Livro sobre início da vida de Elvis é melhor do que filme inteiro
24 agosto 2022 às 15h48
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Iúri Rincon
Sabe qual é a biografia definitiva do Elvis Presley (1935-1977 — viveu 42 anos)?
“Elvis — Último Trem Para Memphis” (Belas Letras, 640 páginas, tradução de Henrique Guerra), de Peter Guralnick, é o volume 1. O livro termina quando o cantor, músico e ator embarca no navio para servir ao Exército dos Estados Unidos na Alemanha.
O segundo volume, “A Desconstrução de Elvis Presley” ainda não foi lançado em português. Tenho os dois na versão original do início dos anos 2000, em uma bela caixa, que não tenho coragem de profanar.
Não é um livro bem-escrito, tem personagens demais, e é uma luta saber quem é quem. Os fatos se sucedem de maneira veloz, todo mundo correndo de um lado para o outro entre shows, filmes, mulheres e coletivas de imprensa. Baseado em jornais da época — não existe fonte melhor do que eles —, dizem que o Elvis é tão bem-descrito que sai andando das páginas. Em alguns momentos, é verdade.
Existe aí o filme “Elvis”, uma pirotecnia visual, um Elvis com LSD. Amei o filme mas o livro é, claro, melhor e mais imersivo. O cantor era um bom garoto, respeitador e sincero, mas um fraco, um menino superprotegido pela mãe e o pai (em menor grau) que nunca cresceu. Vivia em bando com familiares e amigos, dormindo de dia e saindo à noite. Sonhava em ter uma vida normal e sem os compromissos que seu empresário, o Coronel Parker, lhe infligia (sim, a palavra é infligir).
Apesar da infância humilde e pobre, faltou a Elvis o sofrimento. Nunca teve grandes problemas e quando se depara com o primeiro, a morte da mãe, todo seu mundo desmorona. O detalhado relato de seu estado emocional no velório é de arrebentar o peito do caubói mais durão.
Elvis foi um talento, o elo perdido entre a música negra norte-americana da primeira metade do século XX com o mundo branco e rico dos Estados Unidos. Essa sua maior contribuição. Não é o pai do rock, que já existia quando começou a fazer sucesso. Elvis apenas uniu as pontas. Sua história é uma tragédia grega. Podia dar um basta mas estava num furacão que ele criou mas nunca soube fazer o vento parar de soprar.
Iúri Rincon é jornalista.