Aliados sentem cheiro de queimado na reeleição de Dilma

14 junho 2014 às 11h46

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PMDB mantém aliança com a presidente petista, mas a divisão na sigla em relação ao PT ficou escancarada na convenção nacional
O PMDB, como maior partido brasileiro em número de filiados e em fisiologismo, tem uma capacidade incrível para perceber para onde o vento sopra. Não é por outra razão que uma parte considerável da sigla vem pregando abertamente o rompimento da aliança com o PT em favor da reeleição de Dilma Rousseff.
Outra parte, por enquanto a maioria, capitaneada pelo vice-presidente Michel Temer, quer a manutenção da coligação. A sigla está dividida, o que ficou evidente na convenção nacional realizada na terça-feira, 10, em Brasília.
O apoio à reeleição da petista teve 398 votos a favor, ou 59%, e 275 votos contra, 41%. O índice cai a 54% se considerados os 737 votos possíveis na convenção, que registrou 64 votos brancos e nulos ou abstenções. Matematicamente foi uma vitória para Dilma, mas politicamente as coisas são bem mais complicadas.

Na verdade, foi um constrangimento para a presidente, que na eleição passada teve nada menos que 85% dos votos dos convencionais peemedebistas, quando foi apresentada por Lula da Silva como a candidata governista. O recado está mais do que claro: o PMDB sente que a vitória de Dilma não tem nenhum garantia no horizonte. Sim, porque se a petista estivesse mantendo com tranquilidade a liderando nas pesquisas, não há dúvida de que o placar da convenção peemedebista seria bem mais favorável a ela. O partido está sentindo o cheiro de queimado na reeleição de Dilma Rousseff.
Mas, independentemente do momento não exatamente auspicioso em termos eleitorais para Dilma, há líderes peemedebistas que percebem o perigo não só na perda da eleição presidencial com a petista, uma vez que o partido se arruma fácil, fácil com quem derrotar Dilma, se isso vier a acontecer. A preocupação desses líderes passa também pela certeza do enfraquecimento do partido em função da aliança com o PT.
É fato que PMDB e PT formam a coluna vertebral de apoio parlamentar do governismo. O problema é que o PMDB sabe que sua existência está cada dia mais ameaçada, por que o parceiro aumenta sua potência predatória na medida em que fortalece as próprias bancadas na Câmara e no Senado.
Neste ano, não custa lembrar o óbvio, realiza-se a eleição para presidente da República. Mas não só, e novamente lembrando o óbvio, serão eleitos também governadores, deputados estaduais e federais e um senador por Estado.
O fortalecimento de qualquer partido se dá na medida em que consiga manter bancadas robustas e o máximo de Executivos estaduais. É aí que mora o perigo para o PMDB, porque o PT pode lhe tirar vagas importantes.
Se na convenção de terça-feira o PMDB fechou com Dilma, o descontentamento no partido com o governo também ficou escancarado. Integrantes da ala contra Dilma discursaram e distribuíram panfletos com acusações de ineficiência e corrupção no governo.
Mesmo adepto incondicional da aliança, o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), disse que o partido apresentará propostas de governo a Dilma, entre elas o ensino em tempo integral e a “defesa permanente da liberdade de expressão e pensamento”, o que bate de frente com viés totalitarista do PT, que tem uma ala propugnando censura à imprensa. Raupp expressou o que talvez seja um espasmo de altivez do partido na questão programática.
O grupo mais crítico com os petistas foi o do PMDB do Rio. Lá, o candidato do PT ao governo, Lindbergh Farias, faz campanha desancando o governo de Sérgio Cabral, patrono de Luiz Fernando Pezão, o governador que concorre pelo PMDB. Cabral, o político que mais se desgastou com as manifestações do ano passado, esperava apoio dos petistas, mas estes jogaram mais gasolina na fogueira.
Na convenção, até Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara, candidato ao governo do Rio Grande do Norte, reclamou da falta de solidariedade dos petistas em seu Estado.
Base rachada nos Estados
O fato é que às vésperas da campanha eleitoral, a base aliada de Dilma Rousseff se apresenta rachada em pelo menos dez estados, como é o caso de Goiás pelo menos em relação a unificação da chapa pró-Dilma, e no Distrito Federal. Levantamento feito pelo “Correio Braziliense” na semana passada mostra um quadro em que a presidente terá dificuldade em escolher quais palanques frequentará, uma vez que os partidos aliados terão candidatos ao governo que não fecham com ela.
E, pior, em outros Estados, como no Rio Grande do Sul, com Ana Amélia (PP) e, possivelmente, no Amazonas, com Rebeca Garcia (PP), o tucano Aécio Neves é que terá o palanque. Em Mato Grosso do Sul, o apoio do peemedebista Nelson Trad Filho vai para Eduardo Campos (PSB).
Em Goiás, a situação de Dilma é ainda mais complicada. Boa parte dos partidos de sua base está com Marconi Perillo, o tucano candidato à reeleição e cabo eleitoral de Aécio Neves. Com a candidatura de Antônio Gomide pelo PT, se ele for mesmo candidato, e de Iris Rezende pelo PMDB, havia a dúvida se Dilma subiria nos dois palanques. Não há dúvida mais: Iris e seu pessoal definiram que não vão apoiar Dilma, pelo menos não formalmente.
Obviamente que se Dilma Rousseff não estivesse caindo nas pesquisas, os peemedebistas goianos não dispensariam a presença dela em seu palanque. Já o petista Antônio Gomide não terá como fugir desse fardo, com Dilma caindo ou não nas pesquisas.
No mapeamento feito pelo “Correio”, dos 30 candidatos ao governo pertencentes à base dilmista, 18 apoiam a petista, 8 não definiram a quem apoiar, 2 estão com Aécio Neves e 2 com Eduardo Campos.