Com exceção de deputados em início de carreira, sempre ávidos por holofotes, relatorias de comissões problemáticas são evitadas pelos veteranos por causa do alto risco. O goiano encarou a tarefa

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Afonso Lopes

O que o deputado federal Jovair Arantes, líder da bancada do seu partido, o PTB, e coordenador da bancada aliada estadual em Brasília, tem a ganhar ao meter a mão numa cumbuca tão complicada, como é a Comissão Es­pecial da Câmara dos Deputados que analisa se há indícios de crime de responsabilidade praticado pela pre­sidente Dilma Rousseff? Inicial­men­te, seria muito melhor e mais confortável para ele deixar a tarefa para outro. Até pelas suas boas relações tanto entre oposicionistas como entre os governistas, resultado de um relacionamento acumulado em vários mandatos consecutivos em Brasília. Ainda assim, Jovair aceitou a indicação e topou a parada.

Não vai ser fácil, obviamente. Qualquer que seja o teor de seu relatório, dando prosseguimento à denúncia ou não, haverá reclamações. E num momento como o atual, com clima de Fla-Flu na política nacional, é evidente que ele vai ser endeusado por um grupo e criticado pelo outro. Rosas de um lado, espinhos do outro.

Experiência

Até aqui, Jovair Arantes tem se saído muito bem, sem merecer reparos nem por parte dos favoráveis ao impeachment e nem dos contrários. Sua decisão de convidar os autores do pedido — os advogados Janaína Pas­choal, Miguel Reale Júnior e Hélio Bicudo — para esclarecer seus pontos de vista, e ao mesmo tempo conceder o mesmo direito de resposta imediata aos governistas, foi inédita, e não estava prevista na atual fase dos trabalhos. Jovair conseguiu “driblar” a formalidade promovendo audiências públicas, e não em sessão formal da Comissão. Pesou, nesse caso, a experiência acumulada nos muitos anos no exercício de mandatos federais.

Mesmo assim, é óbvio que no início da noite de quarta-feira, 30, quando os autores da denúncia puderam revelar os pormenores da peça que justifica o pedido de impeachment, houve um princípio de tumulto. Jovair começou a chamar os deputados exaltados pelo nome, e até com certo grau de intimidade em relação a vários deles. Ou seja, e mais uma vez, o deputado se utilizou de sua grande convivência no ambiente do plenário para pacificar a situação. Os convidados puderam então explicar e comentar com tranquilidade a ideia que defendem.

Até aqui, Jovair tem crescido mes­mo encarando uma tarefa que mais parece uma cilada. Falta mais uma semana para que ele apresente o seu relatório, que depois será submetido ao plenário da comissão e, qualquer que seja o resultado, vai ser decidido no plenário da Câmara dos De­pu­tados. Um dos lados vai chiar barbaridade. O outro, vai comemorar.

E que virá desse relatório? Difícil antecipar. Pelo comportamento do deputado na condução da relatoria, é absolutamente impossível dizer. Ele não tem demonstrado nenhuma tendência. Até por saber que estará produzindo uma peça que entrará na história do Brasil, independentemente de seu conteúdo pró ou contra o impeachment. Ele disse logo no início que não levaria em conta a opinião das ruas, majoritariamente favorável ao impea­chment. Mesmo assim, ele se reuniu em Goiânia, no início da semana passada, com os dirigentes das entidades empresariais, todas elas mergulhadas na campanha contra Dilma.

Se ele conseguir se manter acima da linha d’água das disputas apaixonadas que envolvem todo o processo, certamente que terá enfrentando um dos mais difíceis testes de sua carreira pública e sobrevivido, o que não deixa de ser notável.