Grupo terrorista de Osama bin Laden entra em via de extinção com a ascensão do Estado Islâmico

Grupo Estado Islâmico: o novo paradigma do terrorismo mundial | Foto: Reprodução/Youtube
Grupo Estado Islâmico: o novo paradigma do terrorismo mundial | Foto: Reprodução/Youtube

O mundo jihadista passa por uma transformação. Esta semana, pela primeira vez em 20 anos, o Talibã do Afeganistão publicou a biografia completa do seu maior líder: Mullah Omar. Foi ele quem protegeu e escondeu Osama bin Laden antes e depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, contra os Estados Unidos. Ele mesmo conseguiu desaparecer entre as montanhas de seu país durante anos, o que impediu os americanos de visualizarem sua imagem, que sempre foi um mistério. Poucas pessoas conheciam ou tinham acesso a Omar. Sua foto nunca foi publicada (há dúvida se as que aparecem na internet são mesmo dele). O estilo de vida e localização também sempre foram secretos.

A revelação de sua história, educação e inúmeros casos em que derrotou o “inimigo americano” provocou um interesse geral. Segundo as organizações islâmicas, tanto afegãs quanto paquistanesas, a intenção da publicação inédita que desvenda parte do mistério que ronda Omar é estancar a deserção em massa de militantes experientes para o grupo Estado Islâmico. Ele alegam que o líder do Talibã, o Mullah Omar, está completamente desconectado de seus seguidores. Além disso, os recursos também já não são mais os mesmos, e o grupo tem dificuldades em atuar.

Mullah Omar: será mesmo este o acólito de Osama bin Laden? | Foto: Reprodução
Mullah Omar: será mesmo este o acólito de Osama bin Laden? | Foto: Reprodução

Outras alas ainda mais radicais do Talibã se opõem às tentativas de reconciliação com o novo governo do Afeganistão. Eles temem que um acordo (que não deve acontecer de qualquer maneira) vai isolar o grupo de suas principais bases. Por isso todos querem que o Mullah Omar apareça em público e se posicione, definitivamente, como o único líder do Talibã, e assim consiga convencer seus jihadistas de que não “virem a casaca” nem o abandonem para se juntar ao califado do Estado Islâmico de Khorasan”, que se autointitulou como a única representação dos grupos islamitas do Afeganistão, Paquistão, Irã e Índia.

Do outro lado do Oriente Médio, há rumores de que o líder da Al- Qaeda, Ayman Al-Zawari, vai se “aposentar”. O chefão da rede terrorista já transmitiu mensagens para todas as filiais espalhadas pelo planeta e liberou os jihadistas dos votos de lealdade à organização. Além disso, o médico-terrorista estimulou que seus pupilos se juntem a outros grupos islamitas, incluindo o Estado Islâmico. Segundo o jornal “Al Hayat”, que é publicado em Londres para as comunidades árabes, Zawari percebeu que não pode competir contra o Estado Islâmico, mas que mesmo assim vai deixar um “legado”, já que conseguiu expandir ainda mais o campo de atuação da rede terrorista ao abrir três filiais da Al-Qaeda. Uma na Somália com o Al-Sha­bad, outra no Egito, na região do Sinai, e uma terceira na Índia. As disputas internas nas filiais, principalmente na mais importante delas, a do Iêmen, onde muitos militantes da organização debandaram para o lado do Estado Islâmico, transformaram a Al-Qaeda num grupo de segunda categoria, até mesmo marginal.

A mesma situação se repete na Síria, onde a Al-Qaeda opera através do grupo Al-Nusra, liderado por Abu Mohammed al Joulani. Os militantes se juntaram à rede terrorista no terceiro ano da guerra civil, quando Joulani entrou em conflito com o agora líder do Estado Islâmico, Abu Backar al-Bagdadi. Na época, Bagdadi era o chefão da Al-Qaeda no Iraque e já tinha planos de expansão na Síria, mas foi impedido por Zawari, que determinou sua volta ao Iraque e que continuasse operando de lá mesmo, deixando o Al-Nusra comandar a luta na Síria. Bagdadi, que já controlava diversas áreas na Síria, rejeitou as ordens e rompeu com a Al-Qaeda, enfraquecendo Al Zawari.

Ayman Al-Zawari: o “chefão”  da Al-Queda quer se aposentar | Foto: Reprodução
Ayman Al-Zawari: o “chefão”
da Al-Queda quer se aposentar | Foto: Reprodução

Abu Mohamed al-Joulani, o líder do grupo Al-Nusra na Síria enfrenta um dilema. O Catar, que financiou o grupo nos últimos anos, anunciou que vai encerrar a “parceria”e se juntar a grupos que considera mais moderados. Mas por trás disso há um objetivo: remover o Al-Nusra da lista de grupo terroristas dos Estados Unidos, o que pode permitir que o Catar volte a financiar o grupo sem embaraços diplomáticos. No entanto, a frente Nusra, que controla áreas estratégicas da Síria, como a cidade de Idlib, as colinas do Golã em território sírio e Daara, vai ter de fazer uma escolha que pode definir o seu futuro nesse jogo complicado. O grupo não consegue ver nenhuma vantagem em cortar os laços com a Al-Qaeda, por outro lado se o Nusra recusar as ordens do Catar, estará arriscando perder seu principal financiador. A situação pode ficar ainda pior se o Catar conseguir convencer a Turquia a eliminar o front do Al-Nusra ao fechar a passagem livre que liga o território controlado por eles e a Turquia. O caso ilustra muito bem o fato de que, hoje, lealdade ou deslealdade com a Al-Qaeda não é apenas uma questão ideológica, mas pragmática e que está completamente associada à sobrevivência do grupo, que já pensa até mesmo mudar de nome, começar de novo, o que poderá garantir a remoção da lista negra de grupos terroristas, além de garantir seu financiamento.

Há dúvidas se as decisões ou indecisões que rondam a filial da Al- Qaeda na Síria de alguma forma são coordenadas ou até mesmo repassadas para Ayman Al-Zawari, que ideologicamente está bem afastado tanto do Estado Islâmico quanto da Irmandade Muçulmana. O caleidoscópio que virou a guerra na Síria, onde alianças nunca imaginadas acontecem incessantemente, entre grupo diferentes, fez com que todos eles se tornassem irrelevantes. Já não importa se o Al-Nusra está ou não ligado à Al-Qaeda ou se é finaciado por ela, já que em alguns fronts eles cooperam com o Estado Islâmico e em outros lutam contra eles. Trinta grupos islâmicos já fazem parte da aliança mundial proposta pelos Estado Islâmico, muitos deles eram filiais da Al-Qaeda. O abandono é combustível para a concorrência, só assim o Estado Islâmico poderá se colocar como a maior e mais poderosa organização terrorista do mundo, para depois dar o próximo passo, esmagador, tirando a Al-Qaeda do caminho até que ela desapareça.