Por Herbert Moraes

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Um acordo que isolou Israel

País foi pego de surpresa com reconciliação entre Hamas e Fatah [caption id="attachment_6248" align="alignleft" width="620"]carta da europa.qxd Membros das facções Hamas e Fatah anunciam a reconciliação | Foto: Suhaib Salem/REUTERS[/caption] Depois de sete anos de rompimento, Hamas e Fatah, os dois maiores partidos palestinos, fizeram as pazes. Na semana passada, o novo governo de união nacional prestou juramento diante do presidente da Autoridade Palestina e líder do Fatah (partido que governa a Cisjordânia), Mahmoud Abbas. Para que a reconciliação acontecesse os dois partidos tiveram que ceder, mas dessa vez foi o Hamas (que governa a Faixa de Gaza) que teve de aceitar as condições do Fatah. Essa não é a primeira vez que o movimento islâmico é forçado a deixar de lado seus princípios para suceder um acordo. Já se passaram anos desde a primeira vez que eles tentaram reatar e, se dependesse de vários líderes do Hamas, o novo governo de união jamais aconteceria. Foi a situação de calamidade que se encontra o enclave palestino que levou os islamitas a baixarem a guarda. Tudo começou com a queda de presidente do Egito, Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, que foi deposto por uma junta militar e colocou o grupo religioso, que é considerado a “mãe do Hamas” na clandestinidade. A partir daí as coisas ficaram difíceis em Gaza. O governo militar egípcio mandou fechar a passagem de Rafah, que fica na fronteira com a Faixa de Gaza (única saída para os palestinos que moram ali, já que a fronteira com Israel está fechada desde 2007, quando o grupo islamita tomou o poder e rompeu relações com o partido de Mah­moud Abbas). Os milhares de túneis que existiam entre Gaza e o Sinai, e por onde passava de tudo, desde pacotes de cigarros a mísseis, também foram destruídos, e o Hamas foi declarado inimigo público no Egito. A Arábia Saudita e os países do Golfo pressionaram o Catar, que também financiava o Hamas, para interromper as remessas de dinheiro. O grupo, que até o início da guerra civil da Síria possuía um escritório em Damasco e mantinha estreitas relações com Bashar al-Assad, virou as costas para o presidente sírio e debandou do país. Como resultado, tiveram o apoio que vinha do Irã (que ajuda Bashar na guerra contra seu próprio povo) retirado. Tantos tropeços levaram o Hamas à bancarrota, que ficou apenas com o apoio da Turquia. O isolamento levou os líderes do Hamas à conclusão que se quisessem sobreviver, não tinham opção senão a reeconciliação com o Fatah. As concessões que o Hamas teve de fazer não são apenas técnicas. Em maio de 2011, no Cairo, quando assinou um desses acordos de reconciliação, o grupo exigiu que eleições para o Conselho Nacional Palestino, o Parlamento e a Presidência es­tivessem no pacote, e que viessem em seguida ao acordo. Mas isso não aconteceu. Com a conciliação, o Hamas se comprometeu a estabelecer um governo tecnocrata e aceitou adiar as três eleições para um futuro próximo. Enquanto isso, a presidência continuará com Mahmoud Abbas. O presidente da Autoridade Palestina não morre de amores pelo movimento islamita, e um dos motivos que o levou ao pacto vem da pressão pública, tanto na Cisjordânia como na Faixa de Gaza. Abbas temia entrar para a história como o presidente que perdeu o enclave (a única saída para o mar do Estado Palestino), principalmente depois que as negociações de paz com Israel falharam. O completo isolamento colocaria o Hamas numa situação ainda mais complicada. E o resultado de tudo isso saiu na semana que passou, com a formação do governo de união “tecnocrata”, que bem ou mal vai funcionar sob um acordo entre o Fatah e o Hamas.

A reação de Israel
Israel tentou de todas as maneiras boicotar o novo governo palestino. Mas, na última terça-feira, quando o acordo foi assinado, em apenas algumas horas as potências mundiais se alinharam e reconheceram a nova realidade palestina. Os primeiros a se manifestar a favor, para surpresa dos israelenses, foram os Estados Unidos. Na sequência a União Europeia também aprovou a reconciliação. França e Inglaterra logo manifestaram o apoio e, por fim, o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, ratificou a união. Dias antes, o premiê de Israel, o ministro de Relações Exteriores e o das Finanças foram a público e afirmaram que a Índia e a China não estavam “nem aí” para os palestinos, e que só queriam mesmo a alta tecnologia de Israel. Durante a invasão russa à Cri­meia, na Ucrânia, o primeiro-ministro israelense, de certa forma, apoiou Vladimir Putin em sua incursão ao país vizinho. Mas nada disso foi suficiente para impedir que os governos de Moscou, Pequim e Nova Déli apoiassem, com afinco, a nova administração palestina. Os Estados Unidos e a União Eu­ropeia pelo menos colocaram condições ao aprovarem a união, como reconhecer o direito de existência de Israel, já a China, a Índia e os russos não impuseram absolutamente nada. O destaque dessa disputa é sem dúvida o embate entre dois quase “ex-aliados”: Israel e Estados Unidos. Só que até isso já virou rotina. Desde que Barack Obama assumiu a presidência americana, ele e Benyamin Netanyahu apenas se suportam. Às vezes, nem isso. Enquanto a mídia mundial estava voltada para a libertação do soldado americano Bowe Bergdahl, que ficou cinco anos em cativeiro sob a mira do Talibã no Afeganistão, o acordo entre Hamas e Fatah acabou ficando em segundo plano, e muitos passaram a se perguntar se realmente havia alguma crise, já que ninguém estava prestando atenção. A reação do gabinete israelense ao apoio do governo americano à união palestina foi muito parecida quando as potências mundiais anunciaram que iriam negociar com o Irã há alguns meses. O primeiro-ministro de Israel disse que estava “profundamente preocupado”. O enviado do governo israelense aos Estados Unidos destacou em sua página numa rede social que “estava decepcionado”, a comunidade judaica em todo mundo também desaprovou o apoio de Obama, e certamente parte do Congresso americano, principalmente os republicanos, tentam impedir através da lei que isso aconteça. A verdade é que o estabelecimento do governo de união na­cional palestino pegou Netanyahu de surpresa. Não houve tempo para planos estratégicos ou alternativas diplomáticas. A reação mundial serviu de alerta para o premiê israelense. A sirene que anuncia o isolamento internacional de Israel foi acionada. As relações do Estado judeu com o mundo estão se deteriorando rapidamente. Uma iniciativa de paz proposta por Israel nunca foi tão necessária.

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