Depois da biografia de Fawcett, Hermes Leal lança romance sobre guerrilha contra a ditadura
16 janeiro 2015 às 13h04
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Formado em Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás, Hermes Leal é um ser múltiplo, de muitas inquietudes e criações. Ele é jornalista, escritor, biógrafo, roteirista e documentarista. É mestre em cinema pela Universidade de São Paulo e doutorando em semiótica na mesma unidade de ensino. Escreveu o romance “Faca na Garganta”, as biografias “O Enigma do Coronel Fawcett” (copiadíssimo por um jornalista americano, que não lhe deu o devido crédito) e “O Homem da Montanha” e o livro “O Quilombo Perdido”. Agora está lançando o romance “Antes Que o Sonho Acabe”, que ainda não li, mas entrou para minha lista penelopiana. Como não li, publico o longo release da Geração Editorial.
O romance “Antes Que o Sonhe Acabe” tem 208 páginas e custa R$ 29,90.
Material da Geração Editorial
Dançando conforme a música
No antigo seriado “Túnel do Tempo”, os personagens são enviados ao passado e dançam conforme a música para escapar de situações difíceis, como uma guerra em andamento. Na verdade, isso acontece com cada um de nós. Quem nasce hoje, por exemplo, terá que enfrentar o mundo tal qual ele é, com todas as suas virtudes e vicissitudes. Em “Antes Que o Sonho Acabe”, o personagem Daniel vê-se enredado pelos acontecimentos da década de 1970, entre os quais a guerrilha na selva amazônica. Mas este episódio é apenas um pano de fundo para apresentar um rapazinho meigo, sem malícia, amigo íntimo da natureza, que sonhava com uma vida melhor e fugir daquele fim de mundo às margens do rio Tocantins. Mas as circunstâncias vão alterando os seus planos. A cada dificuldade, no entanto, Daniel vai crescendo, transformando espinhos em amadurecimento, dificuldades em sabedoria. Mas não tinha muita consciência disso durante a turbulência da vida. Nada como a memória para voltar ao passado e aprender duas vezes. É o túnel do tempo que existe em cada um de nós. O personagem Daniel é maior que a história que tenta aprisioná-lo como um bicho. Com a palavra, Hermes Leal.
Uma paixão arrebatadora nasce em meio a uma revolução
Baseado em fatos reais, “Antes Que o Sonho Acabe” é uma aula singela sobre o triste episódio de caça aos comunistas na selva amazônica, mas, sobretudo, a história de um adolescente sonhador, que vira herói sem querer. Os acontecimentos se desenrolam nos anos 60 e 70 do século recém-findo [20]. O personagem Daniel relata a sua visão sobre aspectos da guerrilha e da ditadura militar brasileira (1964-1971), período em que passou a infância e a adolescência em lugares remotos do norte do Brasil, às margens do Rio Tocantins, não muito distante do Rio Araguaia. Para lá se embrenharam parte dos guerrilheiros brasileiros que sonhavam com uma sociedade igualitária, influenciados pelos ideais socialistas e comunistas soprados pela ex-União Soviética e Cuba. Eram estudantes de São Paulo e Rio de Janeiro, em sua maioria. Chamados de terroristas, eles se instalaram inicialmente às margens do Tocantins e depois migraram para áreas de combate na selva, próximo às cidades de Marabá (PA) e Xambioá (TO).
Se o povo das grandes cidades apenas ouvia falar “dos tais comunistas que comiam criancinhas”, o personagem Daniel viveu bem pertinho deles e percebeu que a história está mal contada. Os absurdos que presenciou logo o levaram a ajudar um casal de guerrilheiros (Diana e Osvaldo) a fugir pela floresta amazônica, escapando, os três, sob o fogo cruzado do exército. O envolvimento deu-se por acaso, mas, de qualquer modo, Daniel acabou tomando parti do, colocando a própria vida em risco. E percebeu que a ditadura espalhava boatos mentirosos acerca dos “terroristas”, para que eles fossem caçados como bichos pelos mateiros e pistoleiros da região, os quais recebiam pelo “serviço”. A ordem era prender, torturar, arrancar o máximo de informações e matar logo. Antes de se envolver com a guerrilha acidentalmente, o maior sonho de Daniel, um rapaz até então ingênuo, sem nenhuma formação política, era, simplesmente, fugir daquele fim de mundo e procurar uma vida melhor. Ele tentou fazer isso várias vezes, mas as circunstâncias começaram a enredá-lo como uma caça presa na armadilha. Embora criado de maneira selvagem, nadando em rios caudalosos ao lado de filhotes de sucuris, o seu maior desejo era, mesmo, ir morar no Rio de Janeiro ou em outra cidade de que tanto o rádio falava.
A televisão ainda estava chegando aos lares brasileiros das grandes cidades e o mundo vivia as ameaças da Guerra Fria, de um possível confronto entre russos e norte-americanos. O país estava sob o Ato Institucional nº 5, instrumento que a ditadura usava para censurar músicas, filmes, livros e até mesmo o ato de pensar. Também transcorria a Guerra do Vietnã. Os Beatles e o rock conquistavam o mundo. O pai de Daniel, um ferreiro matuto que bati a no filho para “educá-lo”, construía obsessivamente um abrigo antiaéreo para proteger a família, composta por outras três filhas (a mulher havia morrido com malária). Russos e americanos prometiam destruir o mundo caso entrassem em guerra. A Terceira Guerra Mundial poderia eclodir a qualquer momento. É neste clima que Daniel, apaixonado por uma garota da região (Heloísa), ficou dividido após conhecer a guerrilheira Diana, que ajudara a fugir pela selva. Daniel jamais seria o mesmo, saindo ou não daquele sertão profundo. A história foi ao encontro dele e o abraçou bem forte.