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Na sua dissertação de mestrado, o presidente da Goinfra diz que, mesmo para abrigar o polvo que é a salada ideológica nacional, não são necessários tantos partidos

“Avalio que é uma boa hora de fazer uma reflexão sobre tudo o que tem acontecido, relatar um bocado de minha experiência, inclusive para estimular os mais jovens”, disse

Tratados como colaboradores, foram executados pela ALN e pelo PCBR. Lucas Ferraz mostra que as organizações cometeram uma injustiça
Publicado há mais de três décadas, “Combate nas Trevas” (Ática, 294 páginas), do historiador Jacob Gorender (1923-2013), é um dos livros mais importantes sobre os grupos guerrilheiros que combateram a ditadura civil-militar (1964-1985). Trata-se de um balanço — à esquerda — crítico. Constata, por exemplo, que os defensores da luta armada se mantiveram, entre as décadas de 1960 e 1970, distantes das “massas” e não perceberam que o crescimento da economia havia conquistado as classes médias. É possível sugerir que falta um debate sobre o que os militantes, se tivessem derrotado os militares, realmente queriam fazer com o Brasil: reinstalar a democracia? Tudo indica que não era o projeto. O historiador Daniel Aarão Reis, que foi guerrilheiro e permanece de esquerda, escreveu: “Eu não compartilho da lenda de que no final dos anos 1960 e início dos anos 1970 nós (inclusive eu) fomos o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito”. A resistência democrática, se houve, ficou por conta do MDB dos autênticos Alencar Furtado, Francisco Pinto, Henrique Santillo, do moderado Ulysses Guimarães e dos super-moderados Tancredo Neves e Thales Ramalho.
Se Jacob Gorender escreveu a história “geral” do período, examinando o confronto entre a esquerda e os governos dos generais, há histórias que merecem detalhamento. O pesquisador, que pertenceu ao PCBR, discute os justiçamentos feitos pela esquerda revolucionária, mas en passant. No livro “Injustiçados — Execuções de Militantes nos Tribunais Revolucionários Durante a Ditadura” (Companhia das Letras, 238 páginas), o jornalista Lucas Ferraz recupera o que o pesquisador anterior levantou e amplia as histórias. Não se trata de uma obra condenatória, e sim de um apurado levantamento histórico que expõe os fatos com o distanciamento necessário.
Integrantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) e do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) justiçaram companheiros, alegando que, tendo colaborado (ou, num caso, que poderia colaborar) com policiais e militares, contribuíram para a morte de vários companheiros. Lucas Ferraz mostra que, apresentados como delatores, de fato não o eram. Quanto a informações obtidas sob tortura, das mais cruéis, não se pode falar sequer em delação ou traição. O pesquisador mostra também que os grandes e verdadeiros delatores da esquerda — como Manoel Jover Teles (sua história é contada no fim do livro; ele entregou a cúpula do PC do B, que foi massacrada em 1976, na Lapa, em São Paulo), João Henrique Ferreira de Carvalho-Jota, Jurandir Duarte, Hermes Camargo Batista, Alberi Vieira dos Santos e Cabo Anselmo (José Anselmo dos Santos, que, embora não fosse cabo, era marinheiro) — não foram justiçados.
A infiltração, de fato, foi responsável por grande número de mortes. João Henrique Ferreira de Carvalho, o Jota da ALN, contribuiu para o desmonte da VPR. Era um “cachorro” pago pelo major Ênio Pimentel da Silveira.
Lucas Ferraz examina detidamente (sem deixar de mencionar outras histórias) os justiçamentos de Márcio Leite de Toledo, Carlos Alberto Maciel Cardoso, Francisco Jacques de Alvarenga e Salatiel Teixeira Rolim. “Os quatro foram assassinados pelos companheiros após serem presos e torturados pela repressão. Todos eram inocentes: não tinham cometido os crimes de traição atribuídos a eles nos tribunais revolucionários que os julgaram à revelia. Os quatro nunca foram reconhecidos pelo Estado como vítimas da ditadura”. Ressalta: Márcio Toledo certamente não foi torturado.
O livro conta primeiramente a história de Antônio Nogueira da Silva, o Paulinho, da VAR-Palmares. Era um exímio atirador de 33 anos. Quando Chizuo Osava, o Mário Japa, decidiu que deveria se transferir para uma área entre Goiás e Mato Grosso, para organizar a guerrilha rural, Antônio decidiu contestá-lo. O campo não era sua praia.
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Lucas Ferraz, jornalista| Foto: Avener Prado/Divulgação da Companhia das Letras[/caption]
Mesmo pressionadíssimo, Antônio rebelou-se. Acabou por se afastar. Ao encontrar José Raimundo da Costa, o Moisés, ficou sabendo que havia sido expulso da VAR-Palmares. Eduardo Leite, o Bacuri, disse que os companheiros o avaliaram como “desbundado” (quem abandonava a guerrilha). Cogitaram executá-lo, sob acusação de ter embolsado dinheiro da organização e fazer chantagem. Dos três “juízes”, apenas Ladislau Dowbor, o Jamil, defendeu o fuzilamento. Acabou escapando de ser morto pelos parceiros. Ele foi “o primeiro militante de esquerda expurgado da luta armada em um tribunal revolucionário”.
Em 1969, a repressão prendeu o ex-sargento Pedro Lobo de Oliveira (participou do ataque ao II Exército, quando um militar morreu), treinado em Cuba, e o ex-soldado paraquedista Hermes Camargo Batista, da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
Hermes Batista se tornou “fiel colaborador”. “Isolado dos demais, ele foi pressionado a fechar um acordo após dias de tortura”, assinala Lucas Ferraz. Suas informações levaram à queda do ex-sargento Onofre Pinto, dirigente da VPR. Metade das armas roubadas no 4º RI foram confiscadas.
No Vale do Ribeira, em São Paulo, Lamarca e outros companheiros pretendiam implantar a guerrilha rural, mas acabaram descobertos. Lamarca acabou por matar o tenente da Polícia Militar Alberto Mendes Júnior, de 23 anos. Optou-se pela sobrevivência, na avaliação de Jacob Gorender. Elio Gaspari discorda: “Tropas combatentes não matam seus prisioneiros. Tropas guerrilheiras também não”.
José da Silva Tavares, o Severino
Com a morte de Carlos Marighella, em 1969, o principal líder da ALN passou a ser Joaquim Câmara Ferreira (Velho, Toledo). Preso pela equipe de Sérgio Fleury, José da Silva Tavares, o Severino decidiu se tornar “cachorro”, cuja principal missão era entregar Câmara Ferreira. “Ou entregava o chefe ou morreria.” Alegando ter escapado da repressão, chegou a mostrar marcas vermelhas no pescoço, pois teria tentado se suicidar, Tavares procurou Câmara Ferreira e contou sua história rocambolesca. Os guerrilheiros Carlos Eugênio Paz e Iuri Xavier Pereira advertiram o comandante, que, de guarda baixa ante um velho aliado — treinado pelos cubanos, o que era um handicap —, não levou a sério o que disseram. Tavares deu a Sérgio Fleury informações sobre “mais de cem brasileiros que treinaram” em Cuba. Em 1970, a ALN estava cada vez mais acuada e isolada. Delatado por Tavares, Câmara Ferreira foi preso, reagiu fortemente e morreu, de infarto, ao ser torturado com choques elétricos no pau de arara. Ele tinha 57 anos. “O desaparecimento de Câmara Ferreira foi devastador para a luta armada nas cidades, em especial para a ALN.” Maduro, era o estrategista do grupo. Protegido por Sérgio Fleury, Tavares escapou e, tempos depois, apareceu como executivo da Fiat. Chegou a diretor financeiro da operação internacional na Itália. Sua traição, que matou o número 1 da ALN, gerou a “síndrome de Severino, quer dizer, “a crescente obsessão com o perigo representado pelos traidores”.1
Márcio Leite de Toledo
Integrante da ALN, Márcio Leite de Toledo desapareceu por 40 dias. Quando ressurgiu, explicou que discordava das ações da guerrilha. “Márcio considerava a ALN despreparada e não via disposição nem experiência nos colegas para mudar a forma do enfrentamento com a ditadura”, registra Lucas Ferraz. Ele queria “poupar vidas, evitando matanças”. Treinado em Cuba, era um guerrilheiro eficiente [caption id="attachment_360471" align="aligncenter" width="300"]
2
Carlos Alberto Maciel Cardoso
Em 1971, o ex-militar paraense Carlos Alberto Maciel Cardoso, o Juca, foi preso por militares do Cenimar e decidiu colaborar. [caption id="attachment_360474" align="aligncenter" width="620"]
3
Francisco Jacques de Alvarenga-Bento
Em 1973, torturado no DOI, o guerrilheiro Amadeu de Almeida Rocha deu informações à repressão, que prendeu dez pessoas, entre elas o professor da História Francisco Jacques de Alvarenga, o Bento, “um dos quadros da RAN [Resistência Armada Nacional] que nunca havia segurado um revólver”. Não participava diretamente da guerrilha, mas dava-lhe discreto apoio, diz Lucas Ferraz. [caption id="attachment_360475" align="aligncenter" width="300"]
4
Salatiel Teixeira Rolim-Chinês
Em 1972, os quadros do PCBR estavam isolados e encurralados, mas quatro guerrilheiros — Ramires Maranhão do Valle, Almir Custódio de Lima, Vitorino Alves Moitinho e Ranúsia Alves Rodrigues — “se recusavam a abandonar a luta contra a ditadura”. [caption id="attachment_360477" align="aligncenter" width="300"]
Breves reparos ao livro de Lucas Ferraz
Há micros problemas no excelente livro de Lucas Ferraz. Mas nada que afete a qualidade e a originalidade de sua pesquisa rigorosa. Alguns autores, como Jacob Gorender e Antônio Duarte dos Santos (inclusive numa entrevista para o Jornal Opção, concedida em 2005), assinalam que não há evidências de que o Cabo Anselmo era infiltrado na esquerda desde 1964 (ou até antes). [caption id="attachment_360478" align="aligncenter" width="620"]
Cabo Anselmo - RJ[/caption] Tudo indica que foi virado, tornando-se “cachorro”, em 1971, depois de ser preso e torturado pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Para sobreviver, mudou de lado e gostou. Mesmo assim, o jornalista escreve: “Há indícios de que sua colaboração se iniciou antes do golpe”. Num livro em geral criterioso, o autor fica devendo a apresentação das “evidências”. Leia trecho de reportagem do Jornal Opção com Antônio Duarte dos Santos: “O suboficial da Marinha tem uma tese para sustentar que o Cabo Anselmo não aderiu à repressão — ao Centro de Informação da Marinha (Cenimar), por exemplo — antes de 1964 ou logo depois. A Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB), fundada em março de 1962, teve como primeiro presidente o cabo João Barbosa de Almeida. O Cabo Anselmo não participava da diretoria. Ele foi eleito presidente da segunda diretoria da Associação dos Marinheiros em abril de 1963, um ano antes do golpe. ‘Conheci Anselmo em 1960, no navio-tanque Rijo, da força de transporte da Marinha. O navio transportava petróleo. Não entendia nada de política, era amante de literatura e escrevia num pequeno jornal, um boletim mimeografado. Queria sair da Marinha, pois dizia-se sabotado pelo fato de não ter o nome do pai na certidão de nascimento, e não queria ser militante da associação’” (confira, abaixo, o link para entrevista do marinheiro que morou na Suécia, onde se tornou mestre em Antropologia). [caption id="attachment_360479" align="aligncenter" width="300"]


Números dos anos de chumbo
434
mortos e desaparecidos na esquerda
20
mil foram atingidos pela tortura
25
mil presos
10
mil exilados
1500
indivíduos participaram diretamente da guerrilha
(Email: [email protected])Antônio Duarte dos Santos fala do Cabo Anselmo
https://jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/o-marinheiro-sueco-que-politizou-o-cabo-anselmo-4906/
Um dos pontos fortes da obra de Delmo Moreira é a revelação do poeta Gonçalves Dias como etnógrafo

... Recomeçam os lançamentos de livros, como um romance de Ivanor Florêncio, na noite desta quinta-feira, em livraria do setor Universitário

Luiz Carlos Cancellier não suportou a humilhação da prisão e da injustiça e optou por se matar, dentro de um shopping

Objetivo é o tabu de que falar sobre autoextermínio pode estimular ideias suicidas em quem planeja se matar, principalmente entre jovens

Márcio Toledo, Carlos Alberto Cardoso, Francisco Alvarenga e Salatiel Rolim foram justiçados por guerrilheiros
Faltava nas estantes das bibliotecas um livro sobre os militantes (os mais conhecidos) que foram justiçados pela esquerda durante a ditadura civil-militar. Não falta mais, ainda que o assunto possa ser ampliado por novas pesquisas e acréscimo, provável, de outros justiçados. “Injustiçados — Execuções de Militares nos Tribunais Revolucionários Durante a Ditadura” (Companhia das Letras, 256 páginas), do jornalista Lucas Ferraz, será lançado em 22 de outubro deste ano (já pode ser pedido no site das livrarias e da editora).
Do release da editora: “Quatro casos dramáticos de justiçamento que revelam um lado polêmico e pouco conhecido dos anos de chumbo do Brasil.
“Injustiçados trata de um assunto tabu que passou as últimas décadas no limbo da história brasileira: as execuções que ocorreram dentro dos grupos de luta armada durante a ditadura militar. Tendo como fio condutor os casos de quatro militantes injustamente considerados traidores do movimento revolucionário, Lucas Ferraz faz um corajoso relato de um tema que até hoje é motivo de disputa e silenciamento.
“Com base em documentos, cartas e depoimentos de guerrilheiros, familiares das vítimas e militares, o autor narra os justiçamentos cometidos dentro da guerrilha e seu contexto — as infiltrações dos serviços secretos do regime, a disparidade de poder entre a repressão e a guerrilha, e seus personagens-chave.
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Lucas Ferraz: jornalista e pesquisador | Foto: Reprodução[/caption]
“Mais importante, Ferraz recupera a história e o nome das vítimas: Márcio Toledo, Carlos Alberto Cardoso, Francisco Alvarenga e Salatiel Rolim. Julgados à revelia, condenados à morte e assassinados por seus próprios companheiros, eles ganham aqui finalmente uma memória histórica.”
Lucas Ferraz mora em Roma e escreve para o jornal “O Globo” e faz reportagens para a GloboNews.

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