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[caption id="attachment_9875" align="alignleft" width="300"] Identidade visual da mostra é assinada pelo artista plástico Oscar Fortunato | Foto: Reprodução/Site[/caption]
As inscrições para o 14º Goiânia Mostra Curtas estão abertas até o próximo dia 31 de julho. O festival de cinema acontece no Teatro Goiânia, no Setor Central, e recebe vídeos de todo o Brasil. A democratização da produção audiovisual é o foco desta edição.
Oficinas, encontros, debates e palestras sobre o audiovisual, o mercado e a linguagem cinematográfica fazem parte da programação. A exibição das produções será entre 7 e 12 de outubro. As inscrições podem ser realizadas via correios e pelo site do festival.
O Instituto de Cultura e Meio Ambiente (Icuman) oferece prêmios de formação, aquisição, produção e pós-produção, nas categorias Mostra Brasil, Mostra Municípios, Mostra Goiás, Mostra Cinema nos Bairros e na 13ª Mostrinha. Eles variam entre equipamentos a maquinaria e serviços de laboratório, com valores respectivos.

Euler de França Belém
[caption id="attachment_9871" align="alignright" width="300"] Camisa 10 da seleção, Messi é a aposta dos argentinos | Foto: Reprodução/AFA[/caption]
Buenos Aires – Os brasileiros estão irritados com o quarto lugar obtido pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo. Pudera. Perder de 7 a 1 para Alemanha e de 3 a 0 para a Holanda – e jogando muito mal, apenas com Oscar, aqui e ali, criando algumas jogadas de craque, mas solitariamente; contra a Holanda, até os zagueiros David Luiz (cabeceou mal e entregou a bola para um holandês fazer o segundo gol) e Thiago Silva (fez o pênalti que desestabilizou de vez o time) jogaram muito mal. O ataque não fez gols (um só no vexame contra a Alemanha) e o meio-campo parava as jogadas, devolvendo a bola aos zagueiros, que devolviam a bola ao goleiro ou davam chutões. Mas os argentinos, até porque foram classificados, têm outra interpretação. Primeiro, admiram Neymar, que comparam a Messi. Depois, sugerem que, num campeonato com 32 seleções, um quarto lugar não é tão ruim assim. Ouvi isto de seis argentinos e observei bem para verificar se estavam sendo irônicos. Não estavam. Quase todos disseram que a seleção jogou bem nos primeiros jogos e que seu futebol é “vistoso” mas que, ao perder Neymar, ficou relativamente sem rumo. “Seria como perder Messi”, comparam.
Vi o primeiro tempo do jogo contra a Holanda num hotel e o segundo no La Biela, na Recoleta. Os argentinos torciam claramente para o Brasil, pois dizem apreciar o futebol de alguns jogadores, como Neymar, Oscar, Thiago Silva e David Luiz.
Para o jogo deste domingo, brasileiros que assistem os telejornais podem acreditar que a Argentina, autossuficiente, acredita que já ganhou (não é difícil arranjar torcedores convictos e muito alegres para fazer imagens para a televisão. As chuvas retiraram os argentinos das ruas; voltarão, mesmo com chuva, se seu time for campeão). Não é bem assim. Nas ruas de Buenos Aires, em cafés, restaurantes e livrarias – na área esportiva, o destaque é Messi –, há mais esperança do que otimismo exacerbado. A maioria admite que, em termos de conjunto, a seleção da Alemanha é mais competitiva e sugere que a seleção da Argentina pode ganhar na raça e, eventualmente, devido às jogadas de gênio de Messi. “Queremos ganhar, e vamos torcer muito, mas sabemos que a Alemanha é o páreo mais duro, porque, além de ter bons jogadores, como Müller, o time está bem entrosado”, diz um taxista de mais de 60 anos, que está muito mais interessado em contribuir para retirar a presidente Cristina Kirchner do poder. “A Argentina não merece uma presidente como Cristina. O problema é que, até o momento, não temos alternativas.” Os argentinos reclamam do “custo de vida” e da falta de norte do governo.
As esperanças dos jornais estão no cérebro e nos pés de Messi. Acreditam que, se o maestro ou mestre estiver inspirado, a seleção do país de Jorge Luis Borges, Oliverio Girondo, Ricardo Piglia e Carlos Gardel (por sinal, nascido na França, mas tão argentino quanto o “belga” Julio Cortázar) tem alguma chance de derrotar a Alemanha de Goethe e Thomas Mann. Os argentinos são como os brasileiros: adoram futebol. Mas em geral são racionalistas. Por isso dizem que, se os alemães anularem Messi, a Argentina se tornará um time de menor importância. Frisam que o segredo será fechar o meio-campo e a defesa e jogar no contra-ataque.
Os argentinos querem ganhar, avaliam que podem ganhar, mas sugerem que será muito difícil vencer os alemães.

A dificuldade da presidente em sair do malogro do futebol e buscar novo rumo contamina os rivais, acostumados a apenas reagir
[caption id="attachment_9718" align="alignleft" width="707"] Alemanha impõe goleada humilhante ao time nacional: ruim para o ânimo dos brasileiros e para Dilma Rousseff | Foto: Hassan Ammar/AP[/caption]
Em cinco dias ocorreram três fatos que mudaram o ambiente eleitoral. No dia 3 pela manhã, surgiu a pesquisa do Datafolha que reergueu o ânimo da reeleição da presidente Dilma ao divulgar a satisfação dos brasileiros com a Copa do Mundo. À tarde, desabou o viaduto em Belo Horizonte feito pelo PAC para os jogos. No dia 8, a goleada alemã sobre a seleção brasileira.
Agora, o marketing da reeleição, atordoado pelos alemães, tateia em busca de mensagem para a campanha de Dilma atualizada à nova realidade. Acostumados a apenas reagir ao governo, os outros dois principais concorrentes, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), contaminam-se com a indefinição da candidata favorita.
A saída seria mais segura para os candidatos se houvesse uma nova pesquisa com a força daquela para recolocar a sucessão em seu lugar. O prestígio de Dilma avançava e o povo sentia mais confiança no futuro pessoal naquele momento, em que a Copa era um sucesso e a seleção brasileira estava no jogo, apesar das dificuldades. E agora, como estará autoestima nacional?
Os principais partidos dispõem de pesquisas internas que, dizem, refletem uma sintonia fina com a tendência de eleitores padrões, mas elas não possuem a mesma expressão que outras feitas para o conhecimento público. As pesquisas conduzidas para clientes especiais não possuem o mesmo impacto na opinião pública, não conquistam eleitores diretamente.
A expectativa é nervosa no governo. O estrategista Lula sumiu e o PT aguardou o retorno do líder para uma palavra de ordem. Dilma iniciou a semana em recolhimento no Alvorada para reestudar o rumo da campanha com os conselheiros à disposição. Apenas na quarta-feira foi ao expediente no Planalto para quatro audiências.
Numa delas, veio a entrevista à televisão em que pregou a volta por cima da nação depois da Copa. “Nós crescemos na adversidade”, apelou Dilma, em linguagem de autoajuda, à reconstrução nacional, como quem deseja reerguer a autoestima dos brasileiros, o que facilitaria o caminho para a reeleição, como no início do mundial de futebol.
Entenda-se, subliminarmente, que a candidata afirmou que nem tudo está perdido para a reeleição, como se a satisfação dos brasileiros com o futebol e a gestão pública possa se impor nos 84 dias que faltam para o primeiro turno da eleição presidencial em 5 de outubro. Até lá, são 12 semanas para inverter a carestia nas ruas e aperfeiçoar os serviços públicos.

[caption id="attachment_9727" align="alignleft" width="1232"] Aécio Neves e Eduardo Campos: na expectativa do impacto do futebol | Foto: George Gianni/ PSDB[/caption]
Os companheiros que seguem de perto as aventuras e desventuras da reeleição da presidente Dilma Rousseff aguardam pesquisas externas para verificar o impacto da decepção nacional com o futebol junto aos concorrentes Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Os petistas torcem para que o antigo desencanto com a política, se voltar, atinja a todos.
A tendência natural seria a cotação de Dilma voltar ao patamar em que estava antes da Copa. Ela liderava a corrida com 34% das preferências e saltou no Datafolha para 38. Aécio também se moveu para cima, foi de 19 pontos a 20. Campos subiu de 7 a 9%. A simetria ainda seria a mesma? O nervosismo nos partidos prejudica a redefinição de rumo.
A retomada do desencanto do eleitor, se acontecer, pode ser seletiva. Aí, o governo seria o mais prejudicado. Afinal, protesto de rua é contra o poder. Não há protesto contra a oposição. Nessa dinâmica, o mau humor do brasileiro pode beneficiar a oposição por via direta: o eleitor pode absolver Aécio e Campos quanto ao malogro na alma nacional e desviar votos para ambos.
Em momentos assim, surgem intérpretes políticos a afirmar que o futebol não influencia eleição. Mencionam casos, como a reeleição de FHC em 1998, quando a seleção brasileira voltou da Copa com as mãos vazias. Mas havia também o Plano Real. Hoje há inflação. Em 2006, Lula foi reeleito, depois de outro fracasso no futebol e apesar do mensalão. Agora é diferente.
Todos aqueles insucessos ocorreram em terras estrangeiras. Hoje o naufrágio veio em campo brasileiro, bem pertinho da nação. Aqueles sete gols alemães contra um nacional são inesquecíveis e não sairão da memória popular nos 12 domingos que restam até o primeiro turno da eleição presidencial em 5 de outubro.
Outra coisa. A expectativa otimista injetada pela propaganda do governo no início da Copa não elevou o bom humor brasileiro naquela pesquisa do Datafolha? Os três principais candidatos subiram de cotação naquele momento, mas o salto da presidente foi mais expressivo. Não seria estranho se o fenômeno se invertesse agora.
Além de tudo, desta vez o governo se envolveu como nunca numa Copa, desde que o presidente Lula foi à Suíça apresentar a candidatura brasileira a sede do mundial. Tanto envolvimento do Planalto despertou os protestos de rua em defesa de gastos sociais prioritários. Nem em 1950 a intervenção foi tão forte. Agora a presidente tenta se desvincular da seleção. Mas essa é outra história.

[caption id="attachment_9765" align="alignleft" width="1319"] Crente de que a seleção brasileira iria abafar, Dilma fez divulgar foto pegando carona numa pose à la Neymar[/caption]
O marketing da presidente Dilma focou com otimismo no sucesso da Copa e da seleção brasileira, mas não se preparou para um plano alternativo de comunicação. Por isso agora anda sem rumo. A primeira ideia foi aquela de sempre: blindar Dilma contra o fato desagradável, fazer de conta que a presidente não tem nada a ver com insucesso ou pessimismo.
Nos protestos de junho do ano passado, o Planalto, para blindar a chefe, tentou atribuir a governadores e prefeitos as insatisfações populares. Não deu certo. Dilma foi forçada a vir ao palco, inclusive com aquele projeto de fazer reforma política a partir de uma constituinte que seria pautada previamente por um plebiscito.
Antes que se escrevesse a reforma, o povo deveria ditar o que queria na escrita. Não funcionou. A presidente passou então a responsabilizar a falta de reforma pelos desacertos políticos do governo. Veio até aquela ideia de promover mobilizações sociais à altura do movimento das Diretas Já para exigir do Congresso a reforma política. Não deu certo.
Ao longo da semana, a palavra de ordem entre os petistas foi retirar de cena aquele bordão que o marketing criou para a presidente como forma de injetar entusiasmo nos eleitores: a Copa das Copas. Na quarta-feira com expediente no palácio, Dilma recebeu um visitante em audiência e receitou autoajuda contra a crise na Copa: “Temos de ir em frente, temos de motivar o país.”
A jogada era blindar a presidente contra a seleção, ao mesmo tempo em que se exaltaria o sucesso da organização do mundial, como se uma coisa não puxasse a outra. O bordão Copa das Copas era exatamente uma simbiose, em que o sucesso do campeonato se aliaria ao brilho da seleção. Era um símbolo de Dilma para atrair votos com o futebol rumo a outubro.
Ainda na manhã de terça, antes do jogo contra os alemães, a presidente Dilma mandou o palácio distribuir aquela foto em que a própria imita com os braços o jogador Neymar ao simular a letra T. Poderia ser apenas uma simpática atitude de solidariedade ao atleta machucado, mas também era mais um gesto de identificação com a seleção, cujo fracasso na Copa pegou o governo desarmado.
A blindagem é sempre uma atitude defensiva. Se houvesse um plano B para a Copa, poderia ser acionado no caso de fracasso da seleção. Então o Planalto poderia acionar um ataque. Mas atacar a quem? A tradição eleitoral do PT é acusar os tucanos, que desejariam vender estatais ou eliminar programas sociais. O que o PSDB teria a ver com a seleção?
A última ideia do governo, porém, está mais para ofensiva do que para defesa: a intervenção no futebol. Há um sabor de chavismo nisso. Como intervir em sociedades privadas? Estatizar o futebol? Apenas o futebol? As outras modalidades desportivas ficariam fora ou a intervenção seria geral? Isso a cinco meses e meio do fim do governo.
Se está em fim de governo sem reeleição garantida é algo menor na improvisação do governo num esforço apara conquistar o eleitor indignado com a seleção ou a Copa. “Exportar jogador é não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios”, discursou Dilma em defesa da intervenção, como quem também está indignada.
A indignação ensaiada não foi produto de discurso em público. Ocorreu num pronunciamento que a assessoria do palácio gravou com a presidente e distribuiu à mídia. Se o Planalto, em seu vai e vem, atravessar este fim de semana fixado na ideia, poderá render um pronunciamento de Dilma, nos próximos dias, em cadeia de televisão e rádio. Não custa nada.
Afinal, a presidente prometeu se reunir nesta semana com membros do Bom Senso Futebol Clube, no qual atletas atuais e antigos se integram na defesa de melhores condições de trabalho para jogadores de futebol. Eles levarão ao palácio sugestões de mudança de regras de trabalho, como o rebaixamento para a segunda divisão de clubes que atrasam salários na primeira.
Esse aparelhamento do futebol leva outra incoerência marqueteira do governo. A ordem é retirar de cena a lembrança da Copa das Copas. No entanto o governo se encarrega de manter o futebol em cartaz, num vai e vem típico de quem não sabe o que pretende. A intervenção no futebol é mais uma atitude no sentido de levar a política para o mundial.

No campo, nas arquibancadas ou mesmo longe dos estádios, a Copa proporcionou cenas e situações inesquecíveis

O ministro Joaquim Barbosa quer ir embora do Supremo Tribunal Federal 11 anos antes de atingir a idade limite aos 70, mas quer deixar os seus na presidência. Seria como Barbosa ir, mas não ir. Ele iria cuidar da vida em outro lugar, mas ficariam em seu lugar na presidência do tribunal os 46 funcionários que hoje trabalham com ele em cargos de comissão.
Seria a herança de Barbosa para o atual vice-presidente Ricardo Lewandowski, com quem duela desde março de 2006, assim que o colega, antigo morador da paulista São Bernardo do Campo, chegou ao Supremo por indicação da família Lula da Silva com a missão de proteger os mensaleiros que começariam a ser julgados.
O novo impasse com Lewandowski começou em maio, quando Barbosa anunciou que sairia do Supremo mais cedo, aos 59 anos. Dede então, duas vezes ele adiou a aposentadoria, sendo que agora diz que sai em agosto depois do recesso de julho. A prorrogação seria para ganhar tempo até garantir a permanência dos seus 46 comissionados com gratificação de confiança.
O vice recusa a transação. Lewandowski, como novo presidente, deseja ter na presidência gente de sua confiança, não do desafeto Barbosa. Esperto, o futuro aposentado, sendo ainda presidente, enviou um expediente ao vice comunicando que os 46 “deverão retornar” ao antigo gabinete de Barbosa como ministro assim que ele deixar a presidência – ou seja, ao se aposentar.
Com a existência do expediente formal, Lewandowski, se discordar, será forçado a submeter a questão a todos os colegas na volta ao trabalho em agosto. O caso seria discutido numa das reuniões administrativas do Supremo, onde todos discutem problemas internos. Estando por perto, Barbosa poderia conversar com os antigos colegas a respeito de sua atual assessoria.
Não leva chance de sucesso com os ministros. O atual presidente sai indisposto com os atuais colegas, dos quais sequer se despediu ao se retirar mais cedo antes do final da última sessão do tribunal antes das férias de julho. Em seu lugar, deixará mais uma polêmica criada na casa por questão pessoal de seu gênio irritadiço.
Aposentado, terá mais tempo para discutir o desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo como antigo jogador amador. Barbosa poderá, por exemplo, defender a tese de que “técnicos brasileiros substituem mal e tardiamente, sempre”, como comentou a propósito do comportamento de Scolari ao substituir o machucado Neymar por Henrique na seleção brasileira contra a Colômbia.
Se dependesse da opinião de Barbosa, a seleção entraria em campo para o trágico jogo contra a Alemanha com os volantes Luiz Gustavo e Fernandinho, mais Paulinho e Ramires (ou Willian) e ainda Hulck e Fred no ataque. O atacante Bernard, que substituiu Neymar, seria uma “arma para o segundo tempo”.

Mostrando grande habilidade no manejo com a linguagem, Luiz Ruffato mescla ficção e realidade para contar a história de personagens desiludidos e, de certo modo, resignados quanto ao rumo que o destino lhes deu
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Carlos Augusto Silva Especial para o Jornal Opção
“Flores Artificiais”, de Luiz Ruffato, só é um romance, na concepção tradicional da palavra, se assim quiser o leitor que por ele se aventurar. Trata-se de um conjunto de histórias independentes que, em um olhar de superfície, tem como único elemento de ligação o fato de serem todas conduzidas por um mesmo narrador. Lembra um pouco a estrutura de “Os Inocentes”, de Hermann Broch, na qual histórias independentes foram reestruturadas de modo a se tornarem parte de um todo. Distancia-se da perspectiva de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, de “romance desmontável”, dada a possibilidade de se poder ler, no caso do livro de Graciliano, cada um dos capítulos como narrativas independentes.
Na obra de Ruffato, desde o seu início, com uma apresentação na qual o autor se pronuncia, quebrando o que Henry James chamaria de pacto ficcional — segundo o qual o leitor deveria tomar por verdade absoluta o que lhe é contado e o autor deveria praticamente desaparecer do imaginário daquele que lê —, vemos que o livro não seguirá o molde clássico de romance.
“Flores Artificiais” é o resultado de memórias que lhe foram enviadas por um engenheiro, Dório Finetto, funcionário do Banco Mundial, sujeito de vida errante, que não fixou raízes em nenhuma cidade ou país. Suas memórias, sem qualquer cuidado de estilo, foram enviadas para Ruffato para que este delas se desfizesse ou as transformasse em literatura. Dório, que enviou as memórias para Ruffato, reconhece que, para ser literatura, é necessário mais que enredo: o autor não lhe priva dessa lição. Sentencia: “assunto demandando estilo”. E disso nasce o “romance”, que grosso modo poderia ser assim resumido: oito narrativas apresentadas por esse viajante, sempre a trabalho, nas quais apresenta pessoas que lhe rendem histórias para contar.
A apresentação inicial, coisa pouco usual para um livro de ficção, que pode sempre soar como um “senão” preventivo do autor com forte tendência a levá-lo a uma redundância não planejada, não tem efeito negativo no livro. Pelo contrário, justifica-se e recebe uma nota a mais de harmonia quando, nas páginas finais, o autor volta a aparecer, literalizando, em um capítulo que é bem nominado de “Memorial descritivo”, a vida de Dório Finetto.
As narrativas, por mais que sejam aparentemente parte de um todo apenas pelo fato de serem contadas pela mesma voz, têm mais fatores de unidade, que acabam dando ao livro organicidade, harmonia quanto à forma e ao conteúdo, mostrando grande habilidade no manejo com a linguagem por parte do autor.
Todos os personagens apresentam desilusão quanto à vida, e estão, de certo modo, resignados quanto ao rumo que o destino lhes deu. A presença do narrador diante dessas personagens é tímida, ressaltando seu aparente aspecto de escada para que a história das figuras com as quais se encontrou possa aparecer, o que em alguns casos leva a um discurso demasiado longo por parte das narrações feitas pelos personagens a esse interlocutor que, diante das cenas que lhe são contadas, simplesmente desaparece. Um discurso indireto, que desse mais voz ao narrador, poderia conferir ao texto menos rememorações com aspecto de monólogo que leva o texto a uma quebra de verossimilhança — quem, em um bar, ficaria horas calado diante de um estranho ouvindo uma história, de forma ininterrupta, que não lhe é familiar, por mais que seja esse ouvinte interessado em histórias, digamos, exemplares?
Outro aspecto de unidade do livro é que os personagens, de alguma forma, são expatriados, tal como o narrador, e voltam ao passado para terem seus momentos catárticos. O interesse pelo outro é o motor das narrativas, que torna o íntimo matéria de interesse. Isso os coloca também em um clima de encontro com a solidão, porque, sendo os personagens dotados de histórias que se revelam somente quando encontram alguém que se interesse por elas, e sendo esse ouvinte alguém sem raízes e declaradamente sozinho, que, caso morresse, como ele mesmo diz, não seria chorado por ninguém, revela-nos uma dupla enseada de solidão: quem ouve o faz porque é só, como quem conta o faz pelo mesmo motivo.
O texto de Ruffato é firme, com estilo escorreito e econômico, sem resvalar para a aridez vocabular. Ruffato não desliza ao apresentar personagens e ambientes de forma categórica e precisa, e assim o leitor é muito bem conduzido por um estilo que sabe de onde parte e para onde quer ir, e especialmente de que forma chegar lá. É um trabalho de linguagem amadurecido e consciente dos instrumentos de que faz uso para atingir o seu efeito, e por isso merece ser lido.
Carlos Augusto Silva é crítico literário.
via Revista BulaCandidato a deputado federal pelo PSC, Joaquim Liminha, tem analisado o cenário eleitoral deste ano como extremamente favorável para os novos candidatos a uma cadeira na Câmara Federal. Isso acontece porque, segundo ele, aqueles que tinham “cadeira garantida” não vão disputar. Liminha, que começará a fazer campanha de modo efetivo nesta semana, se refere, principalmente, a: Ronaldo Caiado (DEM), que é candidato ao Senado na chapa de Iris Rezende; Vilmar Rocha (PSD), candidato ao Senado na chapa do governador Marconi Perillo (PSDB); Sandro Mabel (PMDB), que quer sair candidato a prefeito de Goiânia em 2016; e Marcelo Melo, que era o principal nome do PMDB na região do Entorno do Distrito Federal, desistiu, “aparentemente” por não concordar com a atual situação vivida por seu partido. “Com essas desistências, acredito que outras coligações vão conseguir eleger novos nomes”, diz Liminha. Além dele, há mais quatro candidatos a federal pelo PSC: Elias Correia, Jorge Kerpen, Marcelo de Oliveira e Wemerson Queiroz.

[caption id="attachment_3922" align="alignright" width="620"] Júnior Friboi, do ponto de vista, competitivo, era melhor para o PMDB do que Iris Rezende[/caption]
Existe um consenso: se Júnior Friboi fosse o candidato peemedebista no pleito deste ano, o governador Marconi Perillo certamente enfrentaria maiores dificuldades para se reeleger. Os motivos são muitos — e vão muito além do fator econômico:
1) Friboi é neófito, isto é, não tem manchas políticas; 2) É um empresário experiente e de sucesso; 3) É simpático. Prova disso é que conquistou as bases peemedebistas no interior; 4) Seu discurso pode ser trabalhado e aprimorado; 5) Representaria a renovação, no efetivo da palavra, nesta eleição; 6) Tem aparente boa aceitação em Anápolis, considerado reduto eleitoral de Marconi — reduto este que deverá dividir este ano com o ex-prefeito anapolino Antônio Gomide (PT). Acontece que Friboi nasceu em Anápolis e tem bom trânsito entre os empresários da cidade.
O fato é que os governistas comemoraram o fato de Friboi ter se afastado do processo eleitoral e de seu partido. Os palacianos consideravam que a figura do empresário, aliada à estrutura política do PMDB — maior partido em número de filiados e que tem muitas e fortes bases no interior —, poderia causar problemas a Marconi. Não foi dessa vez.
Contudo, uma coisa é certa: se Iris Rezende for derrotado na sucessão estadual, Júnior Friboi deverá ocupar o espaço no PMDB. Nesse caso, será quase impossível segurar a “grita” por renovação dentro do partido. De qualquer forma, em 2018 uma briga está desenhada: Ronaldo Caiado, se for eleito senador, irá para o embate contra Júnior Friboi na disputa pelo Palácio das Esmeraldas.
Um petista relata que, nas reuniões de planejamento de campanha, Antônio Gomide tem sido enfático na seguinte questão: “agir rápido e com o máximo de inteligência”. O petista aponta que Gomide costuma bater na tecla do crescimento do partido: “Precisamos fazer o partido crescer durante a campanha e nos fortalecer visando também 2016. Por isso, temos que agir com estratégia e errar o menos possível. Queremos respostas da nossa militância”, teria dito o prefeito durante um encontro estratégico na última sexta-feira, 11. Mas não apenas Gomide tem batido na tecla do “agir com estratégia”. A candidata do PT ao Senado, Marina Sant’Anna, também tem usado esse mote em seus discursos. Segundo relata o petista, Marina tem defendido que a tarefa da chapa durante a campanha “é fazer a defesa dos governos Lula e Dilma, o que não será feito por Iris [Rezende]. E devemos fazer isso com o máximo de inteligência”. Marina tem defendido uma ligação muito forte com a campanha nacional em Goiás, nos moldes como acontece em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Isso significaria que o que Dilma fizer durante a campanha deverá interferir em Goiás.

[caption id="attachment_9773" align="alignright" width="620"] Experiente, Alexandre Baldy conta com o apoio de vários prefeitos[/caption]
Políticas de desenvolvimento industrial e a busca de investimentos são uma excelente plataforma eleitoral para atrair prefeitos, geralmente ávidos pela industrialização de seus municípios. Nessa seara, o ex-secretário de Indústria e Comércio, Alexandre Baldy, reina praticamente sozinho na disputa para deputado federal neste ano. O jovem tucano arregimentou o apoio de dezenas de prefeitos, sendo oito do PMDB.
A maioria deles era ligada ao deputado federal peemedebista Sandro Mabel que, neste ano, não tentará a reeleição e já afirmou que boa parte de suas bases vai apoiar Baldy, uma vez que defendem bandeiras semelhantes.
Assim como Mabel, Baldy conhece bem o que o setor industrial cobra de seus representantes no Congresso Nacional. Informações dão conta de que, nas reuniões que tem feito pelo interior, Baldy defende a redução tributária, o crédito facilitado, mais segurança jurídica e melhores serviços públicos. “São os principais fatores para a atração de investimentos e a geração de empregos”, diz ele.
Pela primeira vez, desde o período militar, a disputa pela única vaga para a Câmara Alta pode realçar enfoque nacional e não regional
À ascensão da bola deu-se concomitantemente o apagão social da crítica. Agora, a
bola vai embora. Com o fim da Copa, espera-se que a luz volte à cabeça das pessoas
[caption id="attachment_9692" align="alignleft" width="616"] Dilma Rousseff, agora retomando o lugar de Felipão no comando das ações: cada um com seu tigre de papel | Foto: Fotomontagem[/caption]
Em 1950, o Brasil, até então nada mais do que uma república das bananas de tamanho continental aos olhos de Europa e Estados Unidos, curtia seu primeiro grande momento de autoafirmação geopolítica. O país vivia a euforia de sediar a Copa do Mundo de Futebol, que já era então a indiscutível paixão esportiva do País. O presidente era Eurico Gaspar Dutra e a capital, o Rio de Janeiro — Juscelino Kubitschek era apenas deputado federal e talvez sonhasse em ser presidente um dia, mas certamente não pensava em criar Brasília.
A última Copa havia sido na França, em 1938. O Brasil tinha feito ótima campanha, comandado por Leônidas da Silva e Domingos da Guia, e tinha chegado ao 3º lugar. O evento quadrienal não pôde ser realizado em 1942 e 1946, por causa dos horrores da Segunda Guerra Mundial e suas consequências. A Copa do Mundo de 1942 não foi disputada, mas Brasil e Alemanha haviam se candidatado a sediar o evento. A competição foi cancelada antes que houvesse a escolha do país-sede e muitos dos atletas acabaram por servir o Exército de seus respectivos países, e até mesmo morrer, na guerra.
Para 1950, o Brasil usou o argumento de ter se candidatado a sede para 1942. A outra candidata, a Alemanha, estava suspensa pela Fifa até segunda ordem. O Mundial foi preparado sem muitas críticas contrárias internas e, com apenas 13 participantes e grandes jogadores brasileiros em atividade — Zizinho e Ademir Menezes eram as maiores estrelas —, a expectativa era da ratificação do sucesso total, com a apresentação do País ao mundo como cartão-postal e campeões mundiais.
Como se sabe, o Uruguai furou o script. O gol de Ghiggia foi o ponto fora da curva preparada para a exposição nacional como gigantes do mundo do futebol. O Brasil entrou no Maracanã no dia 16 de julho como campeão do mundo e o deixou como portador do complexo de vira-latas.
Sessenta e quatro anos depois, o Brasil voltou a ser sede de uma Copa do Mundo. Ao ser escolhido como local do evento, em 2007, não havia guerra que ameaçasse o evento. Um revezamento de continentes pela Fifa e a crise em vários dos possíveis concorrentes na América, entre eles a Argentina, facilitou para que o nome do Brasil fosse facilmente escolhido. Era o que bastava para coroar mundialmente o governo Lula, que então navegava na onda positiva da economia global. Ainda não tinha ocorrido a crise imobiliária nos Estados Unidos, que iniciaria um movimento de recessão que afetaria o País muito mais do que uma “marolinha”, como definiria o então presidente.
O país do futebol, já pentacampeão, organizou uma Copa debaixo de contestações internas, com protestos e acusações de superfaturamento das obras, e a desconfiança externa, notada principalmente por meio dos inúmeros puxões de orelha feitos pela entidade-mor, a Fifa, por conta dos sucessivos descumprimentos de prazos. Com 12 novos estádios, os mais caros da história dos Mundiais, a competição encerra-se neste domingo. O palco da final é de novo o Maracanã, mas em campo não estará o Brasil. Uma seleção medíocre, com planejamento, convocação, treinamentos e modelo tático malfeitos, chegou até mais longe do que devia. Mas teve tempo de manchar sua história: o 7 a 1 sofrido para a Alemanha será, de agora em diante, uma tatuagem feita, em tamanho maior, sobre a do Maracanazo. Se em 1950 o Brasil não conseguiu a glória de passar a reinar no futebol, em 2014 perdeu, do modo mais humilhante — em casa e de goleada —, o status de rei do gramado.
Pelos relatos da época, hoje não há nada perto do que foi a comoção de 1950. Um dos motivos talvez seja porque o brasileiro atualmente sabe que o maior motivo para preocupação ainda está por vir e não tem nada a ver com o desempenho nas quatro linhas: a expectativa para a economia brasileira o Brasil a partir de 2015 é catastrófica. A maioria dos especialistas mais respeitados prevê que o País vai entrar em declínio, especialmente após outubro passar e as urnas, como a Copa, também forem coisa do passado.
A conta a pagar será bastante amarga, mas menos por conta de estádios que certamente virarão elefantes brancos do que pela maquiagem engendrada para evitar que viesse à tona a realidade da situação econômica em uma ocasião pouco propícia aos interesses do governo. É bom ressaltar que a grande mídia cooperou com isso: os olhos inevitavelmente voltados para a Copa fizeram com que as grandes questões nacionais fossem para debaixo do tapete das salas de imprensa. Assim, o caos na saúde, o aumento da violência, o escândalo da gestão da Petrobrás, tudo isso deixou de ser pauta.
Representados por 58 mil pessoas no Mineirão, 200 milhões de brasileiros aguardavam ansiosos a conquista da vaga na final da Copa. Cada gol da Alemanha foi como um tapa para fazer acordar o torcedor da ilusão de que apenas a motivação, juntamente com improviso e “alegria nas pernas” — expressão usada pelo técnico Luiz Felipe Scolari para definir o estilo de Bernard, o garoto escolhido para substituir Neymar no jogo decisivo —, seria suficiente para vencer o poderio do adversário. Foram sete golpes que fizeram uma realidade dura aparecer: não havia craques, não havia esquema tático, não havia planejamento, não havia trabalho eficiente da comissão técnica, enfim, não havia nada que sustentasse o tigre de papel chamado seleção brasileira.
Resta saber o que espera a população brasileira quando a Copa eleitoral acabar. Vença quem vencer, sem mais nada a perder ou a ganhar, o governo federal deve se tornar, então, convenientemente mais transparente. Aflorarão todas as nuances então escondidas. E o 7 a 1 da tarde-noite no Mineirão poderá estar materializado de formas mais concretas e brutais do que o fim do sonho de um hexa.
A realidade, quando ofuscada, um dia reaparece. Nada fica oculto a ponto de nunca tornar à luz. Mais: algo até então escondido, sufocado, quando ressurge costuma vir de forma avassaladora. Assim é o sentimento de derrota, a autoestima aniquilada pela taça que viria e não vem mais. As consequências desse humor agora ainda são indefiníveis.
À ascensão da bola deu-se concomitantemente o apagão social da crítica. Agora, a bola vai embora. Com o fim da Copa, espera-se que a luz volte à cabeça das pessoas. E que o brasileiro deixe de ser torcedor e se torne cidadão. A pátria de chuteiras já tirou a bandeira verde-amarela do capô do carro e da sacada do apartamento. Nunca, de fato, em um pós-Copa, o patriotismo nacional avançou além do âmbito esportivo. A esperança é de que o espírito das manifestações do ano passado, que ficou dormente durante as semanas do Mundial, esteja ainda pronto a aflorar para participar de fato da discussão eleitoral e registrar sua marca no destino do País. Seria, isso, uma boa nova para enfrentar a realidade difícil que virá.

Tucano destacou obras de infraestrutura e garantiu, caso eleito, novos benefícios para Palmelo, Santa Cruz, Cristianópolis, São Miguel do Passa Quatro e Bela Vista