A melancólica cerimônia do adeus de Joaquim Barbosa no Supremo antes de aposentar
12 julho 2014 às 23h00
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O ministro Joaquim Barbosa quer ir embora do Supremo Tribunal Federal 11 anos antes de atingir a idade limite aos 70, mas quer deixar os seus na presidência. Seria como Barbosa ir, mas não ir. Ele iria cuidar da vida em outro lugar, mas ficariam em seu lugar na presidência do tribunal os 46 funcionários que hoje trabalham com ele em cargos de comissão.
Seria a herança de Barbosa para o atual vice-presidente Ricardo Lewandowski, com quem duela desde março de 2006, assim que o colega, antigo morador da paulista São Bernardo do Campo, chegou ao Supremo por indicação da família Lula da Silva com a missão de proteger os mensaleiros que começariam a ser julgados.
O novo impasse com Lewandowski começou em maio, quando Barbosa anunciou que sairia do Supremo mais cedo, aos 59 anos. Dede então, duas vezes ele adiou a aposentadoria, sendo que agora diz que sai em agosto depois do recesso de julho. A prorrogação seria para ganhar tempo até garantir a permanência dos seus 46 comissionados com gratificação de confiança.
O vice recusa a transação. Lewandowski, como novo presidente, deseja ter na presidência gente de sua confiança, não do desafeto Barbosa. Esperto, o futuro aposentado, sendo ainda presidente, enviou um expediente ao vice comunicando que os 46 “deverão retornar” ao antigo gabinete de Barbosa como ministro assim que ele deixar a presidência – ou seja, ao se aposentar.
Com a existência do expediente formal, Lewandowski, se discordar, será forçado a submeter a questão a todos os colegas na volta ao trabalho em agosto. O caso seria discutido numa das reuniões administrativas do Supremo, onde todos discutem problemas internos. Estando por perto, Barbosa poderia conversar com os antigos colegas a respeito de sua atual assessoria.
Não leva chance de sucesso com os ministros. O atual presidente sai indisposto com os atuais colegas, dos quais sequer se despediu ao se retirar mais cedo antes do final da última sessão do tribunal antes das férias de julho. Em seu lugar, deixará mais uma polêmica criada na casa por questão pessoal de seu gênio irritadiço.
Aposentado, terá mais tempo para discutir o desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo como antigo jogador amador. Barbosa poderá, por exemplo, defender a tese de que “técnicos brasileiros substituem mal e tardiamente, sempre”, como comentou a propósito do comportamento de Scolari ao substituir o machucado Neymar por Henrique na seleção brasileira contra a Colômbia.
Se dependesse da opinião de Barbosa, a seleção entraria em campo para o trágico jogo contra a Alemanha com os volantes Luiz Gustavo e Fernandinho, mais Paulinho e Ramires (ou Willian) e ainda Hulck e Fred no ataque. O atacante Bernard, que substituiu Neymar, seria uma “arma para o segundo tempo”.