Opção cultural

Figuram na lista Rachel Cusk, Ricardo Piglia, Thomas Bernhard, Emmanuel Carrère, David Toscana, Mohsin Hamid, Vladímir Sorókin, entre outros

Na agenda livros de Irene Vallejo, Anne Sexton, Betina Anton, Craig Nelson, João Moreira Salles, Marjorie Garber, entre outros

Há prédios que usam dois recipientes (um para cada tipo de material: reciclável e não-reciclável), no entanto isso pode ser contado a dedo na cidade

O romance do jornalista e escritor britânico é eletrizante do início ao fim, reunindo tragédia familiar e a forte ligação existente entre gêmeos idênticos

“O Incrível Bicho-Homem” contém um texto poético e original. O livro é um “tratado” filosófico, se assim podemos dizer, muito bem escrito, com nuances de pura poesia

Na lista figuram Delermando Vieira, Charlotte Brontë, Jeferson Tenório, Luis Augusto Cassas, Alba de Cespedes, Marcelo Martinez, Maurício Lyrio, Gay Talese e outros

Produção cinematográfica procura contar um pouco da história da música mineira, em um sincretismo que vai desde o carioca mineral, Milton Nascimento, à banda metaleira mireira, Sepultura

A demissão de Carlo Chatrian gerou escândalo. O Festival de Berlim, sujeito a cortes financeiros, poderá enfrentar boicotes e perder parte de sua importância, a partir de 2025

Nenhuma ação aconteceu pra obrigar a empresa concessionária de transmissão e distribuição de energia elétrica “a tornar subterrâneo todo cabeamento de linha de transmissão energia elétrica”

O que o leitor encontra em “Meu Dostoiévski” é um autor-indivíduo que, a partir de muitos fatos verídicos, saiu da imaginação do neurologista e escritor

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Lêda Selma — Escritora, membro da AGL

Em 2023, a escrita foi minha prioridade. Confesso, li muito menos do que programei, inclusive, alguns livros da lista, indicados por mim, na Agenda de Leitura/23, organizada pelo competente escritor e ativista literário Ademir Luiz, ficaram a ver navios, ou melhor, vazios, pois não os revisitei, como o planejado. Dediquei-me à produção de futuros livros (um de poemas, outro de haicais e microcontos e ainda o de crontos, neologismo que criei para identificar meus contos com feições de crônicas e vice-versa). Claro, não abandonei a leitura, até porque não durmo antes de ler e de dar pouso a alguma ideia para transformá-la em poema ou prosa.
Livros que, embora em minha programação, não revisitei em 2023, mas referendo minha indicação, pois pretendo relê-los em 2024:
— Poesia Sempre — Suécia, Revista (com porte de livro), nº 25/2006, Fundação Biblioteca Nacional. Tomo organizado por Márcia Sá Cavalcante Schuback, Antologia – Poesia Moderna da Suécia, com os pensamentos de Edith Södergan, poemas de Gunnar Björlin, Karin Boye, Harry Martinson, Gunnar Ekeöfos, Katarina Fronstenson, Ann Jäderlund, Birgitta Trotzig... e haikais de Tomas Tranströmer, Nobel de Literatura/2011. Também, especial interesse ao tomo De Pessoa a Gullar, a poesia de língua portuguesa na Suécia, meu passeio será na companhia dos poetas Alberto Caeiro, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Adélia Prado, Ferreira Gullar, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto, Cassiano Ricardo.

— Cultura Geral: Tudo que se deve saber, de Dietrich Schwanitz — abordagem de episódios importantes da Bíblia, revoluções, evoluções das artes, incluída a literária, desenvolvimento da ciência e da filosofia, confronto de ideologias, principais livros que mudaram o mundo... e por aí vai. Editora WMF Martins fontes/SP/2009.
— Pedro Páramo, o primeiro livro (romance) do mexicano Juan Rulfo (1955). Enredo desafiador, instigante, narrativas simples, prosa contida. No leito de morte, a mãe agonizante ouve uma promessa do filho. Editora Record/SP/2004.
Livros de minha agenda para leitura em 2024
— É a Ales, romance do norueguês Jon Fosse, recém-lançado pela Companhia das Letras (o autor ganhou o Nobel 2023). O livro enfoca, com profundidade, temas de cunho genuinamente humanos, os intricados e complexidade das relações. A obra é destacada como hipnotizante.
— Engenheiro fantasma, 56 sonetos instigantes, apaixonados, melancólicos, divertidos, filosóficos do paulista Fabrício Corsaletti, Editora Companhia das Letras/2022, Prêmio Jabuti de poesia/2023.
— A véspera do espanto, poemas, de Gilberto Mendonça Teles, Editora Batel/SP/2023.
— Mundo Guarani – Fragmentos de uma alma da fronteira, romance da sul-mato-grossense Raquel Naveira, resgate da marcante herança indígena, da região onde nasceu e vive a autora. Editora Almedina Brasil/SP/2023.
— Salvar o Fogo, romance do baiano, de Salvador, Itamar Vieira Jr., em que explora a força e determinação das mulheres e o poder dos vínculos familiares. Editora Todavia/SP, 2023.
— O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, “romance literário”, Prêmio Jabuti/2021, Editora Companhia das Letras/2020 de complexas relações raciais.
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Elena Vassina — Professora da USP e tradutora

Sou uma pessoa abençoada porque minha profissão — estudos da literatura e teatro russo — é, ao mesmo tempo, o meu hobby. Por isso, como sempre, vou matar dois coelhos com uma cajadada só lendo os livros que amo de paixão e pensando nos cursos que poderiam ser instigadores para meus alunos.
Primeiro, vou reler “Anna Kariênina”, de Lev Tolstói. Você lê Tolstói porque simplesmente não pode parar, gostava de afirmar Vladímir Nabókov, apaixonado pela obra de seu grande precursor. Pelo prisma das histórias familiares descritas neste romance, Lev Tolstói faz-nos refletir sobre amor e família, paixão e sentido de vida. No centro da ideologia tolstoiana está a “dialética da alma” do ser humano — a ideia da fluidez do caráter humano destaca-se como uma das principais tanto no método artístico de Tolstói, quanto nas suas reflexões filosóficas.

Sempre passo as férias com vários volumes da obra de Tchékhov, um dos meus escritores prediletos que me faz apreciar tanto a “insustentável leveza do ser” (não há como não fazer referência ao título do maravilhoso livro de Milan Kundera, um dos mais brilhantes sucessores de Tchékhov).
Entre o estrelado áureo dos escritores russos do século XIX, Anton Tchékhov ficou consagrado como o mais ousado transgressor da tradição literária clássica e um importante precursor das formas e da linguagem artística contemporânea. O escritor de múltiplas faces, Tchékhov, antes de tudo, é um reconhecido mestre de narrativas curtas: em cada de seus contos ou novelas ele conseguiu recriar o microcosmo literário que abrange o infinito e a imensidão de ser humano e do mundo. A leitura de algumas de suas obras-primas, como as novelas “Uma História Enfadonha” (1889), “O Duelo” (1891) e “A Dama do Cachorrinho” (1899), vai proporcionar aqueles deliciosos momentos de degustação do estilo literário primordial, em meus momentos divinos de reclusão e silêncio.

E certamente vou voltar à releitura atenta de “Os Irmãos Karamázov”, de Dostoiévski, um romance-síntese que é o último livro do escritor que combina a fluência e o fascínio das histórias policiais com a densidade do pensamento filosófico, psicológico e religioso e que em cada releitura surpreende pelo descobrimento de novas e imprevisíveis questões existenciais que dizem respeito à minha vida aqui e agora.
O resto das minhas leituras será uma roleta russa, com autores e livros novos que sempre aparecem na minha mesinha de cabeceira pelas indicações dos amigos e familiares, referências das minhas leituras ou simplesmente pela curiosidade.
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Tainá Corrêa — Publicitária e editora da “Revista Bula”

O convite para elaborar uma lista de livros que pretendo ler no ano que vem me fez pensar nos meus hábitos (ou maluquices) de leitora.
Há anos insisto que amigos e conhecidos respondam à minha pergunta: qual é seu livro favorito? E faço questão de ler o livro-resposta — assim conheci obras incríveis. Já eu não consigo de jeito nenhum escolher um livro favorito para chamar de meu.
Leio mais de um livro ao mesmo tempo, de estilos diferentes. Não abandono leituras, com exceção de “A Escolha de Sofia”, nem lembro mais o motivo. Compro livros desconhecidos só porque gostei da capa. Não leio mais que um livro de um autor ou autora por ano. Nunca reli um livro e nunca fiz uma lista de leituras para o ano seguinte.
Apresentada como leitora (ou exposta?), conto agora sobre 2023 para chegar no que vislumbro para o ano que vem.
No final de 2022, uma amiga afirmou que só tinha lido mulheres naquele ano. Primeiro achei uma bobagem se limitar assim. Depois ponderei: e se? Enquanto refletia, puxei “A Casa de Doces”, de Jennifer Egan, uma quase continuação de seu interessante “A Visita Cruel do Tempo”. Logo chegou até mim “A Boa Sorte”, da espanhola Rosa Montero, de quem já gostava desde “A Ridícula Ideia de Nunca Mais te Ver”. Na sequência, Martha Batalha lançou seu terceiro romance, “Chuva de papel”. Claro que tinha que ler. Soube então de um livro da neta de Natália Ginzburg, Lisa Ginzburg, “Cara Paz”. “Caderno Proibido”, da também italiana Alba de Céspede, me pareceu uma leitura inadiável. E assim vi que já tinha topado o desafio: só leria mulheres em 2023.

Confesso que em alguns momentos quis escapulir da minha brincadeira. Mas firme fiquei e assim descobri várias autoras, de épocas e países diversos, que escreveram vidas e mundos incríveis.
Não li tudo o que queria em 2023, claro. Então apresento aqui alguns livros que me esperam no ano que vem:
Noites Azuis, de Joan Didion — “O Ano do Pensamento Mágico”, de Joan Didion, que narra o adoecimento de sua filha e a morte inesperada de seu marido, me deixou profundamente tocada. Agora estou me preparando para encarar “Noites Azuis”, uma espécie de continuação de “O Ano do Pensamento Mágico”, que explora a maternidade, o envelhecimento e o luto ao narrar o momento da morte da filha de Didion.
A Vergonha, de Annie Ernaux — Enfim li “O Lugar”. Me interessei pela forma crua e direta com que Ernaux expõe a vida e morte do próprio pai, relatando memórias de sua infância, esmiuçando relações familiares e de classe. Agora “A Vergonha” me chama a atenção. O livro é dedicado ao episódio de violência doméstica do pai contra a mãe, quando Ernaux tinha 12 anos.
O Perigo de Estar Lúcida, de Rosa Montero — Em 2023 quebrei uma de minhas regras (ou bobagens) de leitora e li dois livros de Rosa Montero. Ainda bem. Comecei com o romance “A Boa Sorte” e, no final do ano, me deleitei com as pequenas biografias reunidas no volume “Nós, Mulheres”.

Departamento de Especulação, de Jenny Offill — Jenny Offill narra a evolução de uma mulher que inicialmente rejeita o casamento, mas acaba se casando e se tornando mãe. “Departamento de Especulação” promete explorar as complexidades da vida doméstica e a perda da identidade individual em uma narrativa fragmentada e introspectiva.
Segunda Casa, de Rachel Cusk — No romance, a escritora M, uma mulher de meia-idade com uma existência pacata, vê sua vida transformada pela chegada de L, um artista plástico, e sua parceira Brett, em uma residência artística. Consumida por uma obsessão por L, M relata retrospectivamente os acontecimentos no pântano, misturando o período de estadia com reflexões e memórias do passado.
Escrever é Muito Perigoso, de Olga Tokarczuk — Olga Tokarczuk revela seu processo criativo e visão de mundo por meio de uma coletânea de 12 ensaios e conferências, incluindo seu discurso do Prêmio Nobel. Os textos oferecem uma análise da construção de suas narrativas, personagens e temas. Entre seus notáveis romances, destaco a leitura de “Sobre os Ossos dos Mortos”.
Morte em suas Mãos, de Ottessa Moshfegh — Ottessa Moshfegh, autora de “Meu Ano de Descanso e Relaxamento”, que li em 2021, narra, em “Morte em suas Mãos”, a intrigante história de Vesta Gul. Após perder o marido, Vesta descobre um enigmático bilhete sobre um assassinato, o que a leva a uma investigação que entrelaça realidade e ficção. Durante essa jornada, ela mergulha na exploração de sua própria identidade e enfrenta os fantasmas de seu passado.
A Segunda Mãe, de Karin Houeck — O romance analisa opressões sutis em uma sociedade que pensa ter superado formas tradicionais de dominação. A história foca em tensões matrimoniais, entrelaçadas com questões de gênero, sociedade, amor e violência. Ele revela a complexidade das relações humanas em um contexto de aparente igualdade, expondo as desigualdades e conflitos subjacentes.
O Livro Branco, de Han Kang — No romance de Han Kang, a narradora contempla a morte de sua irmã recém-nascida em uma cidade europeia envolta em neve. O branco, um símbolo de luto, permeia a história, ilustrando as facetas complexas da perda e do processo de cura. O livro entrelaça memórias pessoais com elementos ficcionais.
A Extinção das Abelhas, de Natalia Borges Polesso — Natalia Borges Polesso conta a história de Regina, criada pelo pai e vizinhas após ser abandonada pela mãe. Sua trajetória a leva ao mundo das camgirls, onde enfrenta desafios internos e externos. A trama oscila entre elementos distópicos e realistas.
A Mulher do Padre, de Carol Rodrigues — Carol Rodrigues entrelaça memórias reais e ficcionais em seu romance sobre Lina, uma jovem que amadurece na década de 1990. A narrativa é uma jornada de descobertas e reflexões da juventude, imersa em nostalgia e referências culturais da época, ecoando as experiências universais da transição para a maturidade.
As Miniaturas, de Andrea Del Fuego — Andrea Del Fuego é uma das minhas escritoras brasileiras preferidas. Comecei lendo o engraçado “A Pediatra”. Depois percebi a potência desta autora no anterior, e premiado, “Os Malaquias”. Agora falta-me descobrir “As Miniaturas” e seguir torcendo pelo próximo.
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Maria Helena Chein — Escritora membro da AGL

1 — Engenheiro Fantasma, de Fabrício Corsaletti — O Livro do Ano, Prêmio Jabuti 2023. Editora Companhia das Letras. São 56 poemas inventivos, nos quais o autor narra uma temporada voluntária de Bob Dylan, em Buenos Aires.
2 — Esta Vida, poemas escolhidos, de Raymond Carver. Editora 34. O livro reúne 50 poemas, um registro sempre próximo à vida cotidiana, de grande pungência e lirismo.
3 — É a Ales, de Jon Fosse, Prêmio Nobel de Literatura, 2023, Companhia das Letras. Jon Fosse é norueguês, considerado um dos maiores escritores da Europa. Trata-se de um romance hipnótico e inesquecível, sobre um homem que sai com um barco para nunca mais voltar.

Na lista de autores goianos, começarei com quatro livros.
4 — O Silêncio dos Calabouços, contos de mistério, de Leonardo Teixeira, Editora Prime, 2019.
5 — Poeira Vermelha, também de Leonardo Teixeira, 2009, R e F Editora. Venceu 17 concursos literários, antes de ser publicado.
6 — Entre Linhas — Perfis literários, de Adalberto de Queiroz, Editora do autor, 2023. Traz um estudo sobre Sônia Maria Santos, Yêda Schmaltz, José Mendonça Teles e Francisco Ayres da Silva.
7 — Entre Esplendores e Misérias, também de Adalberto de Queiroz, crônicas, Editora Contato Comunicação, 2023.
Sempre surgem obras que nos chamam para leitura, e elas entram na lista. Ler é necessário.
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Luiz de Aquino, jornalista e escritor, membro da AGL
Achei interessante a pergunta sobre o meu projeto de leitura(s) para 2024. E esclareço o fato de me surpreender: aprendi a ler no remoto ano de 1950, "aos 4 anos e sete meses" (informou-me a saudosa professora Vanda Rodrigues da Cunha, em Caldas Novas). Meses depois, comecei a ler gibis (meu primo Rogério, então pré-adolescente, tinha-os às pilhas em seu quarto e permitiu-me o manuseio de cada peça, desde que os mantivesse nas respectivas pilhas. Um dia, encontrei um gibi diferente — a longa história em quadrinhos, habilmente desenhados, era o resumo de um romance de José de Alencar: “O Tronco do Ipê”. Não me recordo nadinha da história, mas foi aquele o primeiro “livro” que li; os demais, desprovidos dos agradáveis desenhos (dos gibis) vieram depois, lá pelos meus sete ou oito anos, e eram sempre livros com tramas ao gosto das crianças - e aos critérios das pessoas adultas.

Este preâmbulo é para melhor explicar que nunca programei "um ano de leitura", nestes últimos 70 anos em que os livros se tornaram a mais duradoura das minhas paixões. Os tais projetos de leitura em que uma gama de vinte volumes para um só mês ou ainda a lista de 150 ou 200 títulos a se ler ao longo de um ano não preenchem a minha capacidade de crer no próximo - salvo se quem assim planeja esteja habitando um presídio, posto que a rotina de nossas vidas em sociedade absorvem-nos por demais e interferem, todos o sabemos, até mesmo na rotina de nossas escritas - ou desistimos de nossa atividade de autores.
Neste 2023, as leituras foram poucas, visto que estive envolvido, de janeiro a setembro, na elaboração da biografia do Dr. Júlio Resplande de Araújo, em parceria com a escritora Chris Resplande.
Pretendo, no decurso de 2024, concluir a leitura (muito lenta que venho fazendo) de “História da Riqueza no Brasil: Cinco séculos de pessoas, costumes e governos”, de Jorge Caldeira — tenho isso de alongar as leituras de livros mais volumosos — e, enquanto isso, costumo ler obras de leitura rápida (em especial os livros de poemas e de contos). Em junho passado, concluí os três volumes de “Escravidão”, de Laurentino Gomes (e, com isso, arrematei toda a obra dele de que tive conhecimento: 1808, 1822 e 1889). De Jorge Caldeira, pretendo ler, da coleção Formadores do Brasil, o volume que enfoca o padre Diogo Antônio Feijó.
Após concluir o Caldeira, pretendo, no ano entrante, dar seguimento à leitura da coleção de Erico Verissimo, que adquiri há alguns anos e que permaneceu envolta em suas originais embalagens de plástico. Essa coleção esteve oculta num armário (descobri-a quando da mudança de volta a Goiânia, no ano passado).
Enquanto isso, lerei os livros que adquirir no decorrer do ano, inclusive os que nossos confrades e colegas lançarem. Resumindo: vou lendo o que me for de interesse.
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Maria Luisa Ribeiro — Escritora e ex-presidente da UBE Goiás
“O Sentido da Vida”, do escritor italiano radicado no Brasil Contardo Calligaris. Li “Todos os Reis Estão Nus” e gostei do estilo e da temática.
E pretendo em 2024 ler “O Sentido da Vida” por ter sido entregue pelo autor pouco antes de sua morte iminente, imagino que trata -se de um momento único de criação em que o ser humano, o psicanalista e o autor, juntos fazem um balanço existencialista. Aprecio a temática universal e a incursão pela psiquê e a alma humana.
7
Marcelo Franco — Promotor de justiça e crítico
“Nada encuentro en mi vida más decisivo que leer.
(…)
Me declaro lector enamorado de las palabras. Tal vez porque amar es la condición que más se asemeja al leer, también él, como el amor, pura emoción. Descubrimiento. Diálogo permanente. Mutua entrega.” — Antonio Basanta, “Leer Contra la Nada”.
“Vou agora falar de minhas próprias vicissitudes pessoais durante as duas doenças nervosas que me atingiram. Estive doente dos nervos duas vezes, ambas em consequência de uma excessiva fadiga intelectual.” Daniel Paul Schreber, “Memórias de um Doente de Nervos”.
O editor-chefe do “Jornal Opção” pediu-me uma lista de leituras para 2024. Eis uma tarefa que sempre se mostra árdua: fazer programas de livros que pretendemos ler, já que tantos há, tantos desejamos, tantos queremos listar. Postergo, regateio, truco e retruco, disfarço e peço ajuda aos universitários, mas o homem é incansável. Portanto, como nos anos anteriores, se esta lista tiver sido publicada, é porque o coração do amigo Euler venceu os deveres do editor Euler de França Belém; o cordial amigo aceitando minhas perdas de prazo e meus textos nunca pequenos e, não raras vezes, labirínticos (e espero que ele haverá de me perdoar os muitos livros que menciono em outras línguas: vocês também creem, como eu, que estamos traduzindo menos aqui na Mãe Gentil? Já podeis da pátria filhos ver contente a cena editorial brasileira? No lo creo, I don’t believe it, j’y crois pas).
Acredito-me apto à tarefa, não nego: leio desde que entrei pela primeira vez na biblioteca dos meus pais, mal saíra dos cueiros. Claro, hoje leio mais nos intervalos dos achaques da meia-idade, nos momentos em que escapo das tormentas jurídicas de embargos e agravos e quando o Rivotril sossega um pouco esta já cansada mente. De qualquer modo, sim, leio e releio, pago impostos e tento adiar a visita da Indesejada das Gentes, mas eis que o ano chega ao fim e novamente preciso fazer a tal lista. Ou talvez exagere na parte “leio e releio”: às vezes, quando não estou tentando organizar minhas estantes, consigo ler algumas páginas. Apto? Já começo a duvidar de mim mesmo; para ganhar novo fôlego, reafirmo o que já disse certa vez: gosto de listas, principalmente quando são inúteis, o que é o caso — poucos se importam com esses quiquiriquis ditos culturais. Minha convicção é que cumprimos com galhardia nosso destino de transformar o Brasil neste grande DCE de Humanas, com a natural consequência de frequentarmos apenas a epiderme das coisas transcendentes que nos cercam, donde lista de livros é coisa destinada ao esquecimento e ainda um ritual de vaidade, bem sei, pois nada há de novo sob o Sol. E tanta leitura lembra-me uma passagem hilariante de um dos filmes — não sei exatamente qual — dos irmãos Marx. Uma mulher vai até a seção de achados e perdidos de um hotel, onde é recebida por Groucho, para buscar qualquer coisa que havia desaparecido. Ela diz: “Bem, estou procurando algo...”, e Groucho imediatamente responde: “Ora, quem não está?”. Todos estamos procurando algo, não?
“Leer es un riesgo.
(…)
El primer riesgo para el lector, el más antiguo y de los más graves, es el de convertirse y querer convertirse en escritor; o también, y peor aún, en crítico. Me limito a recordar una obviedad fundamental: los libros son contagiosos.” — Alfonso Berardinelli, “Leer es un Riesgo”.
À lista, então; antes, contudo, também repito um parágrafo inteiro — plagio a mim mesmo — de uma lista anterior, pois o alerta que então fiz permanece válido. Escrevi que ganhamos problemas inesperados com os livros. “Admiro muito quem lê assim”, já ouvi. Sei, sei: essa admiração só pode vir de quem não tenha de lidar com a falta de espaço para os volumes, os problemas respiratórios causados pela poeira das estantes e o perigo da falência rondando o comprador obsessivo, triste padecente de síndrome de Diógenes literária.

É uma engrenagem que funciona em moto-contínuo: sempre se pode começar mais uma pilha com livros novos — quem não está interessado, por exemplo, nas futricas do príncipe Harry ou em Nelson Ned? (Eis o primeiro livro da lista: “Tudo Passará: A Vida de Nelson Ned, o Pequeno Gigante da Canção”, de André Barcinski.) E, antes de irmos às leituras que programei e que provavelmente serão substituídas por outras, também insisto, como já o fiz anteriormente, que a lista ideal deve ser uma mistura de livros antigos, lançamentos recentes, leituras programadas em listas anteriores e nunca cumpridas e livros citados somente para que se possa simular erudição. Mais grave ainda: as listas, para o meu desespero, aumentam sempre, pois, como Erasmo de Roterdã, “quando tenho um pouco de dinheiro, compro livros e, se me sobrar algum, compro comida e roupas”.

Mãos à obra, enfim. Como nos últimos anos, adquiri outros vícios neste ano do Nosso Senhor de 2023, logo eu, já tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil. Por exemplo, a espanhola Irene Vallejo. Li, no ano passado, o seu “O Infinito em um Junco — A Invenção dos Livros no Mundo Antigo”, e foi por ela que cheguei ao também espanhol Antonio Basanta, que me deu uma das epígrafes deste texto, furto cometido em seu “Leer Contra la Nada”; por ela — obrigado, obrigado! — também conheci “Los Libros y la Libertad”, de Emilio Lledó. Vallejo é vício de difícil cura; por causa de “O Infinito em um Junco”, irão para a minha ilha deserta “Manifiesto por la Lectura”, “Alguién Habló de Nosotros” e “El Futuro Recordado”. Leiam Irene Vallejo, não bebam destilados falsificados e cometam ao menos um pecadilho diário, eis as minhas lições principais quando eu me tornar coach.

Se ganhei novos vícios, mantenho os antigos. Notem vocês: assim como gosto de entrar em farmácias e perguntar o que há de novo da Aché ou da Bayer, fiscalizo diariamente as livrarias virtuais em busca de livros sobre a Segunda Guerra Mundial. Porém, todavia e contudo, este 2023 não me pareceu um ano pródigo na área — ou eu estive desatento? Alguma coisa se salvou, claro, mas quase nada em português: “To Besiege a City: Leningrad 1941–42”, de Prit Buttar; “France on Trial: The Case of Marshal Pétain”, de Julian Jackson; “Judgment at Tokyo: World War II on Trial and the Making of Modern Asia”, de Gary J. Bass; e “V Is For Victory: Franklin Roosevelt's American Revolution and the Triumph of World War II”, de Craig Nelson.

Outro livro que também merece leitura, mesmo não sendo exatamente sobre a Segunda Guerra, é “Baviera Tropical — A História de Josef Mengele, o Médico Nazista Mais Procurado do Mundo, que Viveu Quase Vinte Anos no Brasil sem Nunca Ser Pego”, de Betina Anton, assim mesmo, com esse longo título de livro do século 17. Ah, os vícios: já fui partigiano e maquisard, tenham certeza.
Outro vício antigo e arraigado é a Amazônia, em cujos matos sempre me embrenho. Neste ano, aliás, percorri o rio Solimões de Manaus a Tabatinga, sete dias num barco: uma viagem memorável. Tudo vale a pena se a malária é pequena.
Pois então, ecológicos leitores: da parte não cumprida de listas anteriores, “Árvore de Rios: a História da Amazônia” e “Naturalists in Paradise: Wallace, Bates and Spruce in the Amazon”, do assombroso John Hemming, e “River of Darkness”, de Buddy Levy, sobre a epopeia da descoberta do Amazonas por Francisco de Orellana. Dos livros deste ano (ou do ano passado?), fico com “Arrabalde: Em Busca da Amazônia”, de João Moreira Salles.

Ninguém me perguntou, mas querem saber como a viagem pelo Solimões foi planejada? Pois não o foi. Muitos sabem que estive na Amazônia diversas vezes, fiscalizando aquele matogal e aquela imensidão de águas. Já voei em avião de segurança duvidosíssima e já estive em barco à deriva por falta de gasolina. Tudo bem, tudo também vale a pena se a sumaúma não é pequena.
Então vejam: as ideias mais malucas nascem de conversas banais. Perguntamo-nos, eu e amigos: vamos viajar de novo? Claro, sim, pois não. Simbora subir o Amazonas (Solimões), de barco, entre Manaus e Tabatinga? Ora, pois, pois, o que são 1.650 quilômetros trancados num barco? Daí entramos na Colômbia por Letícia? Evidentemente. Bom, como voaremos de volta a Brasília, por que não esticar até São Luís e depois Barreirinhas, nos Lençóis Maranhenses? Opa, tô dentro. Estando em Lençóis, não custa nada ir ao Piauí e dar uma espiada no Delta do Parnaíba, que tal? Claro, claro, há lógica na ideia, quem haverá de negar? E como tudo é perto e o Piauí tem apenas uns 70 quilômetros de litoral, vamos correr as praias? Sem dúvida! Enfim, vi coisas tão inusitadas que uma vida não basta para as narrar, ainda mais que me ocupo fazendo… listas.

Avante. Ainda na categoria “vício que trato com papinhas de leite”, há os livros sobre livros e leituras, inclusive memórias e biografias de escritores. Já mencionei Antonio Basanta e Irene Vallejo, mas que tal “Shakespeare in Bloomsbury”, de Marjorie Garber, narrando a influência do “bardo dos bardos” no grupo de escritores de Bloomsbury, Virginia Woolf entre eles?
Por falar em Woolf, lerei ainda “A Medida da Vida: Os Últimos Anos de Virginia Woolf”, de Herbert Marder. Aliás, quem também escreveu sobre o autor de “Macbeth” foi a atriz Judi Dench, “Shakespeare: The Man Who Pays the Rent”: merece entrar no infinito programa de leituras. Mais, mais: “A Biblioteca no Fim do Túnel: Um Leitor em seu Tempo” (Rodrigo Casarin) e “The Shakespeare and Company Book of Interviews” (editado por Adam Biles).
Não menos interessante, a Amarylis publicou uma ótima biografia de Oscar Wilde, escrita por Matthew Sturgis, “Oscar Wilde: Uma Vida”. Entrevistas podem formar uma biografia, não? “Nasci na América: Uma Vida em 101 Conversas (1951-1985)”, com várias entrevistas do escritor italiano Italo Calvino. Para os fãs do 007 como eu, “Ian Fleming: The Complete Man”, de Nicholas Shakespeare (Shakespeare não nos abandona…).
Nas primeiras posições da lista, “Larry McMurtry: A Life”, de Tracy Daugherty, sobre o escritor texano que foi também dono de uma imensa livraria. Muitas biografias? Bem, então acrescento um livro bizarro sobre livros igualmente bizarros: “Librorum Ridiculorum: A Compendium of Bizarre Books” (Brian Lake). Mais um, adquirido enquanto eu dedilhava este texto para os meus cinco leitores, um compêndio com as cartas trocadas entre os escriture do chamado “Boom Latino-Americano”, “Las Cartas del Boom”.

Leio biografias e memórias como um menino que espia vidas alheias por um buraco de fechadura — só não saio por aí contando o que vi porque todo mundo tem acesso à mesma fechadura. Em 2024, tentarei corrigir o desastre cinematográfico de Ridley Scott, que fez Napoleão — interpretado por um Joaquin Phoenix com prisão de ventre — explodir as pirâmides do Egito; portanto, é chegada a hora de ler a biografia do francês escrita por Andrew Roberts, “Napoleon: A Life”, há muito comprada e jamais lida, e mais uns livrinhos sobre a Imperatriz Josefina, principalmente “The Rose of Martinique: A Life of Napoleon’s Josephine”, de Andrea Stuart, ambos merecendo tradução aqui no Florão da América.
Na mesma toada, já que fizeram a cinebiografia de Robert Oppenheimer, entram na lista “Oppenheimer: O Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano, de Kai Bird e Martin J. Sherwin; “Robert Oppenheimer: A Life Inside the Center”, de Ray Monk; e “Brotherhood of the Bomb: The Tangled Lives and Loyalties of Robert Oppenheimer, Ernest Lawrence, and Edward Teller”, de Gregg Herken.

Ainda no quesito “vamos comparar livros com filmes”, lerei “Assassinos da Lua das Flores — Petróleo, Morte e a Origem do FBI”; depois direi se Martin Scorsese ganha do autor David Grann. Que eu saiba, Henry Kissinger ainda não se tornou tema de filme, mas, já que ele se foi neste ano, louvado e detestado na mesma medida — gênio ou criminoso de guerra? —, não custa dar uma espiada na primeira parte de uma biografia escrita por Niall Ferguson, monumental e planejada para ter dois volumes, “Kissinger (1923-1968): O Idealista”. Como perceberam, a fechadura pela qual espio é até maior; todavia, o espaço aqui é pouco…
Este ano, que se registre, foi pródigo em lançamentos e relançamentos de biografias e memórias de músicos e cantores, bem como de livros sobre música em geral, principalmente aqui no Berço Esplêndido — até já mencionei, ali acima, a biografia de Nelson Ned.
Pois a ótima editora Cepe publicou um livro de leitura que se promete prazerosa “Pelas Ruas que Andei: Uma Biografia de Alceu Valença”, de Julio Moura. Não só (mas por outras editoras): “Lupicínio: Uma Biografia Musical”, de Arthur de Faria; “A Incrível História de Lenny Eversong ou A Cantora que o Brasil Esqueceu”, de Rodrigo Faour (autor de uma ótima “História da Música Popular Brasileira”, em dois volumes); “Do Vinil ao Streaming: 60 Anos em 60 Discos”, de Daniel Setti.

Mas não somente cantores são os retratados do ano; entre outras biografias, entram na lista “O Avesso do Bordado: Uma Biografia de Marco Nanini”, de Mariana Filgueiras; “Di Cavalcanti — Modernista Popular”, de Marcelo Bortoloti; e ainda ganhamos o segundo e último volume da biografia de San Tiago Dantas, escrita por Pedro Dutra, “San Tiago Dantas — A Razão Vencida” — San Tiago era um desses homens de quem o Impávido Colosso se esquece de tempos em tempos, apesar de eles merecerem os nossos constantes louvores, como, por exemplo, Afonso Arinos e Milton Campos. Também me darei de presente, digamos, uma espécie de biografia coletiva, ainda que de um curto período, “Rato de Redação: Sig e a História do Pasquim”, de Márcio Pinheiro.
Política? Sim, política. Evitarei a turma apocalíptica que repete a bobajada de que a democracia está morrendo e que há um tirano à espreita em cada esquina — vocês sabem: “a polarização faz mal ao país”… Então teremos o quê, unanimidades? Entendamos: por “morte da democracia” leia-se “nunca mais votem em candidatos que nós, intelectuais iluminados, não aprovamos”. Vai para a lista, então: “The Year That Broke Politics: Collusion and Chaos in the Presidential Election of 1968”, de Luke A. Nichter — sim, em 68 nasceu certa polarização, nos Estados Unidos, que dura até hoje, mas muitas outras ocorreram antes. Vejamos como Nichter cuida do tema, portanto. O que mais? Um livro de História que, imagino, não deixa de ser sobre política: “Beyond the Wall: A History of East Germany” (Katja Hoyer). Simulemos erudição: “The New Leviathans: Thoughts After Liberalism”, de John Gray, e “Freedom from Fear: An Incomplete History of Liberalism, de Alan S. Kahan. Dos brasileiros, vou de “Poder Camuflado — Os Militares e a Política, do Fim da Ditadura à Aliança com Bolsonaro”, de Fabio Victor, e “A Crise da Política Identitária”, organizado por Antonio Risério. E, entrando na lista com bumbos e tapetes vermelho, “Os Ungidos: A Fantasia das Políticas Sociais dos Progressistas”, do sempre brilhante Thomas Sowell.

Gosto de ensaios — uma forma de fazer listas sobre tudo, por assim dizer, e como esta minha própria lista já vai longa, programo a leitura de poucos, talvez “A Memoir of My Former Self: A Life in Writing”, de Hilary Mantel, que não é exatamente uma coletânea de ensaios, mas sim de textos jornalísticos da autora britânica, falecida em 2022. “Intervenções”, de Michel Houellebecq, parece imperdível, e sigo planejando reler toda a obra de Joan Didion, agora com “Rastejando até Belém”. Didion, se não sabem (eu já os avisei antes…), escreveu o melhor obituário dos anos 60.
Sou um atormentado que lê biografias de juristas, votos dos ministros do Supremo Tribunal e até decisões da Suprema Corte dos Estados Unidos (sim, sim, meu terapeuta já foi avisado).
Como a juíza Sandra Day O’Connor, a primeira mulher a chegar à Suprema Corte norte-americana, morreu há uns dias, creio que já bateu a hora de ler outro livro que comprei e jamais li, “First: Sandra Day O’Connor”, de Evan Thomas. Inteligentíssima sem ser exatamente brilhante (antes que me acusem de coisas inomináveis: sua colega Ruth Ginsburg, apesar de eu discordar da forma como ela pensava o Direito, foi brilhante), O’Connor é um “case” de poder que merece estudo — não pensem que juízes de cortes supremas não sejam jogadores na arena do poder (não, não falo do Brasil; aliás, qualquer dia contarei como a Suprema Corte de Israel, numa decisão de 400 ou 500 páginas, no famoso caso “Mizrahi Bank”, criou para si poderes que não tinha).

Bem, e o que fez a maleável O’Connor? Numa corte de nove juízes divididos ideologicamente em dois grupos de quatro juízes, ela se tornou o “swing vote”, a juíza que poderia votar com qualquer um dos lados. Vale dizer: ela se transformou no centro de poder da Suprema Corte dos Estados Unidos e a moldou durante algum tempo.
Ah, sim, sobre “brilhantismo”, algo nem sempre valioso por si só: seu colega William Douglas, que se aposentara antes de sua chegada ao tribunal, era tido como um tipo brilhante e… turbulento, para dizer o mínimo. O’Connor teve vida aventurosa e foi uma força da natureza: nascida no Texas, criou-se no Arizona (onde foi senadora estadual) e se tornou a primeira mulher da Suprema Corte dos Estados Unidos (nomeada pelo “terrivelmente conservador” Ronald Reagan…). Era, digamos, uma “sábia da aldeia” — o livro vai ou não para a ilha deserta? Claro que sim: lá serei o “swing vote” de decisões tomadas por mim mesmo.

Ainda na seara jurídica (ou áreas próximas), “Juristas em Resistência: Memória das Lutas Contra o Autoritarismo no Brasil”, de Antonio Pedro Melchior; “Punir: Uma Paixão Contemporânea”, de Didier Fassin, um antropólogo que analisa a nossa atual sanha punivista. E sobre o nosso Supremo? Adiciono à minha mutável lista dois ou três livros: “O Tribunal: Como o Supremo se Uniu Ante a Ameaça Autoritária”, de Felipe Recondo e Luiz Weber; “O STF na Política e a Política no STF”, de Fabrício Castagna Lunardi; e “Ativismo Judicial: Limites da Jurisdição Constitucional”, de Wanderlei Reid. Ativismo ou atitude, eis a questão, pobre Yorick — e dormir, morrer; dormir!; talvez sonhar.
Tenho lido pouca ficção, ai de mim, e aqui peço ajuda aos meus três leitores. Fora “Os Perfeitos”, de Jacobo Bergareche, e “O Declínio de um Homem”, de Osamu Dazai, um clássico japonês em boa hora traduzido, o que mais sugerem?
Já o geólogo, digo, o cardiologista que cuida do meu coração me recomendou a leitura de mais poesia para que as sístoles e diástoles entrassem em compasso aqui. Entre os lançamentos do ano, escolho “Compaixão”, de Anne Sexton, mas confesso que a sua vida turbulenta me interessa mais, daí que somei aos poemas uma biografia polêmica, “Anne Sexton: A Biography”, de Diane Wood Middlebrook, e as cartas da própria poeta, “Anne Sexton: A Self-Portait in Letters”.

Ah, sim, também acrescentei à lista um livro que narra a amizade — e a rivalidade — entre Sexton e Sylvia Plath, “Three-Martini Afternoons at the Ritz: The Rebellion of Sylvia Plath & Anne Sexton”, de Gail Crowther. Desanimado como estou, tenho certeza de que a releitura de “Morte e Vida Severina” me trará alguma serotonina extra. Confiram: “E não há melhor resposta/ que o espetáculo da vida:/ vê-la desfiar seu fio,/ que também se chama vida,/ ver a fábrica que ela mesma,/ teimosamente, se fabrica,/ vê-la brotar como há pouco/ em nova vida explodida;/ mesmo quando é assim pequena/ a explosão, como a ocorrida;/ mesmo quando é uma explosão/ como a de há pouco, franzina;/ mesmo quando é a explosão/ de uma vida severina”. Melhor que Zoloft, não concordam?
Opa, de volta à ficção: não nos esqueçamos, saiu o último romance de Mario Vargas Llosa, “Lo Dedico mi Silencio” — último mesmo, porque o peruano anunciou a sua aposentadoria.
Tento compreender o mundo que me cerca; assim, em tempos de guerra, “Judeus Não Contam”, de David Baddiel; “The Israel-Palestine Conflict: A History”, de James L. Gelvin; “Muslim Palestine: The Ideology of Hamas”, de Andrea Nüsse; “Palestine: A Four Thousand Year History”, de Nur Masalha; “Os Árabes: Uma História”, de Eugene Rogan; “The House of Islam: A Global History”, de Ed Husaim; “A Tale of Two Narratives: The Holocaust, the Nakba, and the Israeli-Palestinian Battle of Memories”, de Grace Wermembol.

Sem contar o excepcional “Lioness: Golda Meir and the Nation of Israel”, de Francine Klagsbrun, biografia da primeira-ministra que ganhou uma guerra e perdeu o cargo (“A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda…” etc. etc. etc.).
Quando sobram uns caraminguás dos impostos e do whisky das crianças, viajo; se não sobra muito cobre, leio relatos de viagens e estadias em outros países. “Sempre Paris: Crônica de uma Cidade, seus Escritores e Artistas”, de Rosa Freire D’Aguiar, e “A Fila Anda”, do jornalista Marcio Fernandes, estão na lista, por supuesto. Marcio é meu amigo; indico seu livro, porém, porque ele é, sobretudo, um causeur magnífico, o que se reflete em suas crônicas de viagem.
Sempre gostei de acrescentar séries às listas de livros. Reverei “Succession”, que se encerrou em 2023 e trata de um improvável Rei Lear, interpretado por Brian Cox, do mundo corporativo. Já que falamos de TV, me recordei de outro livro há pouco tempo comprado, “Especulações Cinematográficas”, em que Quentin Tarantino comenta alguns filmes. Sem tela na ilha deserta, verei filmes lendo o grande Tarantino.
Estou quase encerrando, meus fiéis dois leitores. Não posso deixar de também insistir num artigo de fé que sempre repito nas minhas listas, palavra por palavra: declaro solenemente que não lerei todos aqueles autores que os cadernos de cultura proclamam como renovadores da língua portuguesa; dos estrangeiros, nada de romances que mostrem “o American way of life tornado pesadelo”; já em matéria de heterodoxias, só acompanharei o pós-pós-modernismo de livros revolucionários que sigam a estranha ordem “início-meio-fim”.
Opa, eia, sus e xó: para tanto ler, faltou listar “História do Descanso”, de Alain Corbin. E por que tamanha ânsia literária? Respondo com o Vargas Llosa de “La Verdad de las Mentiras”: “La literatura no dice nada a los seres humanos satisfechos con su suerte, a quienes colma la vida tal como la viven. Ella es alimento de espíritus indóciles y propagadora de inconformidad, un refugio para aquel al que sobra o falta algo, en la vida, para no ser infeliz, para no sentirse incompleto, sin realizar en sus aspiraciones. Salir a cabalgar junto al escuálido Rocinante y su desbaratado jinete por los descampados de La Mancha, recorrer los mares en pos de la ballena blanca con el capitán Ahab, tragarnos el arsénico con Emma Bovary o convertirnos en un insecto con Gregorio Samsa, es una manera astuta que hemos inventado a fin de desagraviarnos a nosotros mismos de las ofensas e imposiciones de esa vida injusta que nos obliga a ser siempre los mismos, cuando quisiéramos ser muchos, tantos como requerirían para aplacarse los incandescentes deseos de que estamos poseídos”. Tantas, tantas ofensas e imposições de uma vida injusta…
Encerro, encerro. “Tolle lege”, sussurram-me os livros que venho acumulando, um tanto por prazer, outro tanto por pura obsessão, um tiquinho por tédio e inércia. Então é isto. Submeto a lista ao editor e aos leitores, com muito medo, muito mesmo, daqueles leitores de jornais que os escrutinam com lupa e depois escrevem textos em que destroem cada vírgula fora do lugar e todo pensamento buscado em mentes alheias, a tal turma “senhor-editor-escrevo-para-mostrar-que”. Paciência, ademã e olho vivo, que cavalo não desce escada.
Confira a primeira parte da agenda de leitura

É um desafio traduzir um poeta da envergadura do espanhol. Mas é possível seguir por caminhos diferentes dos encontrados por tradutores consagrados

Poema de minha lavra: “Na tal era/ muitos vão ao baú empoeirado/ no fundo de sua alma/ e se vestem duma alegria/ cheirando a naftalina/ imposta pelo calendário”

A civilização, até a era do pós-modernismo, criou 2 tipos básicos de pensadores: um é o filósofo, que se apoia na especulação, o outro é o autor literário, que se vale de imagens

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Roberson Guimarães — Médico

1 — Tomás Nevinson, de Javier Marías.
Último livro do escritor espanhol que faleceu em 2023 retoma temas caros ao autor da excepcional trilogia “Seu Rosto Amanhã”: espionagem, fronteiras da identidade e as relações afetivas.
2 — Estrela da Manhã, de Karl Ove Knäusgard.
Primeiro romance de Karl Ove Knausgård desde a consagrada série autobiográfica “Minha Luta”, “Estrela da manhã” é um impressionante relato da vida de nove pessoas durante dois dias de agosto, enquanto uma estrela gigantesca e inexplicável surge no céu. Uma digressão sobre a finitude humana.
3 — Cidades da Planície, de Cormac McCarthy.
Desfecho da premiada Trilogia da Fronteira. Mais um gigante que se foi em 2023.
4 — Não Fossem as Sílabas do Sábado, de Mariana Salomão Carrara.

O romance vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2023 de melhor romance do ano. Escritora paulistana de 37 anos. A única referência é o prêmio.
5 — Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo.
Um dos termos que marcou o ano de 2023 foi literatura decolonial, no sentido de obras que têm um viés libertador e que nunca foram contadas. O romance de Conceição Evaristo, escrito em 2003, inserido na realidade étnico-racial brasileira, instiga-nos a refletir sobre a situação da população afro-brasileira, leva-nos a olhar para a outra face, silenciada e ocultada da história do Brasil.
6 — Engenheiro Fantasma, de Fabrício Corsaletti.
Livro de poesia vencedor do Jabuti 2023. Corsaletti veste a máscara de Bob Dylan e narra em 56 sonetos uma temporada de exílio voluntário que o genial letrista norte-americano teria supostamente vivido em Buenos Aires em algum período não-especificado deste século.

7 — Pedro Páramo, de Juan Rulfo.
Este é um livro que releio sempre. Uma daquelas obras literárias que ocupam lugar de destaque na literatura por serem textos totais. Obras que reúnem em si um universo, que se eternizam e admitem tantas leituras quantas se quiser dedicar-lhes. Esse romance é uma dessas obras raras
“Pedro Páramo” é uma história de terror. E uma nova forma de narrar. E um romance de amor e uma crítica a esse amor. E um poema sobre a nostalgia, uma fábula sobre a destruição e o que resta, mas também um tratado sobre a solidão e uma conversa.
8 — Salmo: romance-meditação sobre os quatro flagelos do Senhor, de Friedrich Gorenstein.
Uma trama fantástica baseada na passagem mítica do Anticristo pela URSS entre 1933 e 1973. Ao longo de 40 anos, o Anticristo é testemunha de momentos cruciais da história soviética, como a fome nos anos 1930, a invasão dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, a evacuação, o pós-guerra, a censura stalinista, etc. Estruturado em cinco partes, aborda quatro grandes flagelos divinos: a fome, a espada, a luxúria e a doença.
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Carlos Willian Leite — Presidente do Conselho Estadual de Cultura de Goiás

À medida que 2024 se aproxima, me vejo diante de um horizonte literário ainda indefinido. O meu programa de leituras para este ano reflete essa incerteza, reconhecendo que as escolhas são frequentemente moldadas por fatores inesperados e mudanças nas tendências culturais. Ao longo do ano, espero encontrar livros que me surpreendam e desafiem minhas expectativas, acompanhando o ritmo dinâmico da literatura contemporânea.
Minha estratégia, por enquanto, está focada em explorar obras que já foram traduzidas, pois não domino outros idiomas. Estou curioso para ver o que as editoras trarão em seus catálogos de traduções, previstos para serem anunciados no final de janeiro.
Enquanto espero por esses novos lançamentos, selecionei alguns livros de autores que li em 2023 e que me deixaram curioso para explorar mais de suas obras. Com isso em mente, inicio 2024 com uma mistura de expectativa e abertura para novas experiências literárias, ansioso para descobrir quais histórias capturarão minha imaginação neste ano.
1 — Dostoiévski-trip, de Vladímir Sorókin.
Iniciarei minha jornada literária de 2024 com “Dostoiévski-trip”, de Vladímir Sorókin, um autor radical e significativo na literatura russa contemporânea. Este livro, focado em dependentes químicos que aguardam um traficante, usa as drogas como metáforas para autores literários, proporcionando aos personagens vivências intensas nas obras de Dostoiévski. No ano passado, li “O Dia de um Oprítchnik”, outra obra de Sorókin, situada em uma Moscou futurista de 2027, que mistura autoritarismo histórico e contemporâneo, refletindo sobre a continuidade de regimes autocráticos na Rússia.

2 — Jakob von Gunten, de Robert Walser.
Estou particularmente entusiasmado com “Jakob von Gunten”, de Robert Walser, um dos autores suíços (escrevia em alemão) mais intrigantes do século 20, admirado por nomes como Kafka e Walter Benjamin. Já li “Os Irmãos Tanner”, de Walser, uma narrativa autobiográfica que descreve a vida de quatro irmãos distintos. O romance aprofunda-se nas complexidades das relações humanas e escolhas pessoais, combinando reflexões filosóficas com observações críticas sobre arte e cotidiano.
3 — Limonov, de Emmanuel Carrère.
Planejo ler “Limonov”, de Emmanuel Carrère, um best-seller francês que relata a extraordinária vida de Eduard Limonov, abrangendo suas várias facetas, de poeta russo a revolucionário, celebridade e presidiário. Em 2023, li “Ioga”, de Carrère, uma mistura de romance e autobiografia no qual o autor descreve sua luta contra a depressão, e “Outras Vidas que Não a Minha”, que entrelaça histórias reais do tsunami de 2004 no Sri Lanka, refletindo sobre a complexidade da condição humana.
4 — O Último Homem Branco, de Mohsin Hamid.
“O Último Homem Branco”, de Mohsin Hamid, reconhecido como um dos melhores livros de 2022 pela revista “New Yorker”, também está na minha lista. O romance questiona as concepções tradicionais de racismo e branquitude. De Hamid, li “Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente”, uma sátira aos manuais de autoajuda, narrando a ascensão de um jovem rural à riqueza na Ásia, criticando as dinâmicas das sociedades emergentes e explorando temas de ascensão social.

5 — Alvo Noturno, de Ricardo Piglia.
“Alvo Noturno”, de Ricardo Piglia, um romance noir de 2010 ambientado no pampa argentino, está nos meus planos. A história segue o jornalista Emilio Renzi na investigação do assassinato de Tony Durán, desvendando as contradições da vida rural argentina nos anos 1970. Em 2023, li “Dinheiro Queimado”, de Piglia, uma narrativa baseada em fatos sobre um violento assalto em Buenos Aires e Montevidéu, marcada por uma profunda análise psicológica e exploração dos aspectos sombrios da natureza humana.
6 — Mestres Antigos e Extinção, de Thomas Bernhard.
Estou igualmente ansioso para ler “Mestres Antigos” de Thomas Bernhard, uma obra crítica e humorística sobre o meio artístico e a cultura austríaca, assim como “Extinção”, em que Bernhard trata de temas de autodestruição. No ano passado, li “Derrubar Árvores”, um livro que se destaca por sua crítica cínica e misantrópica à sociedade e à classe intelectual austríacas.
7 — Segunda Casa, de Rachel Cusk.
Outra leitura planejada é “Segunda Casa”, de Rachel Cusk. A história foca em M, uma mulher de meia-idade cuja vida pacata é transformada pela chegada do artista plástico L e sua parceira Brett em uma residência artística. M, tomada por uma obsessão por L, narra os eventos, entrelaçando o período da estadia com reflexões e memórias pessoais. De Cusk, li a aclamada trilogia “Esboço” (2014), “Trânsito” (2016) e “Mérito” (2018), focada em Faye, uma escritora e mãe recém-divorciada.
8 — O Quebra-Nozes, de E.T.A. Hoffmann.
Com muitos anos de atraso, estou ansioso para ler “O Quebra-Nozes”, de E.T.A. Hoffmann, um pioneiro da literatura fantástica. A habilidade de Hoffmann em entrelaçar histórias dentro de histórias influenciou centenas de obras, de “Pinocchio” a “Toy Story”, e inspirou o famoso balé de Tchaikovski. Ano passado, li “O Homem da Areia”, uma obra seminal de Hoffmann, que explora a psicologia humana por meio de um personagem atormentado por medos infantis.
9 — As Pontes de Königsberg, de David Toscana.
Promete ser uma leitura cativante “As Pontes de Königsberg”, de David Toscana, que combina história, imaginação e mistério, abordando eventos da Segunda Guerra Mundial e o enigmático desaparecimento de seis meninas. Em 2023, li “Santa Maria do Circo” de Toscana, uma sátira social em que personagens marginais estabelecem uma nova sociedade em um vilarejo mexicano abandonado, revelando o absurdo do comportamento humano.
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Beto Silva, humorista, escritor e membro do Casseta & Planeta

Em 2023 eu li muito, bati meu recorde de livros lidos, o que não quer dizer muita coisa, afinal quantidade e qualidade não frequentam sempre os mesmos ambientes. Sei que li muita coisa boa, e tenho certeza de que li muita bobagem também. E pretendo continuar assim no ano que vem.
Eu não era muito de releituras. Mas a gente vai ficando velho e percebe que não lembra mais de nada, que alguns livros foram lidos há tanto tempo que praticamente podem ser considerados inéditos de novo. Então comecei a reler alguns clássicos e foi ótimo. Dentre as releituras recentes, “Cem Anos de Solidão”, do Gabriel García Márquez e “Viva o Povo brasileiro”, do João Ubaldo foram ótimas experiências. Me animei e em 2024 pretendo revisitar outros livros desses autores. “Crônica de uma Morte Anunciada”, do colombiano, e “Sargento Getúlio”, do baiano, estão na minha lista.
Também nessa área de releitura, estão livros policiais de autores que sempre adorei e que não lia há tempos. Rex Stout e Andrea Camilleri estão na minha lista. Ambos geniais. Alguns podem achar que literatura policial está na área de bobagens, mas isso é uma tremenda bobagem.

Um autor que descobri há pouco e que já devorei alguns livros é o Cormac McCarthy. Já tenho em mãos o “A Estrada”, que dizem que é ótimo. Conferirei.
Descobri há muito pouco tempo o João Anzanello Carrascoza. Uma falha já resolvida nas minhas leituras de 2023. Já comprei uma Seleta de seus contos, que está devidamente na fila para 2024.
E por falar em falhas, tenho algumas dívidas históricas, clássicos que sempre quis ler, mas que não encarei ainda. Nesta lista está uma empreitada: “Em Busca do Tempo Perdido”, de Proust. Em 2024 pretendo correr em busca deste tempo perdido.
E no campo da literatura brasileira, outras dívidas que pretendo pagar: “Quarto de Despejo”, da Carolina Maria de Jesus, e “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, do Lima Barreto.
E continuarei lendo livros de dois autores portugueses por quem me afeiçoei: Afonso Cruz e Gonçalo M. Tavares.
E na área das bobagens que são mesmo bobagens, mas ótimas e importantes bobagens, pretendo ler muitos livros de humor e muita HQ.
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Yara Nunes, advogada e secretária de Cultura do Estado de Goiás

“A Sociedade do Cansaço”, do filósofo Byung-Chul Han. Por que vou ler o livro? Porque a obra convida à reflexão profunda sobre os desafios e metamorfoses que a sociedade contemporânea impõe a cada indivíduo. O autor mergulha nas complexidades do nosso modo de vida, destacando as pressões e demandas que enfrentamos diariamente; a leitura leva a refletir sobre como podemos redefinir nosso estilo de vida em busca de um equilíbrio mais saudável. Quero explorar as análises de Han e, possivelmente, encontrar orientações para viver de maneira mais consciente e harmoniosa neste mundo acelerado e exigente.
“A Tirania do Amor-Próprio”, de Alain Ehrenberg. Decidi mergulhar na leitura motivada pela proposta de reflexão profunda que a obra oferece sobre a transformação do amor-próprio de uma virtude para uma obrigação, desencadeando uma análise crítica sobre como essa mudança está contribuindo para o crescente aumento dos transtornos mentais na sociedade contemporânea. Através deste livro, espero ganhar uma compreensão mais profunda das complexidades envolvidas nesse fenômeno, desafiando minhas próprias concepções e abrindo espaço para uma reflexão mais ampla sobre o papel do amor-próprio em nossa vida cotidiana.
“O Colapso da Modernidade”, de Zygmunt Bauman. Vou ler a obra para melhor compreender a crise que assola a modernidade e seus reflexos na saúde mental foi o que me motivou na leitura. Estou ansiosa para explorar as argumentações de Bauman, as quais apontam que essa crise está diretamente ligada ao aumento exponencial do cansaço, do estresse e da ansiedade; leitura promete fornecer uma perspectiva crítica que pode lançar luz sobre os complexos vínculos entre a modernidade e o bem-estar mental.
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Nasr Fayad Chaul, historiador, compositor e membro da AGL

1 — Uma Nova História da Humanidade, de David Graeber e David Wengrow.
Ler para ver os argumentos dos autores, um deles não sobreviveu para ver a repercussão do livro, na análise que propõem para rebater as análises das sociedades da agricultura às cidades e a origens do Estado e da Democrata. Gosto demais de revisões da História.
2 — Minha Sombria Vanessa, de Kate Elizabeth Russel.
Trata da relação antiga entre aluna e professor, ele bem mais velho, descrevendo uma espécie de Lolita contemporânea. Dentro dos novos patamares de relacionamentos, com todos os problemas atuais de comportamentos amorosos, me parece instigante e uma leitura leve. Ou não.
3 — O Príncipe Maldito, de Mary Del Priore
Mary tem diversos estudos sobre a história da sociedade e vem se especializando na família real portuguesa no Brasil. Aqui propõe mergulhar nas traições e loucuras da família imperial. Como gostei muito de sua obra sobre “A Condessa de Barral e Histórias Íntimas”, estou curioso pra ver por onde essa colega historiadora vai decifrar essa história familiar.

4 — Salvar o Fogo, de Itamar Vieira Junior.
Depois de uma estreia exuberante com “Torto Arado”, não tive tempo para ver a performance do autor no novo livro. Seus personagens extraídos das entranhas da vida brasileira com os sofrimentos e reações acima dos preconceitos, talvez mantenha o nível do livro anterior, apesar das críticas feitas e questionadas acerca da nova obra. Vamos ler para crer.
5 — O Deserto e Sua Mente, Jorge Baron Biza.
Li em algum lugar uma crítica positiva de uma história real cuja mulher tem seu rosto desfigurado pelo marido que, após o divórcio, agride a mulher na frente do filho e a busca de sua identidade após o episódio com a ajuda do filho. Uma dupla história de realidades romanceadas que se passa nos anos 60 na Argentina. Tanto o marido como o autor cometem suicídio. Muita tragédia numa Argentina não menos trágica. Um tango triste.
6 — Goiás Reflexão e Ressignificação. Vols. 1 e 2, coordenação de Jales Mendonça e Nilson Jayme.
Os livros tratam de revisões e analistas de tópicos dos processos históricos de Goiás nas áreas da História, Geografia, Memória e Patrimônio, Literatura, Cronistas e Viajantes e Povos Originários. Ótima coleção de diversos coordenadores por obras. Li e escrevi para o Volume 1 e pretendo terminar o segundo em 2024.
7 — Travessia e Travessuras, de Lêda Selma de Alencar.
A rica poesia da contista, cronista, poeta e literata Lêda Selma é plena de encantamento. Nessa reunião de poemas, toda a beleza e criatividade da autora nos prende e arrebata. Leio sempre e prometi a mim mesmo terminar em 2024. Atente para o prefácio de Gilberto Mendonça Teles sobre a obra poética de Lêda.
8 — Passagens, de Walter Benjamin.
A obra de Benjamin é obrigatória para se compreender a história cultural das sociedades (e cidades). “Passagens” é uma de suas principais reflexões de 1935 a 1939 com seus mares de citações e ensinamentos. Li boa parte mas é uma obra mais para pesquisa do que para deleite. Há uma ótima nota introdutória de Willi Bolle, que já nos brindou com seu “grandesertão.br” É uma leitura hercúlea mas de imenso valor reflexivo. Tomara que consiga terminar.
9 — Walt Whitman — A Formação do Poeta, de Paul Zweig.
Uma releitura que faço todos os anos. A poesia de Whitman é o Céu no Chão. Foi um presente sensacional do jovelho Euler de França Belém e colou em mim de tal forma que nunca mais larguei. Promessa de releitura que certamente será novamente feita.

10 — Aniquilar, de Michel Houellebecq
Leio sempre o autor francês, que me surpreendeu com “Submissão” na estreia. Estreia pelo menos para mim. Gostei menos de “Serotonina” mas ainda me cativou. Espero
Nessas andanças e intrigas por Paris e suas nuances de crimes e castigos, o autor mantenha sua pegada original.
11 — Desaparecer de Si: Uma Tentação Contemporânea, de David Le Breton.
Me foi indicado pelo amigo Lisandro Nogueira essa intrigante obra de um possível enfrentar do mundo contemporâneo através da ausência de comunicação e das perdas de perspectiva diante do colapso do tempo vivido. Pretendo que seja minha primeira leitura de 2024.
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Sinésio Dioliveira — Jornalista e poeta
Depois que comecei a colher as coisas que alegram meus olhos por meio do uso da fotografia, confesso que fiquei um pouco preguiçoso no campo da leitura. Já li muito. Em muitos livros não tive acesso por completo ao seu conteúdo, transitei apenas na casca de suas palavras. Isso não por analfabetismo funcional, mas por falta de maior familiaridade com a linguagem, a ponto de não entender o que o poeta Carlos Drummond de Andrade disse num de seus poemas sobre as muitas faces das palavras: “Cada uma/ tem mil faces secretas sob a face neutra...”.
Os livros para formação da pessoa enquanto o que sou, já li. Não preciso mais de livros assim. Aprendi com o crítico literário Agripino Grieco (1888-1973) que o essencial não é ler muito, porém ler bem. Para 2024, tenho em mente as leituras (releituras) abaixo relacionadas. Folha seca que sou, o vento pode me fazer ler mais do que as obras mencionadas ou menos ou outros no lugar dos citados. Tem livro que a gente encontra (ou o contrário). Aí folheia, lê alguma coisa e então termina de ler.

De Albert Camus (releitura): “O Estrangeiro”, “A Peste”, “O Mito de Sísifo”.
De Antoine de Saint-Exupéry: “Terra dos Homens”, “Um Sentido Para a Vida”.
De Gustave Flaubert (releitura): “Madame Bovary”.
De Virgílio: “Eneida”.
De Itamar Vieira Junior: “Torto Arado”.
De Paul Auster: “4321”.
De Raul Bopp: “Cobra Norato”.
De Benjamin Moser: “Clarice,” (biografia de Clarice Lispector).
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Augusta Faro, escritora e membro da AGL

“Jesus, Mestre de Nazaré” é muito mais que uma nova biografia de Jesus, o grande personagem e aniversariante deste final de milênio.Trata-se de uma história que desafiou 2000 anos.
Em estilo romanceado, usando as descobertas da ciência bíblica, e historiadores da época de Jesus, especialmente do judeu Flávio Josefo, o autor faz do texto sagrado surpreendente obra literária. É um livro para todos, para quem nada sabe sobre Jesus Cristo, para quem o conhece e nele crê e também para quem possui bons conhecimentos bíblicos e teológicos.
É uma obra de fôlego do russo Aleksander Mien, cuja morte se deu logo após a publicação do livro, em 1989, provocado por extremistas em pleno clima da glasnost e da perestroika. O movimento que foi incapaz de deter a conquista dos corações do seu povo, sendo mais de 1 milhão de exemplares vendidos logo no primeiro ano. Foi lançado pela Editora Cidade Nova S Paulo. Ganhei o livro ano passado de um primo querido que faleceu precocemente.
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Martiniano José da Silva — Advogado e membro da AGL

Eis alguns livros que considero fundamentais, leitura obrigatória. Dentre outros, “Ignorância — Uma História Global”, do historiador cultural Peter Burke, e “Como Shakespeare se Tornou Shakespeare”, de Stephen Greenblatt.
Contudo, o livro que escolhi e indico como leitura obrigatória a fazer parte da lista de escolhidos pelo Jornal Opção, para o ano de 2024, é “Onde Encontrar a Sabedoria?”, do extraordinário crítico literário americano Harold Bloom.
Conforme oportuno texto da contracapa, Harold Bloom “nos conduz pelo cânone literário ocidental , desde a Bíblia até o século XX, examinando como a literatura pode nos mostrar o caminho para a sabedoria nas nossas vidas”. Dando-nos a resposta: “Por meio de comparações dos Livros de Jó e Eclesiastes, Platão e Homero, Cervantes e Shakespeare, Montaigne e Francis Bacon, Samuel e Johnson e Goethe, Emerson e Nietzsche, Freud e Proust, e, finalmente, em reflexões sobre o Evangelho de Tomás e a obra de Santo Agostinho, Bloom desfila as diversas — e por vezes contrárias — formas de sapiência que moldam o nosso pensar”.
Assim, creio poder enquadrá-lo entre os livros “de todos os tempos”, segundo ilustre pensador, acreditando não ser necessário resenhá-lo.
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Hélverton Baiano, jornalista e escritor

Minha vontade é a de ler toda poesia que em 2024 cair em minhas mãos. Vou me deixar cair em tentação. Prestigio os poetas da terrinha, meus pares. Estou me preparando para quando o carnaval chegar, que fiquei sabendo virá muita coisa boa de autores do nosso Estado por aí. Nessa toada, vou de “Poesias”, de Hugo de Carvalho Ramos, da coleção Gleba (Editora Trilhas Urbanas), que a gente conhece da prosa de “Tropas e Boiadas”. No rol de releituras estão “Vidas Secas”, do mestre Graciliano Ramos; “Sagarana”, de outro grande mestre Guimarães Rosa, e também “Viver é Prejudicial à saúde”, de Jamil Snege, autor que gosto muito. Isso porque preciso me melhorar, para ficar um pouco pior.
Já separei estante afora e estou metendo os peitos na virada de ano no romance “O Quinze”, de Rachel de Queiroz, que já acompanhei pelo cinema, mas ainda não li. “As Intermitências da Morte”, de José Saramago, está no meu radar, assim como “Cuca Fundida”, de Woody Allen. Gosto de misturar estilos, para ver como eu fico depois da leitura. Meus paradoxos me completam. Quero me adentrar em “Não É um Rio”, da argentina Selva Almada, e no “A invenção de Morel”, do seu conterrâneo Adolfo Bioy Casares.

Vou tentar fazer uma incursão pelo “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust. Acho que eu já posso tentar essa ousadia, porque não quero deixar para fazer isso depois de morto (não entendo de psicografia, afinal). Está no radar “A Confissão”, do goiano Flávio Carneiro, e quero adentrar também à “Cidade Infundada”, contos de uma turma de amigos, livro organizado por Adérito Schneider e Fernanda Marra.
Está em meu radar ainda “No Final da Tarde”, de Kent Haruf; “O imitador de Homens”, de Walter Tevis; “Pesado”, de Kiese Laymon; “Nossa Parte Noite”, de Mariana Enriquez; “A Ilha Perdida”, de Maria José Dupré, autora de “Éramos Seis”, que li na adolescência; “Max Perkins — Um Editor de Gênios”, de A. Scott Berg; “O Grande Mentecapto”, de Fernando Sabino, autor que é interessante revisitar; e, se der tempo no tempo de doze meses, “Samarcanda”, de Amin Maalouf, de quem li recentemente “As Cruzadas Vistas Pelos Árabes”.
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Elias Antunes — Escritor e crítico

Em primeiro lugar, entendo que a leitura é a própria essência da literatura, mas não só. Há livros para tudo e para todos, para todas as áreas e todos os gostos, quero dizer.
A leitura é um grande caminho de reflexão, exercício mental e beleza estética.
Neste ano de 2024 estão na minha lista para leitura (ou releitura) livros de ensaio, prosa e poesia:
“Lingu@gente”, de Gustavo Dourado. Poeta, escritor e cordelista, foi aprovado por unanimidade para a Academia Brasileira do Cordel, deixando para trás nomes importantes, como Bráulio Bessa.
“Fagulhas d’Alma”, de Leão Sombra do Norte. Poeta, ator, escritor, teatrólogo etc., desponta como um dos criadores da Academia Taguatinguense de Letras.
“A pele do Céu”, de Elena Poniatowska. A escritora mexicana tornou-se um nome reconhecido pelos seus romances que contam histórias humanas e atuais.
“Curso de Literatura Inglesa”, de Jorge Luis Borges. Um nome incontornável da literatura mundial. Neste livro temos as aulas dadas pelo autor argentino, transcritas por Martín Arias e Martín Hadis.

“Para Onde Vamos É Sempre Ontem”, de Ruy Espinheira Filho. Um dos poetas mais em voga na atual literatura brasileira. O livro reúne poemas selecionados dos livros publicados pelo poeta.
“La Vie en Close”, de Paulo Leminski. O principal nome da poesia marginal brasileira, Leminski causa sensação. Muito atual e necessário.
“Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. Considerado por muitos como o poeta maior de nosso idioma, em seu melhor momento.
“A história da Filosofia”, de Will Durant. Quis fazer uma obra sobre filosofia, sua história e teve a feliz ideia de escrever sobre os mais importantes filósofos.
“As Intempéries do Vento”, de Carlos Willian Leite. Ainda muito jovem, Carlos Willian ganhou o Prêmio Cora Coralina com esse livro de uma densidade poética surpreendente.
“Os Cantos”, Ezra Pound. Pound, sem sombra de dúvida, figura como o poeta máximo de nosso tempo.
“Redemoinho”, de Valdivino Braz. Poeta de ponta da nossa literatura, também escritor gabaritado. “Redemoinho” é uma novela que ganhou o prêmio Hugo de Carvalho Ramos.
“Trama da Luz”, de Alcione Guimarães. Poeta premiada, mantém uma tônica intimista e profunda ao mesmo tempo.

“A Lírica Poética da Manhã que Chega”, de Sônia Elizabeth. Considerada uma de nossas melhores poetas, seus poemas alcançam muita beleza estética e muita ternura.
“Antes do Fim”, de Ernesto Sábato. O grande romancista argentino apresenta nesse livro memórias de sua vida, enfrentando os dilemas de abandonar a ciência e buscar na literatura suas sombras. Transforma a tristeza da perda familiar em textos brilhantes.
“Mergulho nos Poros”, de Maria Luísa Ribeiro. Trabalha muito bem com a densidade poética. Este livro é uma verdadeira obra de arte, todo ilustrado com imagens.
“Balzaquianas”, Ubirajara Galli. O grande poeta, atualmente presidente da Academia Goiana de Letras, neste livro traz poemas eróticos e a celebração do amor físico.
“A Porta”, Margaret Atwood. Famosa por seus romances, a poeta também construiu obras interessantes.
“Travessias e Travessuras”, Lêda Selma. Este livro reúne os poemas publicadas por Lêda, ao longo de uma carreira vitoriosa.
“Queixumes”, Edival Lourenço. O grande romancista goiano é um poeta singular.
“Uma Confissão”, Liev Tolstói. O monstruoso autor de “Guerra e Paz” e “Anna Kariênina”, fez um livro pequeno, mas excelente sobre a experiência pessoal do reencontro com a fé.
“Breve Segunda Vida de uma Ideia”, de Solemar Oliveira. Livro de contos de um escritor premiado que já mostrou enorme talento na literatura.
“História da Terra e do Homem no Planalto Central”, de Paulo Bertran. Um dos maiores livros de história de nosso país, comparado a Gilberto Freyre.
“Vislumbres da Aurora”, de Denise Viana Toledo. O livro traz poemas místicos, com uma visão geral da natureza e do criador.
“Sentimento do Mundo”, de Carlos Drummond de Andrade. Pode ser que esse seja o melhor livro individual de um dos maiores poetas brasileiros.
“Melhores Poemas”, de Ferreira Gullar. Outro poeta de grande envergadura. A edição está atualizada e enriquecida com mais poemas do fabuloso autor.
“Mudança”, de Mo Yan. Escritor chinês, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. O livro faz uma análise de seu país, problemas e dificuldades, a partir de acontecimentos em sua vida. Caminha entre o romance e o ensaio memorialístico.
“Selección de poemas”, de Raúl Zurita. Indicado ao Nobel, Zurita tem causado verdadeiro frisson, com sua presença marcante. Na sua juventude, o poeta chileno, comunista e estudante, foi preso e torturado pela ditadura de Pinochet. Depois disso, passou por episódios de autolesão e automutilação, para procurar ultrapassar a dor. Seus poemas falam das prisões físicas e mentais, dos amores, da vida humana e suas lutas e dilemas. Infelizmente, ainda sem livros traduzidos no Brasil.

“Chão de Espera”, de Gabriel Nascente. O brilhante poeta goiano com seu livro, dentre dezenas, mais emblemático.
“Expedição Abissal”, de Hélverton Baiano. Poeta e escritor, nesse romance narra as desventuras de um grupo perdido em uma caverna. Baseado em fatos reais, o texto mistura realidade e ficção.
“Brasil 17.1”, de Ademir Luiz. O grande romancista Ademir Luiz comprova, neste livro, sua qualidade de ensaísta.
“O outro caminho”, de Coelho Vaz. Um dos baluartes da cultura do Estado de Goiás, construiu um livro com poemas refinados, sagrando-se vencedor do Prêmio Hugo de Carvalho Ramos.
“Obra Poética”, Yves Bonnefoy. Poeta francês de altíssimo nível, com seus poemas muito bem traduzidos — por Mário Laranjeira — em nosso idioma.
“Melancolia”, de Jon Fosse. Romance do vencedor do Nobel de Literatura de 2023. Com seu estilo muito pessoal, narra sobre a vida de um artista.
“Poesia”, de Jorge Luis Borges. Reúne os principais livros de poesia do maior poeta argentino.
“Sol Ridente”, de Pietro Costa. Pietro Costa, poeta candango, vem ganhando renome com sua obra, tanto na poesia, quanto na prosa.
“Desenhando Quadrinhos”, de Scott McCloud. Eu, procurando exercitar uma de minhas maiores vocações não realizadas. O livro não só ensina como desenhar, mas como trabalhar a história em quadrinho, com modelos, ideias, exemplos etc.
“O Riso”, de Henri Bergson. Filósofo francês, reconhecido e premiado, tratando sobre a questão do riso, nesse ensaio que muito serve para a teoria literária.
“Versos Que Me Habitam”, de Maria Félix Fontele. Neste livro de poemas, Maria Félix consegue apresentar poemas simples e, ao mesmo tempo, profundos.
“Poemas”, de Seamus Heaney. Poeta irlandês, vencedor do Nobel. A obra reúne o melhor de sua poesia. Trata da vida do campo, das memórias, das descobertas.
Etc.
Depois que terminei a lista, para alguém que se propõe a seguir uma carreira literária o “etc” era mais do que necessário. Percebi, também, que a maioria dos livros eram de poesia, o que me leva a reconhecer, mais uma vez, a beleza singular da linguagem poética.
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Irapuan Costa Junior — Escritor e colunista do Jornal Opção

1 — Ficando em Portugal por força de umas tarefas que vão aqui me prender desde este dezembro até o próximo fevereiro, andei visitando alguns alfarrabistas (como se chamam os sebos por aqui) e encontrei um volume que será minha primeira leitura de 2024. É uma publicação lisboeta de 1906, um dos muitos volumes de uma coleção de clássicos portugueses, escrito por Duarte Galvão, que leva o título de “Chronica de El-Rei D. Affonso Henriques” (sic).
Duarte Galvão (1446-1517) escreveu estas páginas à época do descobrimento do Brasil, mais precisamente em 1505, e pretendeu fazer um retrato biográfico do fundador e primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques (1109?-1185). Juntou registros, notícias, narrativas. O título original, era por sinal bem mais extenso: “Chronica do Muito Alto e Muito Esclarecido Príncipe D. Affonso Henriques, Primeiro Rey de Portugal” (sic). Galvão era fidalgo da Corte Portuguesa, Cronista-Mor do Reino e Diplomata, tendo sido embaixador em Roma e na França de Luís XII. Foi secretário de D. Afonso V e de D. João II.
Anos depois de publicado, o livro sofreu críticas, não porque dissesse inverdades, mas por revelar fatos que não seguiam os bons costumes da nova época portuguesa mais civilizada, como as lutas de D. Affonso Henriques com a mãe, Teresa de Leão, o encarceramento desta e o tratamento hostil dado por ele ao legado do Papa, enviado para amenizar a contenda.
É um livro de sessenta pequenos capítulos, com cerca de 200 páginas. Mais uma publicação de qualidade do que de quantidade de narrativas.
2 — Outro livro que está em meu colimador é “Histoire de la Nation Portugaise”, de Yves Léonard, saído no ano passado, pela editora francesa Tallandier.
Yves Léonard, de 62 anos, é um professor da Sorbonne e historiador francês especialista em Portugal. Já publicou vários livros sobre a história portuguesa e continua escrevendo sobre ela. O livro abrange a saga lusitana desde D. Afonso Henriques até Salazar e está muito comentado por aqui.
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Reinaldo Barreto — Advogado
Fazer lista de sugestões de leituras não é tarefa fácil. Incumbido pelo dileto e centenário amigo Euler de França Belem ponderei, mais uma vez, em preliminar que fico intimidado com as lembranças recorrentes de listas de conhecido amigo em comum que, além de trazer centenas de indicações, são de nível Oxford ou Cambridge. Há um livro que merece tradução para o português: “Vintage Crime — A Short History of Wine Fraud. É uma história das falsificações no mundo do vinho — o que é interessante para os brasileiros, que, cada vez mais, estão apreciando tomar bons vinhos. O livro menciona, até, “envenenamentos” — o que, aparentemente, está na “moda”.
Então, vamos lá:

1 — O Livro Que Mudou a Minha Vida, organizado por José Roberto de Castro Neves
Neves é destacado advogado no Rio de Janeiro e expert em Shakespeare, tendo já publicado várias obras excelentes e de leituras deliciosas, como “Medida por Medida — O Direito em Shakespeare”, “Como os Advogados Salvaram o Mundo” e “Shakespeare e os Beatles”. Em “O Livro Que Mudou a Minha Vida” vemos várias celebridades, de diversas áreas, apontando o livro mais importante em suas histórias e explicando os motivos das escolhas. Do ministro Luís Roberto Barroso à Monja Cohen, de Nelson Motta a Roberta Sudbrack, temos uma diversidade de abordagens literárias muito interessantes e enriquecedoras.
2 — Gravidade Zero — de Woody Allen.
Nessa coletânea de contos o genial cineasta mostra mais uma vez seu talento criativo. As vezes hilariantes, muitas vezes provocativas, as estórias curtas e ilustrativas do mundo cultural norte-americano são contadas por um dos mais autênticos nova-iorquinos, com sua vasta gama de neuroses e paranoias.
3 — O Eterno Declínio e Queda de Roma, de Edward J. Watts.
Uma abordagem muito original de toda a história de Roma desde a República, no Império e no declínio militar, político e cultural. O livro explica o fascínio que esse percurso sempre exerceu na humanidade, com foco nas tentativas de restauração do poder e da glória romana até o fascismo.
4 — Miserável no Paraíso, A Vida de Anthony Bourdain — Charles Leerhsen
A biografia não autorizada de uma celebridade mundial que surpreendentemente suicidou-se em 2018. Bourdain, rico e famoso, fazia programas nas televisões europeias retratando viagens e experiências gastronômicas em todas as partes do planeta.
5 — Fernando Pessoa, Nietzsche e o Niilismo” — Fabrício Fonseca Machado,
A junção da filosofia de Nietzsche e a poesia de Fernando Pessoa e seus múltiplos heterônimos resultam em surpreendente afinidade ao afunilarem-se no niilismo, considerado por muitos o “horizonte sombrio”, o “hóspede sinistro do século XIX”. Ou seja, a obra é uma paulada, com balanço profundo da fugacidade da vida. Vale ler também “Pessoa — Uma Biografia”, de Richard Zenith. Trata-se da biografia mais atualizada do poeta português.
6 — Entre Esplendores e Misérias — Adalberto de Queiroz.
Obra recente do poeta goiano. Sua mulher, Helenir Queiroz, publicou sua autobiografia “De um Jeito ou de Outro”, no qual desnuda a história do casal de modo surpreendentemente sincero. A empresária é uma self-made woman que tem contribuído para o desenvolvimento de Goiás. Adalberto de Queiroz é poeta de nível nacional, que merece ser publicado por editoras importantes, como Companhia das Letras, Relicário, Todavia, Cosac (que voltou ao mercado) e Iluminuras — única maneira de ser reconhecido no país. Bom poeta, já é; só falta o reconhecimento para além do Estado. O bardo goiano precisa ser lido e criticado por analistas do porte de Alcir Pécora e Paulo Henriques Britto.

7 — Um Tempo Para Não Esquecer — Margareth Dalcolmo.
A médica pneumologista e pesquisadora reuniu os artigos publicados no jornal “O Globo” desde a nefasta pandemia de 2020, trazendo a visão da ciência no enfrentamento da crise global. É uma voz iluminista da ciência brasileira. É presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e realiza importantes trabalhos na Fiocruz e no Ministério da Saúde. Atualmente lidera nacionalmente campanha relevantíssima contra o uso de cigarros eletrônicos, nefasta ameaça à saúde pública.