Imprensa
Colunista do Jornal Opção, Afonso Lopes é repórter e articulista do primeiro time. Mas o que ninguém sabia é que, quando quer, também é um cronista dos melhores. Sua crônica “Pacto com meus cabelos...” (http://www.afonsolopes.com/pacto-com-meus-cabelos), explicando que seus cabelos começaram a cair e, quando “decidiram” parar de assustá-lo, ficaram mais finos, é deliciosa. O blog do jornalista (http://www.afonsolopes.com), que inclui comentários políticos, de rara precisão e elegância, e textos deliciosos sobre, por exemplo, vinhos, é divertido e inteligente. Imperdível. Num dos posts, Afonso lista, com a graça habitual e informação de qualidade, uma dica de 11 bons vinhos. Na América do Sul, afirma Afonso, não se pode, de maneira alguma, esquecer os vinhos chilenos. Na região, o país de Pablo Neruda é o “melhor fabricante de vinho”. O profissional, que rejeita a pecha de “enófilo” e “enólogo” (afirma que é um curioso bem informado), cita os vinhos chilenos fundamentais (leia mais no link http://www.afonsolopes.com/category/vidaboa).
Há algum tempo, depois de repetidas denúncias, uma revista brasileira demitiu seu correspondente em Paris. O “recórter” tinha o hábito de plagiar publicações europeias. Longe de reescrever os textos, ele apenas traduzia e enviava para a redação brasileira, que foi engrupida durante anos. Discretamente, e sem pedir desculpas aos seus leitores, a publicação patropi enviou outro jornalista para a redação europeia. Plagiar é um problema universal. Uma editora da rede CNN foi demitida na sexta-feira, 16, sob acusação de copiar cerca de 50 reportagens. Notificada dos plágios por uma auditoria, a cúpula da televisão demitiu Marie-Louise Gumuchian. A jornalista Marie-Louise, baseada em Londres, fazia reportagens sobre África, Europa e Oriente Médio. Ao demiti-la, a CNN pediu desculpas: “Confiança, a integridade e o simples crédito quando corresponde estão entre os princípios do jornalismo que valorizamos profundamente e lamentamos ter publicado material que não respeitou estes padrões essenciais”. A transcrição acima está no Portal Imprensa.

Se Jeovalter Correia, que conhece a máquina pública, especialmente em nível de Estado, não resolver o pepinoduto da Prefeitura de Goiânia, que tem uma dívida quase mas não incontornável, ninguém mais resolverá. Mas é preciso ter um pouco de paciência e entender que não se resolve um problema gigante — embora mais conjuntural (uma dívida de mais de 300 milhões de reais) do que estrutural — de um dia para o outro. O prefeito Paulo Garcia (PT) não pode transformar a Secretaria de Finanças numa máquina de moer técnicos que, embora capazes, não são mágicos. Dário Campos e Reinaldo Barreto, secretário anteriores, são competentes e seriíssimos, mas não são prestidigitadores. Eles alinham-se com os métodos modernos e discretos de Jeovalter Correia.
A queda de Caio Peixoto, que falava muito e trabalhava pouco, foi positiva para a gestão do prefeito Paulo Garcia. Primeiro, porque ele é desagregador e torna os ambientes onde “trabalha” insuportáveis. Segundo, é um homem do passado, e, como tal, não entende como funciona a gestão pública moderna. Ele “parou” no tempo. É o líder número um da vanguarda do atraso.
A Primeira Guerra Mundial está completando 100 anos e, por isso, as editoras brasileiras estão publicando excelentes livros, como os de Max Hastings e Nial Ferguson. Sai agora “Os Sonâmbulos — Como Eclodiu a Primeira Guerra Mundial” (Companhia das Letras, 680 páginas, tradução de Berilo Vargas e Laura Motta), do historiador Christopher Clark, professor de Cambridge.
A seguir leia a sinopse fornecida pela editora:
“O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando e de sua mulher pelo separatista bósnio Gavrilo Princip foi certamente um dos atos individuais de maior repercussão da história moderna. Atentado terrorista de eficiência impressionante, que ao final atingiu todos os seus objetivos — liberou a Bósnia da dominação dos Habsburgo e criou uma Sérvia forte —, culminou ainda na queda de quatro grandes impérios, na morte de milhões de homens e na efetiva destruição de uma ordem mundial. O que fez uma Europa aparentemente próspera e pacífica tão vulnerável ao impacto desse crime? Baseado em vasta pesquisa e documentos inéditos, o professor da Universidade de Cambridge Christopher Clark procura reconstruir esse contexto, esclarecendo, enfim, um dos momentos mais controvertidos e mal compreendidos da história. Numa narrativa transbordante de ação, Clark propõe uma nova abordagem do primeiro conflito bélico a assumir dimensões globais. Em vez de narrar estratégias militares, batalhas ou atrocidades do front, escolhe esmiuçar a complexa rede de eventos, interesses e frágeis equilíbrios de força que levou um grupo de líderes políticos, em geral bem intencionados, a decisões desastrosas, que culminaram numa guerra de violência inaudita. Sem perder de perspectiva a história de longa duração, Clark acompanha, a partir dos centros nervosos de decisão em Viena, Berlim, São Petersburgo, Paris, Londres e Belgrado, quase minuto a minuto, os eventos-chave para a eclosão do conflito, e compõe um panorama das leituras equivocadas e sinais mal compreendidos que em poucas semanas detonou o conflito.”Leio com prazer o livro “Do Jeito Que Vi” (144 páginas), do repórter Montezuma Cruz. Trata-se de uma obra notável, muito bem escrita. Seu forte? O autor é acima de tudo um repórter brilhante, atento aos fatos e às filigranas que muitos, no afã de explicitar o “principal”, não percebem. Suas histórias ficam maiores porque são contadas com razão e sensibilidade.

O professor Francisco Maldonado atacou o nacionalismo basco, “que descreveu como ‘câncer da nação’, que precisava ser curado com o bisturi do fascismo”, conta o historiador Antony Beevor, em A Batalha pela Espanha (Editora Record, 711 páginas). Alguém soltou o grito de guerra da Legião Estrangeira: “!Viva la muerte!” Millan Astray deu o mesmo grito.
O filósofo basco Miguel de Unamuno, reitor da Universidade de Salamanca, levantou-se e, com sua voz baixa, rebateu: “Todos vocês esperam as minhas palavras. Vocês me conhecem e sabem que sou incapaz de ficar em silêncio. Às vezes o silêncio é mentir. Pois o silêncio pode ser interpretado como concordância. Quero comentar o discurso, se é que se pode chamá-lo assim, do professor Maldonado. Vamos deixar de lado a afronta pessoal implícita na explosão súbita de vitupérios contra os bascos e catalães. Eu mesmo, claro, nasci em Bilbao. O bispo, quer queira ou não, é catalão, de Barcelona. Bem agora ouvi um grito necrófilo e sem sentido: ‘Viva a morte!’ E eu, que passei a vida criando paradoxos, devo dizer-lhes, com autoridade de especialista, que este paradoxo estranhíssimo me é repulsivo. O general Millán Astray é um aleijado [havia perdido um braço e era cego de um olho]. Vamos dizê-lo sem rodeios. É um aleijado de guerra. Cervantes também era.
“Infelizmente há aleijados demais na Espanha hoje em dia. E logo haverá mais ainda se Deus não vier em nosso auxílio. Dói-me pensar que o general Millán Astray deva ditar o padrão da psicologia de massas. Um aleijado sem a grandeza de Cervantes tende a buscar consolo calamitoso provocando mutilação à sua volta. O general Millán Astray gostaria de recriar a Espanha, uma criação negativa à sua própria imagem e semelhança; por essa razão, deseja ver a Espanha aleijada, como sem querer deixou claro”.
Irritado, o general gritou: “Muera la inteligência! Viva la muerte!” Falangistas sacaram pistolas e o guarda-costas de Millán Astray apontou sua submetralhadora para a cabeça de Unamuno. Mesmo assim, o filósofo reagiu: “Este é o templo do intelecto e sou eu o sumo sacerdote. É o senhor que profana este recinto sagrado. O senhor vencerá, porque tem força bruta mais que suficiente. Mas não convencerá. Pois para convencer precisará do que lhe falta: a razão e o direito em sua luta. Considero inútil exortar o senhor a pensar na Espanha”.
Ao término de sua réplica, Unamuno disse: “Consegui”. Os falanquistas queriam linchá-lo, mas a presença da mulher de Franco conteve os agressores. Franco disse que o filósofo deveria ter sido fuzilado. “Isso não foi feito por causa da fama internacional do filósofo e da reação causada no exterior pelo assassinato de Lorca. Mas Unamuno morreu seis semanas depois, deprimido e amaldiçoado como ‘vermelho’ e traidor por aqueles que pensou eram seus amigos”, relata Antony Beevor.
Jornais e revistas contribuem para divulgar, fortalecer e cristalizar dogmas criados pela ciência. Quantas reportagens as pessoas leram, nos últimos anos, garantindo que vinho é “bom” para o coração, para uma vida mais longa e saudável? Dezenas, centenas. Pois agora uma pesquisa da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, divulgada pela revista “Visão”, de Portugal, sugere que o vinho não é o elixir da saúde e, portanto, da juventude. “O resveratrol dietético de dietas ocidentais não tem influência substancial sobre as doenças cardiovasculares, o câncer ou a longevidade em idosos residentes na comunidade”, revela o estudo do cientista Richard Semba. “Este estudo vem contrariar as pesquisas com animais, que sugeriam que o resveratrol, um polifenol também encontrado em algumas raízes de plantas asiáticas assim como em amendoins e frutas, pode ter efeitos benéficos na saúde”, assinala a “Visão”. Os resultados não foram comprovados em humanos, mas, como registra a revista, “o mercado de suplementos de resveratrol” fatura “30 milhões de dólares por ano”. Já “o estudo mais recente foi baseado nos níveis de resveratrol da urina de cerca de 800 pessoas em duas pequenas aldeias em Toscana, Itália. Os pesquisadores mediram a urina das pessoas para detectarem sinais de resveratrol, verificando se os níveis estavam ou não a contribuir para a melhoria da saúde da população. 34% das pessoas que fizeram parte da pesquisa morreram e os pesquisadores não encontraram uma correlação entre os níveis inicias de mortalidade e de resveratrol nem ligações entre os níveis de resveratrol e o desenvolvimento de câncer ou doenças cardíacas”. Não se trata de transformar a imprensa no mordomo da hora. Mas jornalistas ficam iguais baratas tontas, registrando pesquisas que são modificadas por pesquisas. A solução? Sempre deixar um pouco de dúvida e ser menos afirmativo quando o assunto for saúde.
Letícia Borges começou a escrever a coluna “Língua e Letras”, no jornal digital “A Redação”. “A coluna vai ser sobre o uso da língua no cotidiano. Não vai ser técnica nem didática. Vou falar sobre a adequação da linguagem ao meio, como se comunicar profissionalmente e o português na internet”, afirma a jornalista. Os textos terão o formato de crônica.
Letícia publica em agosto o livro “A Língua Camaleoa”.
Nilson Gomes, um dos mais polêmicos e ferinos jornalistas de Goiás, vai lançar um jornal-torpedo. Será um veículo popular, mas de matiz político. O pré-candidato a governador pelo PMDB, Júnior Friboi, pode esperar bombas atômicas em forma de textos críticos, duríssimos.
Gomes e sua equipe, que está sendo montada, não vão brincar em serviço, segundo uma fonte. “Será pau puro”, afirma o tucano. Até sexta-feira, 16, o nome do jornal não havia sido decidido. Falam em ‘O Arrocha’, mas parece que avaliaram como hermético. Deve ser algo mais simples e direto.
Diz o ditado popular: “Uma imagem vale mais do que mil palavras”. Parece perfeito, não é? Nem tanto.
Leia o que diz Millôr Fernandes, o filósofo do humor: “Quero ver dizer isto sem usar palavra nenhuma”.

Formado na França e nos Estados Unidos, o especialista diz que a desigualdade está aumentando em todo o mundo, que trabalhadores com altos salários são capitalistas e recomenda mais impostos para reduzir a pobreza
Os liberais americanos estão em pé de guerra contra Thomas Piketty, autor do livro “O Capital no Século 21”. No Brasil, notadamente em publicações como a revista “Veja”, os liberais rejeitam o economista francês como se fosse um marxista, e não um reformador pró-capitalismo. “Qualquer um que recomende 80% de taxação sobre os mais ricos terá sempre os aplausos dos marxistas do mundo todo”, afirma Rodrigo Constantino, autor do livro “Esquerda Caviar”, no artigo “O mercado deve ser escravo da democracia?”, publicado na revista. Para o economista brasileiro, o problema não é o capitalismo liberal, e sim o capitalismo patrimonialista, ou o capitalismo de laços, ou o capitalismo de Estado. “O inimigo é o capitalismo de Estado, o excesso de intervenção estatal na economia, os subsídios, os privilégios, as barreiras protecionistas, as taxas de juros manipuladas e artificialmente reduzidas, impostos excessivos, complexos e altamente progressivos, aquilo que gente como [Paul] Krugman costuma defender. A saída é o capitalismo liberal clássico.” Rodrigo Constantino não leu o livro e, como eu, o comenta a partir de resenhas, como uma do colega Eurípedes Alcântara, editor da “Veja”. Alcântara diz que o livro de Piketty “deseja atacar mais os ricos do que ajudar os pobres. (...) A desigualdade não é invenção capitalista. Ela foi mais profunda e cruel nas eras que precederam o capitalismo”. Rodrigo Constantino conta que o filósofo Mário Guerreiro afirma “que por trás de toda ideia absurda há um francês”. Mas o articulista da revista elogia Tocqueville, Bastiat, Jean-François Revel, Guy Sorman, Alain Peyreffite, Raymond Aron. [relacionadas artigos="4301"] O sociólogo Marcelo Medeiros, professor da UnB, apresenta críticas menos radicais do que as de Rodrigo Constantino e Alcântara, ainda que seja favorável à argumentação básica de Piketty — de que a desigualdade social está se ampliando e a concentração de riqueza está aumentando e que uma tributação mais alta e progressiva é necessária para manter ou recriar sociedades menos injustas. “A desigualdade global passa ao largo do debate do livro. O autor francês não é capaz de dar a devida atenção às pesquisas que revelam uma desigualdade entre países, tão ou mais importante que a desigualdade dentro dos países. (...) A tributação de um país retém os tributos dentro desse país e, portanto, não faz nada — ao menos diretamente — para reduzir a desigualdade entre os países. Ao tributar os ricos, o governo americano estaria tributando lucros que foram obtidos em outros países e trazidos aos Estados Unidos. Com isso, reduziria a desigualdade em seu próprio país, mas não no mundo”. A crítica de Medeiros talvez seja outra radicalização, também, mas à esquerda. Não é contra Piketty; tenta, apenas, ampliar sua teoria, apresentando uma dificuldade e uma alternativa crítica. Talvez num laivo weberiano, Medeiros avalia que o livro de Piketty “subestima a importância de se comandar a economia por meio da política e das instituições”, o que Marx, que concedia um peso decisivo à estrutura, chamava de superestrutura. O crítico sugere que, politicamente, o economista francês é comportado — tese com a qual não concorda, por exemplo, Rodrigo Constantino. “A proposta que faz para o problema da desigualdade está centrada na esfera da distribuição — tributos —, e não na esfera da produção — regulação direta.” O professor da UnB e pesquisador do Ipea afirma que Joseph Stiglitz é mais radical do que Piketty. “Tributos são uma ferramenta importante de controle da desigualdade na economia, mas o foco em tributos é muito pouco para quem escreve algo com as pretensões de grandeza de Piketty”, pontua Medeiros. O que o doutor brasileiro quer, então? Uma substituição do modo de produção capitalista? Não parece, mas ele próprio não esclarece, ao menos não inteiramente, o que propõe como alternativa à tese de Piketty. Na opinião de Medeiros, Piketty “é bom para identificar o problema, mas não para encaminhar soluções”. É provável que o economista vai estender suas análises a um segundo volume...
A pesquisadora Jung Chang lança livro que conta a história de Cixi, a concubina que assumiu o poder e abriu a China para o Ocidente. A ideologia comunista e Taiwan a transformaram numa “renegada”
[caption id="attachment_4393" align="alignright" width="150"] Fabiana Pulcineli: repórter do primeiro time de O Popular[/caption]
Fabiana Pulcineli, principal repórter de política do “Pop”, está numa encruzilhada. Pode permanecer no jornal, no qual é respeitada, apesar do salário considerado “baixo” (7 mil reais), fazer campanha política (pelo menos dois pré-candidatos gostariam de tê-la na batalha eleitoral) ou ir para o “Correio Braziliense”.
O fato é que Fabiana Pulcineli não faz leilão nem está se oferecendo no mercado. A repórter, competente e séria, é que tem sido procurada. Se depender da editora-chefe, Cileide Alves, que aprecia seu trabalho firme e preciso, fica no “Pop”.
Há pelo menos duas formas de se valorizar um profissional de qualidade, como é o caso.
Primeiro, pagando-o melhor. R$ 10 mil reais, por exemplo, não provocariam nenhum grande desfalque nas contas do “Pop”, que tem perdido excelentes repórteres, para o “Correio Braziliense” (Rodrigo Craveiro e Almiro Marcos) e para “O Globo” (Vinicius Sassine), porque adota a política, nada moderna, de nivelar os salários por baixo. Os únicos repórteres que ganham um pouco mais são os que trabalham em tempo integral (“full time”).
Segundo, valorizando-o internamente. Embora seja convocada para escrever artigos, por sinal os melhores do “Pop” — jornal que terceiriza sua opinião para Elio Gaspari, Dora Kramer e Miriam Leitão, para citar apenas três —, Fabiana Pulcineli não é chamada para editar a coluna “Giro” e para fazer parte da equipe de editores.
Na contramão do que ocorre noutros jornais e revistas, o “Pop” criou a tradição de editores que não escrevem — se tornem chefes e, com o tempo, se tornam absolutamente descartáveis —, mas avalio que com uma personalidade forte, decidida e crítica como Fabiana Pulcineli isto não aconteceria. Mas está acontecendo com duas jornalistas notáveis, Cileide Alves e Silvana Bittencourt. As duas, que escrevem muito bem e pensam pela própria cabeça, além de serem íntegras, praticamente desapareceram. Silvana Bittencourt eventualmente comparece nas páginas do jornal, com artigos bem formulados, mas é só. Ninguém, na redação do jornal, dá conta de escrever um artigo por dia?
O “Pop” precisa criar uma estrutura na qual seus editores não se tornem burocratas improdutivos. Afinal, pagar bem para os melhores cérebros ficarem apenas dando “palpites” não é um negócio rentável e inteligente. Pôr editores para escrever é muito mais pragmático e enriquecedor do que contratar repórteres que não têm o chamado texto final. O barato, ao menos em jornalismo, costuma sair caro. Uma Fabiana Pulcinelli, agressiva e produtiva, vale, quem sabe, por três repórteres lentos e desinteressados.
Há esquerdistas que dizem que Cuba é uma democracia. Trata-se de uma profissão de fé. Não à toa o filósofo britânico John Gray avalia o marxismo como uma religião teórica e politicamente meio bastarda, porque seus pais, o cristianismo e o positivismo, não aceitam “registrá-lo”. Na verdade, sabem os esquerdistas mais cerebrados, a ilha da dinastia Castro, Fidel e Raúl, é uma ditadura cruenta. Digamos que os jornalistas Rui Falcão e Franklin Martins morassem em Cuba e, de repente, decidissem: “Vamos lançar um jornal impresso”. Não publicariam. Primeiro, porque o governo não permite. Segundo, porque não teriam papel. O papel é controlado pelos comunistas. O impresso e o digital são como o rádio e a televisão: coexistem e, provavelmente, o primeiro não será o novo dinossauro. Mas em Cuba aquele indivíduo que planeja publicar alguma coisa tem de pensar em termos digitais. Por isso, a jornalista e blogueira Yoani Sánchez vai editar, a partir de quarta-feira, 21, o jornal digital “14ymedio”. Será, afirma, “um espaço para falar de Cuba aqui dentro de Cuba”. Corajosa, pois enfrentar a famiglia Castro não é para qualquer um, a editora do blog Generación Y pretende ampliar a cobertura do que ocorre em Cuba. “Várias pessoas de nossa equipe de trabalho já receberam os primeiros avisos de advertência dos órgãos de segurança do Estado. Será um caminho difícil porque a propaganda oficial tentará nos satanizar”, diz a jornalista. Não custa lembrar que o serviço secreto cubano, o G2, foi treinado pela Stasi, da Alemanha Oriental (a história está no livro “O Homem Sem Rosto”, as memórias de Markus Wolf, da Stasi). O estranho título “14ymedio” significa, relata o Portal Imprensa, o seguinte: 14 é o número do apartamento de Yoani Sánchez, local da criação do projeto, e diz respeito a 2014. “O ‘y’ refere-se ao vocábulo que a acompanhou ao longo dos anos, enquanto ‘medio’ é por se tratar de um veículo para propagar informações.” No país em que o principal jornal, o “Granma”, é porta-voz oficial do governo e, portanto, do Partido Comunista Cubano, o jornal deveria ser chamado de “Tostão”. O “Tostão” contra o “Granma”. Uma coisa é certa: a destemida blogueira vai deixar os ditadores apavorados e os cubanos poderão, aos poucos, saborear o que é imprensa crítica, à qual não têm acesso desde 1959, há 55 anos. “14ymedio” é uma luz, ainda que tênue, que assinala que o comunismo, falido e sem autoridade (o povo é controlado pela violência institucional), não dá mais conta de segurar a rebeldia dos cubanos e esconder e maquiar a realidade.