Foram muitos os estragos provocados pela coalizão de extrema-direita liderada por Benyamin Netanyahu

Primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu: governo mais curto da história do Estado judeu e considerado o pior / Reuters
Primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu: governo mais curto da história do Estado judeu e considerado o pior / Reuters

Há menos de dois anos no poder, o terceiro mandato do primeiro-mi­nistro de Israel, Benyamin Ne­tanyahu, chegou ao fim da linha. A Knesset, o parlamento, será dissolvida e novas eleições já foram convocadas para março do ano que vem. Este foi o governo mais curto da história do Estado judeu e considerado, de longe, o pior. Difícil apontar quais benefícios foram alcançados, mas bem fácil enxergar o tamanho do estrago provocado pela coalizão de extrema-direita liderada pelo premiê, que coloca em risco o futuro de Israel.

Benyamin Netanyahu será lembrado como um dos políticos mais importantes do país, perdendo apenas para o fundador do Estado, David Ben Gurion, tanto em tempo de serviço como pela marca que foi deixada. Netanyahu conseguiu moldar o Israel contemporâneo. Seria injustiça compará-lo a outros primeiros-mi­nistros que passaram pela mesma cadeira sem fazer tanto pelo país. Mas Bibi quis fazê-lo como imaginava: com um projeto baseado no nacionalismo extremo, em que valores básicos foram sacrificados em nome de uma ideologia destrutiva. Injusto também seria dizer que Bibi Netanyahu é um político que “carrega” no cinismo. Ao contrário, o israelense foi um dos premiês mais ideológicos, tanto que quase conseguiu espalhar e implantar sua doutrina extremista de norte a sul do país.

Bibi nunca acreditou na paz com os árabes, e no período em que ficou no poder, tirou da agenda nacional qualquer possibilidade de acordo. Os direitos do povo palestino também foram esquecidos por ele, o que acabou destruindo a solução de dois Estados para dois povos. Bibi acredita, literalmente, que os judeus são realmente o “povo escolhido” por Deus e, por causa disso, deixou Israel bem perto de se tornar um modelo de Estado apartheid, até mesmo no aspecto constitucional.

Na história recente de seus antecessores, um tentou fazer a paz e o outro, a guerra, mas nenhum foi tão influente como Netanyahu. O filho de um professor de história conseguiu entrar para a história e, nos livros, certamente não será apenas citado, mas estudado.

Era um vez, muito tempo atrás, havia um país chamado Israel, onde se falava e se discutia a paz. Lá eles acreditavam que ela um dia viria. Havia democracia, pelo menos para os judeus. Israel respeitava os outros países e levava isso em conta. O Estado tinha noção de seu tamanho, dos limites do poder, de suas fronteiras e influência. Lá, o racismo era combatido severamente, existia até mesmo “vergonha alheia” por aqueles que discriminavam as minorias. Nesse lugar, os árabes ainda não eram considerados suspeitos e os refugiados estavam bem longe de serem qualificados como “invasores”. Nessa época, o judaísmo não era apenas para os ultranacionalistas. Havia esperança, mas tudo isso foi destruído. Netanyahu moldou Israel como quis. Um país diferente, onde o medo e ódio caminham juntos, e o nacionalismo extremo é considerado politicamente correto. Em terra de profetas, pelo menos a destruição de Israel ele não conseguiu concretizar; mas fez o suficiente, ou até mesmo um pouco mais que isso, para tornar a profecia uma realidade.