Por Redação

Encontramos 12346 resultados
“Crise na Prefeitura de Goiânia é forjada para ajuntar dinheiro para soltar obras às vésperas das eleições”

Rival de Iris Rezende no segundo turno afirma que o prefeito quer ser candidato ao governo em 2018 e diz que a política arcaica faz com que ele tenha preferido usar o secretariado visando a sucessão

Guillermo Roz merece ter obra traduzida e publicada no Brasil

Ainda inédito no País, embora internacionalmente apreciado, Roz está entre os escritores mais promissores da Argentina contemporânea

“Gilberto Freyre foi central no amplo pacto político feito para modernizar o Brasil”

Ganhador do 6º Concurso de Ensaios sobre Gilberto Freyre, pesquisador fala sobre o papel de um dos maiores intelectuais brasileiros no processo de apresentação de um País que, apesar de plural, era moderno

Magda Mofatto rebate críticas de Cláudio Meirelles: “Ameaça sair, mas nunca sai”

Após deputado estadual relatar "jogo sujo" dentro do PR, a parlamentar se diz surpresa com acusações e se defende

Cláudio Meirelles diz que direção do PR faz jogo sujo e ameaça sair do partido

Deputado estadual cita divergências pessoais com a deputada Magda Mofatto e afirma que tem sido "atropelado" pela sigla

Primeiras eleições de peso pós-Trump mostram quadro em que não há claros favoritos

Cinco candidatos e um debate morno, que só foi visto até o fim pelos viciados em política e os apoiadores mais intrépidos. Todos os indecisos já se tinham ido deitar Frank Wan Especial para o Jornal Opção O primeiro grande debate entre os cinco candidatos à presidência da França aconteceu na segunda-feira, 20 de março. Em todo mundo se questiona, cada vez mais, o formato e o alcance destes debates. De momento, vai fazendo escola a nova moda americana dos candidatos em pé, das divisões dos tempos por temas e dos famosos um minuto e meio atribuídos a cada um dos candidatos no início e no fim. Se o debate foi fraco? Foi! Se esclareceu alguém? Talvez os debates sirvam mais para mostrar certas forças e fraquezas dos candidatos do seu discurso habitual do que para “esclarecer”. Relembro aos leitores dois aspetos que conferem importância a estas eleições. Por um lado, são as primeiras “grandes” eleições num país europeu com peso pós a vitória de Donald Trump – qual é o grau do contágio do  efeito populista Trump? Até onde pode ir a direita na Europa e no mundo? Por outro lado, do ponto de vista da história das eleições presidenciais francesas, esta situação é totalmente nova: nesta altura da campanha temos cinco candidatos “vivos”, isto é, qualquer um ainda com a possibilidade de obter o “ingresso” (“ticket” na gíria política francesa) para o segundo turno. Curiosamente, vê-se entre os analistas que acompanham o processo eleitoral um grau de unanimidade de análise que nunca foi visto. Portanto, o fenômeno é novo, complexo e com consequências graves para a história da Europa, mas é simples de acompanhar, talvez porque as figuras em jogo estejam politicamente bastante delineadas. “Vencedores” não houve e vencidos também não e, apesar de tépido, o debate foi digno. François Fillon Começo sempre por ele porque é figura central de todo este processo. Não fosse o “Processo Penelope” (processo judicial em que a mulher de François Fillon, Penelope Fillon, é acusada de receber dinheiro indevido fruto de trabalhos fictícios), estas eleições seriam um passeio simples para ele. Isso foi visto no debate: se Fillon estivesse à frente dos outros candidatos nas intenções de voto, não tivesse envolvido em processos judiciais e concomitante assassinato de personalidade,  teria saído, calmamente, vencedor deste debate. Muitas vezes, o debate pareceu uma aula de bom senso e técnica de governança: os quatro garotos gritavam e propunham irrealidades num tom, por vezes, colorido e François Fillon, com aquele ar de professor idôneo, num tom de voz de médico a acalmar os doentes, ia, tranquilamente, explicando às crianças, quer as de esquerda, quer as de direita que se tinham enganado no nome do imposto, que não eram aquelas as divisões administrativas ou que, somando tudo o que já tinham proposto no debate, nem o orçamento da França, Alemanha e EUA somados davam para pagar tanta irrealidade. Num dado momento, faz mesmo o impensável: confessa que uma medida que tomou enquanto primeiro-ministro, as famosas “Casas de Saúde” (não entro em detalhes), foram um fracasso que ele não esperava. Explicou que queria aproximar os doentes dos seus familiares  e que, financeiramente, a medida tem se revelado mesmo má – ainda concordo com ele que, se lhes for dada autonomia, é uma ideia excelente; a França, tal como o Brasil, é um país enorme e é uma dor terrível estar gravemente doente e ser tratado muito longe dos seus familiares. O debate foi sempre evoluindo com um Fillon técnico, realista e inquestionável. Surpreendentemente,  ou não, os adversários não trouxeram a palco os processos em que está envolvido. Falar dos processos é dar a Fillon o protagonismo e as máquinas dos candidatos não caíram nessa armadilha televisiva. Os jornalistas que conduziam o debate, manifestamente incompetentes, ignorantes e despreparados para estes pesos pesados da política mundial, só se excitavam com o eixo político-tribunal-escândalo-corrupção. Definitivamente, Fillon, quando se trata de discurso político, debate e governança realista é o homem mais competente que a França tem ainda na corrida. Marine Le Pen É preciso não esquecer que esta mulher nasceu já acompanhando o pai em comícios, reuniões, discursos, debates, etc.,  e que está “nesta vida” de televisões, debates e candidaturas há muitos anos: esta mulher é uma raposa velha. Inteligente, rápida, altamente bem preparada, tem perfeita noção da linguagem de televisão, possui oratória acirrada e frases montadas umas atrás das outras. É impossível apanhá-la em qualquer hesitação. Marine Le Pen, gostem ou não dela, não perde um debate seja com quem for. Fraqueza? Tem, tal como os comunistas, e todos os extremistas, uma espécie de playlist argumentativa e limita-se a correr os MP3 de forma célere. Podia ser substituída por um papagaio que ninguém perceberia a diferença. Contrasta com todos os outros candidatos por propor um referendo sobre a saída do  Euro – se a proposta de Marine Le Pen é extremista, a ausência de ideias dos outros candidatos sobre a posição da França na Europa também não ajuda a impedir que qualquer ideia absurda faça caminho. Num determinado momento aparece o tema “relação com a Rússia” e voltam-se a desenhar estranhas linhas de divisões entre os candidatos, daquelas que colocam extremistas de esquerda e direita do mesmo lado da barricada. Destaco, já no fim, a propósito de uma crítica que Marine faz a Emmanuel Macron, as famosas “pantufas”, alusão a “fulanos” (Macron, evidentemente) que começaram por ser acadêmicos formados na academia francesa e acabaram a trabalhar para a Alta Finança (Rotschild) e agora querem ser presidentes. Há um carinho particular deste ataque truculento: Marine tinha a lição estudada e Macron, que estava alerta, salta ferozmente na defesa, como quase não se tinha visto – é o momento em que os analistas ouvem já o som  da engrenagem das máquinas dos candidatos a se preparar para a segundo turno; foi, claramente, o primeiro ensaio de diversos frente a frente. É, de fato, provável termos estes dois no segundo turno. Jean-Luc Mélenchon Pareceu sempre o candidato que estava mais à vontade naquele formato: movia-se dentro da sua bancada, fazia um misto de discurso e resposta, provocava, respondia aos candidatos, dirigia os temas, fazia acusações, falava para o público no estúdio e se dirigia às câmeras. Quando vem a lume os processos judiciais tem uma expressão interessante: “quem tem processos é ele e ela (aponta para Fillon e Le Pen), não nos metam todos no mesmo saco” - de alguma forma, dando já o tom de alguma união ao centro-esquerda que, tarde ou cedo, se dará. Mélenchon subiu dez pontos nas intenções de voto, tem a máquina de 2012 toda montada, aprendeu os truques todos, sabe que a campanha tem diversos momentos. Consegue ir animando o debate, sem nunca sair  de certa linha, não cai na tentação do extremismo, vai apenas fazendo propostas que o demarcam dos outros candidatos, insiste na velha tecla da quinta república exaurida  e da convocação de uma assembleia constituinte para uma sexta república. Trai sempre os sentimentos profundos da esquerda radical: odeia tanto a direita extrema, como a esquerda moderada. Faz coro com os outros três candidatos na denúncia da vacuidade, artificialidade e marquetismo de Emmanuel Macron. Todos odeiam Macron, para o bem e para o mal, ele é o único que não resulta diretamente dos partidos políticos. Benoît Hamon Sendo o mais “lutador” de todos os candidatos e tendo muitas contas a ajustar com muita gente, dentro e fora de seu partido, afundou-se de forma espantosa. Fica a dúvida se se resguardou, se é por cálculo ou por outro motivo. Pessoalmente, penso que acusa algum cansaço físico: é o menos experiente deste ritmo de altíssima rotação, começou demasiado forte no início da campanha, tinha todas as esperanças e tem somado dissabores. Por exemplo, o dissabor da deselegância de Manuel Valls não o ter apoiado – Valls perdeu as primárias dentro do partido, é ético o candidato do partido apoiar o vencedor depois na campanha eleitoral e Valls é uma figura que tem muito peso político. De alguma forma, como se diz, o sistema político devorou os grandes candidatos: Manuel Valls, Nicolas Sarkozy e François Hollande. Ser candidato do partido socialista, ter como missão unir a família socialista, ganhar as eleições e “salvar” a França é um peso difícil de suportar, mas Hamon, como muitas vezes na política, pode perder e sair vencedor; esta derrota pode ser o adubo de um futuro político brilhante. A máquina de imagem ainda não o poliu: ainda tem uns laivos de fulano que discute política na lanchonete e de partidário cego que vai quase até à fronteira da agressão. No meio dos candidatos de peso, claramente, não se destaca. Assim que saiu do estúdio, a máquina (moda mundial também) tinha preparado um teatro de recepção apoteótica no exterior, como se o herói gigante tivesse ganho uma batalha e aí, imediatamente, apareceu logo mais à vontade. Emmanuel Macron É puro plástico. É filho do marketing, dos grupos econômicos, da sociologia, das equipes de publicidade, da psicologia de massas, dos estudos de mercado. Manteve-se igual no figurino que a mega-equipe lhe prepara sempre: quando fala, mantém o punho esquerdo cerrado (imagem de marketing com o símbolo: estou determinado) e aponta sempre o dedo da mão direita (imagem de marketing: sei em que direção vou levar vocês), quando se cala, sorri imediatamente dando a imagem do super simpático. Na imprensa, todos os dias há tsunamis de informações sobre Macron. Parece saído de um conto de fadas: a mulher é linda, a casa dele faz inveja às casas das telenovelas, o cachorro é fofo e ele é um deus que nos veio iluminar. Foi o último professor assistente do grande filósofo Paul Ricouer, mas agora trabalha para o banco Rothschild e tem toda uma série de trabalhos acadêmicos dedicados a Maquiavel. Le Pen, num dado momento, diz que, ao ouvi-lo durante sete minutos, não consegue reter uma única ideia e isso é totalmente verdade:  Macron tem um discurso redondo, tudo vai em direção ao futuro, à esperança, à união da França, enfim, tudo coisas que, traduzido em francês, não significam nada. Começou por ser um candidato que, no início da campanha, não era nem de esquerda, nem de direita, agora, nesta fase, passou a ser de esquerda e de direita! Tenho a certeza que, no fim do debate, só estavam ainda acordados e entusiasmados nós, os viciados em política, e os apoiadores mais intrépidos. Todos os indecisos já se tinham ido deitar. Frank Wan vive em Portugal. É ensaista, poeta, tradutor e professor

Alunos da rede municipal de Nerópolis ganham kit escolar

Prefeito Gil Tavares pensa em ampliar projeto para o próximo ano, com a inclusão de mochilas e uniformes

Parnasianismo brasileiro é ensinado nas escolas como o “modernismo em negativo”

É preciso um esforço para compreender o parnasianismo segundo suas próprias premissas estéticas, o que não significa suspender o juízo contemporâneo sobre ele [caption id="attachment_90054" align="aligncenter" width="620"] Trio do Parnasianismo brasileiro: Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac[/caption] Emmanuel Santiago Especial para o Jornal Opção Em torno do parnasianismo brasileiro, cristalizaram-se inúmeros lugares-comuns, muitos dos quais estabelecidos desde que os modernistas de 1922 tomaram de assalto as letras nacionais, imprimindo sobre a fronte da poética anterior um verdadeiro sinal de Caim. Décadas de estudos literários não foram capazes de dirimir os mal-entendidos que então se fixaram; pelo contrário, parecem tê-los reforçado. Grande parte de tal estado de coisas deve-se à maneira como, em geral, a poesia parnasiana é apresentada ao público, sobretudo por meio de antologias e materiais didáticos. Resumidamente, “ensinar parnasianismo” no Ensino Médio é apresentar meia-dúzia de clichês (correção formal, temas clássicos, linguagem erudita, objetivismo, impassibilidade, absenteísmo político) e possibilitar a leitura de alguns poemas antológicos dos três autores mais consagrados. E só. Será que isso realmente faz alguma diferença na formação literária dos alunos — levando-se em conta que, nos três anos de Ensino Médio, não se pode esperar mais do que uma formação literária básica — ? Parece-me que não. [caption id="attachment_90055" align="alignleft" width="214"] Capa do catálogo de exposição da Semana de Arte Moderna de 1922, desenhado por Di Cavalcanti[/caption] Contudo, o parnasianismo cumpre um papel importante na atual narrativa de nossa história literária. Em tal narrativa, de natureza teleológica, o parnasianismo existiria para que os escritores da geração de 1922 pudessem romper com ele, justificando, assim, o surgimento e a existência do modernismo, descrito como um movimento de combate a uma poética pedante, alienada e obsoleta. Em alguns sentidos, isso não é completamente falso, mas também não é a verdade toda; é apenas uma forma parcial de enxergar as coisas, encaixando-se na versão de um modernismo triunfante, à sombra da qual se desenvolveu a crítica brasileira do século XX. Dessa maneira, o parnasianismo deixa de ser visto como ele de fato foi e passa a ser apreendido como aquilo o que ele deveria ter sido e não era, ou seja: o modernismo. Este, por sua vez, legitima-se na medida em que rompe com aquele outro, apresentado como seu inverso simétrico. Numa dialética estranha, o modernismo passa a ser definido pelo parnasianismo, que, como vimos, é definido tendo em vista sua oposição àquele: o modernismo passa a ser valorizado justamente por não ser o parnasianismo; na verdade, por ser o seu contrário. Em última instância, tal modelo explicativo é um círculo vicioso que não explica nada. Assistimos, por consequência, à entronização de algumas obras modernistas que possuem um interesse puramente historiográfico, o de terem rompido com o establishment literário da época, enquanto outras obras, de fato significativas, são valorizadas não por seus méritos particulares, mas pela ausência de determinadas características associadas à poética anterior. Não falamos do parnasianismo propriamente, mas do que ele deveria ter sido (o modernismo). De maneira semelhante, não falamos do que o modernismo foi, e sim do que ele não era (o parnasianismo). É um jogo de espelhos, em que as obras são convertidas em fantasmagorias sem substância. Se excluirmos o parnasianismo, o modernismo desaparece no ar. E, sem o modernismo, o que dizer dessa miragem conceitual chamada “pré-modernismo”, que reúne autores tão díspares quanto Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro Lobato, Graça Aranha e Augusto dos Anjos? Avizinhando-se dos 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, é passada a hora não apenas de revermos a posição da primeira fase do modernismo em nosso sistema literário, mas também de reconsiderarmos o consenso que se formou em torno da poética que lhe antecedeu. Sobretudo, é preciso um esforço de se compreender o parnasianismo segundo suas próprias premissas estéticas, o que não significa, necessariamente, uma suspensão do juízo contemporâneo sobre ele. Em síntese, a questão é dissociar a poesia parnasiana da imagem construída pelos modernistas de 1922. Emmanuel Santiago é poeta e tradutor. Autor do livro de poesias “Pavão Bizarro” (São Paulo: Editora Patuá, 2014).      

Previdência, política e o velho engodo

Se até mesmo Deus (para os cristãos e budistas) também descansou após o trabalho de criar o mundo, tendo exercido, segundo escrituras e pergaminhos sagrados, o shâbath, também eu, simples e errante humano mortal quero, se estiver vivo, usufruir do meu descanso, da minha aposentadoria

Região central em Trindade: paralelepípedo ou asfalto?

Iphan aceita argumentos da Procuradoria de Trindade e termina discussão sobre asfaltamento de ruas do Centro da cidade

Mélenchon, o orador brilhante que não fala sobre os principais temas de interesse dos franceses

Candidato que foi jogado para extrema esquerda tem subido nas pesquisas e deve sair bem do debate da próxima segunda-feira, mas as eleições são como as guerras: todo mundo sabe como começam, ninguém sabe como terminam  [caption id="attachment_89679" align="alignleft" width="620"] Jean-Luc Mélenchon tem uma oratória brilhante, mas não consegue tratar dos principais temas de interesse da população francesa | Foto: Thomas Samson/ AFP[/caption]   Frank Wan Especial para o Jornal Opção À direita da direita temos Marine Le Pen, na direita moderada temos François Fillon e, depois, aparecem: Benoît Hamon, o candidato oficial do Partido Socialista (que ganhou as eleições contra Manuel Valls, que acabou, nestes dias, por lhe recusar o apoio – assunto que, nas hostes socialistas, é visto de forma diversa), o mágico Emannuel Macron que fundou o Movimento “Em Marcha” e que tem uma promissora carreira no mundo dos negócios a serviço da “Rotschild & Companhia”. Na extrema esquerda do espectro aparece Jean-Luc Mélenchon. Jean-Luc Mélenchon era o candidato da esquerda, mas o processo eleitoral acabou por empurrá-lo para a extrema esquerda. Coisas que o processo eleitoral tece. Era membro do Partido Socialista, saiu por volta de 2008 e fundou o Partido de Esquerda (PG, Parti de Gauche), o nome, praticamente, diz tudo. Mélenchon fecha o espectro de candidatos elegíveis. [relacionadas artigos="89508, 87921"] A semana anterior tinha sido dominada pelas diversas temáticas relacionadas à saúde. A saúde tem um peso considerável no orçamento da França, sobretudo nas últimas décadas, com o crescimento fulgurante dos casos de câncer e crianças que nascem com problemas diversos. O desespero político-econômico é tão grande que levou Marine Le Pen a propor que os estrangeiros em situação ilegal não tivessem direito a cuidados médicos. Como a saúde está sempre ligada à alimentação – é cada vez mais evidente, entre as populações, que os problemas de saúde estão ligados a acelerações químicas da agricultura – seguiu-se, com naturalidade, a problemática da agricultura. O tema é caro a Marine Le Pen, que propõe, há muito, medidas protecionistas para a agricultura francesa. É conhecido que a retórica da extrema direita sempre assenta na agricultura e na segurança. Mélenchon aborda o problema da agricultura com certa destreza, mas não consegue escapar dos velhíssimos chavões da esquerda da aliança dos operários e dos agricultores (relembro que Mélenchon foi ministro do Ensino Profissional). Nesse momento, para Mélenchon e para todos os candidatos, coloca-se uma das grandes questões da política moderna: qual é o verdadeiro impacto da televisão na vida dos cidadãos? Sempre que algum candidato vai a algum canal de televisão é sempre flechado com as perguntas no seu calcanhar de Aquiles e com um rendilhado de questões sobre sua relação com outros candidatos. Mélenchon, honra seja feita, foi um dos primeiros a perceber que as “idas à televisão”, nesta fase, não estão dando um bom resultado e decidiu voltar a um velho mecanismo: o comício. É curioso como o abuso dos meios modernos, muitas vezes, faz regressar velhos métodos. Por exemplo, as eleições que decorreram na Holanda, devido às suspeitas de contagens eletrônicas fraudulentas e ataques de hackers, foram feitas totalmente de forma não eletrônica. Por trás da ideia do comício estão as onipresentes redes sociais: faz-se um comício para um número controlado de já convencidos e estes, depois, naturalmente, chegam a mais pessoas também através das redes sociais. Mélenchon reúne mais ou menos 4 mil pessoas num comício e aparece sempre como um tribuno poderoso vestido com uma indumentária vagamente semelhante às velhas fotos de Trotsky e outros camaradas. Começa por desfiar o rosário das propostas doces: a agricultura alternativa, sem nunca explicar muito bem como a ia pagá-la, típico da esquerda em geral e de Mélenchon em particular; as cantinas escolares totalmente gratuitas – esta medida anda enchendo a boca de todos os candidatos; e segue de proposta em proposta. Sem o jogo da pergunta-resposta, em discurso livre, Mélenchon mostra os seus dotes geniais de oratória, arranca risos nas plateias, domina totalmente. Recorre a truques magníficos: finge perder umas folhas de apontamentos, começa a fingir que está perdido no discurso e inicia umas piadas sobre Fillon; como está diante de um auditório de esquerda, as piadas caem como uma luva. Depois começa a imitar o tom melodioso e ensaiado de Macron e esmaga na ironia totalmente o pseudo-centrista. Mélenchon evoca Jaurès e, com isso, conquista os jovens e emociona os que já não são tão jovens assim, mas nostálgicos de uma velha França que perderam. Claramente, temos duas gerações de socialistas em disputa: Mélenchon é filho do velho socialismo, filho das humanidades, do tempo em que tudo se decidia em discursos de congresso, de academia, de agremiação; Macron é filho do plástico televisivo, do Marketing, dos estudos de mercado, dos números das estatísticas e dos discursos orientados para perfis sociológicos. Todos os candidatos sabem que Donald Trump ganhou as eleições dos EUA centrando-se no problema do desemprego e todos ensaiam sempre alguns compassos da música do desemprego: Mélenchon recorre a estudos que indicam que o desemprego gera doenças e doenças graves, mas mostra que os modernos empregos também estão na origem de muitas doenças. Pisca o olho para 7 milhões de desempregados (10%). Como vai cobrir todas as dificuldades? Perseguindo os paraísos fiscais. Eis os novos velhos lugares-comuns. Mélenchon dá-lhes um toque de classe de esquerda “se eu for eleito, a festa acabou” (“La fête est terminée si c'est moi qui arrive”), vai pôr todos os vigaristas do capital para trabalhar. No discurso de todos os candidatos há sempre uma preocupação ecológica e Mélenchon também propõe umas medidas perfumadas com o nome de econômica-social-ecológica e segue com grandes frases e promessas vagas e interessantes, típicas desta fase do processo eleitoral. A França sente que esta quinta república está a definhar, a que Mélenchon chama, com alguma graça, de monarquia republicana e também reconhece a gigantesca necessidade de “reformas estruturais” – embora nunca se perceba bem o que os políticos querem dizer com este chavão. É bem conhecido que se ganhar teremos uma Assembleia Constituinte que irá iniciar a sexta república. No fundo, Mélenchon prega aos convertidos e sabe isso, pretende apenas com este Comício fornecer uma espécie de kit argumentativo para que seus apoiantes possam chegar a mais pessoas. Apesar de tudo, pela primeira vez nestas eleições, um candidato expõe publicamente em geral, de forma livre, o desenho das suas propostas e discorre sobre as mesmas apelando mais à nossa inteligência que ao primitivismo das frases e imagens feitas dos meios de comunicação. Mélenchon revisita os lugares comuns da esquerda acerca dos problemas sociais das grandes cidades, relembrando que todos os franceses são misturas de várias raças e todos vieram de algum lugar para as grandes cidades e que não é possível “desmistiçar” (vaga alusão ao nazismo e à direita mais pura). Mélenchon é um orador brilhante e trouxe o processo eleitoral para as velhas fronteiras francesas: a política é uma grande troca de palavras que antecede qualquer decisão importante, é feita de discursos, debates, artigos e conversas entre cafés e almoços. É por isso que a França é um país de literatura (e artes em geral), política e culinária. Terminado este brilhante comício, pessoalmente, a minha nota para Mélenchon é um zero absoluto: depois dos atentados diversos, Bataclan, Nice e outros, a França vive mergulhada no medo, Mélenchon não tem uma palavra sobre terrorismo, que é, praticamente, o tema número um das populações; num momento em que está em pauta a saída da Inglaterra da União Europeia pós-referendo, Mélenchon não tem uma palavra para a questão europeia; não forneceu uma única explicação de como tenciona relançar a competitividade das empresas, num momento em que a dívida francesa atinge os 100%. Segunda-feira, dia 20 de março, realiza-se na TF1 o primeiro debate televisivo que colocará frente a frente os cinco candidatos com maiores intenções de votos nas últimas pesquisas. Este debate, que oporá Jean-Luc Mélenchon, Marine Le Pen, François Fillon, Benoît Hamon e Emmanuel Macron mudará, naturalmente, a direção do processo eleitoral. Desde o início da campanha eleitoral, Mélenchon subiu surpreendentes 10 pontos nas intenções de votos. Na segunda-feira dar-se-á o primeiro grande embate televisivo num formato em que Mélenchon é temível: perguntas e respostas com tempo controlado. As eleições são como as guerras: todo mundo sabe como começam, ninguém sabe como terminam. Frank Wan vive em Portugal. É ensaista, poeta, tradutor e professor.

A Poética do Fragmento em “O Rei de Amarelo”, de Robert W. Chambers

O que encanta em “O Rei de Amarelo” não é u m segredo que devamos descobrir, ou um enigma que buscamos resolver, mas a presença de uma realidade misteriosa, uma espécie de espectro “instalado na evidência das coisas”, inacessível ao pensamento

Por uma releitura de “Rei Lear”

Se a tragédia, como bem percebeu Aristóteles, é a representação de homens superiores, o que faz de Lear superior? Podemos dizer que Lear é um herói trágico por excelência, pois ele concentra em si uma paixão e um desejo de ação que lhe serão fatais

A ascensão da extrema direita e a desilusão do eleitorado

Eleições presidenciais francesas tornam claros os grandes dilemas da política moderna ocidental: a judicialização da política, o desânimo dos eleitores e a ascensão da direita [caption id="attachment_89515" align="alignleft" width="620"] Embora esteja no centro de processos jurídicos, Penélope Fillon salvou a direita francesa e tem um projeto: tornar o marido, François Fillon, presidente da França | Foto: E1[/caption] Frank Wan Especial para o Jornal Opção Qual é a sensação que domina neste momento? A campanha não arranca. Todos os candidatos sabem que há um momento em que tudo se harmoniza e começa a girar em torno de um conjunto de temáticas e cada um deles empurra para frente esse momento, sem procurar os temas fortes. De Emmanuel Macron, não esperem nada. Ele vem com a imagem polida pelos marqueteiros e tem a técnica dos televangelistas: emociona e não diz nada. Já François Fillon tem mais a perder do que a ganhar: joga no ataque enquanto o processo jurídico contra ele avança e na defesa quando tudo se acalma. Todos os outros estão perdidos nas manobras e nas maquiavelices políticas. Resumo: a campanha não “arranca”, os candidatos atolam-se nas suas máquinas de apoio e Marine Le Pen sai na frente. Apesar de uma semana em que esteve sempre em foco o processo jurídico contra sua secretária e um guarda-costas, Le Pen segue na frente. Ela fez, no domingo, 5, um discurso brilhante — quer no tempo, quer no vocabulário utilizado, quer no ritmo, quer nas temáticas — e, pasmem os deuses, é da boca de Le Pen que vem a grande temática do mundo político moderno: estaremos diante do domínio e controle dos juízes sobre o sistema político, armadilha em que caiu a Roma antiga? [relacionadas artigos="88259, 87921"] Na França, estamos longe do que se chama, em sociologia e estatística, “cristalização”: o momento em que as intenções de voto se estabilizam e as margens de erro diminuem de modo a nos permitir tirar ilações do que será o voto real. Lição esquecida por muitos no passado recente: podem fazer todos os truques na imprensa e redes sociais, mas é sempre o voto que conta. Neste momento, embora a imprensa, nos seus resumos de um minuto, mostrem sondagens de resultados finais, o mais importante para quem acompanha as filigranas do processo político é saber quem são os terceiro e quarto posicionados, pois são esses que farão a balança se mover e é deles que pode, perigosamente, sair um candidato que surpreendentemente chega à frente por algum motivo imprevisto de campanha. Dois fatos marcam o momento e os dois são da direita: Le Pen está na frente, cada vez mais na frente, e Fillon caiu, mas está estável. O que Fillon precisa é reduzir os estragos. Relembro que o processo judicial recai sobre Penélope Fillon e não sobre o marido. Penélope é o fantasma da ópera, a mulher do momento; se não fosse o processo, dificilmente alguém pararia François Fillon. Não perdoam Penélope estar casada com Fillon desde 1980; não lhe perdoam o fato de, nos piores momentos em que se percebia que Fillon queria desistir, ela, sempre tão apagada, surgir ao lado dele silenciosa, discreta e dura; não lhe perdoam por não ser francesa e, pior, não lhe perdoam ter empurrado o marido para o cargo de primeiro ministro, quando todos queriam enterrar politicamente o presidente Sarkozy. A galesa salvou a direita francesa e chegou ao Hotel Matignon ao lado do marido com uma faísca nos olhos: vocês nunca nos vencerão. Uma mulher vinda do país do Gales no centro do xadrez político francês gera, convenhamos, alguns ódios. Toda a gente sabe que Penélope tem um plano: quer que o marido seja presidente da República e é por isso que as acusações que lhe fazem recaem, por exemplo, sobre financiamentos que recebeu de revistas de literatura. Cada vez mais, quem não vota decide eleições. Decide de forma indireta, ao alterar os universos de votos absolutos, e decide se muda de ideia na última hora e vai votar. Esses votos de última hora são, por vezes, muito imprevisíveis e uma coisa é certa: os franceses (os europeus no geral) votam cada vez menos. Alguns levantamentos sociológicos atribuem isso, além das questões sociais, por exemplo, o natural comodismo moderno, às grandes desilusões do ciclo François Mitterrand e Jacques Chirac. Os dois ex-presidentes, quando estavam em campanha, conseguiram dar uma injeção de  confiança e esperança no eleitorado francês, mas suas presenças no Palácio do Eliseu foram profundamente decepcionantes, deixando marcas que, segundo os sociólogos, perduram no eleitorado. Todos os que votaram pela primeira vez nos anos 1990 têm agora mais de 40 anos e essa faixa etária apresenta níveis muito grandes de desinteresse pelo processo político. É o que se chama de “Não há nada a fazer e nem quero saber disso para nada” (rien à foutre et rien à faire). Sociologicamente nota-se que as pessoas, apesar de continuarem assistindo ao espetáculo do processo eleitoral, não votam. O entusiasmo da “luta” política é grande, mas as pessoas não são seduzidas a participar diretamente.  As razões são simples e têm dois fatos: os políticos dão maus exemplos e as pessoas são individualistas. O primeiro é evidente em qualquer parte do mundo e o segundo é preocupante, pois as pessoas, pela força também dos aparelhos de comunicação individuais, tendem a se fechar em círculos de interesse cada vez mais reduzidos. É um daqueles efeitos perversos das redes sociais: isolam socialmente. Num ponto, à medida que a troca de informação é cada vez mais entre indivíduos sobre o indivíduo e seus interesses imediatos, os temas das grandes decisões nacionais vão sendo afastados. Quando se faz um levantamento sociológico do motivo do abandono e desacreditação dos políticos, é fácil verificar em que pé está o descontentamento:

  1. Não dizem a verdade e não cumprem o que prometem. Os diagnósticos dos políticos são autênticos contos de fadas e qualquer pessoa totalmente desinformada é capaz de dizer de cor uma dezena de promessas que ouviu na boca de políticos (locais, regionais, nacionais e internacionais) e que não foram cumpridas. O homem do século XXI está pouco disponível para participar num processo que sabe estar eivado de mentiras e falsidades.
  2. Os políticos normalmente saem impunes de seus crimes e ilegalidades, o que tem sido devastador para a participação do cidadão no processo político.
Diante disto, dá-se, por parte do cidadão,  um afastamento silencioso da política. Não só se afasta, como não acredita que algo ou alguém possam mudar seja o que for, o que nos leva a um paradoxo, eu diria, “filosófico”: os extremistas acabam por ser os únicos que acreditam verdadeiramente na política, sendo eles os que, normalmente, negam o processo democrático. Não passa despercebido, por exemplo, nas redes sociais, uma forte presença de participação política de grupos ideológicos descrentes da democracia. O processo político vai sendo cada vez mais, típico também dos períodos de crise, entregue a extremistas. Talvez seja bom lembrar momentos como o da República de Weimar ou como da República Portuguesa: ao misto de democracia e grande instabilidade se segue, quase sempre, a história ensina, regimes totalitários. No momento em que este artigo é publicado no Brasil, decorre na Holanda um processo eleitoral que trouxe às luzes da ribalta uma vez mais a extrema direita. É neste quadro que entram os apoiadores calorosos e empenhados da Frente Nacional. Enquanto os apoiadores das outras forças e candidatos políticos são mais ou menos ocasionais, os da Frente Nacional estão ali, muitos há décadas, de pedra e cal. Os “centristas”, na sua gigantesca maioria, não o são por opção politico-econômica, mas porque, subjetivamente, acham que “é melhor ser moderadozinho”. Não vai ser fácil combater esta decepção permanente. Esse combate vai exigir honestidade, participação e também uma profunda reflexão de como a informação é tratada. Os números brutos da abstenção são assustadores e o grande problema destas eleições presidenciais na França é que, a par de uma campanha que não arranca e de candidatos que só fazem manobras palacianas, há uma sombra gigantesca de abstencionistas, ausentes, desinformados, decepcionados e desiludidos que podem e, provavelmente pressionados pelos últimos acontecimentos, vão entrar em cena influenciando de forma decisiva o futuro da França, da Europa e do mundo. Frank Wan vive em Portugal. É ensaista, poeta, tradutor e professor.

Trindade abre uma série de 20 oficinas em favor de ações integradas na Região Metropolitana

Capital da Fé é o primeiro de 20 municípios a receber fase oficial de debates sobre o Plano de Desenvolvimento Integrado