Opção cultural

“Alpondras — Travessia de Bucareste” é o maior legado artístico do escritor, professor e dicionarista baiano

O ego sempre será seu inimigo se você não tiver a sabedoria de exercer controle sobre ele


“Atravessar-se”, trabalho da Cia Catavento, será apresentado para estudantes da modalidade EJA

Escritor gaúcho fala das reminiscências de um tradutor literário de alemão na sua trajetória profissional e amorosa, cuja prosa é repleta de ironia

A nação brasileira completa 200 anos de independência em 2022 e para comemorar, a escritora Rita Ribeiro lança a obra O Brasil por 22 Mulheres que Fizeram História. Dividido em dois volumes - de 1822 a 1922 e de 1922 a 2022 – Rita traz fatos, até então pouco explorados nos livros de História, e mescla a biografia dessas personagens que moldaram o Brasil com um panorama completo de vários períodos da nossa história.
Mães, irmãs, filhas, amantes, cuidadoras... esse foi o único papel da mulher na sociedade por muito tempo. Mas sempre fomos muito mais do que isso. Professoras, ativistas, cientistas, estudiosas, jornalistas, escritoras, empresárias, guerreiras, líderes... mulheres fortes que enfrentaram o machismo, o preconceito, o ostracismo e até a violência, e formaram os alicerces desse país.
A história tem sido contada majoritariamente por homens desde Homero na Grécia Clássica, mas isso não implica que os historiadores falem apenas dos homens. Essa visão cosmológica perdura até os nossos dias e no Brasil não é diferente. Mulheres historiadoras surgiram nos últimos cem anos, algumas seguiram a tradição e outras tomaram a iniciativa de renovar o relato e o registro histórico trazendo a visão da mulher. Como será a história contada sob uma perspectiva que tenha como protagonistas mulheres que marcaram a história do Brasil e do mundo?
Rita faz o leitor viajar nas histórias de mulheres como Anita Malfatti, Anália Franco, Chiquinha Gonzaga, Ana Jansen, Maria Quitéria, que enfrentaram uma sociedade machista, retrograda, e conseguiram feitos impensáveis para mulheres em suas épocas. E também Elis Regina, Bibi Ferreira, Janete Clair, artistas que até hoje são referência na cultura nacional. Ruth Cardoso e Zilda Arns, duas guerreiras pelas causas sociais. E Luiza Trajano, Gabriela Manssur, Maria da Penha, Eliane Potiguara, Jurema Werneck, mulheres à frente de seu tempo, que lutam pelos direitos das mulheres, do meio ambiente, e conquistam espaços empresariais antes dominados por homens. E tantas outras, que ainda seria possível um terceiro volume...
Essas são as nossas heroínas, personagens que muitas vezes são apagadas nos livros, nos contextos históricos e que merecem ser celebradas e homenageadas a todo tempo. São trajetórias marcadas pela inovação, pela originalidade, pela possibilidade de renovar os padrões estabelecidos, enfim, em ser ousada, em ser uma grande mulher.
Ficha Técnica
Título: O Brasil por 22 Mulheres que Fizeram História –1822 a 1922
Nº de páginas: 192
Preço:R$46,90
Título: O Brasil por 22 Mulheres que Fizeram História –1922 a 2022
Nº de páginas: 472
Preço: R$79,90
Sobre a autora:
Original de São Luís, cidade do Nordeste do Brasil, Rita Ribeiro vive em Campinas, no interior de São Paulo, desde 1979. Empreendedora e escritora, com espírito questionador e inquieto, um de seus principais interesses é o registro histórico de fatos e personagens que contribuíram para as transformações e evolução da história. Seu primeiro livro “Anna Jansen”, foi publicado em 1995, e atualmente tem mais outros quatro livros publicados: “Barão Geraldo, História e Evolução”, (2003); “Renata Pallottini cumprimenta e pede passagem”, (2006); “Fotografia e Cidadania”, (2002) e “Silvia Brandalise”, (2022). Atualmente finaliza um novo projeto, uma obra em dois volumes intitulada “O Brasil por 22 Mulheres que fizeram História”, de 1822 a 2022.
Mestra em Artes (ECA/USP), Bacharel em português e Literatura (UERJ), Especialista em Linguística Aplicada e Especialista em Roteiro de Cinema e TV (Escuela Internacional de Cine y TV/Havana– Cuba), Rita Ribeiro é atualmente diretora do In Touch, instituição fundada em 1980, que engloba a escola de idiomas e um espaço para palestras, treinamentos e eventos educacionais.

No lançamento "O Pseudo", o escritor Isaac M. Katz propõe uma reflexão sobre os tabus sexuais e sociais do ponto de vista judaico

Autor multifacetado, Silas Corrêa Leite (1952) volta às livrarias com novo livro de poemas, Lampejos (Belo Horizonte, Sangre Editorial, 2019), que reúne 25 peças em que o poeta coloca em prática a poesia como libertação da alma

Um dos principais nomes da literatura brasileira do último século, autor teria feito 78 anos essa semana

A coletânea celebra, com poemas em versos livres e medidos, os grandes autores musicais dos períodos barroco, clássico e romântico

A história do cantor e músico é uma tragédia grega. Podia dar um basta mas estava num furacão que ele criou mas nunca soube fazer o vento parar de soprar

Apesar de todas as dificuldades, elevou-se no ardor daqueles que não se submetem aos tiranos e aos preconceitos de raça, de cor, de credo ou de dinheiro

Júlio Vilela foi fundamental para uma maior representatividade para a população LGBTQIA+ em Goiás, promovendo o protagonismo das drag queens em espetáculos reconhecidos pelo público e pela crítica

Autor mineiro publica obra sobre um velho vendedor e um menino sem futuro que fazem história na década de 1970

por Hugo Almeida*, especial para o Jornal Opção
Nos anos 1970/80, o escritor Ricardo Ramos (1929-1992) era considerado nos meios literários o maior conhecedor do conto brasileiro contemporâneo. Como sempre houve, hoje existem vários grandes leitores de contos de autores nacionais. Entre os primeiros está Whisner Fraga (Ituiutaba-MG, 1971; vive em São Paulo), também um grande contista, a exemplo do filho de Graciliano Ramos (1892-1953). Desde que criou o canal Acontece nos Livros, no YouTube, há seis anos, Whisner já comentou cerca de 200 obras de ficção, a maioria contos de escritores brasileiros, principalmente publicados por pequenas editoras. Whisner acaba de lançar o seu 12º livro, Usufruto de demônios (Ofícios Terrestres Edições), volume de minicontros, alguns editados em vídeos no YouTube. Em 2020, ele havia lançado O que devíamos ter feito (Patuá), contos originais, poéticos e por vezes cruéis. Na nova coletânea, prevalecem o tom e o tema da dor, como da pandemia da Covid-19, mas agora ainda mais incisivos, em narrativas lapidadas, concisas. Atravessa os contos um sopro de revolta, por vezes recheada de candura.
“É um livro que insiste, que continua a insistir no dizer do colapso, persiste em manter em evidência aquilo que ainda não passou: seja a devastação biológica, sejam suas consequências econômicas, subjetivas e sociais”, escreve no posfácio o editor Gabriel Morais Medeiros. Mas não se trata de uma literatura panfletária, acrescenta, “e por isso, sempre sedutora”. De fato, são contos de palavras medidas, enxutas, cortantes, como as dez linhas de “a quina do equilíbrio”, talvez o melhor conto do volume. Um texto afiado de dor e doação extrema de pai a filho, fatias de desespero e amor.
Do mesmo nível, “nossa terra” (o sorriso, o “temor” e o “arrebatamento” de uma criança diante dos primeiros mistérios da vida). Há várias outras histórias dolorosas em que narrador, personagens e leitor enfrentam de mãos dadas medo, dor, susto, ansiedade, pânico, tudo desfrutado por demônios. Esse clima prevalece em quase todos os 70 textos do volume, a maioria com menos de uma página, muitos com poucas linhas, esmeradas linhas. Alguns das dezenas de textos maiúsculos do livro (curioso: o autor não use letras maiúsculas), sempre com títulos instigantes: “cuidado com o embrulho na calçada”, “a dor”, “surpresa”, “rodoviária”, “embuste”, “eclosão”, “profilaxia de muros”, “germinação”, “a decomposição do aço”, “todo sinal”, “a menina que ri”, “duelo”, “a guerra nas unhas do abismo”, “onde estará o pai?”, “dois profissionais não se amam”, “ela está no quarto”. Etc. etc.
De certa forma, e ressalvada a diferença entre os gêneros poesia e conto, vale para as narrativas de Usufruto de demônios o que Mário de Andrade (1893-1945) escreveu sobre o poeta Manuel Bandeira (1886-1968) no artigo “A raposa e o tostão”, de O empalhador de passarinho (Livraria Martins Editora, 2ª edição, 1955): “[...] um escritor culto, um esteta, que sabe o dinamismo de um ritmo, o segredo de adequação de uma forma ao seu conteúdo, o valor da expressão linguística exata, e o perigo de uma palavra em falso, capaz de sacrificar uma mensagem”. Whisner Fraga adota esse cuidado desde o título da coletânea.
O escritor detalha em vídeo no Acontece nos livros o sinuoso e consciente percurso da definição do título Usufruto de demônios. Didático, em linguagem simples, Whisner como que orienta novos autores e candidatos à carreira literária. Ao usar a preposição de, em vez de dos, ele parece ter preferido não destacar o sutil “segredo de adequação” citado por Mário de Andrade. O genérico “de” exclui o sentido digamos religioso de “demônios”, que nos contos não são os capetas do inferno além-túmulo ainda pregados por certas crenças, mas os transformam em símbolo, em metáfora de tudo e todos que infernizam a vida na Terra. Como esse novo volume de contos, de dor cristalizada, lapidada, Whisner Fraga segue em trajetória ascendente.
___
Usufruto de demônios, de Whisner Fraga. Campinas-SP: 88 páginas, R$ 50,00, 2022. Site: oficiosterrestres.com.br E-mail: [email protected]
___
*Hugo Almeida (1952), mineiro residente em São Paulo desde 1984, é autor de mais de dez livros de ficção, entre eles o romance Mil corações solitários, Prêmio Bienal Nestlé-1988, que teve três edições pela Scipione, o infantojuvenil Viagem à Lua de canoa (PNBE-2011), lançado pela Nankin em 2010, e os contos Certos casais (Laranja Original, 2021). Tem inédito o romance Vale das ameixas. Organizou as coletâneas de contos Nove, novena: variações (Olho d’Água, 2016) e Feliz aniversário, Clarice (Autêntica, 2020), selecionado pelo PNLD de 2021. Jornalista pela UFMG e doutor em Literatura Brasileira pela USP, Almeida organizou Osman Lins: o sopro na argila (Nankin, 2004), que reúne ensaios de dezoito osmanianos, como Modesto Carone e Sandra Nitrini.
Whisner Fraga é autor, entre outros livros, dos romances As espirais de outubro (Nankin, 2007) e O privilégio dos mortos (Patuá, 2019), dos contos Abismo poente (Ficções, 2009), Lúcifer e outros subprodutos do medo (Penalux, 2017), O que devíamos ter feito (Patuá, 2020). Participa das antologias Os cem menores contos brasileiros do século, (Ateliê Editorial, 2018), organização de Marcelino Freire, e Geração zero zero (Língua Geral, 2011), organizada por Nelson de Oliveira, que mapeou os melhores escritores brasileiros surgidos no início deste século. Whisner tem textos traduzidos para o inglês, alemão e árabe. Engenheiro mecânico com doutorado pela USP, é professor titular do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo.