O general megalomaníaco
19 janeiro 2020 às 00h00
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Quassem Soleimani, militar número um do Irã, estava intoxicado pela admiração que tinha dentro e fora do país, principalmente em nações como Líbano, Síria e Iraque
Qassem Soleimani, 62 anos, era respeitado pela sua coragem e por suas estreitas relações com o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Soleimani comandava mais de 15 mil homens diretamente e estava subordinado ao comandante da Guarda Revolucionária, o general Hosseim Salami. Mesmo assim, era ele que guardava o “título” de general mais querido. O aiatolá Ali khamenei, quem de fato manda e toma as decisões na República Islâmica, chorou durante o funeral de Qassem Soleimani. Não à toa, Khamenei o considerava um filho adotivo e, apesar da subordinação hierárquica com Hosseim Salami, para o líder supremo era Soleimani o militar número um do país, e Khamenei, que completa este ano 84 anos, tinha nele o seu substituto natural, além de nomeá-lo seu principal confidente.
Era dono de uma personalidade popular e relações públicas que Soleimani cultivou ao longo de duas décadas – e ele gostava disso. O general número um do Irã estava intoxicado pela admiração que tinha dentro e fora do país, principalmente em nações como Líbano, Síria e Iraque. Sua autoconfiança era tão desproporcional que ele se considerava, de fato, um onipresente. Um semideus. Sua petulância chegou ao ponto de desrespeitar as ordens de Khamenei e enviar para Idlib, na Síria, mais de 4 mil homens. O supremo Líder exigiu que ele voltasse atrás, mas mesmo assim, o perdoou.
Israel também considerava Soleimani um bom estrategista e grande comandante, apesar dos sucessivos erros que vinha cometendo. Teve muitas operações frustradas ou mal feitas por seus asseclas. Todos os ataques que planejou junto ao Hezbolah contra Israel falharam. Planejou atentados em vários países contra autoridades israelenses, mas somente em 2012, num ataque em Burgas, pode-se dizer que obteve êxito, quando seis pessoas, entre elas cinco israelenses, foram mortos num ataque suicida efetuado por militante do Hezbolah.
As Forças Armadas de Israel, a comunidade de escritórios de inteligência e até mesmo o premier sempre atrelaram o nome do general Soleimani em ataques contra Israel e os Estados Unidos. E por trás disso tem uma estratégia: de um lado Soleimani e Khamenei, do outro a Guarda Revolucionária e os iranianos.
Israel, por diversas vezes, planejou o assassinato de Soleimani devido ao seu envolvimento direto em ações terroristas contra o Estado Judeu em todos os fronts. Mas sempre que teve a oportunidade de eliminá-lo, o país foi brecado, tanto por George W. Bush como por Barack Obama. Foi durante o tempo de Obama no poder que tudo mudou para Soleimani, quando o presidente dos Estados Unidos classificou o general como um aliado na guerra contra o Estado Islâmico.
Soleimani sempre foi um alvo fácil e muio exposto. Durante a guerra na Síria, Israel teve três boas chances de eliminá-lo, mas devido a ordens do Pentágono, teve de abortar as três tentativas. O general viajava pela Síria dirigindo seu próprio carro, como se ali fosse seu quintal. Atendia funerais, vistava as bases que estava instalando na fronteira com Israel e viajava tanto em jatos particulares como em aviões de diversas companhias aéreas.
Não era educado, tampouco um intelectual, mas era um comandante militar talentoso. E usava isso estrategicamente a seu favor no campo político. Havia um Soleimani comandante até a “primavera árabe” em 2011. Depois disso, ele passou a realizar operações secretas e montou milicias que tinham como único objetivo o terrorismo. Daí veio o caos, trazido pelo Estado Islâmico, que desestabilizou o Oriente Médio. E então, o general iraniano passou a agir como a polícia da região.
Tanto poder nas mãos levou Soleimani a implementar um sofisticado sistema, comandado por ele, para realizar operações que de certo modo, foram bem sucedidas. Foi esta mudança de atitude que plantou as sementes que levaram a sua morte. Ao sair da sombra, onde operava, o general ressurge como um político e passa a agir como tal. E por causa disso, Soleimani ousou pensar que estava imune.