Calcula-se que, para refazer o país, são necessários 500 bilhões de dólares. Mas dificilmente vão liberar soma tão vultosa para reforçar o poder do presidente

Bashar al Assad: nem mesmo a leal aliada Rússia parece apostar na reconstrução da Síria com o presidente no poder | Foto: Kremlin

Desde março de 2011, quando a “Primavera Árabe” chegou à Síria, que, assim como lá, fomos bombardeados, diária e ininterruptamente, com notícias terríveis que vinham do front de guerra. De repente, tudo mudou, ou melhor, se calou. Parece que o conflito — que devastou um país inteiro e provocou tsunamis de refugiados mundo afora —, nunca aconteceu.

Pare um pouco e tente lembrar há quanto tempo você não ler e nem ouve nenhuma notícia sobre a Síria. O assunto sumiu das manchetes dos jornais. Até mesmo os líderes mundiais não se manifestam mais sobre o assunto. Há tempos que a questão síria deixou de ser o ponto central de seus discursos. Não há mais interesse. Assim como cessaram os esforços diplomáticos para estabelecer uma forma diferente de governo. Tudo se arrasta. Os encontros internacionais continuam, como o da próxima semana em Astana, no Cazaquistão, onde Rússia, Turquia e Irã pretendem, mais uma vez, tentar pôr um ponto final no conflito.

Os Estados Unidos não querem se envolver e muitos países árabes preferem o distanciamento na resolução do conflito, que completa oito anos em março do ano que vem.

O centro das atenções na região mudou para outros assuntos — como o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, no consulado da Arábia Saudita em Istanbul, na Turquia, e o provável envolvimento direto do príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman, como mandante do crime. As sanções americanas ao Irã também ocupam as manchetes e ofuscam a Síria.

Quem não se lembra de Allepo, a segunda maior cidade da Síria, patrimônio da humanidade, completamente destruída pelas forças governamentais? Sobre Idlib — que se tornou capital do Estado Islâmico na Síria, hoje jaz devastada e praticamente inabitável —, nenhuma palavra. Só silêncio. O mesmo silêncio que habita as ruínas dessas que foram duas das cidades mais importantes do Oriente Médio.

No entanto, para milhões de pessoas, a guerra ainda não terminou. Pelo contrário, com a vida às avessas, os refugiados sírios que fugiram para a Europa e países vizinhos como a Jordânia não podem voltar porque não tem mais onde morar, está tudo destruído.

Com exceção de alguns pequenos focos de confrontos, Bashar al Assad controla o país inteiro novamente. Mas ainda não há sinais de reconstrução. O dinheiro em caixa não é suficiente. Serão necessários pelo menos 500 bilhões de dólares para começar a arrumar o país que está com a economia falida e não conta com a ajuda de ninguém, nem mesmo da Rússia. O ditador está sozinho, e, por enquanto, não encontrou uma saída. Ninguém quer fazer doações para Assad, que, em quase uma década, matou pelo menos 500 mil pessoas. Trata-se de um criminoso de guerra que ninguém quer ajudar.

Aparentemente, outros países estão esperando um tipo de acordo que estabeleça um governo estável na Síria — que vai deverá administrar os fundos que serão doados de forma mais clara e eficaz, e principalmente sem corrupção. Por enquanto não há doadores definidos e não há como prever quem deverá proceder, dada a desconfiança de muitos países que fizeram doações bilionárias para a reconstrução do Afeganistão e do Iraque e viram suas contribuições nos bolsos de indivíduos que eram próximos ao regime desses países. Corrupção.

Os grupos que, no momento, levantam fundos para a reconstrução da Síria são privados. As organizações não-governamentais também se movimentam, principalmente em áreas como saúde e educação. Só que, mesmo nestas áreas, as doações são escassas.

Bashar al Assad pode ter vencido a guerra, mas agora tem um país em ruínas que ninguém quer ajudar. Pelo menos enquanto ele estiver no poder. E este é o maior obstáculo que Rússia, Irã e Turquia terão que ultrapassar se quiserem de fato tornar a Síria um país novamente habitável. A reconstrução da Síria passa pela saída de Assad do poder. E parece que a Rússia, o maior parceiro do ditador na guerra, já enxergou isso.