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Priscilla Sampaio era apresentadora da TV Morena, em Mato Grosso do Sul
Sem George Saint-Pierre e Anderson Silva, e com Cain Velasquez em má fase, a empresa dos irmãos Fertitta, dirigida por Dana White, precisa do carisma e da versatilidade do grande lutador
Bruno Rocha vai para a assessoria de imprensa da Diretoria do Fórum

Uma coisa é certa: o Centro-Oeste, o Norte, o Nordeste e o Sul não existem para o PSDB
Pedro Vedova, Sandra Coutinho e Cecília Malan foram prestigiados pela cúpula da Globo
Corte Portuguesa foi obrigada a pagar resgate em ouro, açúcar e gado. Portugueses tentaram mas não conseguiram esconder o eldorado brasileiro
Jarbas Silva Marques
[Duguay-Trouin (à esquerda) com o rei francês Luís XIV]
Desde que Hernan Cortez invadiu o México e Francisco Pizarro, o Peru, e perpetraram o maior genocídio nas Américas, destruindo as civilizações dos Astecas, Maias, Toltecas e Incas, o ouro passou a ser a cobiça dos povos europeus. A Coroa Portuguesa, ociosa e carola, manteve-se quase 50 anos satisfeita com o extrativismo e com o seu colonialismo leniente a exigir dos bandeirantes a descoberta do “eldorado brasileiro”.
O endividado Reino Português pouco fazia diante das investidas francesas no Rio de Janeiro e no Maranhão; só quando Nicolau Durand de Villegaignon, em 1555, instala dois canhões no promontório onde está edificada a Fortaleza de Santa Cruz é que se organiza, em Portugal, a resistência à “Utopia Tropical” dos Huguenotes, com a nomeação, em 1560, de Mem de Sá como governador-geral do Rio de Janeiro.
A ação de Mem de Sá e seu sobrinho Estácio de Sá gerou o primeiro movimento contra o colonialismo português, a Confederação dos Tamoios.
Atribui-se ao mineiro prático Luiz Martins — enviado por Catarina de Habsburgo — e a Brás Cubas a descoberta de ouro em 1561.
Até na lápide de seu túmulo Brás Cubas “reivindicava” para si esta descoberta.
Portugal instigava seus representantes na colônia brasileira em busca da "Lagoa Dourada", pressionando os "paulistas", e estes os indígenas, para encontrarem ouro, já que os espanhóis levavam as toneladas para a Espanha, inoculando na Europa a febre do ouro.
Os paulistas matreiramente faziam corpo mole na busca das minas de ouro, pois sabiam que, junto com o ouro, viria a voracidade do colonialismo português.
Diante da coerção do colonialismo português, os indígenas brasileiros inventaram a "Sabarabuçu", local onde estariam as maiores jazidas.
A primeira expedição foi a de Luiz Martins e Brás Cubas que, seguindo uma antiga trilha indígena, os levasse de Piratininga até as nascentes do Rio São Francisco, onde acreditavam estaria a tão procurada “Sabarabuçu”.
Ascende ao trono português Dom Sebastião, o Esperado, o último descendente da dinastia de Avis, preocupado apenas, no dizer do historiador Oliveira Martins, em "arrasar os muros de Constantinopla ou apoderar-se do Califado do Egito ou libertar a Palestina ou conquistar Marrocos”.
O Brasil Colônia desaparece das preocupações de Dom Sebastião, até que em agosto de 1578, na Batalha de Alcácer Quibir, no Marrocos, ele desaparece sem que se saiba se foi aprisionado ou morto, passando à história como adjetivação aos messianismos sociais no Brasil, de Canudos, dos Pelados em Santa Catarina a Santa Dica em Pirenópolis.
Com sua morte, e sem deixar herdeiros, seu primo, Filipe II, da Espanha, envia uma tropa de 20 mil soldados a Alcântara e anexa Portugal ao Reino Espanhol.
Essa anexação faz desaparecer, na prática, o Tratado de Tordesilhas, celebrado entre Portugal e a Espanha em 1494, no qual dividiam o "mundo" a ser descoberto e que motivou os protestos do rei francês Francisco I, que disse desconhecer o testamento de Adão e Eva deixando o mundo como herança a portugueses e espanhóis.
Os bandeirantes paulistas ultrapassaram a Linha de Tordesilhas, em cuja área física estão Brasília e o atual Distrito Federal, e que, graças a ação diplomática do avô da diplomacia brasileira, Alexandre de Gusmão, iria anexar em 1750, por meio do Tratado de Madri, os 5.500.000 quilômetros quadrados que dão a continentalidade ao Brasil, que hoje se limita em 10 países americanos que se constituíam na América Espanhola.
Afinal o ouro
A restauração do Reino Português ocorre em 1640, depois de 60 anos do jugo de Castela, quando os portugueses invadem o Palácio da Ribeira, em Lisboa, prendem a duquesa de Mântua e jogam pela janela o seu secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos.
Fernão Dias Paes Leme [ilustração acima], depois de Domingos Jorge Velho, o sanguinário bandeirante paulista que destruiu o Quilombo de Palmares, em Alagoas, era o bandeirante de maior fama em "prear índios'" e os escravizar. Era um rico fazendeiro na região onde hoje é a cidade de São Paulo, chegando a administrar, segundo Pedro Taques em "Nobiliarquia Paulistana", 5.000 índios. Ele passou a ser cortejado por Afonso VI e Dom Pedro II, de Portugal, para organizar uma gigantesca expedição em busca da procurada “Sabarabuçu”.
Em 1671, recebeu uma carta do governador-geral do Brasil, o Visconde de Barbacena, em que ele oferecia o apoio colonial e, ao mesmo tempo, pedia-lhe segredo quanto às descobertas, para evitar a cobiça internacional, já manifestada por franceses e holandeses.
Fernão Dias Leme dissipou sua fortuna acreditando no apoio colonial e foi traído por Pedro II, que nomeou Rodrigo Castelo Branco como "administrador-geral das Minas da Sabarabuçu”.
O gigante físico Fernão Dias passa à história como o "Caçador de Esmeraldas", morrendo sem descobrir a tão decantada "Sabarabuçu”.
No dia 18 de março de 1694, Dom Pedro II, de Portugal, expediu uma curta ordem ao governador-geral do Brasil, que, segundo o jornalista e historiador Lucas Figueiredo, “mudaria a história do Mundo”. Nela o rei português prometia a posse da mina ao seu descobridor.
Diante desse fato os paulistas começaram a “achar" o ouro que relutaram por 150 anos em saber da sua existência.
A “Sabarabuçu" pôde então ser encontrada no território por onde pisara Fernão Dias Paes Leme e seu cunhado Borba Gato.
Apesar da controvérsia entre historiadores, eis que inúmeras jazidas de ouro foram achadas ao mesmo tempo no atual Estado das Minas Gerais. A primeira descoberta documentada alude ao bandeirante Antônio Rodrigues Arzão, em 1693, nas proximidades do atual município de Viçosa; seguiram-se as minas de Sabará, Caetés e Ouro Preto.
Morto Fernão Dias, seu cunhado Manoel Borba Gato [estátua acima] era quem mais conhecia o sertão; por esta razão, depois de ficar escondido 16 anos, acusado de assassinar o catalão Rodrigo Castelo Branco, nomeado administrador-geral das Minas de “Sabarabuçu”, foi procurado pelo governador do Rio de Janeiro, Artur Sá de Meneses, que negociou o perdão pelo assassinato de Rodrigo Castelo Branco se, em troca, Borba Gato indicasse as minas de ouro, para tirar da insolvência financeira o governo colonial português.
Enfim, 104 anos após o Tratado de Tordesilhas, “Sabarabuçu”, o Eldorado Português, tinha a sua descoberta proclamada.
Inicia-se a “Febre do Ouro" e, apesar da política de segredo do governo português, a corrente migratória praticamente despovoou o norte de Portugal, do Douro, Trás-os-Montes e o Minho, obrigando a Corte Portuguesa a baixar leis proibindo a migração para o Brasil.
Os paulistas, que relutaram por mais de 150 anos de se transformarem de agricultores e criadores em mineradores, correram para as minas da “Sabarabuçu”, com a experiência adquirida nas Entradas e Bandeiras em prover roças e lavouras como estratégia de sobrevivência.
A migração foi intensíssima: em menos de seis meses mais de 10 mil garimpeiros acorreram às jazidas descobertas. Ouro havia para todos, mas alimentos não havia para saciar esses milhares de soldados da fortuna. Os paulistas passaram a cobrar preços escorchantes pelos alimentos. Nascia então as sementes da Guerra dos Emboabas.
Essa migração intensíssima podemos compará-la ao que o Brasil vivenciou em 1980 com Serra Pelada, e Brasília, em 1981, com as novas jazidas de cristal de rocha em Cristalina.
Os paulistas, descobridores das minas de ouro, sofreram a invasão dos emboabas — que significava as aves de arribação; dessa luta decorreram várias batalhas, nas quais os paulistas foram derrotados. Manoel de Borba Gato era o líder dos paulistas e Manoel Nunes Viana, dos Emboabas.
A derrota dos paulistas na “Sabarabuçu" impulsionou a criação do gado vacum e muar para a região Centro-Oeste, a ponto de a Coroa Portuguesa baixar normas criatórias que os afastassem das regiões agrícolas de Goiás e Mato Grosso onde haviam garimpos de ouro e diamante.
Depois da derrota na Guerra dos Emboabas, Borba Gato, expulso de Minas Gerais, vem em busca do ouro nos sertões de Goiás e se estabelece na então Santo Antônio das Mangas, hoje São Romão, às margens do Rio São Francisco, ocupando a posição estratégica de ponto de ligação de Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e o litoral.
Em São Romão, a filha caçula de Borba Gato, Thereza da Fonseca Borba Gato, se casa com o português José Monteiro Guimarães; mudam-se para o sul da atual cidade goiana de Formosa, originando a família Monteiro Guimarães, da qual descende Honestino Monteiro Guimarães, proto-mártir de Brasília e vítima da ditadura civil-militar de 1964, figurando como desaparecido político desde 1973.
A escalada da produção aurífera rende, dois anos após a Guerra dos Emboabas, 200 quilos de ouro à Coroa Portuguesa, atingindo, em 1741, cerca de 12 toneladas. O que a Coroa Portuguesa nunca revelou e nem quantificou foram os diamantes descobertos à flor da terra, em Diamantina, e que eram enviados em caixas para Portugal.
A cobiça
A cada navio que chegava a Lisboa, os espiões franceses, ingleses e holandeses informavam seus países da riqueza que fluía do Brasil.
Embora a capital do Brasil Colônia ainda fosse Salvador, as riquezas que saíam das minas de ouro e diamantes de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás chegavam ao Rio de Janeiro pela Estrada Real a partir de Diamantina.
As feridas entre os combatentes da Guerra dos Emboabas ainda estavam abertas quando, na França, a Companhia de Chatelain-de-Neuville organizou uma frota sob o comando do corsário francês Jean-Francois du Clerc, recém-promovido a capitão-de-fragata à frente de 1.500 homens, marinheiros e soldados, para invadir o Rio de Janeiro.
No dia 17 de agosto de 1710, a esquadra francesa chegou à entrada da Baía da Guanabara e, após receber um canhoneio da Fortaleza de Santa Cruz, recuou até as proximidades de Guaratiba. Depois de saquear algumas fazendas na região, iniciou com suas tropas o deslocamento por terra em direção ao Rio de Janeiro.
De Jacarepaguá Du Clerc contornou o Engenho Velho, entrando na cidade pelo atual bairro do Catumbi, dirigindo-se a Santa Tereza; no Morro do Castelo sofreu o primeiro combate, que iria culminar na sua derrota e aprisionamento no dia 21 de setembro.
Nos combates se sobressaiu o capitão Bento do Amaral Coutinho à frente dos estudantes do Rio de Janeiro. Nem Varnhagen, nem o Barão do Rio Branco e nem o general Augusto Tasso Fragoso aludiram, em suas copiosas pesquisas sobre as invasões francesas no Rio de Janeiro, que Bento do Amaral Coutinho, à frente dos estudantes, era o mesmo sargento-mor do episódio conhecido como o “Capão da Traição”, na Guerra dos Emboabas.
Jean Du Clerc morreu assassinado no dia 18 de março de 1711, na casa em que recebeu por ménage; mesmo antes de Du Clerc ser morto no Rio de Janeiro, o almirante René Duguay-Trouin já organizava uma outra esquadra para invadir o Rio de Janeiro.
O sequestro
Mesmo antes de Jean du Clerc organizar a esquadra financiada pela Companhia Chatelain-de-Neuville, o corsário francês René Duguay-Trouin [abaixo, em pintura do século 18] já pensava em organizar uma grande operação de corso na cidade do Rio de Janeiro. Ao contrário de Du Clerc, ele não pretendia desembarcar e seguir por terra e ser fustigado pelas guerrilhas de Bento Amaral.
Sua esquadra se compunha de 17 navios artilhados de 420 canhões, enquanto o Rio de Janeiro, da Fortaleza de Santa Cruz até a Ilha das Cobras, possuía 164 canhões, dos quais dezesseis eram de bronze.
O governador do Rio de Janeiro, Francisco de Castro Morais, já tinha sido avisado da chegada da grande esquadra de Duguay-Trouin e que, em aproximadamente 20 dias, ela estaria próxima da cidade.
Favorecido por uma intensa neblina, ao meio-dia de 12 de setembro de 1711, René Duguay-Trouin alinhou sua flotilha e, no navio comandado por Courserac (que já conhecia a entrada da Baía da Guanabara) e apesar do canhoneio da Fortaleza de Santa Cruz, às quatro da tarde sua esquadra já estava fundeada na Baía de Guanabara, a salvo dos canhões dispostos até a Fortaleza da Conceição.
Pela incompetência administrativa e militar do fovernador Francisco de Castro Morais, após vinte dias de combate, Duguay-Trouin manteve a cidade sequestrada até 4 de novembro de 1711, quando recebeu a última parte do resgate de 610 mil cruzados de ouro, 100 caixas de açúcar e 200 bois.
Embora o Rio de Janeiro só viesse a ser a segunda capital do Brasil Colônia em 1763, à época era a capital econômica, por onde jorraram os diamantes e o ouro que financiaram a revolução industrial na Inglaterra.
O segundo fato geopolítico a motivar a interiorização da capital do Brasil se deu por ocasião da Guerra do Paraguai. Os antiescravistas, os maçons, os positivistas e os republicanos constataram o vazio demográfico nos 5.500.000 quilômetros conquistados pelos bandeirantes de 1550 a 1750, quando do Tratado de Madri.
As assertivas geopolíticas desses grupos políticos se consolidam no dia 24 de fevereiro de 1891, quando, na proclamação da Primeira Constituição da República Federativa Brasileira, dispõem, no seu artigo 3º, a demarcação e a transferência da capital federal para o Planalto Central Brasileiro.
Sob a diretriz política e administrativa do condutor de sonhos, Juscelino Kubitschek de Oliveira, a capital federal é construída e inaugurada em 1094 dias (20-4-1957/21-4-1960), interiorizando o progresso e assegurando o domínio da continentalidade brasileira e impedindo a internacionalização do Centro-Oeste e da Amazônia.
Jarbas Silva Marques, professor, jornalista e historiador, é colaborador do Jornal Opção.
A violência extrema contra as mulheres indica que o humanismo masculino às vezes é apenas retórico
[caption id="attachment_46804" align="alignright" width="250"] Filmes ampliam o entendimento do que foi a poderosa batalha da democracia contra o totalitarismo[/caption]
O historiador britânico Norman Davies, no livro “Europa na Guerra” (Record, 599 páginas, tradução de Vitor Paolozzi), faz uma crítica corrosiva às interpretações que o cinema dá à Segunda Guerra Mundial (leia mais aqui). O historiador britânico sublinha que o cinema simplifica a guerra e, às vezes, superestima a participação dos norte-americanos e quase ignora a atuação decisiva dos soviéticos.
A ressalva é que Norman Davies usa o cinema para fazer análise histórica. Isto não quer dizer que o cinema deve falsificar, distorcer ou edulcorar. Mas a arte — se cinema é arte; tendo a sugerir que é novela mignon para “massas instruídas” — força mesmo a realidade; não é mera reprodução. Aos que estão mais interessados em cinema, em olhares diferentes sobre a batalha que envolveu o mundo entre 1939 e 1945 — da qual participaram 25 mil brasileiros —, a Versátil lança seis filmes em três DVDs para recontá-la, não raro de maneira idiossincrática e redutora mas sempre interessável.
O disco um contém os filmes “Fomos os Sacrificados” (1945) e “48 Horas” (1942). “Fomos os Sacrificados”, de 1945, tem direção de John Ford e um elenco estelar: John Wayne, Robert Montgomery e Donna Reed. Marinheiros americanos lutam na península de Bataan. Um belo filme do mestre Ford, o Bergman do Western aqui mostrando e tentando explicar a guerra. “48 Horas” é dirigido pelo brasileiro Alberto Cavalcanti, com os atores Leslie Banks, Elizabeth Allan e Frank Lawton. O filme é baseado numa história de Graham Greene.
“Também Somos Seres Humanos” (1945) e “Proibido!” (1959) estão no disco dois. O primeiro — com direção de William Wellman, com Robert Mitchum e Burgess Meredith — mostra o correspondente de guerra Ernie Pyle em ação. Pyle morreu na guerra, vítima da artilharia japonesa, aos 44 anos. O segundo, do respeitado Samuel Fuller, com James Best e Susan Cummings, relata a paixão de um soldado dos Estados Unidos por uma mulher da Alemanha. François Truffaut era apaixonado pelo filme e por Fuller.
“Amargo Triunfo” (1957) e “Mercenários Sem Glória” (1969) estrelam o terceiro disco. “Amargo Triunfo”, dirigido por Nicholas Ray, com os atores Richard Burton, Curt Jurgens e Ruth Roman, conta a história de um oficial britânico deslocado para lutar na África. Ao ver o filme, o francês Jean-Luc Godard disse: “O cinema é Nicholas Ray”. “Mercenários Sem Glória”, com direção de André De Toth, com Michael Caine, Nigel Davenport e Nigel Green, exibe a história de um executivo que apoia o exército da Inglaterra na África.

[caption id="attachment_46816" align="aligncenter" width="620"] Fidel Castro e o papa Francisco: note sua roupa-uniforme da Adidas[/caption]
Baseado numa fonte exclusiva do alto escalão do governo cubano, o jornalista e escritor Klester Cavalcanti publicou, no Facebook, que Fidel Castro, eminência parda do governo de Cuba, recebe cerca de 5 milhões de dólares (20 milhões de reais) da Adidas “por cada aparição que faz exibindo a marca”. A revista “Forbes” aponta o longevo líder da ilha como bilionário. Ele teria dinheiro depositado na Suíça, mas nenhuma publicação conseguiu revelar em quais bancos.
Aos que questionaram o fato de a Adidas pagar tanto dinheiro para um político decadente, de quase 90 anos, Klester Cavalcanti contrapôs: “É um símbolo mundial. Todo mundo sabe quem é Fidel”. Ele “vale mais do que muitos atletas de ponta”.
Klester Cavalcanti ressalta que não sabe o valor exato que o grupo alemão paga ao líder comunista — cuja família está no poder há quase 57 anos — e possivelmente nenhuma das partes vai revelar. “O que se sabe”, frisa o jornalista, é que o ditador “prega uma coisa, mas faz outra”.
Sobre sua fonte, do alto escalão cubano, Klester Cavalcanti sublinha que não pode revelar o nome. Se o fizer, ela sofreria represálias do governo de Fidel e Raúl Castro — Batman e Robin do comunismo —, “como ele [Fidel] faz com todos que não se curvam às suas ideias”.
A Adidas se tornou uma espécie de marca quase cubana... em Cuba. O motivo? “É a marca do comandante”, afirma Klester Cavalcanti.
Um leitor da postagem de Klester Cavalcanti sugeriu que, sendo uma empresa de capital aberto, a Adidas tem de divulgar os dados, inclusive sobre o “patrocínio” a Fidel Castro. A réplica do jornalista: “A Adidas só é obrigada a divulgar informações contratuais a seus acionistas. Além disso, há a possibilidade de esse contrato com Fidel ser informal, sem nada assinado, como muitas celebridades fazem com marcas de roupa, montadora de automóvel, marca de relógio. Esse tipo de coisa é muito comum”.
Por que Fidel Castro não aparece pelo menos uma vez com uma roupa da Nike ou de outra marca e por que sempre aparece de Adidas? Tudo indica que “não” pode trocar de marca.
O comportamento de Fidel Castro, para Klester Cavalcanti, “indica quatro coisas: incoerência, hipocrisia, cara de pau e falta de vergonha na cara. Quer criticar o capitalismo? Beleza. Mas seja coerente! Lembra do nosso amado Ariano Suassuna? Ele dizia odiar tudo que vinha de fora do Brasil. Dá um Google e vê as fotos do Ariano. Eu arranco meu braço direito se você achar uma foto do Ariano usando roupa de marca gringa. Isso é coerência. Fidel aparecer em tantas fotos usando Adidas seria o mesmo que o Ariano falar tudo o que falava nas palestras e aparecer em público com uma camisa dos Estados Unidos”. Faltou a Klester Cavalcanti ressalvar a “paixão” de Ariano Suassuna pela TV Globo.
A batalha de Cuba pelo “vil metal” dos capitalistas, não importam quais, levou o governo de Fidel Castro a acumpliciar-se com o narcotraficante Pablo Escobar. Quando o presidente dos Estados Unidos, na época Bill Clinton, descobriu, por intermédio da CIA, a negociação dos comunistas com o tráfico de cocaína, e avisou Fidel Castro, este, fingindo que não sabia de nada — apesar de o G2, o serviço secreto cubano, ter sido organizado pela Stasi (a revelação é de Markus Wolff, no livro “O Homem Sem Rosto”, sua autobiografia) — mandou fuzilar o general Arnaldo Ochoa e outros militares, depois de um julgamento que lembra, e não vagamente, os julgamentos de Moscou.
O Jornal Opção publicou dois textos a respeito. Numa deles, um menciona jornalistas e um historiador que investigaram a história da ligação com narcotraficantes da Colômbia. Noutro texto, baseado no livro “Pablo Escobar — Ascensão e Queda do Grande Traficante de Drogas” (Planeta, 383 páginas, tradução de Eric R. R. Heneault e Olga Cafalcchio), do jornalista e ex-prefeito de Medellín Alonso Salazar, detalha-se o envolvimento da cúpula cubana com traficantes de cocaína. Os laços foram criados por esquerdistas da Colômbia.
[caption id="attachment_46805" align="alignright" width="250"] Obra de Primo Levi, com Leonardo De Benedetti, indica que se trata de texto mais interessável sobre Auschwitz[/caption]
O judeu italiano Primo Levi escreveu talvez o livro mais extraordinário de um homem que esteve num campo de extermínio. “É Isto um Homem?” (Rocco, 256 páginas, tradução de Luigi Del Re) não é lacrimoso e conta, de forma seca, ao estilo de Graciliano Ramos, como era a vida em Auschwitz, como os seres humanos, desumanizados — tanto as vítimas quanto os algozes —, se comportavam no dia a dia. Agora, a Companhia das Letras lança “Assim Foi Auschwitz” (280 páginas, tradução de Federico Carotti), de Primo Levi com Leonardo De Benedetti.
Quando libertou os prisioneiros de Auschwitz, na Polônia, a cúpula do Exército soviético solicitou que Primo Levi e Leonardo De Benedetti escrevessem um relatório circunstanciado do que era o campo de extermínio, notadamente sobre suas condições de saúde. Os dois italianos elaboraram o impressionante “Relatório Sobre Auschwitz”. A vida lá, a abominação criada pelos nazistas da Alemanha, era pior do que se imaginava.
O “Relatório Sobre Auschwitz” foi publicado em 1946. Além da denúncia em si, acabou sendo importante por, em seguida, revelar um escritor, Primo Levi, que escreveu outros livros sobre as agruras de se viver em Auschwitz.
Textos inéditos de Primo Levi sobre Auschwitz são reunidos no livro publicado pela Companhia das Letras. Os textos do sobrevivente de Auschwitz difere, em larga medida, de alguns depoimentos de outras vítimas do Holocausto. O autor de “A Trégua” não retira a emoção de suas histórias, mas não permite que ela turve sua capacidade de mostrar e analisar. Por vezes, sua prosa parece fria, distanciada. Mas é o modo que encontrou, com precisão, de relatar a verdade do que viu e sentiu num dos mais letais campos criados pelos alemães de Adolf Hitler.
Depois de sobreviver a Auschwitz e de viver para contar o que aconteceu na fábrica da morte, Primo Levi matou-se em 1987. Estava depressivo e, por certo, Auschwitz, mesmo depois de várias tentativas de purgação, com a publicação de livros, “vivia” incrustado no seu ser (leia mais aqui).
[caption id="attachment_46806" align="alignright" width="216"] Livro mostra que um latino-americano é o melhor explicador do mais celebrado romance de Flaubert[/caption]
Esqueça o filósofo Jean-Paul Sartre, autor de um “calhamaço menor” sobre Gustave Flaubert. Um dos melhores livros sobre Flaubert e sua obra-prima, o romance “Madame Bovary”, foi escrito por um peruano, Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura. “A Orgia Perpétua — Flaubert e Madame Bovary” já havia sido publicado em português, mas só pode ser encontrado em sebos. A Alfaguara lança nova edição, com tradução precisa de José Rubens Siqueira.
Em meras 280 páginas, Vargas Llosa escreve uma crítica brilhante sobre um dos romances mais emblemáticos da história da literatura. O escritor e crítico leu, releu e virou de ponta-cabeça o polêmico livro de Flaubert, esticando o cérebro do leitor para um entendimento mais amplo de uma história que se tornou, por assim dizer, patrimônio de todos nós. Emma Bovary “era” Flaubert, como ele disse, e todos nós — um verdadeiro poço de contradições e desejos reprimidos e, às vezes, liberados.
O que o autor de “Travessuras da Menina Má” — quem sabe, uma Bovary menor — diz ao leitor, com palavras candentes e claras, é que o romance tem muito mais a dizer que o mero adultério de Emma, motivo da fama da história. A delícia do texto, e como Flaubert o elabora e conta a história, é exibida de maneira exemplar por Vargas Llosa.
Consta que franceses sentem ciúme de um de seus maiores escritores — talvez o maior, ao lado de Marcel Proust — ter sido analisado de modo tão percuciente por um crítico estrangeiro (muitos franceses se acham “o” povo, não “um” povo). É provável que ninguém fez tanto por um romance — transformando-o numa catedral de arquitetura bela e sólida — quanto Vargas Llosa.

[caption id="attachment_46799" align="aligncenter" width="620"] Rubem Alves | Foto: reprodução[/caption]
Seus textos leves, mas com alguma profundidade, encantaram leitores durante anos. Com a internet, tornaram-se textos-citações. Centenas, talvez milhares, de pessoas passaram a mencioná-los como se contivessem lições fundamentais sobre a vida. Visto às vezes como um Paulo Coelho intelectualizado, Rubem Alves era bem mais do que isto — era um filósofo que escrevia com clareza e buscava, como os gregos, interferir na vida cotidiana de seus pares, menos com o objetivo de ser uma espécie de guia espiritual e mais como um veículo de iluminação e indicativo de que caminhos diferentes (humanistas e cordiais) são possíveis.
Rubem Alves escrevia muito, o que contribuiu, por certo, para simplificar seu pensamento. Mesmo assim, no estilo de Drauzio Varella — que simplifica para se tornar legível pelas maiorias —, não era um intelectual raso (ainda que alguns de seus textos sejam até simplistas). É o que procura mostrar a biografia “É Uma Pena Não Viver — Uma Biografia de Rubem Alves” (Planeta, 496 páginas), do jornalista Gonçalo Júnior.
Rubem Alves morreu em julho de 2014, há pouco mais de um ano, e por isso é difícil produzir uma biografia detida, mais racional do que emocional. Faltam, por exemplo, análises mais detidas das ideias do filósofo; não de Gonçalo Júnior, e sim de outros autores. Mesmo assim, o texto de Gonçalo Júnior é preciso, sem pieguices de fã. O biógrafo relata, com precisão, a perseguição sofrida pelo teólogo, filósofo e psicanalista por parte da Igreja Presbiteriana do Brasil, no início da ditadura civil-militar. Ele foi morar nos Estados Unidos, onde deu aulas em universidades.

Na semana passada, o Jornal Opção publicou carta de Beatriz Martins, “Perdi minha filha para a Sibutramina”, na qual conta a odisseia da estudante Carolina Martins Moura, falecida recentemente. Carolina, a Carol, era filha de Beatriz Martins e do presidente do Sindicato da Construção Civil de Goiás (Sinduscon), Carlos Alberto Moura. A carta obteve mais de 1,5 milhão de acessos únicos.