Pela primeira vez, desde o período militar, a disputa pela única vaga para a Câmara Alta pode realçar enfoque nacional e não regional

conexao.qxd
Ronado Caiado, do DEM; Vilmar Rocha, do PSD; Marina Sant’Anna, do PT (da esquerda para direita) / Fotos: Fernando Leite/Jornal Opçao

Desde 1982, as disputas pelas vagas de senador da República em Goiás passaram pelas questões domésticas. Aquela eleição marcou o retorno das eleições diretas para governadores, e talvez isso tenha influenciado o “casamento” entre as campanhas para o comando do Estado e para o Senado. O fato é que Mauro Borges Teixeira foi eleito naquele ano não apenas na chapa encabeçada por Iris Rezende, mas enfocando Goiás em seus palanques. Na eleição anterior a essa, em 1978, a campanha de Henrique Santillo foi fortemente centrada nas questões nacionais, e não locais.

Este ano, ao contrário dos demais, o enfoque nacional pode dominar o cenário na disputa pela vaga de senador. É a primeira vez que uma série de fatores converge nessa direção. Inicialmente, há a composição geral do quadro estadual, claramente definido. Ou seja, trabalhar o discurso com essa tematização seria o mesmo que acender as velas em dia claro.
Os três principais candidatos, Ronaldo Caiado, DEM, Marina Santana, PT, e Vilmar Rocha, PSD, estão em nichos do eleitorado muito claramente definidos no que se refere à disputa local. É óbvio que cada um deles vai reforçar sua posição nesse quadro, mas ficar apenas nele não permitiria a ampliação do alcance de seus discursos.

Quem, por exemplo, poderia “roubar” de Marina os votos pró-PT que estão, e serão, encaminhados ao candidato a governador petista Antônio Gomide? Essa fatia do eleitorado, que obviamente ainda não se pode avaliar corretamente o tamanho que terá em outubro, é dela e de mais ninguém. Focar aí e deixar de lado o aspecto político nacional seria estacionar sobre o que já possui.

Da mesma forma, pelo menos até aqui, há claríssima definição dos nichos ocupados eleitoralmente por Ronaldo Caiado e Vilmar Rocha. Caiado espraia-se da base aliada a setores do PMDB. Mirar exclusivamente no regional, além de favorecer a possibilidade de algum erro de pontaria estratégica, ainda deixaria campo aberto para o avanço da candidatura de Vilmar Rocha, que está centrada na base aliada estadual, e tem como ponto futuro exatamente o tema nacional.

Em resumo, esses três candidatos ao Senado, que as pesquisas atuais revelam ter maior destaque na abertura do processo eleitoral deste ano, ao contrário de todas as disputas desde 1982, necessitam muito mais do discurso nacional do que o regional para ampliar a faixa de atuação junto ao eleitorado.

Essa é uma característica única que não se observou em 1982, 1986, 1990, 94, 98, 2002, 2006 e 2010. Em todas elas, os candidatos ao Senado fizeram campanhas atreladas aos seus colegas de chapa para o governo no que se refere ao discurso. Era como se na realidade fosse a disputa de um subgovernador e não de um senador.

Para Marina, a defesa do governo do PT em nível nacional é o que ela pode propor aos eleitores. Ela corre praticamente sozinha nessa raia, já que os demais candidatos não atuam na base aliada federal em Goiás. Quando mais votos ela conseguir angariar aqui, somados aos votos oriundos e cativos do eleitorado do PT, melhores serão as suas chances.

Definitivamente, é certo que ela teria muita dificuldade em conquistar algum eleitor fora desse universo.

Para Vilmar, a campanha deve ser acoplada à chapa encabeçada pelo governador Marconi Perillo. É onde ele terá a maior oportunidade de agregar eleitores naturalmente. Hoje, grande parte desse eleitorado demonstra preferência por seu maior rival, Ronaldo Caiado. Então, com o acoplamento, ele vai tentar diminuir essa influência de Caiado. Ele vai precisar da maioria dos eleitores desse nicho para equilibrar o jogo com o adversário direto, que compensaria eventual prejuízo aqui na coligação em que ele está, com o PMDB e aliados.

Nesse caso, o desempate entre eles avançaria sobre o enfoque nacional. Há um enorme potencial nesse ponto. As últimas pesquisas apontam que a rejeição à presidente Dilma Roussef estaria em torno de 40% do eleitorado goiano. É óbvio que uma esmagadora maioria deles ou tem intenção de votar em Marconi ou em Iris Rezende, mas provavelmente a definição de boa parcela desses eleitores para o Senado poderá passar pela tematização nacional. É aí que Caiado ou Vilmar podem se definir.

É óbvio que o discurso nacional na disputa para o Senado não será exclusivo. Focar aí não significa deixar de lado completamente as questões regionais. Vilmar tem o tal acoplamento com a chapa da base aliada, Caiado atenderá sua evidente imagem histórica de ligação com o Estado, enquanto Marina reina absoluta nos movimentos sociais e nos posicionamentos de comportamento da sociedade atual. Essas condições individuais somadas geram certa uniformidade nas chances, restando, assim, o posicionamento nacional como fator de decisivo desempate. É aí que se fará realmente a diferença.