Na sua dissertação de mestrado, o presidente da Goinfra diz que, mesmo para abrigar o polvo que é a salada ideológica nacional, não são necessários tantos partidos

Nilson Gomes

O advogado Pedro Sales lança na quinta-feira, 9, a partir das 19h, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, o livro “A Hiperfragmentação Partidária no Brasil”. A obra é fruto de sua dissertação de mestrado em Direito e chega a interessante conclusão: mesmo para abrigar o polvo que é a salada ideológica nacional, não seriam necessários tantos partidos. “Uns sete ou oito”, diz Sales. Se tanto… A realidade é terrível: são quase 100 no cenário ou aguardando liberação para levantar voo de pato.

O conhecimento nas lides jurídicas é quase uma surpresa para a maioria: o autor fez fama em Goiás como gestor público. O governo de Ronaldo Caiado nem chegou ainda a três anos e Sales se destaca pelos resultados e a variedade. Já foi experimentado com sucesso no núcleo central, chefiando administração, planejamento e desenvolvimento econômico, além das duas áreas que cuida atualmente, habitação (Agehab) e infraestrutura e obras (Goinfra).

Sales é servidor de carreira do Supremo Tribunal Federal. Sua relação de trabalho com Ronaldo Caiado começou em Brasília, como assessor de seu mandato no Senado.

O que há em comum entre os cargos no Parlamento, no Congresso e no STF? O muito empenho que provoca o bom desempenho. E o que tudo isso tem a ver com o volume a ser lançado nesta noite? Tudo. Por um detalhe: nas várias atividades foram exigidos pesquisa e estudo, exatamente suas praias favoritas.

Amante da boa música, que toca ao violão com certo jeito, é um raro leitor de livros. Entre os ocupantes de cargos públicos federais, estaduais e municipais que a imprensa acompanha em Goiás, a turma de gente com tais características cabe numa ponta de alfinete do botton, uma meia dúzia de três ou quatro, contando ele, o secretário de Saúde, Ismael Alexandrino, e mais alguém que não sei quem, mas deve haver, não é possível que não.

Pedro Sales, presidente da Goinfra | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Na análise do autor, o livro é “uma crítica ao cenário partidário nacional e às decisões do STF que, muitas vezes, se equivocaram ao intervir em assuntos políticos e acabaram incentivando a criação de novos partidos e a mercantilização de ativos eleitorais”. Portanto, suas ações ao escrever a tese de mestrado são tão frutíferas à coisa pública quanto fazer um conjunto de casas ou pavimentar uma rodovia: o excesso de siglas nanicas amputa os já minguados recursos oficiais, provocando a falta de verbas para o que realmente importa à sociedade, como asfalto e moradia.

A obra, como as da Goinfra e da Agehab, vem a calhar (nada a ver com calheiros, hein) às vésperas do ano eleitoral, quando se abrem as cortinas para o deprimente espetáculo dos chefetes de partidecos leiloando apoios. No início da temporada das águas, cabe a gestores responsáveis como Sales e Caiado a contenção do dique, pois se depender dos mercadores de siglas o nível da política vai continuar descendo na enxurrada rumo ao mar de lama. É o que há de mais poderoso no livro: a receita para moralizar na prática o que parece definitivamente perdido bueiro a dentro. Sobre isso, é preciso lembrar que Pedro Sales tem expertise em limpar o que parece irremediavelmente putrefato: antes da hiperfragmentação partidária no Brasil, ele limou a hipercorrupção das obras públicas em Goiás.

Nilson Gomes é advogado e jornalista.