No atual cenário econômico, inovar é a palavra de ordem
09 abril 2016 às 15h05
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Por meio do programa Agentes Locais de Inovação, o Sebrae oferece gratuitamente diversas ações que revitalizam os empreendimentos
Yago Rodrigues Alvim
Nas últimas semanas, o Jornal Opção tem publicado diversas matérias sobre o atual momento econômico e os desafios de se empreender neste cenário. Ter os pés no chão ao abrir seu negócio é, sem dúvidas, o melhor caminho. Ainda assim, é preciso acreditar nos sonhos, continuar com a cabeça no alto, no que é possível. Por outro lado, muitos empreendimentos já estão no mercado. Partilham de dificuldades, sejam elas características dos mais diversos segmentos. Para continuar competitivo e com um negócio saudável, e até sustentável (visto o conceito de empreendimento sustentável, citado mais a frente), inovar é uma das diversas formas de se revitalizar.
A coordenadora estadual do Programa Agentes Locais de Inovação (ALI), da seccional goiana do Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-GO), Lúcia Amélia de Queiroz, ressalta a inovação como uma ação primordial diante o momento econômico que vivem Goiás e o Brasil. Segundo ela, o Serviço tem diversos exemplos, casos que obtiveram, dentre outros resultados, enormes reduções de custo. Já é um modo de sair na frente, de ser mais facilmente notado pela clientela. Muitas vezes, são ações simples, sem custo algum, e outras não tão dispendiosas como pensam alguns empresários.
O programa foi criado a fim de desmistificar a inovação. Ela não envolve apenas tecnologia. É bem mais simples. Os agentes procuram, então, esclarecer diversas ações que podem ser desenvolvidas no empreendimento a fim de modernizá-lo nas mais variadas áreas. Pode ser no produto comercializado, no serviço prestado ou mesmo na gestão ou comunicação visual, por exemplo.
Mas, afinal, o que são estes agentes? A coordenadora explica que o programa envolve um trabalho realizado pelo Sebrae em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desde 2008. Na época, 396 agentes locais atenderam cerca de 5 mil empresas. Com seis anos, o programa passou a contar com 1,4 mil agentes e mais de 55 mil empresas acompanhadas por ano (os números são nacionais).
Os agentes locais são bolsistas do CNPq que, após uma capacitação oferecida pelo Sebrae, têm uma prática continuada de ações de inovação nas empresas de pequeno porte. É uma orientação proativa, gratuita e personalizada. Mas especificamente, Lúcia Amélia conta que são recém-formados (de até três anos de formados) de variados cursos, que têm, além da capacitação, um acompanhamento de um consultor-sênior junto ao trabalho realizado com o empreendedor (são grupos de dez agentes para um consultor). Ou seja, existe toda uma metodologia mais o acompanhamento.
O atendimento também é simples. Ele vai à empresa, ou o empresário mesmo recorre ao programa por meio das diversas unidades do Sebrae no estado, assinando um termo de adesão. É realizado então, pelo agente, um diagnóstico empresarial, cujo modelo é o mesmo do Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas (MPE Brasil), que trabalha com oito critérios de excelência em gestão. Dentre eles, estão liderança, pessoas e sociedade.
Com base na devolutiva, resultado da análise dos dados do diagnóstico e de um formulário chamado “Radar da inovação”, preenchido pelo agente e o empresário, um plano de ação é desenvolvido. “O plano visa trabalhar as áreas de maior dificuldade da empresa e foca nas oportunidades de melhoria para ela”, diz a coordenadora. Junto ao plano, é desenvolvida uma matriz FOFA [sigla para forças/fraquezas/ameaças/oportunidades]. Junto, então, do empresário e acompanhado pelo consultor-sênior, o agente visita, regularmente, a empresa para acompanhar a implantação das ações.
Em janeiro, recém-graduados da capital foram capacitados e, desde fevereiro, estão em campo, já trabalhando no programa que tem duração de dois anos e meio. Lúcia conta que o ciclo não tem uma data certa de início. Este foi em janeiro e, com seu término, outro projeto deve ser iniciado. Neste ciclo goiano, serão atendidas 2,4 mil empresas por um total de 60 agentes; cada um atende 40 empresas, dentro do período citado.
Dentre os resultados destacados por Lúcia Amélia, estão a já citada redução de custos e o crescimento porcentual de vendas e aumento do número de funcionários da empresa. A coordenadora conta que o agente do ALI é uma pessoa de muita energia, pois acabou de se formar e, com isso, está cheia de vontade de mudança, de transformar ao redor. Além disto, é uma pessoa de fora que consegue ver coisas que, muitas vezes, o próprio empresário, que está dentro, não vê. “Com esta energia, ele ajuda o empresário a identificar possibilidades de melhoria; ele o motiva às mudanças”, diz.
Devido a atual crise e o abarrotado dos dias, de uma rotina muitas vezes exaustiva para sobreviver no mercado, muitos não veem oportunidades, acabam se acomodando, se estagnando. Alguém de fora mexe nisso, abre os olhos do empresário que pode, então, transformar positivamente seu negócio. A Vovó Nice Salgados e a Fascinatos são exemplos de empreendimentos que se expandiram. A Vovó Nice ganhou o prêmio do MPE; já a Fascinatos chegou ao final do prêmio de Inovação. Ambas criaram um produto que reaproveita uma matéria-prima antes descartada.
Lúcia Amélia conta outros exemplos. Segundo ela, um empresário, dono de um restaurante/bar que abria apenas para o jantar, ao ter o acompanhamento do agente, descobriu que na região havia uma demanda muito grande por almoço. Começou, assim, a funcionar neste horário. Seu faturamento aumentou em 70%. Uma pizzaria passou a comercializar pizzas congeladas, atendendo também a uma demanda da região. Uma fábrica de quitandas passou a produzir pão de queijo fit, atendendo a nova tendência de mercado. Ou seja, são inovações em todas as áreas, de mercado a produção.
Por fim, a coordenadora ressalta que agentes locais ALI não são consultores e que o programa é gratuito. Eles procuram os empresários, mas também estão abertos à solicitração deles, Basta procurar o serviço nas suas diversas regionais de Goiás. O telefone para contato é 0800 570 0800.
Conheça casos de empresários que apostaram na inovação
Em 1995, dona Martha Vasconcelos, com seus deliciosos pães de queijo, se viu convidada a assar uns a mais e, então, congelá-los para que seu irmão os vendesse, em dois dos cafés que abririam em shopping da capital goiana. Assim, ela fez. E, de lá para cá, sua iniciativa tem frutificado cada vez mais projetos para o filho Rafael Vasconcelos e seus irmãos que, atualmente, cuidam da fábrica que começou com a mãe.
Ela trabalhava no Tribunal de Justiça e, pela carga horária, tinha tempo de assar a quitanda. Disso, outros clientes foram surgindo. Em dois anos, já se viam em outro espaço, mais amplo. Há seis anos, a fábrica da Martha’s Alimentos funciona no município de Senador Canedo.
Já há muito tempo, conta Rafael, a empresa se relaciona com o Sebrae-GO. “Começou mesmo antes de Senador Canedo. Sempre buscamos projetos, financiamentos ou mesmo para sanar dúvidas ou resolução de alguma necessidade que tínhamos”, conta. Quando assumiu a empresa, o contato ficou ainda mais forte. Foram várias capacitações cursadas por Rafael no Serviço. E, assim, soube do programa de Agentes Locais de Inovação ALI.
“O agente fez um diagnóstico de todas as áreas da empresa. Foi um diagnóstico bem completo, desde o marketing comercial à área de produção. Eram visitas frequentes de um agente do Sebrae, e ele fazia diagnósticos e nos propunha melhorias. Eu e um funcionário nos empenhamos em implantar o que era proposto, o que estava ao nosso alcance.”
O principal resultado do plano de ação desenvolvido foi na parte de produto. Segundo Rafael, eles passaram a utilizar de uma capacidade até então ociosa para lançar mais produtos. Diversificaram, assim, o mix que, até então, era de 11 produtos e que, hoje, conta com 35 produtos diversificados. “Além das quitandas, fazemos salgados e salgadinhos assados e fritos, todos congelados.”
Em um momento como o atual, a inovação é primordial para manter seu espaço no mercado, que está cada vez mais concorrido e com empresas fazendo sempre a mesma coisa. “Seja em produto, embalagem, logística, serviço”, diz Rafael, “você se torna mais competitivo no mercado inovando”. Ele conclui comentando a importância do programa, principalmente, para os micro e pequenos empresários. “Passamos muito tempo fazendo várias coisas e os agentes nos dão tempo para parar, olhar e, assim, ter uma visão holística e perspicaz de onde podemos inovar e investir. Inovação é a palavra de ordem para quem quer se manter no mercado.”
Magazine Renascer
Em 2004/05, Bruno Rafael Rocha deu início à Magazine Renascer. Começou em uma galeria de Aparecida de Goiânia, no setor central, como uma banquinha de brinquedos e acessórios de celular. “Algo pequeno”, diz ele. O projeto inicial era abrir uma loja, devido à oportunidade que viu de trabalhar por conta. Aos poucos, se viu crescendo como empresa. Veio, então, a necessidade de se formalizar. Foi aí que começou seu contato com o Sebrae.
Atualmente, a Magazine Renascer trabalha em vários segmentos. Os brinquedos continuam e se estendem a artigos de presente. Há, ainda, utensílios domésticos, seja para o uso doméstico ou para ocasiões especiais, como chás de panela. Suprem ainda da necessidade pessoal e outras utilidades, com artigos como bonés, óculos e chinelos. Alguns até são sazonais, como os escolares. “Uma loja de diversos produtos”, simplifica.
Mas tal crescimento foi paulatino. Com a formalização nos primeiros anos, o contato com fornecedores diretos se consolidou. Houve, ainda, uma maior demanda de funcionários, que passaram a ter carteira assinada. Desde então, Bruno se relaciona com o Serviço. Foram cursos e demais contatos que beneficiaram seu negócio. A gerência do empreendimento foi um dos campos estudados por ele. “Fiz o Empretec [curso do Sebrae] e, assim, tive reforçados alguns aprendizados de negócio, como melhor negociar, por exemplo”, diz.
Com o programa ALI, ele conta que uma das áreas em que mais observou resultado foi na de serviço. Além dela, houve um auxílio na área de marketing e comunicação visual. “Estamos construindo a sede da empresa e, assim, desenvolvendo um layout para ela. Esta também foi uma das ajudas do ALI.”
A criação da página na rede social Facebook também foi uma das ações do plano realizada durante o acompanhamento com o agente.
Quanto à importância do programa, Bruno diz não saber pontualmente seu impacto, mas avalia que o programa contribui a médio e longo prazo. A comunicação visual, a gestão da empresa, sua direção e tomadas de direção estão mais afiadas, perceptíveis. “Temos uma visão maior. Eles me abriram os olhos a fim de potencializar meu negócio.”