Opção cultural

Arquiteto e urbanista, o também poeta Eliézer Bilemjian lança “Da Capa ao Fim” e, em entrevista, comenta a relação entre as letras e demais artes

Brasigóis Felício Especial para o Jornal Opção O filósofo Gaston Bachelard escreveu sobre a poética do espaço. Na obra ele enfoca a casa como o símbolo da caverna – o lugar onde o homem busca a paz, o conforto e a segurança. Com muito menos engenho e arte, espero um dia ter talento para escrever sobre a poética das ruas. Até porque, como João do Rio, entendo que as ruas têm alma, emoções e sentimentos, como as pessoas que nelas vivem, ou que por elas transitam. Há ruas mal encaradas, outras são enxeridas, metidas a besta, por estarem, como seus habitantes, bem de vida; outras são eternamente esquecidas pelos sucessivos desgovernos, e são tristinhas, têm caras delambidas, como as mocinhas, filhas da lama e da poeira, que se enfeitam, e saem, nas tardes de domingo, sem esperança alguma de encontrar, na primeira esquina, sobre um cavalo branco, vestindo roupa de Elvis Presley, o príncipe encantado, que seria o grande amor de suas vidas. Sim, há ruas de bom caráter e de costumes sem jaça e sem vícios; outras há, despudoradas, afeitas aos costumes não recomendáveis estando o vivente no seio da sagrada família. Assim como há chinelas e pessoas tão humildes que jamais irão a salões de festas, há ruas que jamais receberão governantes, a não ser quando candidatos – pois neste período esquadrinham e infernizam a cidade inteira. Nas cidades interioranas que não se breganejaram, e não se meteram a bestas, há a rua de baixo e a rua de cima, a rua do córrego, e a rua do morro, a rua da igreja e a rua das casas de luz vermelha, onde vivem, tristemente, as mulheres ditas de vida airada e alegre. Para João do Rio “a rua nasce, como o homem, do soluço e do espasmo. Há suor humano na argamassa de seu calçamento. A rua sente nos nervos essa miséria da criação e, por isso, é mais igualitária, a mais socialista, e a mais niveladora dentre as obras humanas... há algo mais enternecedor do que o princípio de uma rua? A princípio capim, depois um braço a ligar duas artérias. Percorre-o, sem pensar, meia dúzia de criaturas. Um dia cercam à beira um lote de terreno. Surgem em seguida os alicerces de uma casa. Depois de outra e mais outra. Três ou quatro habitantes proclamam a sua salubridade e o seu sossego. Os vendedores ambulantes entram por ali como um terreno novo a conquistar. Aparece a primeira reclamação no jornal contra a lama ou o capim. É o batismo. As notas policiais contam que os gatunos deram em cima de seus quintais. É a estréia na celebridade. Oh! Sim, há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, ruas sem história, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira, ruas guerreiras, revoltosas, medrosas, spleenéticas, esnobes, ruas aristocráticas, ruas covardes, que ficam sem um pingo de sangue...”. Pensando em tudo isto o saudoso poeta Adory Otoniel da Cunha escreveu este soneto, a que intitulou “bairros do povo”. “Vila Nova, Nova Vila, Botafogo, macambira/ Cascalho, Coréia e Fama/ Vila Operária e Campinas/ Filhos pobres, renegados/ do ventre desta Goiânia/ que só não é mãe bastarda/ porque se veste de asfalto, e se enfeita/ com a grinalda cheirosa/ de seus mil flamboyants./ Vila Nova, Nova Vila, Botafogo, Macambira/ Cascalho, Coréia e Fama/ Vila Operária e Campinas./ Ouvi-me, bairros do povo/ onde há poeira seca/ e muita lama no inverno/ e grilos cantando sambas/aos casais de namorados/ à luz da luz goiana/ que outra luz vós não tendes./ Meus bairros proletários,/ daí tempo ao tempo/ que em breve/ vosso abandono será vingado/”. Brasigóis Felício é escritor e jornalista. Ocupa a cadeira 25 da Academia Goiana de Letras.

A Playlist Opção reúne as músicas mais escutadas por nossa equipe durante a semana, e já adianto que tem muito som do bom. Segue a lista. É só dar play! Belchior – Fotografia 3x4 Chris Cornell – Sunshower Gonzaguinha - Grito de Alerta Pabllo Vittar feat. Diplo – Então Vai Pearl Jam – Soldier of Love R.E.M. – Imitation Of Life Stryper – Yahweh Ventre – Carnaval

Telmo de Avelar teve falência múltipla dos órgãos na madrugada desta segunda-feira, 9 Telmo Perle Münch, o Telmo de Avelar, morreu na madrugada desta segunda-feira, 9, vítima de falência múltipla dos órgãos. O curitibano, que era ator, diretor e dublador interpretou o Pateta no Brasil, personagem de quem se tornou a voz oficial no País, nas décadas de 1970 e 1980. Ele tinha 93 anos e estava internado desde o fim da semana passada na Coordenação de Emergência Regional, no Rio de Janeiro. Telmo foi um dos pioneiros da dublagem no Brasil, sendo responsável pela tradução e direção de tradução de vários clássicos da Disney, como A Bela e a Fera, Mogli, o Menino Lobo, A Pequena Sereia, O Rei Leão e Aladdin. Em seus 50 anos de carreira, ele dirigiu a dublagem de filmes e séries como A Família Dinossauros e Planeta dos Macacos. Como ator, participou de novelas como Irmãos Coragem e Pai Herói. Veja parte de um episódio do Pateta, com a dublagem do brasileiro: https://www.youtube.com/watch?v=BCmwpL5ywvA


Yago Rodrigues Alvim
Sociólogo e filósofo, o polonês autor de "Amor Líquido" (2003), Zygmunt Bauman faleceu nesta segunda-feira, 9, em Leeds, na Inglaterra. Ele estava com 91 anos e a causa de sua morte ainda não foi divulgada.
Nas obras, ele discutiu a brevidade e vaporização das relações humanas na atual e conectada realidade, que por sua virtualidade, caminhou para tais características. Seu último livro traduzido para português, "A riqueza de poucos beneficia todos nós?", foi lançado em 2015.
"Obcym u naszych drzwi", sua última obra, foi lançada no ano passado. A morte do teórico foi anunciada pelo jornal polonês Gazeta Wyborcza.

Vencedor do Prêmio Barueri de Literatura e com participação em mais de 20 antologias literárias, Glauber Vieira Ferreira é ainda autor de “Mosaicos”, uma compilação de minicontos

Graças à interação social e habilidade de comunicação, robôs despertam a empatia dos humanos. Mas até que ponto esta relação transforma as emoções humanas?

Protagonizado por Dave Johns e Hayley Squires, a obra teve exibição especial em Goiânia pela mostra “O Amor, a Morte e as Paixões” e deve entrar em cartaz no final do mês

O primeiro final de semana do ano começa acompanhado do bom som da Playlist Opção, que reúne as canções mais escutadas pela nossa equipe. Bora dar play? Ed Sheeran – Shape Of You Madame Saatan – Devorados MC Beijinho – Me Libera Nega Megadeth – Hangar 18 Metallica – Fade to Black Sia – Move Your Body Simone & Simaria – Loka ft. Anitta The Beatles – Revolution Thin Lizzy – Cowboy Song

[caption id="attachment_83981" align="alignright" width="400"] Foto: Reprodução[/caption]
Em sessão de degustação da mostra que acontece em fevereiro, o filme de Ken Loch narra as dificuldades humana frente a burocracia automatizada
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Impedido de exercer seu ofício de carpinteiro, Daniel Blake se vê frente à burocracia que milhões de pessoas enfrentam seja pela automação telefônica ou para conseguir qualquer benefício, como é o caso do personagem interpretado por Dave Johns, que precisa da ajuda do governo para sobreviver. É esta a história do vencedor da Palma de Outro da 69ª edição do Festival de Cannes, o filme "Eu, Daniel Blake", do aclamado diretor Ken Loach.
O emaranhado do enredo se dá quando Daniel conhece uma mãe solteira que mudou com seus dois filhos para a cidade e que, sem condições financeiras, se vê ajudada pelo ex-carpinteiro. A história que enovela os temas da mostra "O Amor, A Morte e As Paixões", realizada anualmente no período carnavalesco na cidade goiana, tem exibição de degustação da edição 2017 da mostra, que acontece de 15 de fevereiro à 1º de março, no Cinema Lumière, onde o filme será rodado às 21h da quarta-feira, 4 de janeiro.
Aberta ao público, a sessão custa o mesmo valor da mostra, o preço único de R$ 12. O Lumière fica no Shopping Bougainville. Abaixo, você confere o trailer do filme.

O Jornal Opção convidou os professores André Leonardo Chevitarese, da UFRJ, e Ademir Luiz, da UEG, para listar os livros que achassem mais importantes sobre o Jesus Histórico. A lista é para aqueles leitores que se interessarem mais pelo assunto e quiserem aprofundar a leitura a respeito.
Chevitarese, que em parceria com o professor da Unicamp Pedro Paulo A. Funari, tem um livro muito bom sobre o tema — trata-se de “Jesus Histórico. Uma brevíssima introdução”, publicado pela Editora Kline —, entende que esses são alguns dos títulos mais relevantes para quem quer saber sobre o Jesus Histórico:
[caption id="attachment_83104" align="alignright" width="250"] Fotos: Reprodução[/caption]
“Jesus and Archaeology”, de James H. Charlesworth
Este livro traz 30 trabalhos de especialistas diretamente envolvidos com os estudos arqueológicos e seus impactos para pensar Jesus de Nazaré.
“O Jesus Histórico. A Vida de um Camponês Judeu do Mediterrâneo”, de John Dominic Crossan
Publicado originalmente em 1991, este livro além de oferecer importantes chaves de leituras no campo teórico-metodológico, não deixa o leitor esquecer que qualquer pesquisa neste campo do saber exigirá sempre um olhar transdisciplinar acerca de quem é Jesus de Nazaré.
“The Misunderstood Jew. The Church and the Scandal of the Jewish Jesus”, Amy-Jill Levine
Esta obra nos lembra que Jesus nasceu, viveu e morreu como um judeu, não tendo sido jamais um cristão. Aborda também uma questão decisiva que diz respeito ao antijudaísmo da documentação antiga literária, especialmente o denominado Novo Testamento.
“Jesus the Magician. Charlatan or Son of God”, Morton Smith
Um livro indispensável para todos os interessados no tema, especialmente pela lembrança incômoda que ele apresenta acerca das discussões sobre quem é Jesus, como ele foi visto e lido, não pelos seus atuais seguidores, mas por aqueles dos séculos I e II.
“The Life of Jesus Critically Examined”, David Friedrich Strauss
Publicada originalmente em 1835, esta obra continua ainda sendo leitura obrigatória para todos os interessados em realizar pesquisas no campo do Jesus Histórico, especialmente pelo seu aspecto crítico e analítico da documentação.
Ademir Luiz, que também é escritor, está escrevendo um romance que se passa no século I e, para isso, tem lido muitos livros a respeito de Jesus. A seleção que apresenta como leituras indispensáveis sobre o tema, além de compreender “O Jesus Histórico”, de John Dominic Crossan, também citado por Chevitarese, contém:
“O que Jesus disse, o que Jesus não disse”, de Bart D. Ehrman
“Jesus, um judeu marginal”, de John P. Meier
“Jesus, uma biografia revolucionária”, de John Dominic Crossan
“A morte do messias”, de Raymond E. Brown
“Nascimento do messias”, de Raymond E. Brown
“A vida de Jesus”, de Ernest Renan
“Testemunha ocular de Jesus”, de Carsten Peter Thiede
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Mexicano-brasileira, a banda que nasceu em Campinas tem rodado países com ritmos e palavras de esperança

Escritor de amor e solidão, o autor gaúcho se mantém cada vez mais vivo com seu legado literário dado às gerações

Em “A casa antiga”, Gregory Haertel acompanha a jornada de um homem para enterrar a esposa numa cidade inundada

São diversos os títulos que não necessariamente foram lançados no ano, mas sim que marcaram os leitores do Opção Cultural e do grupo Literatura Goyaz em 2016
Adalberto de Queiroz
Especial para o Jornal Opção
A proposta era simples: que nossos leitores escolhessem entre os livros lidos em 2016, qual foi “O livro” – aquele que mais o tocou e que, a partir de sua experiência, pudesse interessar a outros leitores. A surpresa inicial foi que, nem sempre, mesmo os que têm a escrita por ofício, estão dispostos a compor 10 linhas sobre o tema; segunda (e positiva surpresa), nem sempre são os lançamentos do ano que marcam a vida dos leitores – e este não era um pré-requisito).
[caption id="attachment_83127" align="alignright" width="250"] Fotos: Divulgação[/caption]
“Milênio e outros poemas” – de Ruy Espinheira Filho, (Editora Patuá, 2016)
Por Wagner Schadeck
Com “Milênio e outros poemas”, Ruy Espinheira Filho consolida-se como um dos maiores e mais profícuos poetas contemporâneos. Biográfica e histórica, a poesia de Ruy é, sobretudo, amorosa. Por meio dela, o memorialista resgata amizades e amores. Neste livro, o poeta nos oferta um catálogo de afetos: a memória amorosa, a beleza feminina, o sonho, a figura paterna e, entre outros, a infância mítica. Voz pessoalíssima, o poeta celebra a amizade dos seus: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, John Keats, Lord Byron e mais, numa espécie de suma memorialística. Na celebração da Beleza, a poesia é o vinho que irmana os homens.
Wagner Schadeck nasceu e vive em Curitiba. É tradutor, ensaísta, editor e poeta. Colabora com a Revista Brasileira (ABL), com a Revista Poesia Sempre (BN) e com os periódicos Cândido e Rascunho
“Naqueles Morros, depois da chuva” – de Edival Lourenço (Editora Hedra, 2011)
Por Zanilda Freitas
As narrativas históricas, camufladas pelos mistérios que rondam uma comitiva de um fidalgo português, governador da Província de São Paulo e Minas dos Goyazes à procura de ouro, são de uma beleza rara, de um vocabulário excepcional, que nos remete a refletir em como o autor conseguiu colocar tanto conhecimento sobre fatos históricos, costumes indígenas e o comportamento humano de quatro séculos atrás. Momentos de suspense, cômicos e emocionantes, narrados com uma linguagem que identifica e emparelha o autor com os grandes escritores.
Zanilda Freitas é escritora e autora do livro de poemas “Espirais do Tempo”; ela participou de “Literatura Goyaz: Antologia 2015”
“Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo” – de Elisabeth Roudinesco (Editora Zahar, 2016)
Por Hélio Moreira
Já há algum tempo tento concluir um ensaio que venho escrevendo sobre Freud; na realidade tento fazer uma interface entre o cidadão Freud e o Império Habsburgo (Austro-Húngaro) durante sua vida de criança, adolescência e, principalmente, na maturidade, fechando com a sua descoberta da Psicanálise.
Durante esse tempo, acumulei uma vasta bibliografia a respeito e, ao saber que a historiadora e psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco havia escrito um livro publicado em língua portuguesa pela Zahar Editora, trazendo “novidades” sobre a vida de Freud, admito que fiquei um pouco cético, pois acredito que a vida de poucas personalidades do mundo foi mais estudada do que a de Freud.
Porém, a partir de novos arquivos abertos pela biblioteca do Congresso Norteamericano e, principalmente a sua erudição na história da psicanálise, Roudinesco conseguiu, realmente, trazer à tona “novidades” sobre a vida de Freud.
Hélio Moreira é médico e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, cadeira nº 24, autor entre outros títulos do premiado “Couto de Magalhães – O Último Desbravador do Império”
“Brasil, País do Futuro”, de Stefan Zweig (Editora Delta, 1941)
Por César Miranda
O momento atual é muito bom para ler este livro; no entanto, qualquer momento o seria por várias razões: a visão do Brasil sob a ótica do ótimo escritor estrangeiro que com seu estilo direto acaba nos dando uma ótima história concisa do Brasil até aquele momento (início dos anos 1940) e uma visão geral dos eventos fundamentais de nossa história. Ouso dizer que a obra deveria ser a primeira a ser lida sobre a história do Brasil; depois, o leitor pode ir atrás dos assuntos específicos para se aprofundar.
Após contar a história, Zweig faz um depoimento maravilhado e esperançoso de nosso belo país, acreditando que ele, que jamais teve quem o amasse, milagrosamente seria amado pelas gerações futuras. Leia essa obra maravilhosa e faça com que as crianças e os jovens também a leiam. Quem sabe, como eu, um leitor descobrirá que ama esse país. E quando se ama, vem junto à íntima obrigação de fazer algo a respeito.
César Miranda é formado em Direito, músico com especialização em MPB, Millôr e Monterroso, escreve em seu blog Pró Tensão, graças ao qual participou do livro Wunderblogs.com (Barracuda, 2004), com uma seleção dos textos dos blogs do portal de mesmo nome. Economiário em Brasília, é ainda coautor de “Literatura Goyaz: Antologia 2015”.
“Andam Faunos pelos Bosques” – de Aquilino Ribeiro (Editora Bertrand, 2011)
Por Fabrício Tavares
Poderosa biografia do homem ocidental continuamente afligido pelas tradições espirituais que perpassam sua história e constituem a base mesma de sua substância interna, a obra aborda o paganismo, o cristianismo e o humanismo, que se embatem num conflito universal engastado nas singularidades duma aldeola portuguesa, onde o suposto advento de uma criatura mítica que viola as moças da região, gerando filhos robustos, põe em marcha uma esperança escatológica por parte daqueles que, mais próximos à natureza, anseiam pela renovação da terra; um ceticismo sombrio para os profetas da autonomia do homem; e uma crise apocalíptica em meio aos padres, que veem na criatura um flagelo do mal. A leitura do romance desvela tanto o cerne de nossa civilização quanto o substrato de nossa individualidade.
Fabrício Tavares é doutorando em Literatura (UFJF/Queen Mary University of London) e colaborador da revista digital Amálgama.
“Uma história desagradável” – de Fiódor Dostoiévski (Editora 34, 2016)
Por Mário Zeidler Filho
A obra narra uma noite da vida do Conselheiro Ivan Ilitch Pralínski, aristocrata e alto funcionário da burocracia czarista. Às vésperas da reforma administrativa que, entre outras coisas, aboliria a servidão na Rússia, e encorajado pelo espírito do que os russos chamavam então de “populismo” e – claro – por algumas taças de vinho, Pralínski decide comparecer, sem ser convidado, à festa de casamento de Pseldonímov, um de seus subalternos. Num vertiginoso crescente, a situação degringola até que o Conselheiro desperta no leito nupcial, causando enormes prejuízos e arriscando a própria consumação do casamento. Publicado pela primeira vez no Brasil em tradução direta, a edição conta ainda com o posfácio de Aleksei Riémizov, indicando “Uma história desagradável”, para além das implicações políticas imediatas, como a chave de entrada aos grandes romances de Dostoiévski.
Mário Zeidler Filho é editor da Livraria e Editora Caminhos
“Os Invernos da Ilha” – de Rodrigo Duarte Garcia (Editora Record, 2016)
Por Adalberto de Queiroz (este que vos lista, caros leitores)
Um romance de aventura num país que parece padecer do mal da “narratofobia”. Neste romance de estreia, Rodrigo não só prova que é possível escrever bem, como tampouco se esquiva de colocar a imaginação moral a guiar os passos dos personagens de sua história. Dialogando com grandes modelos de narrativas, o autor não se torna refém de uma escrita insípida ou dogmática que dominou os narradores brasileiros por muito tempo, tornando-se exemplo de liberdade de males que sufocam a literatura feita no Brasil — o solipsismo, o niilismo e o formalismo. Um romance montado em “camadas narrativas”, “Os Invernos” mostram que estamos diante de um grande escritor estreante: um romancista ciente de que “a arte não redime ninguém, mas talvez possa tornar algumas dores mais suportáveis”. Recomendo a todos que estejam cansados de uma literatura sensaborona ou presa da ideologia que tomou conta do atoleiro moral em que nos metemos.
Adalberto de Queiroz é poeta e jornalista, colaborador do Opção Cultural