Reportagens

[caption id="attachment_64312" align="alignright" width="620"] Estudo com dados mostra que o ser humano mente para si, mas precisa de algum consolo[/caption]
Flávio R. L. Paranhos
Especial para o Jornal Opção
A edição de 24 de março da revista Nature, um dos periódicos científicos de mais alto impacto do mundo, traz um trabalho interessante, na medida em que apresenta evidências sólidas para algo que já era intuído, a saber, que quanto mais corrupto o governo de um país, mais corruptos tenderão a ser seus cidadãos.
Os autores Gächter e Schulz fizeram o seguinte. Conduziram um experimento em 2568 estudantes de vários países por meio do qual procuraram medir sua honestidade. Estes deveriam jogar um dado duas vezes. Receberiam dinheiro proporcionalmente ao número mostrado pelo primeiro dado, exceto o número seis, que faria com que nada ganhassem. A segunda vez em que jogavam o dado aparentemente não serviria para nada. Aparentemente, pois tem sua utilidade no experimento, como veremos. Sem serem observados, sua tarefa era, após jogar o dado duas vezes, contar o resultado da primeira vez ao pesquisador, e este lhe pagaria por sua participação de acordo com o número informado.
Note que o participante realmente não era observado por ninguém. Isso elimina um desconforto ético grande, que seria o pesquisador saber exatamente quem era desonesto. E elimina também que se mate uma curiosidade sem valor científico, justamente saber individualmente quem era desonesto. Por métodos estatísticos, pode-se inferir qual grupo de pessoas (e não cada pessoa) está sendo mais provavelmente desonesto. O próximo passo é fazer uma correlação com um índice de corrupção do país a que pertence aquele grupo, chamado de Prevalência de Violação de Regras (PRV, da sigla em inglês).
O resultado foi o esperado. Grupos de estudantes de países com PRV mais alto (como Marrocos e Tanzânia, por exemplo), mentiram mais para ganhar mais dinheiro, enquanto os de países com PRV mais baixo (Inglaterra, Suécia, para citar dois exemplos), mentiram menos e receberam menos (receberam o que se esperaria de dados jogados ao acaso).
Quanto ao Brasil, infelizmente, estudantes brasileiros não foram testados, e só podemos imaginar o que daria. Mas há um detalhe metodológico do experimento que acredito valer para o momento pelo qual passamos. Refiro-me ao segundo dado. Por que jogar duas vezes se só a primeira é que vale? Porque há um mecanismo mental de que os seres humanos nos valemos e que é o alvo desse pequeno detalhe.
Por uma fria lógica matemática, as pessoas que mentiram diriam todas que o dado deu cinco, certo? Errado. As pessoas, mesmo quando desonestas, precisam se agarrar em algo para justificar sua desonestidade. A racionalização da culpa, que é humana, demasiado humana, precisa de uma ajudinha. O que fazem, então? Não dizem o que deu o primeiro dado, mas, sim, o que deu o número maior. Você, com a distância que o fato de não ter participado do experimento lhe permite, deve estar se perguntando: mas, que diabo, que lógica é esta?! Se a regra é dizer o que deu no primeiro, tanto faz que se jogue zero, um ou um milhão de vezes depois, pois o que vale é o que deu no primeiro. A mentir, que se minta sem precisar do segundo resultado. Mas não é o que acontece. O ser humano precisa ter um bom conceito de si próprio, precisa de ganchos cognitivos (ainda que fajutos) para racionalizar, moer, remoer sua culpa até se perdoar. Para isso serve o segundo dado. O sujeito diz a si mesmo, poxa, não foi o primeiro, mas foi o segundo, foi de fato jogado, mero detalhe que não tenha sido o primeiro etc. E num passe de neurociências, o sujeito se perdoa e fica “em paz com a própria consciência”.
Algo assim está acontecendo on line no Brasil hoje. Tanto mortadelas quanto coxinhas têm sistematicamente escolhido o segundo dado, exercitando uma espécie de doutrina do duplo efeito (uma escolha/ação que tem como consequência um efeito bom e um mau). Os primeiros ignoram inacreditavelmente todas as evidências da sangria criminosa da Petrobrás. Os segundos fecham os olhos (e ouvidos e narinas) às constrangedoramente gigantes evidências contra a conduta do maestro do impeachment, o presidente da câmara, e seus aliados.
O problema é que para que seja moralmente aceitável, o efeito mau não pode ser instrumento para o efeito bom. Para que se obtenha este, aquele não pode ter sido intencional. Algo a que nem coxinhas nem mortadelas estão dando a mínima. O que nos deixa numa posição absurda, vença quem vencer, no fim todo mundo perde. Este é um jogo de dados viciados. l
Flávio R. L. Paranhos é médico (UFG), mestre em Filosofia (UFG), doutor (UFMG) e postdoc research fellow (Harvard) em Oftalmologia. Doutor em Bioética (UnB).

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