2010, quando teve 16% dos votos na candidatura ao governo. Mas aconteceu o contrário, nas últimas semanas Vanderlan vem se desidratando nas pesquisas.
PT solo
A terceira chapa oposicionista é a do PT, sem coligação. Os nomes são o ex-prefeito de Anápolis Antônio Gomide (governo), o vereador por Goiânia Tayrone Di Martino (vice) e a suplente de deputada federal Marina Sant’Anna (Senado).
Gomide também esperava mais na pré-campanha. Durante todo o tempo ele conversou principalmente com o Solidariedade de Armando Vergílio e com partidos nanicos. Esperava atrair pelo menos duas siglas para a aliança, o que não ocorreu. E pior, nem o próprio PT está totalmente fechado com Gomide. O prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, nunca quis a candidatura própria do partido, preferindo coligação com o PMDB de Iris Rezende.
Na corrida sucessória há mais duas chapas oposicionistas que vão apenas fazer figuração. O PCB coligado com o PSTU terá a professora Marta Jane (PCB) como candidata ao governo, Felipe Rodrigo (PSTU) na vice e Antônio Vieira Neto (PCB) candidato ao Senado. O nanico PSol terá Weslei Garcia como candidato ao governo, Cintia Dias na vice e Élder Sampaio de Araújo candidato ao Senado.
A chapa neutra é representada pelo PSDC, um partido nanico que esteve atrelado à base governista, anunciou apoio a Marconi na reeleição, depois voltou atrás para anunciar que vai disputar. Nesse jogo, pode ser que desista de vez a qualquer momento.
As chapas majoritárias na disputa elitoral
Base aliada governista
Partido principal: PSDB
Marconi Perillo (PSDB) — candidato ao governo
José Eliton (PP) – vice
Vilmar Rocha (PSD) – cand. ao Senado
16 siglas na coligação: PSDB, PP, PSD, PR, PTB, PPS, PMN, PTdoB, PV, PEN, PRB, PDT, PTC, PHS, PSL, Pros
Oposições
1 – Partido principal: PMDB
Iris Rezende (PMDB) – candidato ao governo
Armando Vergílio (SDD) – vice
Ronaldo Caiado (DEM) – cand. ao Senado
Sete siglas na coligação: PMDB, SDD, DEM, PRTB, PCdoB, PTN e PPL
2 – Partido principal: PSB
Vanderlan Cardoso (PSB) – candidato ao governo
Professor Alcides (PSC) – vice
Aguimar Jesuíno (PSB) – cand. ao Senado
Três siglas na coligação: PSB, PSC e PRP
3 – Partido único: PT
Antônio Gomide – candidato ao governo
Tyrone Di Martino – vice
Marina Sant’Anna – candid. ao Senado
4 – Partido principal: PCB
Marta Jane (PCB) – candidata ao governo
Felipe Rodrigo (PSTU) – vice
Antônio Vieira Neto (PCB) – candidato ao Senado
Duas siglas na coligação: PCB e PSTU
5 – Partido único: PSol
Weslei Garcia – candidato ao governo
Cintia Dias – vice
Élder Sampaio de Araújo – candidato ao Senado
Chapa neutra
Partido único: PSDC
Alexandre Magalhães – candidato ao governo
Rodrigo Adorno – vice
Aldo Muro – candidato ao Senado