Uma eleição que pode não ser o “passeio” que se pensa

12 julho 2014 às 10h43

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Um susto não é de todo improvável a Ronaldo Caiado se ele confiar demais na sua liderança disparada e priorizar campanha para “bater” no governo

Está certo que a frente de Ronaldo Caiado (DEM) na corrida pelo Senado é magnífica. No levantamento Serpes mais recente, ele ostenta 33% das intenções de voto, contra 14% da petista Marina Sant’Anna e 10% de Vilmar Rocha (PSD). Para se ter uma ideia mais precisa da diferença, a soma de todos os adversários de Caiado, incluindo os nanicos, não chega a 30%.
Não se discute o conhecimento que Ronaldo Caiado desfruta junto ao eleitorado goiano. São cinco mandatos como deputado federal, com votações mais do que expressivas em alguns deles. Só na Câmara dos Deputados são 20 anos de presença. Além disso, consta de seu vasto currículo uma campanha à Presidência da República (em 1989, quando obteve menos de 1% dos votos) e uma ao governo do Estado (em 1994, quando nem chegou ao segundo turno).
Por aí se vê que o eleitor, principalmente os de meia idade para frente, tem elementos suficientes para conhecer Ronaldo Caiado. Se isso é vantagem — é indiscutivelmente é —, por outro lado tem aspectos problemáticos para o deputado candidato a senador. Muita gente não gosta de Ronaldo Caiado, razão porque sua rejeição na mesma pesquisa Serpes é a mais alta.
Nada menos que 14,4% dos eleitores rejeitam o líder dos produtores rurais, contra 9,1% dos que não querem Marina e 8,9% que refugam Vilmar Rocha. E 76% dos pesquisados formam no bloco dos que ainda não rejeitam ou não decidiram a quem rejeitar. Boa parte desses 76% vai optar por algum nome, mas outra parte vai continuar rejeitando alguém, principalmente a partir do momento em que ver os candidatos em campanha.
O perigo para Ronaldo Caiado está justamente aí. Figura forte, que muitos dizem passar uma ideia de autoritarismo, ele pode ver aumentado seu índice de rejeição assim que colocar a cara no vídeo. O sobrenome de uma oligarquia que por muito tempo — em tempos que a política não raro era exercida com truculência — mandou na política goiana pode reforçar essa ideia. Mas que fique bem claro aqui, Ronaldo Caiado não tem nada a ver com o que fez ou deixou de fazer qualquer antepassado seu.
O risco de perda de votos, portanto, existe naquilo que é específico do próprio Ronaldo Caiado. A par disso, a aliança organicamente inexplicável, a não ser pelo oportunismo político, com o PMDB de Iris Rezende também é complicada. DEM e PMDB são adversários, mais que isso, inimigos em muitas cidades. Caiado foi um dos mais severos críticos de Iris em passado recente. O eleitor anti-PMDB por convicção, e há muitos deles, pode deixar Caiado por rejeição a essa aliança estranha.
Por outro lado, há os adversários, que têm potencial de crescimento. Comecemos por Vilmar Rocha, o candidato da base aliada. É de se imaginar que a capilaridade de apoios dos adeptos de Marconi Perillo possa ajudar Vilmar em alguma medida. O próprio PSD (com muitos ex-DEM), presidido por Vilmar, tem uma razoável estrutura no interior goiano. Aí Vilmar Rocha pode ganhar votos que seriam destinados a Caiado.
Explica-se: os votos do líder ruralista estão na base aliada governista. Nesse sentido, se ele priorizar sua campanha em bater no governo, insistindo na desqualificação do governador, estará atritando com seu próprio eleitor. O registro se baseia em declarações em tom belicoso do próprio deputado na pré-campanha.
Já se ouviu que Iris seria preservado do papel agressivo contra Marconi, priorizando a apresentação de propostas, enquanto a Caiado caberia o papel de “malvado” contra o governador. Se ele entrar nessa, pode perder votos na base, além de ratificar a imagem de autoritário e irascível que de certa forma já está colada a ele.
É bem verdade que também se ouve nos bastidores Caiado vai mudar sua tática, ou seja, não se prestará a ser um “cabo de chicote” do PMDB na campanha ao governo, justamente para não atritar com seu nicho eleitoral.
E a petista Marina Sant’Anna pode vir a ser outro fator a balançar a tranquilidade das águas calmas do líder ruralista. Ela detém os votos fechados dos militantes petistas na capital e em algumas cidades. Nesse aspecto, Marina tem um ponto de partida razoável.
A suplente de deputado federal possui um histórico eleitoral interessante. Foi três vezes vereadora em Goiânia, ficou numa primeira suplência para deputado estadual e em 2002 foi candidata ao governo. Teve 15% dos votos, ou mais de 385 mil sufrágios. Nada menos que 25% dos votos na capital foram dados a ela. Marina deu uma “canseira” nos adversários e quase provocou um segundo turno entre Marconi e Maguito — a eleição foi vencida pelo tucano.
Marina tem um trabalho interessante junto aos públicos jovem, feminino e gay, tanto na Prefeitura de Goiânia (gestão de Pedro Wilson), como vereadora e ultimamente na Câmara dos Deputados. É dona de um discurso ameno, polido, propositivo, que tem ressonância principalmente no público universitário. Resumindo, Marina tem potencial de crescimento.
Por tudo isso, a eleição de Ronaldo Caiado, tida por muitos — e parece que por ele também — como favas contadas, pode causar um susto. Já pensou?
Exemplos não faltam. Lembremos um que envolve o próprio Iris. Em 2002, com duas vagas em disputa, o líder peemedebista foi candidato ao Senado. Liderava as pesquisas. Ao final, foram eleitos Demóstenes Torres, então no PFL, e Lúcia Vânia, do PSDB. Foi a segunda derrota fragorosa de Iris, que no pleito anterior tinha sido batido por Marconi Perillo na corrida ao Palácio das Esmeraldas.
Não se está dizendo aqui que a história vai se repetir em 2014, com o líder perdendo a corrida no apurar das urnas. Mas já diziam os antigos, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.