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A presidente Dilma Rousseff não faz um governo ditatorial e nem o PT é apóstolo da implantação de uma ditadura no Brasil. Tanto Rousseff quanto o PT, apesar de certa má vontade e relutância, aceitam as regras do jogo democrático. Aqui e ali, como se tivessem saudade das ideias comunistas, tentam alguma medida autoritária, com o objetivo de controlar instituições, como o Ministério Público e, mais recentemente, a Imprensa. Porém, pressionados, têm recuado. Teoricamente, o ranço autoritário do petismo está sob relativo controle. Mas há as “escapadas”. Na semana passada, o jornal “O Globo” revelou que dois dos mais qualificados jornalistas das Organizações Globo, Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg, tiveram seus perfis na Wikipédia modificados pela rede de internet do Palácio do Planalto. As análises econômicas de Miriam são apontadas como “desastrosas” e ela teria ligações com o empresário-banqueiro Daniel Dantas — duas informações, mais do que equivocadas, manipuladas. Sardenberg é citado como responsável por previsões erradas e como defensor de juros altos, supostamente porque tem ligações com o economista-chefe da Federação dos Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, seu irmão. Inicialmente, o Palácio do Planalto disse que não havia como investigar o caso, devido a uma questão técnica, porém, dada a repercussão na imprensa, recuou. A Secretaria-Geral da Presidência afirmou que vai investigar, mas é provável que não se chegue ao responsável. Cortar na própria carne, sobretudo em períodos eleitorais, não é muito comum. Uma pergunta não foi feita: por que dois jornalistas especializados em economia foram atacados e não jornalistas de política? A frase “é a economia, estúpido!”, do marqueteiro americano James Carville, explica os ataques a Miriam e a Sardenberg? Talvez. Politicamente, por ter a imagem de ser austera, mesmo que haja corrupção em seu governo, Rousseff não é malvista — exceto por alguns políticos, e não apenas do PMDB. No entanto, como a economia vai mal, porque praticamente não cresce — o crescimento este ano deve ficar abaixo de 1% —, o governo de Rousseff tem sido mal avaliado. Na mente conspiratória de alguns petistas, quem sabe sobretudo daqueles que trabalham no Palácio do Planalto, os analistas econômicos, ao explicarem o que está ocorrendo, estariam contribuindo para aumentar, se não a crise, a sensação de que a crise é muito mais ampla. Daí, portanto, os ataques. A falsificação dos perfis de Miriam e Sardenberg é grosseira e preocupante. Rousseff diz que nada tem a ver com isto, e é provável que não tenha mesmo, mas precisa controlar seus auxiliares. Senão o que parece apenas ranço autoritário, recaída ao estilo stalinista, terá de ser considerado como uma espécie de “ética” do petismo.

[caption id="attachment_12143" align="alignleft" width="270"] Paulo Lacerda deixa a gerência comercial e vai cuidar apenas da área de eventos
Divulgação/Twitter[/caption]
Uma mudança na gerência comercial do “Pop” foi feita com discrição — exceto por uma leve mexida no expediente. O nome de Paulo Lacerda, gerente comercial durante vários anos, não é mais apontado. Por intermédio do correio eletrônico, ele informou aos proprietários e diretores de algumas agências de publicidade que sua saída da gerência comercial, com a consequente transferência para a coordenação de eventos do jornal, não significa uma queda, como se especulou no mercado, e sim uma promoção. Publicitários falam em “queda para o alto”. Porém, como o Grupo Jaime Câmara vai investir maciçamente em eventos, com a possibilidade de constituir uma empresa para geri-los, é possível mesmo que não se trate de uma “queda”. A empresa, se criada, organizaria eventos do GJC e de outros setores da iniciativa privada.
A um publicitário, do qual é amigo, Paulo Lacerda diz que está “satisfeito” e que “aprecia” cuidar de eventos.
O que o GJC pretende fazer é transformar os eventos, cada vez mais, em motivos para aumentar o faturamento comercial. A nova gerente comercial, Alexandra Lima, é apontada como uma profissional experimentada. Ela trabalhou na empresa durante algum tempo, depois foi para Belo Horizonte, para acompanhar o marido, e retornou para Goiânia. Devido à “competência”, foi recontratada. No “Daqui”, foi uma das organizadoras das promoções, tidas como bem-sucedidas. Fora do mercado jornalismo, dirigiu o marketing das lojas Novo Mundo.
Publicitários dizem que a ascensão de Alexandra não muda quase nada, mas admitem que o “Pop” precisava mesmo de um profissional “mais presente” e, quem sabe, “motivado”. Os publicitários dizem que a equipe do comercial permanece a mesma, assim como a política da empresa, que, com uma tabela comercial rígida, tem sido criticada pelos profissionais do ramo.
[caption id="attachment_12142" align="alignright" width="300"] Silvinho Pereira: ele aceitou veículo Land Rover como “presente” | Foto: Joedson Alves/AE[/caption]
O primeiro escândalo dos governos do PT depois do aparelhamento da Petrobrás se prepara para completar dez anos em novembro. Em 2004, antes que Lula chegasse aos dois anos de governo, o então secretário-geral do partido, Sílvinho Pereira, recebeu de presente da empreiteira baiana GDK um carro Land Rover zero-quilômetro ao preço na época de R$ 73,5 mil. A revelação do presente da GDK, prestadora de serviços à petroleira, ocorreu há sete anos no embalo da investigação do mensalão, que envolveu Silvinho como secretário-geral do partido sob a presidência de José Genoino - agora liberado pelo Supremo Tribunal Federal para deixar presídio da Papuda e cumprir em casa o restante da pena Silvinho não chegou a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal porque negociou previamente com o Ministério Púbico a conversão da pena em prestação de serviço comunitário alternativo, uma espécie de delação premiada. Graças a um habeas corpus da Justiça, também se livrou da obrigação de declarar seu patrimônio à CPI dos Correios, que investigou o mensalão. Antes que fosse expulso do PT pediu a desfiliação em julho de 2007. Na carta de despedida ao partido, reconheceu que “cometi um erro” ao aceitar o presente de César de Oliveira, “meu amigo pessoal, mas proprietário da empresa GDK”. Negou a realização de tráfico de influência na Petrobrás a favor do amigo.
“Nada ofereci ou me foi pedido em troca”, assegurou. Na época, o dono da GDK, César Santos Oliveira, afirmou que, espontaneamente, ofereceu o carro ao amigo quando Silvinho lhe “manifestou a intenção de adquirir um veículo usado da marca Land Rover”. Então decidiu presentear o amigo com um novo da linha Defender. Presente aceito prontamente.

O nazista estava incógnito na Argentina? “Eichmann nunca quis, nem mesmo como fugitivo, a obscuridade. Queria ser visto na Argentina como o símbolo de uma nova era"
O Adolf Eichmann que foi julgado, condenado à morte em Israel e dissecado no livro “Eichmann em Jerusalém — Um Relato Sobre a Banalidade do Mal” (Companhia das Letras, 344 páginas, tradução de José Rubens Siqueira), da filósofa alemã Hannah Arendt, pode ter sido um personagem habilmente construído para tentar salvá-lo? É provável. O nazista, aliado de Heinrich Himmler, tinha o hábito, por assim dizer, de construir personagens (ou personalidades), adaptando-se aos ambientes. Hannah Arendt, na sua excelente e problemática obra, pode ter capturado, até à perfeição, “um” Eichmann, mas os “outros”, aparentemente, escaparam-lhe. Ao condenar Eichmann à morte, o tribunal israelense pode, compreendendo ou não o homem complexo e dissimulado, ter acertado mais do que a filósofa judia.
“Adolf Eichmann — Historia de un Asesino de Masas” (Edhasa, 642 páginas, tradução de Silvia Villegas), de Bettina Stangneth, de 48 anos, é um livro extraordinário (inédito em português). Seu objetivo não é demolir a obra de Arendt, que a autora admira, especialmente pela coragem e inteligência da argumentação. Pelo contrário, quer ampliar sua compreensão sobre quem era Eichmann.
Doutora em Filosofia com uma tese sobre Kant, a alemã Bettina procura entender e explicar Eichmann antes do fuzuê de Jerusalém. “Há uma perspectiva [sobre o nazista] que, em sua maior parte, permanece inexplorada: a esfera pública. Falta verificar o ‘fenômeno Eichmann’ antes de Jerusalém e, em consequência, a imagem de Eichmann nas diferentes etapas de sua vida.” Arendt não tinha como ter uma visão nuançada de Eichmann, porque em 1961, durante o julgamento, havia pouca documentação de qualidade sobre o nazista. Bettina afirma que agora há um “excepcional conjunto de fontes”. “Existem mais documentos, testemunhos pessoais e relatos de testemunhas da época referentes a Eichmann do que sobre todos os demais líderes nazistas.”
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Adolf Eichmann: julgamento em Jerusalém | Foto: Reprodução[/caption]
“Eichmann concebeu uma nova versão de si mesmo em cada etapa de sua vida, segundo o público e os fins que motivavam suas ações”, escreve Bettina. Na Argentina, ele escrevia e lia muito. À margem dos livros, fazia anotações críticas, às vezes irritadas. Os “Argentien-Papiere” são os textos do próprio Eichamm, escritos no exílio. Ele concedeu entrevistas a Willem Sassen (“Entrevistas Sassen”).e, assim, causar o mesmo impacto que já havia causado anteriormente. (...) Eichmann não era um pária na Argentina”.
Na Argentina, Eichmann mantinha contatos com outros nazistas. Os nazistas “elaboraram planos subversivos, construíram com esmero uma rede de simpatizantes, se dedicaram inclusive a falsificar documentos com o objetivo de defender sua visão do ‘glorioso’ nacional-socialismo das críticas e evidências, e Adolf Eichmann era uma figura central entre eles. Era seguro de si mesmo, comprometido e consultado como especialista respeitado devido aos milhões de assassinatos, como quando era assessor da Reichssicherheitshauptamt [Escritório Central de Segurança do Reich]. ‘Eichmann na Argentina’ não é, portanto, uma peça unipessoal, e sim a crônica da surpreendente segunda carreira de um tenente-coronel aposentado das SS: sua carreira como especialista em história e, uma vez mais, expert na ‘questão judaica’”.
Perspicaz, Eichmann construiu, posteriormente, a imagem de que estava totalmente escondido, isolado e afastado das lides políticas na Argentina. A história fantástica e heroica do sequestro executado pelo Mossad, sugerindo que foi uma operação mais complexa do que realmente foi, colaborou para o mito de que ele não tinha importância, de que não articulava e não se movimentada. “Eichmann nunca quis ser o inofensivo e pacífico Ricardo Klement, exceto quando ocupou sua cela na prisão de Israel. Na Argentina, assinava orgulhosamente as dedicatórias das fotos para seus camaradas como ‘Adolf Eichmann, tenente-coronel aposentado das SS’”, registra Bettina.
Ao ler cuidadosamente as atas dos interrogatórios do nazista em Jerusalém, Arendt pode ter caído numa “armadilha” preparada meticulosamente pelo esperto nazista. “Ninguém leu as atas dos interrogatórios e o julgamento com tanto detalhamento. Mas foi assim que [Arendt] caiu na armadilha, porque Eichmann em Jerusalém não foi mais do que uma máscara. E se não logrou dar-se conta, era sumamente consciente de que ainda não havia compreendido o fenômeno como gostaria”, anota Bettina. Talvez seja possível dizer que Arendt compreendeu o Eichmann exibido por Eichmann, mas não o nazista muito mais complexo do que um mero funcionário administrativo, um cumpridor de ordens, quase uma besta quadrada.
Bettina diz que é preciso admitir que mesmo pessoas sem inteligência extraordinária podem chefiar pessoas muito mais dotadas e, ao mesmo tempo, “enganar” magistrados, procuradores, jornalistas e filósofos muito bem preparados. Em Jerusalém, Eichmann, por vias indiretas, esculpiu com certa precisão a imagem de que era um funcionário do segundo escalão. “Só ante a Justiça de Jerusalém tentou aparecer como um funcionário menor, subalterno e substituível, sem nome e sem rosto. (...) Há numerosos indícios de que a partir de 1938 Eichmann não era um desconhecido nem lhe interessava ocupar um lugar nas sombras. Quando começamos a seguir esses indícios, aparece a clara imagem do homem que urdiu uma trama criminosa.” Eichmann não era Hitler, Himmler, Göring ou Goebbels, mas foi uma figura importante na política — tida como parte central do ideário nazista — de extermínio dos judeus. Menor talvez seja a interpretação que fizeram de seu papel na história a partir do que relatou em Jerusalém, quando se tornou um culpado-quase vítima do nazismo.

Citado em reportagem da revista “Veja”, livro de A. C. Scartezini, hoje colaborador do Jornal Opção, é um dos melhores documentos para mostrar quem era o general dos anos de chumbo
Rozane Monteiro, de 47 anos, apontada como jornalista brilhante, matou-se na segunda-feira, 4. A profissional teve um aneurisma cerebral, conseguiu recuperar-se, mas, ao receber o diagnóstico de outro aneurisma, optou pelo suicídio. Profissional experiente, especializada em jornalismo nos Estados Unidos, ex-correspondente na República Tcheca, Rozane foi editora de Internacional do “Jornal do Brasil”, trabalhou em “O Dia” e, daí, foi para o “Extra”.
[caption id="attachment_12116" align="alignleft" width="255"] O último volume da trilogia do balacobaco sobre o líder político Getúlio Vargas[/caption]
Está nas livrarias o último volume da trilogia biográfica que o jornalista e escritor Lira Neto escreveu sobre o presidente Getúlio Vargas. “Getúlio — Da Volta Pela Consagração Popular ao Suicídio: 1945-1954” (Companhia das Letras, 464 páginas. O livro impresso custa R$ 49,50 e o e-book sai por R$ 34,50).
Nenhum personagem histórico sai incólume das biografias feitas com rigor e o máximo de objetividade possível. Porque todos os seres humanos, não apenas os políticos, são um poço de contradições. Pesquisador do tipo que avalia que Deus está nos detalhes, mas precisa-se do conjunto para avaliar, Lira Neto pesquisou minuciosamente e, depois, evitando o relatório puro e simples, escreveu um livro de história, que aqui ganha o nome de biografia, do balacobaco. Getúlio é exposto por inteiro e o resultado final é um político importante para a história do país, mas com seus (e dos aliados) problemas devidamente apontados.
Os três livros (na verdade, um só dividido em três partes), mais do que uma biografia de Getúlio, é uma alentada radiografia da história brasileira, dos fins do século 19 ao século 20 (até 1954, quando o presidente, para não ser afastado ou não ter de enfrentar uma grave crise política, preferiu se matar. Sua morte abortou o golpe civil-militar... por dez anos).
O site do Jornal Opção (www.jornalopcao.com.br) publica um capítulo do livro. Leia AQUI
A tocaia dos repórteres em São Borja depois da queda de Getúlio Vargas em 1945 - Capítulo da biografia de Getúlio Vargas escrita
Lira Neto
Ao meio-dia, sentado no banco de cimento à sombra de uma árvore – um secular cinamomo –, Getúlio ouviu o ronco do bimotor Junkers que se lançou em voo rasante sobre o dorso de uma coxilha e, em meio à nuvem de poeira vermelha, aterrissou na improvisada pista de pouso da Estância Santos Reis, a cerca de 20 quilômetros do Centro de São Borja. O ex-presidente, com botas pretas de cano alto, largas bombachas e camisa branca de mangas arregaçadas, levantou-se para recepcionar os passageiros, recém-chegados de Porto Alegre.
Era 1o de novembro de 1945, Dia de Todos os Santos, quinta-feira. Na véspera, no mesmo local, o próprio Getúlio fizera idêntico desembarque – mas do Lockheed Lodestar presidencial da Força Aérea Brasileira (FAB), proveniente do Rio de Janeiro, após esgotado o prazo de 48 horas concedido pelos militares para que abandonasse o Palácio Guanabara.
“Entrei para o governo por uma revolução, saí por uma quartelada”, queixava-se.
O irmão Protásio – um dos três homens que acabavam de descer do pequeno Junkers – era quem administrava o local e respondia pela saúde financeira da fazenda, dedicada à compra e venda de gado de leite e de corte. A casa propriamente dita era simples, térrea, pintada de amarelo. Na área central, após a sala, ficava o quarto de Getúlio, mobiliado apenas com a cama rústica, uma mesa redonda, a cadeira de balanço e dois criados-mudos adornados com vasos de flores naturais. Em vez de armários, caixas e malas desafiveladas, espalhadas pelo chão. Sobre uma das mesinhas de cabeceira ficava a pasta escura de couro, trazida do Catete, com o brasão nacional, dourado, em alto-relevo. Na outra, repousavam o estojo de óculos, o relógio de algibeira e um bloco de papéis de carta com o timbre do gabinete da Presidência da República. Nas gavetas, frascos de remédios e bisnagas com artigos de perfumaria. Como fazia questão de estar sempre bem barbeado, o estojo amarelo com as lâminas Schick e o aparelho dourado Injector Razor ficava logo à mão. Esquecido em um canto, jazia o saco de tacos de golfe – inúteis, já que não havia, na estância, lugar apropriado à prática do esporte favorito. O gramado rústico era prerrogativa das ovelhas que pastavam logo ali em frente.
Apesar do estilo espartano, o visitante que vislumbrasse o jardim e o pomar bem cuidados, o cata-vento gerador de força e o laranjal em flor teria uma boa impressão de Santos Reis. Se não havia luxo, sobrava esmero. Mas o observador não se deixasse enganar pela placidez e bucolismo da paisagem. O clã se encontrava em estado intestino de guerra. A política, mais uma vez, se colocara no centro de cizânias familiares.
Um dos filhos de Getúlio, Manuel Antônio – o Maneco Vargas –, entrara em rota de colisão com o tio Protásio. Maneco vinha trabalhando dia e noite pela instalação, em São Borja, do diretório do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Protásio, com semelhante afinco, pelo fortalecimento do Partido Social Democrático (PSD) no município. Em vez de dividirem o eleitorado de modo equânime, como era desejo de Getúlio, tio e sobrinho vinham disputando graus e áreas comuns de influência, trocando descortesias, numa autofagia que ameaçava extrapolar a esfera íntima para produzir efeitos colaterais mais amplos.
A propósito, naquela tarde, Protásio trazia consigo à estância, como companheiro de voo, o correligionário Valter Jobim, ex-promotor público em Passo Fundo, ex-secretário estadual de Obras Públicas e candidato declarado do partido ao governo do Rio Grande do Sul. Os dois vinham discutir o quadro eleitoral com Getúlio. Uma das primeiras medidas do governo de transição foi revogar o decreto 8063, aquele que, assinado por Getúlio em outubro, antecipara as eleições para governadores fazendo-as coincidir com o pleito presidencial. De acordo com o decidido pelo presidente interino José Linhares, dali a um mês, 2 de dezembro, além dos deputados e senadores que comporiam o futuro parlamento, os brasileiros iriam às urnas para escolher “apenas” o novo presidente da República (as eleições para governador e para as assembleias legislativas só se realizariam em 1947).
O brigadeiro Eduardo Gomes, concorrendo pela União Democrática Nacional (UDN) – frente ampla que se convertera no baluarte de todos os antivarguistas, reunindo desde os mais aguerridos liberais à chamada esquerda democrática –, era apontado pela imprensa como franco favorito. O outro candidato, general Eurico Gaspar Dutra, enfrentava dificuldades para obter até mesmo a adesão de certos quadros do próprio partido, o PSD, constrangidos em sufragar o nome de um dos maiores responsáveis pela derrubada de Getúlio.
“Todos sabemos, os teus amigos, que votar no Dutra é tomar um purgante de óleo de rícino. É necessário fazê-lo, ainda que repugnante”, ponderava o pragmático Protásio Vargas, tentando convencer o irmão a também tapar o nariz e engolir o nome do general como único remédio para impedir a chegada dos udenistas ao poder.
Getúlio, reticente quanto à questão, recebeu Jobim e Protásio com sorrisos e abraços. Poucos passos atrás da dupla, divisou um terceiro indivíduo, a quem não reconheceu. O estranho se aproximou e fez questão de se apresentar. Era jornalista. Viera de carona no avião, como representante dos jornais Folha da Tarde e Correio do Povo, do mesmo grupo de comunicação, a Companhia Jornalística Caldas Júnior, da capital gaúcha. Desejava uma entrevista exclusiva com Getúlio, a respeito da conjuntura política. Seria, nesse caso, um furo de reportagem. A primeira fala do ex-chefe de Estado após colocar os pés na pequenina São Borja – cidade então com menos de 35 mil habitantes, ruas sem calçamento, casas sem água encanada, eterna porta de entrada para o contrabando a partir do rio Uruguai, marco geográfico da fronteira do Brasil com a Argentina.
Com um gesto polido, Getúlio estendeu a mão ao repórter. Pediu-lhe desculpas, mas não iria dar entrevistas a ninguém. Tudo o que tinha a dizer já dissera no dia anterior, por escrito, numa nota concisa aos gaúchos, remetida exatamente ao Correio, pelo rádio, ainda a bordo do avião da FAB que o trouxera a Santos Reis: “Ao sobrevoar o solo do Rio Grande, dirijo-lhes esta mensagem de saudação, declarando que já não sou mais prisioneiro senão do afeto do povo.” Era tudo. Nada mais tinha a declarar.
Ato contínuo, Getúlio dirigiu-se com Protásio e Jobim para o interior da casa, deixando o jornalista sozinho, ao pé da porteira que dava acesso ao jardim. A reunião que se seguiu, a portas fechadas, estendeu-se por cerca de uma hora e meia, sendo interrompida apenas para o almoço, servido à base do tradicional churrasco de ovelha. Durante o cafezinho, o repórter ousou se aproximar da mesa para tentar de novo entabular a almejada entrevista.
Getúlio fez de conta que não entendeu a intenção dele, e lançou uma pergunta ao jornalista, invertendo os papéis de entrevistado e entrevistador: o decreto que assinara pouco antes de ser apeado do poder, instituindo o salário mínimo para os profissionais de imprensa, satisfizera as aspirações da categoria?
Sem dar tempo para o homem abrir a boca, emendou:
“Um dos motivos pelos quais os donos de jornais se voltaram contra mim foi justamente esse decreto…”, sorriu.
Protásio aproveitou a deixa e convidou o enviado especial da Folha e do Correio a se retirar, pois a reunião reservada iria prosseguir, tarde adentro.
“Esta conversa entre os senhores é para deliberar o rumo político a seguir?”, insistiu o jornalista, dirigindo-se a Getúlio. “Depois de tudo o que aconteceu, o senhor aceitará que o PSD continue a dar apoio à campanha do general Dutra, candidato oficial do partido à Presidência da República?”
Getúlio, presidente de honra da legenda, limitou-se a um comentário lacônico: “O PSD do Rio Grandesaberá honrar os compromissos assumidos.”
“E, do ponto de vista estritamente pessoal, o que o senhor acha? O que pretende fazer agora, após ter assinado o termo de renúncia?”
“Mas eu não assinei nenhum termo de renúncia…”, contrapôs Getúlio. “Do ponto de vista pessoal, estou aguardando os desdobramentos dos fatos”, disse, encerrando o assunto.
Não era exatamente uma entrevista. Mas eram declarações relevantes. O jornalista pediu licença a um funcionário de Protásio para utilizar o telefone da fazenda, a fim de enviar um primeiro comunicado à redação. Com alguma sorte, a informação chegaria a tempo de sair estampada na edição vespertina.
De fato, quando a dita reunião foi dada por encerrada, perto do fim da tarde, os leitores da capital gaúcha já tinham em mãos, nas esquinas de Porto Alegre, os primeiros exemplares da Folha, ainda cheirando a tinta fresca, com a estrondosa manchete:
DECLARA O SR. GETÚLIO VARGAS
QUE NÃO ASSINOU
NENHUM DOCUMENTO DE RENÚNCIA
Retransmitida pelo telégrafo ao Rio de Janeiro, a notícia foi interpretada, na cúpula dos quartéis, como uma ameaça de que Getúlio não se submeteria à deposição. O general José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, presidente do Clube Militar, decidiu expressar a inquietação dos colegas de farda e providenciar uma nota à imprensa da capital federal, na qual afirmava, peremptório: “Como participante dos acontecimentos que culminaram com a substituição do governo da República, julgo do meu dever esclarecer a opinião pública sobre a verdade dos fatos.” O título do texto não deixava brechas para ilações, dubiedades ou possíveis reviravoltas: “O sr. Getúlio Vargas não renunciou, foi deposto.”
Ao final da conversa com Protásio e Jobim – e sem ainda ter conhecimento da repercussão de suas palavras ao jornalista gaúcho –, Getúlio decidiu cumprimentar o grupo de são-borjenses que se aglomerava no terreno em frente à casa. O repórter, seguindo-o pelos calcanhares, descreveu a cena, numa segunda mensagem enviada por telefone à redação.
“O sr. Getúlio Vargas recebe afavelmente inúmeros amigos e admiradores. Parece-nos um homem que não dá a mínima impressão de haver vivido estes intensos quatro dias que modificaram completamente o ambiente político brasileiro”, escreveu o jornalista, que infelizmente não teve seu texto creditado pelo periódico gaúcho – a reportagem foi publicada sem assinatura, como era comum à época. “O ex-presidente conserva seu bom humor e sua jovialidade, que já se tornaram proverbiais. Quando uma oportunidade se apresenta, não perde a ocasião e lança um dito espirituoso, que festeja ruidosamente com os circunstantes.”
Ao entardecer, quando as visitas já haviam partido e as gargalhadas cessado, o repórter teve a oportunidade de flagrar o verdadeiro estado de espírito de Getúlio. Sempre acompanhado de um gato angorá branco que lhe seguia os passos, ele caminhava em seu estilo característico, as mãos postas para trás, o olhar perdido. Fumava então o quinto charuto do dia. Longe da curiosidade pública, trocou o característico sorriso por um semblante mais grave: “Ia pensativo, algo melancólico, olhando para um ponto qualquer que nós não enxergávamos, ou fitando o sol que se escondia, no horizonte plano de São Borja.”
Ao seperceber vigiado, Getúlio lançou um aceno gentil ao repórter: “Vamos caminhar?”
Agora íamos caminhando, lentamente, em direção a um açude, distante uns 800 metros da casa da fazenda. E como de costume – talvez para não dar tempo a que se fizessem perguntas embaraçosas – o sr. Getúlio Vargas começou de novo a entrevistar-nos. Ele seria um bom jornalista…
Já não tinha aquela preocupação de mostrar-se jovial e alegre. Deixou que algumas rugas se instalassem, indiscretamente, na testa. E podemos jurar que mal ouvia as respostas banais que dávamos às suas perguntas também banais. O sr. Getúlio Vargas, afinal, sempre foi um bom jogador.
A certa altura, Getúlio intensificou o bombardeio de perguntas. O que se dizia em Porto Alegre a respeito de sua queda? O que pensava o povo? E os trabalhadores gaúchos? Houve manifestações de rua? Discursos a favor e contra? O repórter, percebendo a oportunidade de granjear a simpatia e a confiança do interlocutor, tentou resumir-lhe a situação em poucas pinceladas.
O interventor gaúcho, tenente-coronel Ernesto Dornelles (primo de Getúlio), assim como todos os governantes regionais nomeados pelo Estado Novo, fora afastado do cargo e substituído por um representante do Judiciário – no caso do Rio Grande, assumira o desembargador Samuel Figueiredo Silva. O secretariado de Dornelles, em bloco, aguardava demissionário a efetivação dos respectivos substitutos. Servidores em funções de confiança, idem. Os prefeitos também estavam em compasso de espera, tendo posto os cargos à disposição, por ordem do novo governo. O general Salvador César Obino, comandante da 3a Região Militar, sediada em Porto Alegre, apoiara o golpe, mas advertira a tropa que se mantivesse alheia a possíveis provocações e se abstivesse de comentários políticos. As ruas estavam calmas. O povo, em cautelosa expectativa. Getúlio ouviu a síntese sem dizer palavra. Ao final, o repórter tentou provocá-lo a sair do mutismo. Sondou-o a respeito da conversa que mantivera ao longo da tarde com Protásio e Jobim. O que tinham decidido, afinal de contas? Os dois pessedistas haviam conseguido convencê-lo a declarar apoio à candidatura do general Dutra?
Mais uma vez, preferiu manter-se em reserva. Apenas voltou a sorrir. O jornalista, imperturbável, resolveu abordá-lo por outro flanco. Comentou que dois meses antes, em 2 de setembro, data na qual se esgotara o prazo de desincompatibilização para os aspirantes ao pleito, muitos getulistas haviam se decepcionado com o fato de o então ditador não ter se licenciado do Catete para registrar-se candidato, construindo as condições legais para permanecer no poder.
“Mas eu não desejava mesmo continuar…”, desdenhou Getúlio.
Os vinte passos seguintes foram dados em novo silêncio. Getúlio Vargas levou o charuto aos lábios. E a mancha de uma baforada pensativa ficou por alguns instantes flutuando entre nós.
“Eu já estava cansado”, disse ele. “Governar mais seis anos… Num período difícil…”
Chegáramos à beira do açude. E o charuto do presidente, jogado com displicência, foi agitar as águas mansas.
[…]
Depois disso, veio o silêncio definitivo. Também o sol desaparecera. E na meia-luz melancólica daquela tarde moribunda, o ex-presidente Vargas perdeu, mais uma vez, o olhar na planície imensa.
A foto que ilustrou a matéria mostrou um Getúlio de sobrancelhas arqueadas, o olhar circunspecto, a comissura dos lábios voltada para baixo. “Aí está o homem que governou o país durante quinze anos”, dizia a legenda. “A fisionomia parece sublinhar uma preocupação.”
Na manhã seguinte, sexta-feira, 2 de novembro, Getúlio cumpriu o ritual que repetiria dali por diante todos os dias, após o alvorecer, em Santos Reis. Pulou da cama às 6 horas, deixando para trás o travesseiro baixo e mole, em cuja fronha se lia o monograma bordado com as iniciais GV. Provou o primeiro gole de chimarrão ainda no quarto, de pijama. Fez a barba, tomou um banho frio, vestiu as bombachas e seguiu para a mesa do café. Depois, mandou selar um cavalo e saiu a campear pela estância.
Não foi sozinho. Entre os companheiros de montaria, três petebistas gaúchos serviram-lhe de escolta. O primeiro era o filho Maneco. O segundo, o primo Dinarte Dornelles, diretor da Caixa Econômica Federal no Rio Grande do Sul. O terceiro, um jovem advogado e fazendeiro de São Borja, amigo da família. Seu nome: João Belchior Marques Goulart – mais conhecido, desde a infância, como “Jango”. A ligação dos Goulart com os Vargas era antiga. O pai de Jango, Vicente Goulart, estudara com Getúlio nos tempos da escola primária do professor Fabriciano Júlio Braga em São Borja. Mais tarde adquirira, em sociedade com Protásio, um frigorífico na cidade vizinha de Itaqui. O empreendimento, todavia, não prosperou. Quando Vicente morreu em 1943, de câncer, quase falido, o filho assumiu os negócios familiares e, por meio de sucessivos empréstimos bancários, passou a comprar gado e arrendar terras ao redor da propriedade original. O método do rapaz fazer dinheiro era tão simples quanto infalível: deixava as vacas no pasto para a engorda – nas chamadas “invernadas” – e depois as revendia para abate, com dilatada margem de lucro. Ao oferecer os próprios animais como garantia, levantava novos créditos e assim, sucessivamente, multiplicava o capital a cada operação. A esse tempo, com 26 anos, calculava-se que Jango já fosse dono de cerca de 15 mil cabeças de gado bovino e outras 5 mil de ovinos, avaliadas então em torno de 10 milhões de cruzeiros (cerca de 16 milhões de reais, em valores atualizados).
Bon vivant, dono do próprio avião Cessna e de um automóvel Ford – um dos únicos dez carros de toda São Borja –, Jango vivia rodeado de belas mulheres. Dado a festas e outros prazeres, contraíra sífilis, doença sexualmente transmissível, o que lhe deixou como sequela uma lesão no joelho esquerdo. Daí o fato de ter manquitolado de uma perna o resto da vida, embora a família preferisse difundir a versão de que o problema fosse oriundo de uma queda de cavalo ou, em outra variante mais prosaica, de um coice de burro. Bem apessoado, dono de uma conversa fácil, não demorou que João Goulart fosse cortejado não apenas pelas moças casadoiras do lugar, como também pelos caciques políticos de São Borja. Protásio tentou arrastá-lo para as hostes do diretório municipal do PSD, mas a amizade com Maneco Vargas influenciou sua decisão de cerrar fileiras no PTB.
A cavalgada daquela manhã serviu para Getúlio debater com Jango, Dinarte e Maneco a atitude do partido em face das eleições presidenciais que se aproximavam. O trio compartilhava de uma mesma opinião. À falta de candidato próprio, o PTB deveria se abster de apoiar qualquer uma das duas candidaturas militares já lançadas. Mas, no âmbito federal, os petebistas estavam rachados. Parte do diretório nacional também defendia a tese da abstenção, posição defendida por dois dirigentes do alto escalão partidário, Paulo Baeta Neves e José de Segadas Viana, respectivamente presidente e secretário-geral da comissão executiva. Havia uma parcela considerável de militantes que preferia, ao contrário, apostar numa aliança estratégica com o PSD, para tentar preservar inalteradas – em um possível governo Dutra – as conquistas da legislação trabalhista.
Sempre que instado a se pronunciar sobre o assunto, Getúlio desconversava: “Meu desejo é permanecer calado até as eleições, para não aumentar a confusão já existente.”
Na volta da campeada, perto da hora do almoço, o grupo foi surpreendido com a presença de outro repórter no galpão da fazenda. Em meio à roda de peões de bombachas e facas na cintura, destacava-se um indivíduo de paletó e gravata, o bloquinho de anotações em punho. Em princípio, Getúlio não atinou para a identidade daquele homem miúdo, de cabeçorra quadrada e máquina fotográfica a tiracolo.
“Bom dia, dr. Getúlio, permite bater uma chapa?”, perguntou o homenzinho, apontando-lhe a objetiva.
Houve um instante de tensão. Maneco olhou para o pai, em estado de alerta. Jango e Dinarte se mostraram igualmente apreensivos.
“Pode bater...”, sorriu, entretanto, Getúlio, desanuviando o ambiente. “Quem é mesmo o senhor?”, perguntou, ao descer do cavalo.
O jornalista apresentou as credenciais. Era Edmar Morel, repórter dos Diários Associados, o grupo de jornais de Assis Chateaubriand, o Chatô. Getúlio não o conhecia pessoalmente. Mas é evidente que já ouvira falar do sujeito. Morel, a esse tempo, era uma lenda viva da imprensa nacional. Suas reportagens lhe haviam rendido notoriedade e prestígio, mas também poderosos desafetos. Entre estes, os censores do Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP. No extenso currículo de proezas jornalísticas, Morel entrevistara o tristemente célebre Manso de Paiva, o assassino do senador gaúcho Pinheiro Machado, morto com uma punhalada nas costas em 1915, no Hotel dos Estrangeiros, no Rio de Janeiro. A entrevista, porém, fora censurada pelo Estado Novo, sob a justificativa de que o mau exemplo do criminoso poderia enfiar caraminholas na cabeça de algum outro “lunático” e, dessa forma, pôr em risco a integridade física do então ditador, Getúlio Vargas.
Morel também tivera problemas com os censores do DIP ao denunciar as precárias condições de vida a que foram submetidos os chamados “soldados da borracha”, os nordestinos despachados à Amazônia para garantir o abastecimento de látex ao exército norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial. Outra matéria de sua autoria, ilustrada pela foto de um menino disputando com um vira-lata os restos de comida de uma base militar dos Estados Unidos em Pernambuco, também provocara incômodos aos burocratas da censura. Entre tantas reportagens de impacto, o feito então mais recente de Morel fora a cobertura do último dia do Estado Novo, realizada de dentro de um dos tanques de guerra que, em 29 de outubro, cercaram os jardins do Palácio Guanabara.
Getúlio, é claro, entendeu a situação. Chateaubriand mandara um dos melhores repórteres dos Diários Associados a São Borja para retratar o drama de um inimigo caído em desgraça. No dia seguinte à derrocada do regime, em artigo intitulado “O triste fim de Policarpo Vargas”, Chatô tripudiara: “As circunstâncias que cercam o ocaso do sr. Getúlio Vargas oferecem a sensação do fenômeno da decrepitude de um homem.” Em tom de deliciada vingança, o texto zombara do fato de Getúlio ter supostamente alimentado a ilusão de que as massas tomariam as ruas em protesto contra sua destituição. “Entretanto, não apareceu nenhum ‘Trabalhador do Brasil’, ou mesmo um simples malandro dos morros cariocas, para se despedir dele no Aeroporto Santos Dumont”, aguilhoara Chatô.
Nitidamente aborrecido, Getúlio fechou o cenho para Morel. O jornalista, sem perder a desenvoltura – e para forjar uma intimidade inexistente –, informou que o estava aguardando ali desde o início da manhã, após enfrentar uma maratona iniciada dois dias antes, no Rio de Janeiro. Na quarta-feira, desembarcara em Porto Alegre e, durante 48 horas, viajara de trem, sacolejando por mais de 500 quilômetros, até alcançar a estação de São Borja. De lá, chegara à estância a bordo de um automóvel alugado. Estava exausto, comentou Morel.
“O senhor não cansa quando faz um passeio demorado desses pelo campo?”, perguntou.
“Não! Para descansar o espírito, nada como cansar o corpo”, cortou Getúlio.
“Os jornais estão publicando que o senhor não assinou nenhum documento pedindo renúncia…”, prosseguiu o repórter.
Getúlio apanhou a cuia de chimarrão das mãos de um peão da fazenda, chupou a bomba de prata e, após alguns segundos de estudado suspense, resmungou a resposta entre os dentes: “Isso não tem importância…”
Para não aborrecer de vez o entrevistado, Morel mudou de estratégia. Pediu licença para ficar em Santos Reis alguns dias, a fim de acompanhar a rotina do mais novo e ilustre morador da fazenda. Pretendia realizar uma série de “reportagens apolíticas” – conforme definiu –, para oferecer aos leitores da capital federal um relato completo da nova vida daquele que fora, até há bem pouco tempo, o homem mais poderoso do Brasil.
“Em qual rede de jornais o senhor disse mesmo que trabalha?”, perguntou Getúlio, com entonação irônica, dando-lhe as costas e deixando escapar um muxoxo.
Morel, em ato reflexo, levantou a câmera e o fotografou no momento exato em que caminhava jardim adentro, cruzando o portão em direção à casa.
A imagem de Getúlio de costas, pisando duro, estamparia a capa do carioca Diário da Noite, acompanhada da seguinte manchete: ZANGOU-SE COM O REPÓRTER.
Maneco Vargas, ao perceber que o pai estava sendo fotografado em situação desfavorável, pegou Morel pelo braço e convidou-o a se retirar.
“Faça o favor!”, rugiu Maneco, apontando a saída.
A imprensa do Rio de Janeiro fez um escarcéu. Os principais jornais do país – alinhados à UDN e à candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes – afirmaram que as longas conversas de Getúlio com representantes regionais do PSD e PTB em São Borjafaziam parte de uma insidiosa manobra política. Havia rumores de que pessedistas e petebistas gaúchos disputavam entre si o direito de lançar a candidatura do ex-presidente ao Congresso, informação que gerou uma maré de editoriais, manchetes e artigos indignados.
“Mal apeado do poder, com uma semana apenas entre o Guanabara e São Borja, já está o ditador numa inquietação reprovável”, condenou o Diário da Noite, que lamentava o fato de os militares não terem deportado Getúlio e lhe cassado os direitos políticos logo após tê-lo afastado do Catete, da mesma forma que ele próprio fizera, em 1930, com o ex-presidente Washington Luís.
“O sr. Getúlio Vargas está sendo imprudentíssimo”, avaliou o Diário. “Enquanto suas futricas em Santos Reis não oferecerem possibilidades de ameaça à marcha normal da redemocratização, poderá beber em paz doméstica sua cuia de chimarrão. Mas, desde que se transforme ou pretenda ser elemento de perturbação política, não lhe restará outro caminho senão, ainda uma vez, correr novos riscos.”
O recado era explícito. Os jornais de Chatô garantiam que uma “fonte digna de crédito”, situada na alta cúpula do novo governo, trabalhava com a hipótese de ordenar a deportação de Getúlio a qualquer instante.
Quanto à possível candidatura do ex-presidente a um cargo eletivo, o udenista mineiro Virgílio de Melo Franco, interrogado pelos jornalistas, disse pôr tal hipótese na conta de uma insolente piada.
“Uma gargalhada sacudirá o país”, previu Melo Franco, caso o ex-ditador esboçasse uma volta ao cenário político.
Ao batalhão de repórteres que depois disso continuaria a lhe bater à porta em Santos Reis, Getúlio repetiu a mesma ladainha: não era candidato a nada. E não estaria disposto sequer a montar uma banca de advocacia em Porto Alegre. Os políticos e advogados podiam dormir sossegados. Ele não lhes faria mais nenhuma concorrência.
“Na verdade, vou fazer concorrência é aos pecuaristas de São Borja”, disse a outro jornalista do Correio do Povo, prometendo dedicar-se unicamente à vida do campo durante o tempo que ainda lhe restasse de vida. “Não aceitarei, em hipótese alguma, a designação de meu nome, seja para o que for.” Chegara a hora de se preocupar apenas com bois e vacas, garantiu.
O jornalista Geraldo Romualdo, enviado de OGlobo a Santos Reis, ainda conseguiu lhe arrancar uma declaração por escrito, datilografada e assinada, que foi reproduzida na primeira página do jornal de Roberto Marinho: “Simples cidadão, não sendo candidato a nenhuma função pública e tendo como única arma meu título de eleitor, envio ao povo brasileiro minha comovida saudação, dizendo-lhe que agora, mais do que nunca, estou do seu lado.”
Nem todo mundo levou a sério a formalização do compromisso. Em editorial, o Diário da Noitevoltou a fustigar:
A experiência desses últimos quinze anos, longa experiência que desvendou muitos dos mistérios da personalidade do ex-chefe de governo. […] Agora, em São Borja, após seus longos passeios e horas de meditação, o grande alquimista do despistamento, técnica em que certamente jamais será superado, reafirma seu desinteresse pela política e, consequentemente, pelo poder. […] Volta o sr. Getúlio Vargas à velha técnica: nada desejar, nada querer, desejando e querendo tudo.
A partir daquele momento, qualquer estranho que chegasse a Santos Reis seria barrado à entrada da estância. Para ultrapassar os limites da porteira, teria que apresentar a carteira de identidade. O documento era então confiscado, para que Maneco Vargas o levasse até o pai, a quem cabia pessoalmente filtrar o acesso de eventuais bisbilhoteiros.
“Se for jornalista que vem aí, mando enforcar”, passou a ironizar Getúlio, sempre que outro avião descia na estância.
Leia Mais: Sob o pretexto de explicar Getúlio Vargas, Lira Neto faz sólida radiografia da história do Brasil
Hugo Brockes, de 77 anos, trocou de amor: a publicidade pela literatura. Na terça-feira, 12, às 18 horas, ele vai lançar o romance “O Réveillon de 3001” na Livraria Nobel, no Shopping Bougainville. A surpresa? Brockes, além de escrever bem, é dotado de uma imaginação criadora impressionante. Trata-se de literatura tradicional de qualidade. Trecho do livro: “... nunca gostei da ideia da eternidade, a existência aprisionando a vida na prisão da monotonia. Penso como aquele obscuro poeta, do início do século 21, seu contemporâneo: ‘Jamais suportaria a vida num horizonte infinito, eterno, monótono, brumoso e frio. Eu exigiria o direito sacrossanto e incoercível de praticar suicídio na minha vida eterna’”. (Hugo é publicitário, poeta, prosador, roteirista e ator. Como ator, fez peças publicitárias impagáveis para o Café Cairo. Vale a pena recuperar os filmes da publicidade, na qual brilhava o “Ferrugem”, para divulgá-los na internet.)

Em campanha para governador, o peemedebista sugere que o problema da violência pode ser resolvido num passe de prestidigitação. Como ministro, ficou conhecido pela frase “o crime, muitas vezes, é inevitável”
[caption id="attachment_12108" align="alignright" width="620"] Iris Rezende e Barbosa Neto: os dois políticos precisam entender que a violência e a segurança pública são temas que não devem ser tratados meramente como questões eleitoreiras | Foto: Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Há algum tempo, quando políticos de Goiás procuraram auxiliares da presidente Dilma Rousseff, para sugerirem que boicotassem o governo do tucano Marconi Perillo, receberam um recado que revela estadismo e percepção de como a economia funciona de modo integrado. Rousseff teria dito que prejudicar um Estado é sacrificar o crescimento geral da economia. Não só. De maneira lúcida, teria apresentado a informação de que o crescimento do país, mesmo que ínfimo, depende basicamente daquilo que os economistas chamam de âncora verde, quer dizer, do agronegócio. O mau uso da política, para atender pleitos provinciais, tende a prejudicar a economia como um todo e reflete tanto na taxa de crescimento quanto na balança comercial.
Como informou o Tesouro Nacional recentemente, Goiás, com as contas em ordem, pôde pleitear e obter financiamentos facilitados pelo governo federal — que, a rigor, não é de Rousseff ou do PT, e sim do país (o Poder Executivo deve ser visto e aceito como uma “instituição”, não como propriedade partidária ou pessoal). Com dinheiro em caixa — parte dos recursos foi gerada internamente —, o governo de Marconi Perillo está fazendo um amplo trabalho de recuperação e ampliação da malha rodoviária de Goiás, um Estado que, em termos geográficos, é maior do que Portugal, Cuba e Israel juntos. Estradas melhores, além de mais amplas — algumas estão sendo duplicadas —, são fundamentais para ordenar e escoar a produção com mais facilidade. A recuperação do Autódromo Internacional de Goiânia, em tempo recorde e com qualidade elogiada por pilotos com experiência internacional, atrai eventos que, além da diversão em si proporcionada pelo esporte, fortalece e revitaliza tanto o comércio em geral quanto os setores de hotéis e restaurantes.
Ao mesmo tempo, o governo está investindo na construção de hospitais de referência, como o Hugo 2, em Goiânia, e um hospital regional na cidade de Uruaçu, no Norte do Estado. O Crer, ampliado, é mencionado pelo governo da presidente Rousseff como referência para outros Estados que planejam construir hospitais de reabilitação.
Os centros de recuperação de dependentes químicos (credeqs) começam a sair do papel e, possivelmente, serão outro modelo para o país. No momento, e isto em todo o país, os dependentes químicos cujas famílias têm recursos financeiros são tratados e, eventualmente, recuperados em instituições particulares, mas a um custo elevado. Famílias pobres não têm como custear o tratamento de seus integrantes que são dependentes químicos. Alguns são levados para “clínicas” dirigidas por religiosos, que, apesar da boa vontade e de alguns resultados positivos, não têm como fazer um trabalho médico-clínico rigoroso e, às vezes, nem mesmo têm instalações físicas adequadas. O governo de Goiás está mostrando ao país aquilo que a Europa constatou há mais tempo: o uso de drogas não é apenas um problema de polícia — é também uma questão, seriíssima, de saúde pública. E é um problema social e cultural. As pessoas precisam se tratar e, ao mesmo tempo, adquirir expectativa de que terão um “lugar” na sociedade. Os credeqs poderão ser, portanto, um local de tratamento e, ao mesmo tempo, de recuperação da estima do indivíduo e, indiretamente, de sua reinstalação como cidadão, e não como pária, na sociedade.
Com os comentários e informações acima se quer dizer que, com recursos disponibilizados, o governo de Goiás está recuperando e ampliando sua infraestrutura, para possibilitar o crescimento econômico, e também está investindo no indivíduo. Pode-se dizer, como está na moda, que o tucano Perillo está fazendo sua lição de casa. Desavisados podem concluir: “Com dinheiro, farto ou não, qualquer um faz”. Não é bem assim. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, é do PT e tem o apoio maciço do governo de Rousseff. No entanto, faz uma gestão pífia e possivelmente não será reeleito (a senadora Ana Amélia de Lemos, do PP, tem chance de derrotá-lo). Tem-se a impressão de que, ao contrário de Perillo, Genro é mais ideólogo do que gestor.
Na edição de quarta-feira, 6, o jornal “O Estado de S. Paulo” publicou uma reportagem, “Em 2015, portos brasileiros esgotarão potencial”. A repórter Bárbara Bretanha escreve: “A falta de acessos às rodovias e às ferrovias vem causando um alto custo de movimentação de contêineres — o mais alto do mundo, 200 dólares por unidade. Sem investimentos, a capacidade dos portos brasileiros será esgotada em 2015”. Há indícios de que o governo federal, embora tenha recursos financeiros, não consegue investi-los e, às vezes, também investe mal. De 2003 a 2013, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, “o governo autorizou investimentos públicos totalizando R$ 19,46 bilhões, mas apenas R$ 9,29 bilhões foram usados. Entraves burocráticos impediram que o dinheiro fosse aplicado em melhorias”.
Num país que precisa crescer, portanto tem de exportar mais, a crise dos portos sugere que a presidente Rousseff, embora bem intencionada, não tem agido com precisão e eficiência. Há muito discurso, talvez muita reunião, mas pouca ação e escassa objetividade. Fica-se com a impressão de que os petistas sentem mais “prazer” participando de reuniões do que resolvendo problemas reais.
Segurança e eleição
Se na questão do transporte, que é essencial para dinamizar o crescimento da economia, o governo de Rousseff não acerta a mão — a Ferrovia Norte-Sul foi inaugurada com pompa e circunstância, mas não funciona —, imagine na questão da segurança pública. Durante anos, e a tese persiste, ainda que de maneira mais tênue, a esquerda adotou o discurso de que a violência é um mero produto das desigualdades sociais. De fato, as desigualdades sociais não devem ser desconsideradas, como às vezes faz o discurso liberal mais radical, mas a violência, em larga medida, se tornou organizada. O narcotráfico, para ficar num exemplo, é um negócio rentável e pode-se falar, sem receio de equivocar-se, que é organizado por “empresários” — alguns deles mantêm até negócios lícitos como maneira de “lavar” os frutos das ações ilícitas.
O governo de Rousseff, assim como o de Lula, mas também como o de Fernando Henrique Cardoso, não combate a violência com rigor. Fala-se nas penitenciárias como locais de reeducação, adotando-se um discurso humanista louvável, mas elas devem ser vistas também, e quem sabe sobretudo, como locais de excluir os indivíduos que não aceitam as regras de convívio pacífico em sociedade. Por uma questão ideológica, sem amparo no Direito e na realidade, o petismo investe muito pouco na construção de presídios — como admitiu o próprio ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, do PT. O fato de não existir presídios suficientes, o que acaba por transformar os existentes em pocilgas às vezes inabitáveis, colabora para que alguns magistrados e policiais sejam, de certo modo, condescendentes com os criminosos. O juiz pode alegar que não há presídios suficientes e adequados — as celas estão quase sempre superlotadas — e, por isso, pode liberar presos considerados “menos periculosos”. Os policiais, alegando que prendem e os juízes “soltam”, às vezes fazem vistas grossas para alguns crimes. Eventualmente, acossados pelo discurso anti-polícia, que a esquerda impregnou na sociedade, policiais são poucos rigorosos no combate à criminalidade.
A segurança pública em qualquer país é vista como uma questão nacional, afinal os Estados não são isolados. Portanto, o governo federal deveria observar a questão com mais interesse. Há especialistas que sugerem a criação de um Ministério da Segurança Nacional. No entanto, possivelmente para omitir-se e, quiçá, investir menos, os presidentes da República — e não apenas Lula da Silva e Rousseff — preferem deixar a segurança nas mãos dos Estados, numa espécie de pacto federativo invertido, quer dizer, os recursos são concentrados nas mãos do governo federal, mas as crises, o combate à violência, são de responsabilidade quase que exclusiva dos governadores. A estrutura do narcotráfico é móvel, isto é, move-se por vários Estados, com a droga migrando pelo país. Teoricamente, a Polícia Federal está atenta ao problema; na prática, o combate fica nas mãos dos governos estaduais, que, com estruturas deficientes e não raro despreparadas, são obrigados a policiar fronteiras imensas.
Nas campanhas eleitorais, em todas, o tema da segurança pública, como reflexo das preocupações dos indivíduos — especialmente do medo da violência —, não sai da pauta. O problema é que a colocação do assunto em discussão não é feito como a devida seriedade., De repente, do nada, aparece um Barbosa Neto, com uma linguagem técnica que o transforma mais em robô do que num especialista, sugerindo reformas “macro-estruturantes” na segurança pública. O ex-deputado federal esquece que, quando ministro da Justiça, Iris Rezende, agora candidato a governador pelo PMDB, poderia ter contribuído, de maneira decisiva, para articular um programa de combate à criminalidade, com objetivos de curto, médio e longo prazo. No entanto, embora com poder, Iris não deu uma contribuição fundamental para o combate à violência. Pelo contrário, sua gestão ficou conhecida pela frase “o crime, muitas vezes, é inevitável”. A frase, que repercutiu em todo o país, foi muito criticada. A “Folha de S. Paulo” chegou a chamá-lo de “capitão do mato”.
O que Barbosa Neto e Iris sugerem é que o problema da violência pode ser resolvido com um toque de... mágica. Não pode, é claro. Os dois estão fazendo política eleitoral, não estão tratando a questão com a seriedade necessária. Lamenta-se isto porque, embora esteja mais preocupado com sua candidatura, Iris tem uma tradição de seriedade. Pergunta-se: o que Iris Araújo (PMDB), como deputada federal, tem feito para combater a violência no país? Qual foi o projeto que apresentou? Pedir intervenção no Estado é de um primarismo que deve chocar os magistrados da Justiça, seja a estadual, seja a federal. E explorar a dor alheia — de pais que perderam seus filhos ou de filhos que perderam seus pais — é quase um crime. É desumano. l
O maior grupo de Comunicação do Sul do Brasil, o RBS, dono do jornal diário “Zero Hora” e da emissora que retransmite a programação da Globo, demitiu, na semana passada, 130 funcionários. O presidente da empresa, Eduardo Meltzer, afirma que não há crise financeira, e sim busca de “produtividade” e “eficiência”. Meltzer comentou, por meio de uma nota, que o grupo tem 6 mil funcionários, aparentemente sugerindo que 130 demissões não são significativas. Numa entrevista ao Portal Imprensa, o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, criticou as demissões — “é um problemaço” — e a concentração da comunicação no Sul do país nas mãos do Grupo RBS

Código Eleitoral diz que é proibido propaganda que “que calunie e difame quaisquer pessoas, bem como órgãos ou entidades que exerçam autoridade pública”

Como em todo o Brasil, depois da saúde a área éo que mais tem preocupado o eleitorado goiano

Petista diz que seu governo está fazendo muito mais do que outros fariam, critica oposição e imprensa e refuta argumento de que tenha abandonado o mote da sustentabilidade