Notícias

Encontramos 138509 resultados
TV Globo modifica filme “Tim Maia” e “limpa” imagem do “rei” Roberto Carlos em minissérie

Alterações foram tão grandes, que o diretor do longa-metragem, Mauro Lima, pediu que as pessoas não vissem o especial exibido pela maior emissora do Brasil

Cálculo do salário mínimo não mudará, diz Planejamento

"Nós vamos propor uma nova regra para 2016-2019 ao Congresso Nacional. Continuará a haver aumento real do salário mínimo", disse Nelson Barbosa

Menina de 7 anos sobrevive a queda de avião bimotor nos Estados Unidos

Morreram no acidente aéreo o piloto e três passageiros. Única sobrevivente foi a criança

Gêmeas siamesas são separadas com urgência após complicações. Estado de saúde é gravíssimo

Esta é a 11º cirurgia de separação realizada pelo Hopital Materno Infantil. Desde 1999 a unidade já acompanhou 27 casos de gêmeos que nasceram unidos

Marconi diz esperar PSDB na disputa pela Prefeitura de Goiânia em 2016

O governador não citou Jayme Rincón, mas o presidente da Agetop foi ao evento ao lado do gestor estadual

Presença de Marconi na posse da mesa diretora aponta proximidade de vereadores com gestão estadual

O prefeito Paulo Garcia não compareceu e enviou seu chefe de gabinete, Olavo Noleto, como representante

Brasil está dizendo adeus à impunidade sem limite

Aos trancos e barrancos, mesmo com pouca fé da sociedade, o País está investigando e punindo os corruptos. A Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o Poder Judiciário têm funcionado e garantido estabilidade e confiabilidade nas ações para penalizar tanto corruptos quanto corruptores [caption id="attachment_25024" align="alignleft" width="250"]themis Foto: Fotos Públicas[/caption] Os magistrados são as genis do Brasil? Parece que sim. Num país no qual a impunidade era vista, até há pouco, como monarquia vitalícia — daí se ter a visão de que o juiz deve ser quase um justiceiro, condenando mais do que absolvendo —, o Poder Judiciário às vezes é mal visto pela sociedade. “Os ricos não vão ou não ficam na cadeia”, dizem os indivíduos nas ruas, nas suas casas e em seus trabalhos. “A polícia prende e a Justiça ‘solta’”, atacam policiais e defensores de medidas mais rígidas, ao estilo de Jair Bolsonaro (cujas ideias corretas não raro são soterradas por uma inabilidade impressionante no uso das palavras). “A Justiça é muito lenta.” As “teses” — que expressam o senso comum, e este quase sempre merece atenção redobrada, porque não exclui o bom senso — nem sempre são verdadeiras. Primeiro, a Justiça não é justiceira. Sua função não é resolver os problemas globais — sociais e ideológicos — da sociedade. A aplicação (o cumprimento) das leis, com ou sem jurisprudência, é sua finalidade básica. Mas não deve atender o clamor das ruas quando este estiver em desacordo com a lei. Juízes devem acolher as documentações e versões, “confrontá-las” com as leis, e daí tomar as suas decisões. Combina-se o primado da lei com, eventualmente, o bom senso. As decisões dos magistrados incomodam àqueles que querem uma justiça que funcione mais como carrasco do que como um dos instrumentos de garantia da hegemonia da civilização. As leis não são substitutas do linchamento na sociedade democrática. São instrumentos, insistamos, civilizatórios e educativos. Ademais, juízes, se cumprem leis — mesmo com relativo grau de autonomia —, não as elaboram. Segundo, a reclamação de que a Justiça é lenta procede em alguns casos. Mas a Justiça não deve ser vista tão-somente pelo ponto de vista dos advogados e de seus usuários. Parece estranho expor assim, mas tentemos clarificar a questão. Se pudesse, o juiz decidiria rapidamente e encerraria os processos, com a determinação imediata das sentenças. Mas a Justiça não funciona como quer a nossa vã filosofia. Quem mais atrasa os processos judiciais não são juízes, e sim advogados habilidosos e seus clientes. O trabalho de procrastinação é feito aproveitando-se as brechas legais. Em alguns casos, nem se pode falar em brechas, mas em “espaços legais”. Quer dizer, aquele que é processado e seu acusador têm o direito de apresentar provas e testemunhas. As testemunhas precisam ser ouvidas — não raro são difíceis de serem localizadas (há casos de uma das partes precisar contratar detetives particulares para encontrar ao menos os endereços corretos dos processados) — e os documentos, as “provas” e o trabalho dos advogados (“defesas” e, digamos, “contestações”), têm de ser examinados cautelosamente pelos juízes. Há casos em que é preciso fazer variados tipos de perícia. Depois, há os recursos. Terminado o julgamento na primeira instância, o caso pode ser levado ao Tribunal de Justiça e daí aos tribunais superiores, como Superior Tribunal de Justiça e, em última instância, Supremo Tribunal Federal. O processo passa anos nas mãos de juízes, desembargadores e ministros — que se tornam, portanto, os culpados-alvos mais fáceis de criticar. Há casos de juízes relapsos, é certo, mas, na maioria das vezes, além do excesso de processos para poucos magistrados, o problema chave é o apontado acima — o trabalho articulado de advogados para “segurar” e “paralisar” a tramitação dos processos. Inquéritos malfeitos pela polícia merecem um editorial à parte. Em alguns casos, o inquérito não apresenta provas contundentes e ao magistrado fica a incumbência de apresentar um veredito. Se absolve o acusado, é execrado e chega a ser apresentado como “vendido”. Se o condena, mesmo com provas mal costuradas, com evidente massacre das leis, às vezes sua sentença é reformada na instância superior, em decisões que, na prática, são verdadeiras admoestações. Para usar uma expressão antiga, ante os inquéritos desastrados, elaborados por delegados que se comportam como rábulas, o magistrado fica entre a cruz e a caldeirinha. Terceiro, a história de que a “polícia prende e a Justiça solta” parece agradar a polícia, a sociedade e, muitas vezes, aos jornalistas. Mas é assim mesmo? Não é. A Justiça “solta” porque a lei exige que o indivíduo seja liberado. Às vezes as prisões são ilegais, contrariando as leis, e por isso o magistrado é obrigado a libertar o indivíduo. No caso das condenações, se a aplicação das penas é de competência dos juízes, as progressões são produtos de leis criadas pelo Legislativo. Porém, culpar o magistrado pelo preso que matou uma pessoa e foi condenado a tantos anos de cadeia, mas cumpriu somente parte da pena, dadas as progressões, é não entender como funciona o sistema, que não foi criado pelos aplicadores das penas. Costuma-se dizer: “Mas tem juízes que têm mãos mais pesadas”. É possível, mas quem verificar as decisões de magistrados “duros” e “moderados” certamente vai concluir que, na média, não diferem muito. Quarto, pode-se continuar dizendo que os ricos e poderosos não são condenados e não ficam presos? Antes, uma palavra sobre o comportamento dos brasileiros. Nós, sim, nós, e não apenas alguns, temos o hábito de avaliar que Shangri-la fica nos outros países, como Japão, Alemanha, Estados Unidos, França, Inglaterra. Lá, ao contrário daqui, tudo, ou quase tudo, é perfeito. Na verdade, não é. A corrupção grassa em todos os países, em menor ou maior escala. No caso da Alemanha, o celebrado Helmut Khol, que ajudou a derrubar o muro de Berlim, envolveu-se num escândalo de “sobras de campanha”. O que, entre nós, chamaríamos de caixa 2. Na França, políticos são denunciados com frequência por envolvimento em falcatruas. Em visita ao Japão, um repórter do Jornal Opção perguntou ao intérprete: “Como o país lida com os corruptos e corruptores? Procede que muitos dos corruptos se matam?” Rindo, o intérprete corrigiu: “O Japão procura punir os corruptos, mas não consegue inteiramente. Ah, e a maioria não se suicida, não”. Ele atribui a corrupção no Japão, que considera “intensa”, ao fato de o Estado, apesar da força dos conglomerados, ser onipresente na economia. Depois, acrescentou: “Quem mais se mata no Japão são jovens e velhos, e não tem nada com a ver com corrupção, e sim com insatisfação com o fato de não terem conseguido vagas em boas universidades, resistência à rigidez educacional e comportamental do país, e com a aposentadoria, por assim dizer, precoce, antes dos 60 anos”. Estabelecido que a corrupção é universal, e que possivelmente jamais vai acabar, o que nos resta é “lambuzar” na lama? O que diferencia o Brasil, em comparação com outros países, é a questão da punibilidade. O grau de impunidade no País ainda é considerado alto. Mas o quadro está mudando. Em 1992, acusado de ter articulado um grupo para usar as estruturas do Estado para enriquecimento pessoal (e de grupo) — com o apoio de Paulo César Farias, o PC —, o presidente da República Fernando Collor sofreu impeachment. Noutros tempos sombrios, a democracia, incipiente, poderia ter passado por um processo de instabilidade. Mas não ocorreu nada. Embora criança, era sólida. Itamar Franco assumiu a presidência e terminou o governo pacificamente. Mais: criou o Plano Real — que tem dois pais, o presidente e Fernando Henrique Cardoso, então uma espécie de primeiro-ministro —, conteve a inflação e estabilizou a economia. O sucesso do primeiro governo Lula, sobretudo, deve muito à estabilidade produzida pelo tucanato. O primeiro governo Lula da Silva, supostamente para garantir a governabilidade e conter a fome pantagruélica das elites políticas, criou o mensalão. O governo do petista-chefe comprou apoio para ter seus projetos aprovados no Congresso. Críticos talvez mais excessivos reparam: “Mas Lula escapou”. Sim, mas as investigações não conseguiram apurar sua responsabilidade direta na criação do mensalão. Não indiciado e não denunciado, por falta de provas cabais, não pôde, logicamente, ser condenado pela Justiça. Mas a Justiça, depois de um processo longo — as estratégias dos advogados funcionaram, na maioria das vezes, para adiar o julgamento —, condenou e mandou para a prisão os principais forjadores do mensalão, como José Dirceu, José Genoino (o inocente útil da turma), Delúbio Soares, Marcos Valério e Valdemar Costa Neto. José Dirceu era o primeiro-ministro do governo Lula e, não fosse o mensalão, hoje talvez tivesse de ser chamado de “presidente José Dirceu”. Era a Dilma Rousseff do PT, mas não exatamente de Lula, para suceder o operário-presidente. Pois a Justiça o condenou e o enviou para a cadeia — sem contemplação. Sua prisão, que escandalizou a cúpula petista — que, durante anos, trabalhou pelo fim da impunidade —, é um recado da sociedade democrática e aberta do País: por mais que alguns não queiram, as leis existem para todos. A decisão do Supremo Tribunal Federal — e não apenas do então presidente, Joaquim Barbosa — foi impecável. Agora, assiste-se ao mensalão do petróleo, o petrolão. A corrupção da Petrobrás, uma história mais espantosa do que o mensalão, por envolver cifras muito maiores e parte significativa da elite empresarial do País, ainda está sob investigação. O trabalho da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da Justiça, via o juiz Sérgio Moro, é impecável. Acrescente-se que a Imprensa tem colaborado para descortinar o caso para o público, não para torná-lo mais escabroso, e sim para exibi-lo como é: um atentado contra todos os brasileiros. O caso do petrolão, dado o envolvimento de parte da elite econômica do País, vai envolver batalhões de advogados altamente qualificados, inclusive ex-ministros dos tribunais superiores, na tentativa de livrar seus clientes da penitenciária. Ou ao menos reduzir a pena. É normal que seja assim. A democracia precisa de bons advogados para defender os indivíduos. Porém, o precedente do mensalão sugere que a Justiça vai julgar (e condenar) a maioria dos envolvidos no petrolão com o rigor necessário. O que concluir? Que, se a corrupção não vai acabar, nem no Brasil nem noutros países, a impunidade está diminuindo. O País começa a descobrir que as leis valem para todos. Yes, além de bananas, tomates e soja, futebol, MMA do José Aldo e do Anderson Silva e surfe do Medina, nós temos Justiça. É a democracia firmando-se. Talvez de maneira incontornável.

A vida como ela é

Recorrendo ao nonsense e à escatologia, os contos de “Um Homem Burro Morreu” fazem retrato fiel dos desconcertos que dirigem os tempos modernos

É preciso interferir no destino ou deixar que ele se cumpra?

Para desvestir a obra das boas intenções, Nuri Bilge Ceylan mostra como a interferência inútil nos fatos que se resolvem por si é apenas uma forma de distorcer o que realmente importa, que é agir focado numa vida plena

Corrupção brasileira não é “herança maldita” dos portugueses. A questão vai além

É comum dizerem que o Brasil é um país arruinado pela colonização europeia, contudo o legado português é mais um “complexo de vira-lata” do que propriamente o fator corruptivo [caption id="attachment_25026" align="alignleft" width="620"]Oscar_Pereira_da_Silva_-_Desembarque_de_Pedro_Álvares_Cabral_em_Porto_Seguro_em_1500 Os portugueses colonizaram o Brasil, mas não foram os inventores da corrupção, pois esta existe no mundo todo | Pintura de Oscar Pereira da Silva[/caption] Marcos Nunes Carreiro O Brasil é o país mais corrupto do mundo. A frase é comum e costumeira na boca de muitos pelas ruas de qualquer Estado brasileiro, principalmente após alguma manchete de jornal apontando para um novo escândalo de corrupção. O Brasil é, de fato, o país mais corrupto do mundo? Não, mas, antes de comprovar tal questão, é preciso explicar as razões que levam os brasileiros a acreditarem morar na mais desafortunada nação do mundo. Ressuscitemos Nelson Rodri­gues, o escritor brasileiro que eternizou a expressão “complexo de vira-latas”, utilizando o adjetivo canino para dar nome à tradição autodepreciativa brasileira. Trata-se por “complexo de vira-latas a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores”. Isso explica o porquê do exagero em relação à corrupção. Porém, Nelson Rodrigues apenas deu nome à questão, não a inventou. Há quem diga que o tal complexo é tão antigo quanto o próprio Brasil. De onde vem? Au­rélio Schommer, escritor e pesquisador gaúcho radicado em Salvador (BA), em seu livro “História do Brasil Vira-Lata”, resolve a questão da seguinte maneira: “A Europa do século XV vivia o Renascimento, alvorecer científico e cultural de vastas proporções, contudo, a maior parte da população do continente terminaria o século analfabeta e presa a um sistema de castas em que a possível ascensão social ‘dependia muito pouco da vontade própria’, e ‘não se via, pouco se esperava, mas se desejava’. […] Em Portugal, os comerciantes não nobres contavam-se nos dedos e eram em grande parte judeus ou italianos, explorando o pequeno fluxo comercial atlântico, inicialmente dirigido ao norte da Europa, depois estendido às ilhas (Açores, Canárias, Madei­ra). Agrário e feudal, o reino luso era pobre e socialmente estanque. [caption id="attachment_25027" align="alignleft" width="300"]foto_2A Aurélio Schommer pesquisa a origem da autodepreciação que Nelson Rodrigues sintetizou no “complexo de vira-latas”[/caption] “Quanto à identidade, é visigótica e sueva (dois povos germânicos cristianizados), mas é também nativa, dos celtas, galegos e lusitanos, tribos dominadas pelos romanos no século II a.C. […] Enquan­to os povos germânicos do oeste ibérico dão origem a Portugal, com uma identidade própria e mestiça; os francos assumem a identidade gaulesa, sendo a França a fusão de francos, gauleses, bretões e também visigodos; enquanto os alamanos, frísios, saxões, turíngios e catos mantêm a germanidade em maior grau na protoalemanha. “O Ocidente, criado pelos gregos e romanos, é recriado pelos povos germânicos, mais ou menos miscigenados com nativos e remanescentes itálicos. […] Assim, a Europa que parte para conquistar o mundo no século XV é uma criação latino-germânica, da qual Portugal é a parte mais miscigenada e periférica. Não se constituía, porém, tal diferenciação, num sentimento de inferioridade dos lusos em relação aos nórdicos, mais ‘puros’”. Apenas após a Revolução Industrial, que desenvolveu muito mais a Europa do norte, é que veio à tona certa depressão por parte de portugueses e espanhóis. “Outrora porta-estandartes do Ocidente, os portugueses transformaram-se em vira-latas da Europa, não por negarem as próprias origens, mas por se apegarem a elas.” Dessa forma, se “Portugal e Brasil colocam-se como vira-latas diante da atual parte mais vistosa do Ocidente, não é por coincidência, mas por mútua identidade, compartilhada e negada por ambos”. Em outras palavras, a tradição autodepreciativa brasileira seria, então, herança dos colonizadores portugueses. Assim, como a própria corrupção. Não é raro ver historiadores remetendo à permissividade da coroa portuguesa, à época da colonização, o hábito da corrupção brasileira. E, de fato, há certa razão nisso, visto que, quando deu início à colonização, a coroa não queria abrir mão do Brasil, todavia não estava disposta a viver no novo local. Então, delegou a ocupação das terras aos nobres portugueses, que tinham a missão de organizar as instituições na colônia. Porém, para convencer um fidalgo a se mudar para o então inóspito paraíso, foram necessários “argumentos”. Surgiram as vantagens. A coroa permitia que os nobres trabalhassem sem vigilância. Tal fato criou a cultura de que o poder se confunde à pessoa. Cultura que permanece nos dias atuais. Entretanto, Portugal apenas facilitou a criação de uma cultura corruptiva, não a idealizou, tampouco a difundiu pelo mundo, visto que não é possível alçar os portugueses à alcunha de “arquitetos da corrupção humana”. A questão é mais ampla. Ao filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau atribui-se a noção de que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Porém, Rousseau idealiza noções mais interessantes em seu “Contrato Social”. Ele diz: “Toda ação livre tem duas causas, que concorrem para produzi-la: uma moral, a saber, a vontade que determina o ato; a outra, física, isto é, o poder que a executa”. Simplificando: quando uma pessoa caminha na direção de um objeto, é necessário primeiro que a pessoa queira ir em direção ao local; depois, que seus pés a levem. O filósofo teoriza a questão para explicar as diferenças entre os poderes Legislativo — a vontade — e Executivo — a força, mas é possível exportar o conceito. Ninguém obriga ninguém a se corromper. Nasce a vontade e, internamente, também a força para executar o desejo. Logo, se alguém é parado em uma blitz e, para se livrar da multa, suborna o policial, nasceu nele tanto a vontade quanto a força da ação. Ou seja, sua corrupção é tanto moral quanto física. O mesmo vale para o policial, caso aceite o suborno. Se uma pessoa está com pressa e, para suprir sua necessidade de agilizar a agenda, se rende ao desejo de furar uma fila de banco, nasceu nela o desejo e a força para executar a corrupção. Dessa forma, é possível dizer que a corrupção não vem de um país, ou cultura, mas é algo interno. Social? Talvez sim. Natural, genético? Pouco provável. Mas, se há certa dificuldade em se determinar a origem da corrupção, é mais simples apontar os meios para combatê-la.

A experiência de outros países
O dicionário Houaiss de Língua Portuguesa define a palavra corrupção como: “modificação, adulteração das características originais de algo”; ou “depravação de hábitos, costumes, devassidão”; ou “uso de meios ilegais para apropriar-se de algo em benefício próprio”. Dessa forma, abrange-se corrupção do desvio milionário de verbas públicas ao furo da fila no banco; da transposição de um cruzamento cujo semáforo está fechado às costuras ilícitas para se alcançar determinado cargo, público ou privado. Ou seja, há as pequenas e grandes corrupções. Contudo, é costumeiro notar apenas as grandes, sobretudo as que envolvem dinheiro público. E isso ocorre em diversos países. Na década de 1990, duas ações se tornaram exemplo no combate à corrupção no mundo. Analise­mos o caso italiano: No início dos anos 1990, a Itália viu duas grandes operações policiais que envolveram a Justiça e uma boa parte da classe política: a Força Tarefa Antimá­fia e a Operação Mãos Limpas. A primeira teve por objetivo in­ves­tigar e combater a Camorra, máfia que agia nas cidades de Pa­lermo e Nápoles; a segunda inten­tou lutar contra aquilo que, no Brasil, se conhece por “crimes de colarinho branco”, envol­vendo “lavagem de dinheiro. Do ponto de vista de comparação, a mais importante foi a Operação Mãos Limpas, liderada pelo juiz Antonio Di Pietro. A ação foi iniciada com a denúncia de um pequeno empresário da área de limpeza que prestava serviços à cidade de Milão. Cansado de pagar propina para realizar os serviços no asilo da cidade, resolveu denunciar a prática, então comum. Fez um acordo com Antonio Di Pietro, que, à época, era procurador de Justiça. Desse contato, foi armada uma operação que envolveu gravadores, cédulas marcadas e, obviamente, policiais. A confirmação das práticas de corrupção atordoou a Itália, visto que a propina cobrada dos empresários tinha por objetivo financiar as campanhas políticas do Partido da Democracia Cristã e do Partido Socialista, que há anos ocupavam o poder no país. Desde então, a Itália vivenciou um grande número de denúncias, centenas de pessoas presas, sobretudo, empresários corruptos, funcionários públicos e políticos. Mas o combate à corrupção não é uma questão meramente policial. Na América Latina, o Chile demonstrou isso ao tomar medidas preventivas, como: a redução de 80% no número de cargos comis­sio­nados e a implantação de mudanças no sistema de financiamento de campanhas eleitorais. A primeira medida teve por objetivo evitar a grande quantidade de pessoas então contratadas para exercer atividades comissionadas nas várias esferas de governo — federal, estadual e municipal —, uma vez que, segundo estudos, essas pessoas tendem a ser mais propensas à corrupção, visto que configuram funcionários “não estáveis”, geralmente admitidos por amizade, apadrinhamento ou outro tipo de relação pessoal com gestores públicos. Outra medida foi o uso maciço da internet para divulgar os editais de leilões e licitações, eventos que, em geral, envolvem grande quantidade de dinheiro, logo, muito visados em atos de corrupção, como o fornecimento de informações privilegiadas. Com a divulgação púbica dos editais, o Chile reduziu as possibilidades de fraude em compras públicas. No Brasil, os escândalos têm sido recorrentes. Por quê? Segundo a presidente Dilma Rousseff (PT), devido à maior liberdade de investigação, uma vez que os órgãos de investigação no Brasil pouco voltavam seus tentáculos para o serviço público. De fato, “inegavelmente, o Brasil tem avançado nesse campo”, como bem diz o conselheiro federal da Ordem dos Advogados no Brasil (OAB) Miguel Cançado. [caption id="attachment_25028" align="alignleft" width="300"]Miguel Cançado, conselheiro federal da OAB: “O Brasil avançou no combate à corrupção” | Fernando Leite/Jornal Opção Miguel Cançado, conselheiro federal da OAB: “O Brasil avançou no combate à corrupção” | Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] Prova disso é que o último escândalo — a “petropina”, ou “petrolão” —, que tem abalado as estruturas políticas do país, já era velho conhecido de muitos empresários brasileiros. Pelo menos, foi o que disse o empresário Ricardo Semler, em artigo publicado no jornal “Folha de São Paulo”. Se­gundo ele, os esquemas de pagamento de propina na Petrobrás remetem aos anos 1970. Isto é, há mais de 40 anos, que existe a tal “petropina”. Mas Semler ainda avisa: “A coisa não para na Petrobrás. Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no armário”. Confirmando tal questão, o Jornal Opção publicou recentemente a entrevista com o procurador da República Helio Telho, em que ele avisa: “Nós ainda vamos ver o maior escândalo de corrupção. E será no BNDES”. Graças a esse alerta, os oposicionistas do Con­gresso Nacional já debatem a possibilidade de abrir uma CPI para apurar irregularidades no Banco Nacional de Desenvol­vimento Econômico e Social. Mas se a situação é grave, não estamos muito diferentes da Itália, por exemplo. Segundo o Índice de Percepção de Corrup­ção, divulgado pela organização Transparência Internacional, Brasil e Itália estão empatados na 69ª posição do ranking de corrupção, juntamente com Bulgária, Grécia, Romênia, Senegal e Sua­zilândia, na África — no ranking do ano passado, o Brasil estava na 72ª posição. Obviamente, há países muito menos corruptos, caso do próprio Chile, 21ª posição no ranking, acompanhado do Uruguai. Eles são os países menos corruptos da América Latina, seguidos da Costa Rica (47ª posição).
Combate policial não é o único meio de reduzir os índices de corrupção
O que é necessário fazer para chegar ao nível de Chile e Uruguai? Para o conselheiro federal da OAB Miguel Cança­do, “não há outra opinião: para combater de modo mais eficaz a corrupção é necessário melhorar a efetividade das punições”. O que significa? “O Poder Judiciário precisa conseguir responder a tempo e a hora as demandas que são levadas a ele”, responde. Isso passaria, então, pela modernização da legislação penal, que é de 1940 — foi cria­do pelo decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. “Falando conceitualmente, essa medida auxiliaria nessa questão. É claro, que sem tirar o direito ao contraditório e à ampla defesa, que são fundamentais e fazem parte de princípios que formam o Estado democrático de direito. Mas não tira o fato de que o Poder Judiciário precisa ser efetivo”, aponta. Além disso, para o conselheiro, a imprensa também tem um papel importante na questão, pois “tem a responsabilidade de chamar luzes para o assunto”. Porém, Cançado ressalta: “Extirpar 100% dos desvios de conduta, talvez, seja um sonho. É claro que a prevenção e a repressão a atos de corrupção serão mais aprimoradas, o que é fundamental. Agora, acho que nenhuma sociedade no mundo conseguiu achar esse ponto ideal para extirpar esse tipo de atos. Não sou pessimista, mas é preciso ser realista”. E ele tem razão. Analisado o ranking da Transparência Interna­cio­nal, é possível ver que, de 0 a 100, o país com mais recursos para combater a corrupção é a Dinamarca, cuja pontuação é 92. Alta, mas não é 100. Da mesma forma, como nenhum país é 100% corrupto. A Coreia do Norte e a Somália, países com pontuação mais baixa entre os 175 analisados, têm 8 pontos. O país latino-americano com pior desempenho é a Venezuela (161ª posição, com 19 pontos). Coalizão contra a corrupção A Transparência Internacional divulga o Índice de Percepção de Corrupção há 20 anos e, no Brasil, conta com a parceria da Coalizão Brasileira contra a Corrupção, a Amarribo, instituição com sede na cidade paulista de Ribeirão Bonito. O objetivo da instituição é justamente achar meios de combate à corrupção. Ao Jornal Opção, o presidente da organização, Leo Torresan, diz que a corrupção é um mal que atinge todo o mundo, seja em maior ou menor grau, mas afirma também que todos têm lutado contra esse problema. Porém, aponta que a prevenção deve ser o foco principal, uma vez que “‘correr atrás do prejuízo’ é muito mais complicado que preveni-lo”. [caption id="attachment_25029" align="alignleft" width="300"]Leo Torresan, da Amaribo: “Não é preciso mexer na legislação atual” | Foto: Divulgação Leo Torresan, da Amaribo: “Não é preciso mexer na legislação atual” | Foto: Divulgação[/caption] Torresan concorda com a posição de Miguel Cançado. De fato, é preciso achar meios mais eficientes de punição para quem pratica corrupção, visto que, “evidentemente, se a pena sobre a corrupção for agravada, ela se torna uma medida tangível, pois se o prejuízo sobre o indivíduo for grande, ele pensará duas vezes”. Mas há outros meios. Ele aponta que o país não precisa de mais leis, pois considera que a legislação que temos é suficiente. Segundo ele, o Brasil já avançou no que concerne à legislação, sobretudo com a aprovação, nos últimos anos, de algumas ferramentas que ajudam no combate ao problema. “A Lei de Responsabilidade das Empresas ajuda muito, assim como a Lei de Acesso à Informação. Eu não diria, por exemplo, que a situação de hoje é pior que a do ano passado, devido aos escândalos da Petrobrás. Nós apenas temos mais acesso a essas informações. Ou seja, são medidas que têm o objetivo de prevenir a corrupção. Mas o Brasil ainda vacila”, ressalta. Torresan não avalia a diferença entre a posição brasileira no Índice de Percepção de Corrup­ção de 2014 (69ª), em relação a 2013 (72ª), como uma melhora concreta, mas como estagnação. “Não estamos progredindo co­mo deveríamos. As medidas to­ma­das ainda não são sufici­entes. O que precisa ser feito é a­plicar, de fato, a legislação existente. Por exemplo: aperfeiçoa-se o Código Penal, mas a pessoa con­segue meios de abrandar a pena. Não adianta. É necessário acabar, de uma vez por todas, com essa sensação de impunidade. Esse é o grande malefício: as pes­soas sentem que sairão impunes do crime de corrupção”, diz. Assim, para chegar ao nível de Chile e Uruguai, segundo Torresan, é preciso fortalecer as instituições, “isto é, justiça mais justa, mais célere, mais rápida e um sistema penitenciário mais eficiente”, mas não deixa de pontuar que os níveis de educação, de esclarecimento e de amadurecimento da população também contribuem. l

Ano de colocar a casa em ordem e enfrentar os desafios

O novo governador, Marcelo Miranda, assumiu sabendo que terá enormes dificuldades para administrar um Estado que está inquestionavelmente quebrado

“A contribuição do PT será de corpo e alma para que o governo dê certo”

Senador que assume a vaga deixada pela ministra Kátia Abreu confia que a nova gestão estadual dará certo, porém, não se furta em dar dicas ao novo governador

Kátia Abreu, a ministra que terá a função de expandir a classe média na agricultura, é conhecida por atritos com movimentos sociais

[caption id="attachment_9060" align="alignright" width="620"]Kátia Abreu: tem tudo para ser uma boa ministra, mesmo que seja detentora de opiniões fortes que, às vezes, lhe causam atritos com setores da sociedade Kátia Abreu: tem tudo para ser uma boa ministra, mesmo que seja detentora de opiniões fortes que, às vezes, lhe causam atritos com setores da sociedade[/caption] Nos últimos anos, Katia Abreu (PMDB) saiu de um partido de oposição, o DEM, passou pelo PSD e chegou ao principal aliado do governo, o PMDB, em outubro do ano passado. A aproximação com Dilma começou quando a presidente ainda era ministra da Casa Civil e foi diagnosticada com câncer em 2009. Na ocasião, ela escreveu uma carta à presidente se solidarizando no processo de tratamento. Depois disso, a aproximação das duas se intensificou quando Kátia Abreu foi recebida algumas vezes pela presidente na condição de representante do setor agrícola, já que ela preside a Con­federação Nacional da Agri­cultura (CNA). Agora, reeleita senadora para mais um mandato de oito anos, Kátia Abreu assume o Ministério da Agricultura deixando a vaga para Donizete Nogueira, que toma assento na cadeira na condição de seu primeiro suplente nessa legislatura. O interessante é observar que Kátia Abreu tem o compromisso de resgatar os pequenos produtores e facilitar sua ascensão na pirâmide social, embora acredite que os movimentos sociais sejam responsabilidade de outro ministério. “Todos os produtores que tiverem um pedaço de chão terão o nosso apoio. Aque­les que não têm terra ainda, nós temos outro ministério encarregado deste tema que é o do Desen­volvimento Agrário. É o Incra que vai resolver as questões com os movimentos sociais”, observa. Kátia Abreu sempre sofreu ataques e resistências por parte de alguns segmentos sociais, principalmente os Sem-Terra. Chegou a ser apelidada de “rainha do motosserra” e “miss desmatamento” pelo movimento Greenpeace. Sofreu resistência até por parte do Grupo JBS, principal financiador da campanha à reeleição de Dilma Rousseff. Tal resistência se dá, em grande parte, devido às suas opiniões fortes em relação a alguns assuntos. Ela é a favor, por exemplo, de que a demarcação de terras indígenas deixe de ser uma atribuição da Fundação Nacional do Índio (Funai) e passe para a alçada para o Con­gresso Nacional. “Se for da vontade do governo e do povo brasileiro dar mais terra ao índio, que o façam. Mas não à custa dos que trabalham duro para produzir o alimento que chega à mesa de todos nós”, escreveu há dois anos em sua coluna na “Folha de São Paulo”. Em setembro deste ano, no mesmo periódico, a nova ministra já havia atacado ambientalistas. “Há um sentido pejorativo que foi atrelado à palavra desmatamento, como se ela significasse um ato voluntário e arbitrário de destruição da natureza. Embora isto possa ocorrer, sobretudo quando a propriedade não é assegurada, como acontece com os madeireiros ilegais na Amazônia, a realidade é bem outra. Se comemos, é porque a terra foi cultivada e não deixada à sua forma nativa”, disse Kátia Abreu à época. A questão: isso a impedirá de ser uma boa ministra? Não.

Carlos Amastha tem jogado pesado para ser reeleito em 2016

Recentemente, durante solenidade de entrega de 300 casas populares, do programa “Minha Casa Minha Vida”, o prefeito de Palmas, Carlos Amashta (PP), elogiou a presidente Dilma Rousseff (PT) ao criticar seus antecessores, referindo-se ao programa habitacional do governo federal em parceria com os governos estaduais e municipais. “A cidade não fazia o dever de casa nos projetos”, ironizou o prefeito, num recado implícito ao ex-prefeito Raul Filho, que deixou o PT e pretende se candidatar novamente ao Paço Municipal em 2016, embora ainda não tenha se filiado a uma nova legenda. Amastha, depois de seus impropérios políticos, resolveu investir pesado na cidade, com vista a ser reeleito em 2016. A Câmara de Vereadores já o autorizou a contrair empréstimo no valor de R$ 35 milhões para obras de qualificação de vias urbanas. Ao tecer elogios rasgados a Dilma Rousseff pela sua política habitacional, fez a seguinte observação: “O político que botou a tinta na caneta, que assinou, que bancou todas as críticas e todas as oposições contra este projeto (Minha Casa Minha Vida), está lá em Brasília, nossa presidente Dilma”.

Daniel Aarão vai apresentar versão nuançada sobre Totó Caiado na próxima edição de biografia de Prestes

[caption id="attachment_25176" align="alignright" width="200"]O biógrafo exemplar de Luís Carlos Prestes vai apresentar texto nuançado sobre o senador goiano Totó Caiado O biógrafo exemplar de Luís Carlos Prestes vai apresentar texto nuançado sobre o senador goiano Totó Caiado[/caption] O brilhante historiador austríaco Raul Hilberg, autor de “A Des­truição dos Judeus Europeus” — que deve ser publicado em português este ano, pela Amarilys — estranhou, na sua chegada aos Estados Unidos, o excesso contencioso jurídico dos americanos. No Brasil não é diferente. O Jornal Opção (a coluna Imprensa), recentemente, contribuiu para evitar mais um processo. Na biografia “Luís Carlos Prestes — Um Re­vo­lucionário Entre Dois Mundos” (Companhia das Letras, 576 páginas), o historiador Daniel Aarão Reis, doutor em história e professor da Universidade Federal Flu­minense, baseado num documento de Bertoldo Klinger, apresenta o falecido senador Totó Caiado como “ladrão” e “pilhador”. O Jornal Opção apontou o problema, a falta de nuance histórica, e Daniel Aarão, admitindo que o jornal havia sido ponderado, decidiu conversar com os advogados do senador eleito Ronaldo Caiado. No lugar de uma ação judicial, que seria danosa para uma obra magnífica, o historiador e o deputado chegaram a um acordo. A próxima edição do livro vai contemplar uma versão nuançada. Afinal, não há prova cabal de que Totó Caiado tenha sido “ladravaz”.