Imprensa
Daniel de Castro, do UOL, é um jornalista experiente, competente e sério. Deve ter boas fontes na Globo, pois consegue publicar reportagens (notas) exclusivas, muito raramente desmentidas. Porém, quando se trata dos jornalistas William Bonner, apresentador e editor-chefe do “Jornal Nacional”, e Patrícia Poeta, ex-apresentadora do “JN”, fica-se com a impressão de que não está traduzindo exatamente o que está acontecendo. Ou, então, está traduzindo à perfeição. O colunista relatou que Patrícia Poeta não está na grade de programação da TV Globo para 2015. Comenta-se, nos bastidores — Daniel de Castro estaria ecoando vozes internas da rede de televisão —, que nenhuma equipe estaria preparando o programa de variedade que a jornalista pretende apresentar no próximo ano. Porém, ao contrário do que disse o repórter, a Globo informou que está se preparando para produzir o programa que será apresentado por Patrícia Poeta. Talvez seja o caso de, ao menos provisoriamente, deixá-la em paz.
[caption id="attachment_21466" align="alignleft" width="222"] Diretor Orlando Loureiro[/caption]
Faça-se justiça. Demorou, os repórteres cometeram erros, mas o diretor Orlando Loureiro está conseguindo ajustar o telejornalismo da TV Anhanguera. As reportagens sobre lixo em Goiânia, mostrando que o problema não é apenas a prefeitura não recolhê-lo, mas também a falta de colaboração da população, são bem feitas.
Espera-se, apenas, que a “parceria” entre a emissora e a prefeitura seja jornalismo e não produto de acordo comercial. Ainda assim, as reportagens têm interesse público e indicam que, finalmente, Orlando Loureiro acertou a mão.
No início, talvez por considerar Goiás como uma província, a equipe de Orlando Loureiro tentou folclorizar o Estado e suas autoridades. Deu errado e, habilmente, o diretor de jornalismo mudou o foco.
Não tenho dados recentes sobre audiência, mas possivelmente, com os ajustes, deve ter subido.
O “Correio Braziliense” (domingo, 16) entrevistou Maria Elisa Costa, filha do arquiteto Lucio Costa, o “inventor de Brasília”. A arquiteta criticou duramente o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília. Se aprovado, o PPCub, a serviço da especulação imobiliária, vai descaracterizar a capital. Por isso, “o melhor seria” jogá-lo “na lata de lixo por decreto e começar de novo”. “O que importa é criar meios de controlar o uso e ocupação do solo no entorno da área tombada para não acabar o pobre ‘avião’ cercado por um paliteiro de prédios altos. O horizonte faz parte de Brasília”, afirma Maria Elisa Costa. A arquiteta acredita que o senador Rodrigo Rollemberg — ela é cunhada da mãe do governador eleito — “consertará” Brasília, ou melhor, terá condições de impedir que seja desarranjada.
A mostra “Kandinsky: tudo começa num ponto” está em cartaz no Centro Cultural Branco do Brasil (CCBB), em Brasília, até 12 de janeiro. A entrada é gratuita. São mais de 150 obras tanto do pintor russo quanto de alguns de seus contemporâneos. O “Correio Braziliense” publicou um suplemento especial sobre a mostra, com textos curtos, mas de qualidade, relatando que o notável artista plástico “saltou”, se se pode dizer assim, do impressionismo para o abstracionismo.
O “Pop” está publicando uma série de reportagens sobre a Operação Malavita, que investiga a aliança entre um grupo de policiais militares de Goiás com traficantes. Na edição de terça-feira, 18, o repórter Cleomar Almeida revelou, na matéria “Grupo queria dominar tráfico”, que policiais militares “disputavam o controle do tráfico na cidade de Anápolis”. Cleomar Almeida relata que um dos envolvidos é o capitão Fabiano de Borba Ferreira. Policiais de Goiás mantinham (ou mantêm) ligação com facção criminosa de Brasília.
O jornal “O Estado de S. Paulo” comete deslize ético e afirma que Marcelo Pires Perillo, ouvido pela Polícia Federal sobre acusação em Rondônia, é irmão do governador Marconi Perillo. Não é
Iúri Rincon Godinho
A história da música popular brasileira de raiz, com seus encantos e dificuldades. Assim poderia ser resumido “Inezita Barroso — Rainha da Música Caipira”, do jornalista Carlos Eduardo Oliveira, mas narrado em primeira pessoa por Inezita, com prefácio do cantor Daniel.
Uma das mais autênticas artistas da música brasileira, ela conta em detalhes os entraves para perseverar em uma área às vezes tão relegada pelo mainstream, como as canções de raiz — aquelas que dormem no limbo entre as breganejas das rádios e a MPB mainstream. Mais do que isso, a obra é uma peça de resistência de seu programa “Viola, Minha Viola” (TV Cultura), no ar desde os anos 80, sempre apostando em talentos regionais da autêntica música caipira.
Com uma vida dedicada à música, Inezita relata casos com Silvio Santos, o presidente Juscelino Kubitschek, Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto, Mazzaropi e Hebe Camargo, dentre outros: inclui até a incrível história de como a dupla Roberto e Erasmo, nos tempos da Jovem Guarda, ao mesmo tempo destruíram a carreira e salvaram Inezita, que sobreviveu dando aulas de violão.
A artista, que trabalhou também em vários filmes, faz uma dura crítica à indústria fonográfica, afirmando que a pirataria sempre existiu. Certa vez ela comprou 100 discos para dar de presente e, no acerto com a gravadora, constava apenas a venda de 21 unidades. Sem falar nas coletâneas vendidas fora do Brasil e das quais ela nunca recebeu.
Parece que a história mais interessante não chegou ao livro. Aquela que contaria como uma mulher libertária sobreviveu no mundo caipira machista e povoado de homens nos anos 50 e 60. Talvez o maior mérito da obra seja ter sido editado pela goiana Editora Kelps, em uma edição que, se não encanta, também não fará feio nas livrarias.
Iúri Rincon Godinho é publisher da Contato Comunicação, escritor e pesquisador da história de Goiás.
Editada pela jornalista Adevania Silveira, que passou pelo “El País”, a revista “The Book” (está no quarto número), além de belíssima, publica reportagens de qualidade. O repórter Rimene Amaral escreveu o melhor texto da edição, “Uma vida feita de páginas”, sobre o alagoano Samuel Soares da Silva. Ele tem um acervo de “aproximadamente 60 mil livros” e pretende, mas não consegue, doá-lo para uma instituição pública. Os livros estão num espaço no Setor Leste Vila Nova e podem ser consultados pelo público. Nasr Chaul, que está organizando a biblioteca do Centro Cultural Oscar Niemeyer, deveria dar uma olhada nos livros de Samuel Soares.

Quem aprecia poesia de qualidade tem duas minas de ouro a explorar: “Milton” (Nova Alexandria, 295 páginas, tradução de Manuel Portela), de William Blake, e “O Paraíso Reconquistado” (Cultura, 304 páginas, organizado por Guilherme Gontijo Flores), de Milton. “Paradise Regained” integra uma obra mais ampla, iniciada com “Paraíso Perdido”.

O que há de comum entre os escritores Jorge Luis Borges e Stephen King e o cineasta Guillermo del Toro? A paixão pela obra literária de H. P. Lovecraft. Para conhecê-lo vale a pena ler “A Vida de H. P. Lovecraft — O Grande Mestre do Terror” (Hedra, 446 páginas, tradução de Bruno Gambirotto), de S. T. Joshi.
Stephen King diz que Lovecraft “permanece insuperado como o maior expoente do horror clássico”.
Cthulhu, personagem de Lovecraft, é uma figura icônica. S. T. Joshi é considerado um dos maiores, senão o maior, especialistas tanto em sua obra quanto em sua vida.
A Hedra também publica “Os melhores contos de H.P. Lovecraft”.
[Iúri Rincon Godinho, José Guilherme Schwam e Luciano de Castro Carneiro]
Iúri Rincon Godinho
O jornalista José Guilherme Schwam, apresentador do programa “Pelos Bares da Vida”, está internado na UTI do Hospital Anis Rassi depois de se sentir mal na manhã de quinta-feira, 20. Seu quadro é de pneumonia dupla. De acordo com um dos médicos que o atendeu, o cardiologista Abrahão Afiune, ele chegou em estado de choque à unidade de saúde, com dificuldades para respirar, pressão descontrolada e falência da função renal. No boletim de sexta-feira, 21, ele continuava respirando com dificuldade mas o rim voltou a funcionar, a pressão se mantinha estável e ele estava consciente.
Na quarta-feira, 19, à noite, José Guilherme participou normalmente do lançamento de um guia de turismo na sede do Sindicato de Hotéis de Goiânia. De acordo com o presidente da entidade, Luciano de Castro Carneiro, o jornalista estava disposto, de bom-humor, falante e em momento algum demonstrou qualquer problema de saúde. Também presente ao evento, o executivo Cláudio Manoel Serrano relata que o apresentador estava tossindo. Na manhã de quinta-feira, ele teve uma forte dor na perna, fraqueza e não conseguia respirar direito. Uma unidade do Samu o levou até o Hospital Anis Rassi.
[Adriana Accorsi e seu pai Darci Accorsi]
Darci Accorsi nasceu para ser mestre e alegre. Na Universidade Católica de Goiás (UCG), entre 1980 e 1983, cursei História e o gaúcho de olhar vivo e inquisitivo foi meu professor de Filosofia, no Básico. Depois, no curso de Filosofia da Universidade Federal de Goiás, no início da década de 1980, voltou a ser meu professor. Sua vocação era dar aulas – o que fazia com enorme prazer. Era mais diversão do que trabalho. Estudar Heidegger, ou qualquer filósofo complexo, era uma delícia. Darci tornava-o simples, mas sem simplificá-lo. Outro excelente professor, o padre Jordino, adensava Heidegger, ampliava sua complexidade, sugeria que estudássemos alemão. Darci puxava o filósofo alemão para perto de nós. Não nos iludia, indicando que se tratava de um filósofo fácil, mas buscava torná-lo mais acessível. Às vezes, com aquele jeitão extrovertido e olhar perscrutador, explicava que era preciso dominar os conceitos e o vocabulário mais utilizado pelo filósofo. Daí tudo ficava menos difícil.
Paralelamente à sua atividade docente, Darci dedicava-se à militância política, no Partido dos Trabalhadores, o PT. Era uma de suas estrelas. Por duas razões: era motivador e líder. Fazia tudo com paixão. Costuma-se dizer que o PT faz mais reuniões do que gestão. Marca-se uma reunião para, a partir dela, fazer outra reunião. É a má fama do PT. Mas Darci era diferente, ou ligeiramente diferente. Há quem não considere que tenha sido bom prefeito. Engana-se. Não foi mau prefeito. Talvez tenha sido o melhor prefeito do PT na capital. Devemos a ele, entre outras coisas, o Parque Vaca Brava. No poder, quando muitos mudam, tornando-se autoritários e arrogantes, permaneceu democrata e aberto ao diálogo. Tinha uma delicadeza no trato pessoal ímpar. Não era vingativo nem ressentido.
Depois, voltou a disputar a Prefeitura de Goiânia, mas foi derrotado. Dizem que descasou-se do PT. Talvez tenha sido diferente: o PT, em certo momento de radicalização, o deixou. Mas ele, mesmo se filiando noutro partido, não havia deixado o PT. Tanto que, mais tarde, voltou ao partido. Tinha forte identidade com o PT moderado, mais próximo da socialdemocracia. Darci era um realista, que sabia que administrar não é colecionar ideias bonitas e impraticáveis sobre mudar o mundo. Sabia que gerir bem um município é o comecinho para mudar a cidade, o país e o mundo.
Há pouco tempo, as redações receberam a informação de que Darci estava doente – tinha câncer. Devido ao fato de ser um homem esfuziante – este espírito alegre e feliz disfarçava sua idade e todos sempre pensavam que era mais jovem, muito mais jovem (quase sempre de cabelos revoltos, um cigarro na mão e o inconfundível sotaque gaúcho) – muitos duvidaram de que a notícia fosse verdadeira. Mas era. Sempre um resistente, tratou-se, seguiu as recomendações médicas. Porém, com a agudização do câncer, o organismo não resistiu e o mestre Darci morreu, aos 69 anos, na quinta-feira, 20, em Goiânia. Talvez seja possível sintetizá-lo assim: um homem alegre, de bem e do bem. Um homem que viveu para servir.
Darci deixa uma semente na política: sua filha Adriana Accorsi, delegada da Polícia Civil de Goiás que, na disputa deste ano, elegeu-se deputada estadual, pelo PT, com uma votação extraordinária. Adriana, com seu olhar luminoso, tem a paixão do pai para fazer o bem. Ele ficou orgulhoso com sua vitória eleitoral. Ele sabia que estava partindo, mas sabia que sua história teria sequência.
Estadão comete erro e diz que Marcelo Pires Perillo, ouvido pela Polícia Federal sobre acusação em Rondônia, é irmão de Marconi Perillo. Não é. Eles não mantêm nenhuma ligação
A “Folha de S. Paulo” não parou de demitir. No sábado, 15, afastou o repórter Ricardo Feltrin, do F5, o site de entretenimento da publicação dirigida por Otavio Frias Filho, na área editorial, e Luís Frias, no setor administrativo-financeiro. Mais uma vez, como ocorreu quando demitiu 14 jornalistas, há pouco, o jornal paulistano não explicou a razão do afastamento. As
Feltrin continua no UOL, como apresentador — às segundas — do programa “Ooops!”.
Recentemente, Feltrin publicou instigante reportagem sobre a investigação patrocinada pelo Vaticano sobre as ações do padre Marcelo Rossi na Igreja Católica.
A jornalista Fabíola Reipert foi condenada pela Justiça de São Paulo a pagar a R$ 72,4 mil de indenização por danos morais a Raí Souza Vieira de Oliveira, de 49 anos. Em 2012, a blogueira do portal R7 teria insinuado que o ex-jogador de futebol e o apresentador da TV Globo Zeca Camargo mantinham um relacionamento afetivo. A repórter pode recorrer.
Fabíola Reipert, segundo o UOL, comentou a decisão judicial: “O caso está a cargo do departamento jurídico do portal, por isso não gostaria de falar a respeito. Só acho estranho que seja proferida uma condenação baseada em suposições. A nota que eu publiquei não contém nenhuma afirmação de que Raí é homossexual ou teve algum caso com qualquer pessoa”. Raí preferiu não se pronunciar.
Por que a sexualidade alheia — não apenas a homossexualidade — incomoda tanto as pessoas, inclusive jornalistas? É um caso a se estudar. É provável que, no fundo, o jornalista acredite que o exercício de sua profissão não tem limites.
A função do jornalismo, se o jornalismo tem alguma função, é iluminar a sociedade e contribuir, de alguma maneira, para a construção de uma sociedade aberta, menos afeita a preconceitos. Certas notícias sobre a homossexualidade das pessoas, ao que parece, tem mais a intenção (inconsciente?) de reforçar preconceitos do que de esclarecer quaisquer fatos. No caso, há o agravante de que, tudo indica, a notícia não era verdadeira. Porém, se fosse, era mesmo uma notícia de relevância pública? Não era. Não é.
Raí é um cidadão exemplar, com ampla participação social. Não há nada que o desabone. É o Raí que interessa à sociedade.