Opção cultural

Luís da Cunha Meneses, era o “Fanfarrão Minésio” nas “Cartas Chilenas”: um poema que satiriza a administração de Menezes, apontando-a como corrupta; antes de governar Minas, ele governou Goiás de 1778 a 1783

Livro de ensaios do escritor Hugo Almeida estuda a obra do romancista e contista pernambucano

Aleksandr Ieriomenko acabou no centro das discussões literárias ainda na metade da década de 1980. Dono de um estilo cético, jocosamente envenenado

A personagem Jane Eyre não deixa de ser o alter ego de Charlotte Brontë, que rompeu com as regras ditadas para a condição feminina, tanto na literatura quanto na vida real

“Noctâmbulos”, a obra poética de Renan Alves Melo, foi vencedora do Prêmio Literário Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos 2023

A maternidade é solitária. Eu falei essa frase pra mim em voz alta outro dia enquanto amamentava o Matheus no quarto escuro ao som de uma música de ninar. Não importa quantas amigas mães você tenha. Não importa se a sua rede de apoio é maravilhosa e se seu marido, pai da criança esteja presente e faça o papel dele de forma exemplar. Ainda assim, a maternidade é solitária. Pode ser mais fácil, pode ser mais leve, mas lá no fundo da gente, é solitário. E eu não tô dizendo que é triste, nem que o cansaço é maior que o amor. Não. A minha maternidade é o meu maior sonho da vida e eu sou muito feliz, mas a maternidade é solitária.
Ah, Catherine, você super romantiza a maternidade. Sim. Eu amo ser mãe. Eu não gosto de lavar louça. Eu odeio tirar a roupa do varal. Mas se eu pudesse, eu brincava com criança o dia inteiro. Eu não lembrava mais como era ser mãe de um bebê. A Catherine de 25 anos é diferente da de 34. Agora são dois filhos e não mais um só. Demandas diferentes, necessidades diferentes, empregos que me exigem mais, mais contas, mais boletos. Meu marido é muito mais presente, mas a nossa casa agora tem três banheiros para lavar. Mudou tudo.
Há umas semanas, eu exausta, muito exausta, me vi tendo uma crise de ansiedade, respirando devagar, tentando me controlar e o choro entalado na garganta. A introdução alimentar é, pra mim, mais difícil que a amamentação. E agora eu tô tentando criar uma criança sem telas porque reeducar a mais velha pra ficar menos tempo no celular e na TV não tem sido fácil. Uma sensação de esgotamento, incapacidade e lentidão tomando conta de mim. No desabafo com uma amiga ela disse a frase que tá me movendo: “Amiga, pra alguns dias, só outro dia”.
Um guarda-roupas lotado de roupas que não me servem. Calças largas depois de perder 14 kg, blusas sem botão que não servem para amamentar, vestidos lindos que não permitem um peito à mostra. Falta grana pra comprar roupa nova, falta ânimo pra arrumar um cabelo ou passar uma maquiagem, falta vontade de sair de casa e sobra um imenso desejo de passar o dia num pijama. Minhas amigas estão correndo, trabalhando, indo a eventos, organizando festas e churrascos, e confraternizações e eu só quero ficar no meu quarto, amamentar uma criança com calma, deixar ele comer sem as pessoas pressionando para vê-lo abrir a boca e engolir colheradas de comida. Tem dia que são duas colheres, gente, E tá na média.
Cecília de férias. Num dia eu vou na piscina com ela e no outro eu fico implorando pra ela brincar, pra ela sair do celular, pra ela olhar o Matheus enquanto eu faço cocô, enquanto eu lavo a louça, dobro a roupa, preparo o jantar, termino um texto. Eu sou sortuda. Tem muita gente querendo ajudar, mas lá dentro é como se a mente funcionasse na velocidade normal e o seu corpo não conseguisse acompanhar. Na minha solitude, eu tento só aproveitar cada minuto porque eu sou geminiana, eu tenho uma sede imensa de viver as coisas, eu gosto de ter o controle. Ser mãe muda tudo. Absolutamente tudo.
A boa notícia é que eles não serão bebês para sempre. Vão demandar diferente, serão nossos amigos, vão dividir a conta do restaurante com a gente um dia. A má notícia é que eles crescem e com a experiência da primeira, eu sei que vou sentir falta desses olhinhos que me olham como se eu fosse o mundo inteiro, a pessoa mais importante do universo. É cansativo, é solitário, mas é incrível.

Brasil é representado com "Ainda Estou Aqui" na categoria Melhor Filme Estrangeiro

Mesmo ainda não estando sentado na cadeira do Paço Municipal, Sandro Mabel já está usando o cetro. Em suas redes sociais, postou que vai fazer um mutirão da limpeza na cidade e jogar duro contra aqueles que fazem descarte irregular de lixo

Abílio Wolney Aires Neto*
Sou juiz de uma Vara Cível em Goiânia, mas os plantões na área criminal têm sido um laboratório intenso das contusões dos encontros humanos, nas rachaduras de uma sociedade brutalmente desigual. Entre interrogatórios sobre condições de prisão e graças a Deus, raras denúncias de algum abuso de policiais nas perguntas que faço nas audiências de custódia, onde o que mais me marca são as histórias de vida dos interrogados. São narrativas de vidas fragmentadas, atravessadas por ciclos de pobreza, abandono e exclusão num país onde temos mais de 70 por cento de pobres entre os milhões de brasileiros. Recentemente, deparei-me com um jovem dependente químico que perdeu os laços familiares após longos períodos encarcerado. Outro, já mais velho e com um membro amputado, confessou ao ser interrogado estar preso ao tráfico em um bairro de Goiânia, incapaz de romper com o ciclo que o devora. Nem casa, nem família, nem qualquer suporte social que lhes permitisse sonhar com outro destino.
Essas histórias nos transportaram às páginas do grande gênio das línguas neolatinas, Victor Hugo em sua obra Os Miseráveis, onde o protagonista Jean Valjean encarna a miséria social e a luta pela sobrevivência diante de um sistema que sufoca os mais vulneráveis e os criminosos, muitas vezes partidos pelo próprio sistema. As narrativas que ouço nas audiências não são ficção; são reflexos reais, um espelho contemporâneo da obra de Hugo. A miséria dos “miseráveis” vive nas periferias, nas calçadas, nos presídios brasileiros e nas sombras de um mundo que vira o rosto para eles.
A jornada de Jean Valjean, condenado por roubar um pão para alimentar a família, é emblemática. Ele passa anos tentando superar o estigma de ex-presidiário. Em cada história que escuto nas antessalas das cadeias de Goiânia, há ecos de Valjean: pessoas marcadas pela pobreza, pela exclusão e por um sistema que se apressa em punir, mas raramente se empenha em reabilitar. O jovem que recorre ao furto para sustentar seu vício em drogas não é apenas um caso isolado; ele é o reflexo de comunidades brasileiras onde a ausência de políticas públicas efetivas, o colapso familiar e a dependência química formam um círculo vicioso. Como Valjean, ele encontrou a condenação, mas não a compaixão.
Por outro lado, o homem amputado que sobrevive no tráfico é um retrato dos que, além de suas limitações físicas, são tragados por sistemas de exclusão. Sua história revela como a falta de suporte – seja na saúde, na moradia ou na reintegração – transforma seres humanos vulneráveis em “miseráveis” contemporâneos. Ambos são exemplos de como, enquanto sociedade, falhamos em trazer-lhes a oportunidade ou a “vara de pescar”. E, enquanto isso não ocorre, resta apenas o que Madre Teresa de Calcutá tão bem disse: “Enquanto vocês não trazem a vara de pescar, eu vou dando o peixe para que eles não morram de fome.”
As periferias da nossa capital são ecos das ruas descritas por Hugo: tanto aqui quanto lá, há migrantes, refugiados e moradores excluídos pela falta de políticas públicas eficazes. A distância entre a Goiânia de hoje e a Paris do século XIX se dissolve quando observamos as mesmas falhas estruturais, a mesma rejeição aos marginalizados.
Do ponto de vista político, ideologias de direita apresentam soluções centradas em iniciativas individuais e na redução da interferência estatal na economia. Para muitos políticos alinhados a essa visão, o fortalecimento do empreendedorismo, a criação de empregos por meio da iniciativa privada e a capacitação profissional são os caminhos para combater a pobreza. Acreditam que um mercado forte e dinâmico, aliado a incentivos fiscais e à redução da burocracia, pode oferecer às pessoas oportunidades para crescerem por conta própria. Essa abordagem, no entanto, muitas vezes é criticada por não considerar suficientemente as barreiras estruturais que limitam o acesso a essas oportunidades.
Tomara que tragam um dia, pois desde a Roma antiga, os
miseráveis da Via Apia vicejam, como milhões de pobres se encontram nos Estados Unidos, o país mais próspero do mundo, que tem sob as marquises ou debaixo dos seus complexo e arrojados viadutos centenas de viandantes e funâmbulos de rua, um retrato da pobreza da desigualdade do liberalismo econômico que libera para ins e deixa outros sem a graça de Deus na terra.
Numa visão de esquerda, Karl Marx enxergaria a raiz do problema na estrutura econômica do capitalismo, que, em sua visão, é incapaz de oferecer justiça social verdadeira. Para ele, a solução estaria na transformação radical do sistema, substituindo a propriedade privada dos meios de produção por uma economia coletiva e igualitária. Apenas eliminando a exploração de uma classe sobre a outra seria possível romper o ciclo de pobreza e exclusão que condena milhões à condição de “miseráveis”.
Por outro lado, o filósofo francês Allan Kardec, ao codificar o espiritismo, sugere que a solução deve unir a transformação espiritual e material pelas vozes de alem túmulo, que se levantaram do “inferno” ou do “céu” para dizer que a vida confia. A vida não cessa e a morte é jogo escuro das ilusões, daí porque nós ensinam que é por meio da caridade, da fraternidade e da justiça que a sociedade pode superar suas desigualdades e a revolução é a violência nunca resolveram o problema das desigualdades, ao contrário, as potencializaram e geraram novas guerras ou rumores de guerra no capítulo do egoísmo.
A mudança deve começar no coração humano, mas também se estender ao coletivo, promovendo ações concretas que garantam dignidade e inclusão. Acredita, assim, que o progresso moral e o material caminham juntos: sem a reforma íntima e o amor ao próximo, qualquer tentativa de transformação externa será insuficiente.
Contudo, há um agravante que não pode ser ignorado: o descrédito que muitas igrejas têm sofrido ao priorizarem a arrecadação em nome da “teologia da prosperidade”. Muitas instituições religiosas se preocupam mais em encher os “cofres dos pastores que pregam Jesus” do que em distribuir para os “filhos de Jesus” nessa loucura fanatizante da teologia da prosperidade, onde os trabalhadores do chão de fábrica pagam o dízimo, mas a prosperidade só chega para os “apóstolos” que marram em palacetes, moram em mansões, compram aviões e se enriquecem à custa do dízimo de pessoas ingênuas e manipuladas, empresariado sem freio e em franco mercado de comoditties da fé.
Essa inversão de valores desvia a missão da caridade para a acumulação, falhando em oferecer amparo aos necessitados. Essa postura não apenas fragiliza a credibilidade dessas igrejas, mas também perpetua a exclusão social, deixando os vulneráveis ainda mais desamparados.
Em Os Miseráveis, o bispo Myriel representava a luz da compaixão e a possibilidade de recomeço. Na vida real, precisamos de políticas públicas que substituam o desprezo pela inclusão, e de um esforço conjunto – de governos, instituições e indivíduos – para transformar as páginas dessa realidade. Victor Hugo nos legou um chamado à ação, um apelo para que a justiça vá além da punição e comece na dignidade e na inclusão. Resta a nós decidirmos se seguiremos o exemplo do bispo Myriel ou a rigidez do inspetor Javert. Afinal, fora da compaixão, não há salvação – nem para os miseráveis, nem para a sociedade que os ignora.

*Abílio Wolney Aires Neto é Juiz de Direito da 9ª Vara Civel de Goiania.
Cadeira 9 da Academia Goiana de Letras, Cadeira 2 da Academia Dianopolina de Letras, Cadeira 23 do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás-IHGG, Membro da União Brasileira de Escritores-GO dentre outras.
Graduando em Jornalismo.
Acadêmico de Filosofia e de História.
15 titulos publicados

O sucesso foi enorme e logo o romance era traduzido para 18 idiomas. Em meio à guerra fria, os USA e a CIA tiveram todo o interesse em propagá-lo e em dele se aproveitarem propagandisticamente

Alla Gorbunova já foi traduzida para o inglês, alemão, francês, espanhol, sérvio, dinamarquês, sueco, finlandês, letoniano, búlgaro, esloveno

Dom Quixote continua a ser uma obra essencial, inspirando e desafiando leitores em todo o mundo. Sua mensagem, de que a luta por ideais vale a pena, mesmo que pareça inútil, ressoa profundamente em cada um de nós

É repugnante saber que vidas vêm sendo ceifadas por falta de o poder público cumprir o seu dever conforme determina a Constituição Federal no artigo 196, o qual, como tudo indica, virou meramente letra morta

*Abílio Wolney Aires Neto
No dia 30 de novembro de 2024, às 9h, a Academia Catalana de Letras foi palco do lançamento do livro “Roque Alves de Azevedo – Primeiro Poeta Catalano”, obra inédita do escritor, historiador e ícone da cultura goiana, Geraldo Coelho Vaz. O evento marca mais um momento significativo na trajetória do autor, reafirmando seu papel na preservação e valorização da história literária de Goiás.
Nesta obra, Geraldo Coelho Vaz apresenta um estudo profundo sobre a vida e a obra de Roque Alves de Azevedo, considerado o primeiro poeta de Catalão. O autor combina pesquisa histórica minuciosa com sua sensibilidade literária característica para reconstruir a importância deste pioneiro para a cultura regional.
Geraldo Coelho Vaz: Um Pilar da Cultura Goiana
Geraldo Coelho Vaz é amplamente reconhecido como uma das figuras mais relevantes da história e cultura goiana. Poeta, escritor, historiador, advogado, jornalista e gestor cultural, Geraldo nasceu no bairro de Campinas, em Goiânia, em 24 de setembro de 1940, e viveu sua infância em Catalão, onde desenvolveu um olhar atento para a riqueza cultural de sua terra natal.
Ao longo de sua carreira, ele consolidou um legado extraordinário. Foi um dos fundadores do Grupo de Escritores Novos (GEN), movimento que renovou a literatura goiana nos anos 1960, e ocupou cargos de destaque, como secretário de Estado da Cultura de Goiás e presidente da Fundação Cultural Pedro Ludovico.
Sua vasta obra literária inclui livros como Senador Canedo – Vida e Obra, vencedor do Prêmio Clio de História, e estudos como Literatura Goiana: Síntese Histórica. Geraldo também se destacou por trabalhos biográficos e de preservação histórica, como Vultos Catalanos e Vultos das Letras Goianas, que resgatam figuras importantes da história regional.
Além de escritor, Geraldo é membro de instituições culturais como a Academia Goiana de Letras, onde ocupa a cadeira 33, e o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, sendo referência como historiador e promotor da identidade cultural de Goiás.

O lançamento de “Roque Alves de Azevedo – Primeiro Poeta Catalano” reforça o papel de Geraldo Coelho Vaz como um defensor incansável da memória cultural de Goiás. A obra é um convite ao resgate das raízes literárias do estado e uma homenagem a um dos grandes nomes que ajudaram a moldar a história da literatura goiana.
*Abílio Wolney Aires Neto é Juiz de Direito da 9ª Vara Civel de Goiania.
Cadeira 9 da Academia Goiana de Letras, Cadeira 2 da Academia Dianopolina de Letras, Cadeira 23 do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás-IHGG, Membro da União Brasileira de Escritores-GO dentre outras.
Graduando em Jornalismo.
Acadêmico de Filosofia e de História.
15 titulos publicados

O lançamento da publicação será nesta segunda, 2, às 17 horas, na Assembleia Legislativa de Goiás