Imprensa
A jornalista Laila Navarrete, de 79 anos, morreu na sexta-feira, 27, no Hospital Anis Rassi, em Goiânia. Uma das mais importantes colunistas sociais da história do jornalismo de Goiás, Laila havia sido submetida a uma cirurgia, no Hospital dos Acidentados, para colocar uma prótese num joelho. A operação havia sido bem-sucedida. Pelo menos até sexta, a família não tinha informação precisa sobre a causa da morte. Laila trabalhou em vários jornais, como “Cinco de Março”, “Diário da Manhã”, “O Popular”, Jornal Opção, “Correio do Planalto” e “O Anápolis”. Ela tinha um conhecimento profundo da sociedade goiana — a dos ricos e da classe média — e escrevia muito bem e era uma profissional, acima de tudo, ética, íntegra. Pode-se dizer que era uma espécie de rainha do colunismo social de Goiás. Além do colunismo social, que exercia com raro prazer — era dedicadíssima —, Laila era poeta. Sua poesia era precisa e, ao mesmo tempo, delicada, amorosa e perspicaz.
Impossível discordar de uma lista que põe “O Poderoso Chefão” como principal destaque e cita “Cidadão Kane”. Mas como aceitar “Apertem os cintos... O piloto sumiu” como um grande filme?
A Editora Abril, que publica a “Veja” e a “Exame”, extinguiu mais uma revista. Agora foi a vez da “Info Dicas”, que estava na 126ª edição. A redação da revista informou ao site Comunique-se que os profissionais não serão demitidos. Devem ser remanejados. Maria Isabel Moreira, editora-chefe, irá para a “Info” — assim como a repórter Adeline Daniele. A Editora Abril extinguiu recentemente as revistas “Alfa”, “Gloss”, “Bravo” e “Lola”.
Iúri Rincon Godinho
Las Vegas é o paraíso dos antiquários nos Estados Unidos. Mas não qualquer um. A deliciosa e decadente região central da cidade abriga lojas com raridades ligadas à cultura pop, tipo bonecos do Elvis, revistas antigas, fichas de cassinos e caixinhas de fósforo. Uma delícia para encher a casa de coisas que a gente nunca vai precisar mas que são bacanas mesmo assim. Os antiquários nos Estados Unidos também emprestam dinheiro a juros, uma agiotagem consentida e bastante usada, vendem ouro e joias.
De todas essas lojas, chamadas de pawn shops, a mais famosa fica no início da Sunset Boulevard — praticamente a única rua de Vegas, onde está maioria dos cassinos —, dirigida por Rick Harrison. Seria apenas um antiquário descolado se não virasse seriado no excelente The History Channel, no Brasil com o nome de Trato Feito. A fórmula é simples: pessoas que compram as mais malucas quinquilharias, como um mapa do exército norte-americano da Segunda Guerra e anéis dos jogadores da liga de futebol dos EUA.
Este livro conta história da loja, a primeira a funcionar 24 horas na cidade, e, embora não seja dito, muito provavelmente para salvar com empréstimos na madrugada os viciados em jogo. O pai de Rick, chamado de Velho (sem sentido pejorativo) ou Old Man, serviu a Marinha na Segunda Guerra e abriu sem pretensão o negócio que o filho depois expandiria. Rick é um cara que a leitura e o conhecimento salvaram. Nunca gostou de estudar, mas ama ler. Adquiriu informações vastas, de tudo um pouco, que utiliza no negócio. Ao contrário de seu filho, que também trabalha no local e acabará herdando tudo.
No programa Trato Feito, a grande sensação não é da família Harrison, mas um funcionário gordo, pancada, apelidado Chum Lee. É o saco de pancada da turma, o cara que sabe que beira a imbecilidade e convive bem com isso, o que fica até mais tarde e o mais carismático. Ele pouco aparece no livro, tratado por Rick como uma obra sobre sua família e a pawn shop.
Agora os Harrison têm um show em Las Vegas e quase nunca aparecem na loja, que ficou fácil de ser achada pelas longas filas na porta. Quando vão gravar o Trato Feito, que é bem ensaiado antes e não tão natural quando aparenta, fecham as portas. Nas duas últimas vezes que fui a Vegas passei diariamente no local, o que dá aí umas 10 visitas. A única pessoa da família que vi foi o próprio Rick, que estava na porta. No que estacionei o carro ele já desaparecera.
Agora aqui em casa tem caneco do Trato Feito, camisa do Chum Lee e outras tranqueiras, mas o que eu queria mesmo, o autógrafo do Rick no livro, ainda terei de voltar lá pra conseguir.
Iúri Rincon Godinho é jornalista e publisher da Contato Comunicação.
Serviço:
Livro: “License to Pawn — Deals, Steals, and My Life at the Gold & Silver”
Autor: Rick Harrison
Editora: HYPERION
Páginas: 272
Osmar Santos tem o sobrenome do clube que consagrou o maior jogador brasileiro — Pelé. Osmar Santos, nome e sobrenome se exigem, talvez tenha sido o Pelé da narração esportiva, como quer o ex-jogador Branco. Na Copa do Mundo de 1986, ele foi o principal narrador da TV Globo — com Galvão Bueno como segundo narrador. Uma pena que um grave acidente, ocorrido em dezembro de 1994, tenha prejudicado sua fala e encerrado sua carreira. Recentemente o apresentador de televisão Datena e Branco se encontraram com Osmar Santos, que, mesmo com dificuldade, narrou um gol de Neymar. Uma cena emocionante. Alguns dos bordões e expressões criados por Osmar Santos: + "Parou por quê, por que parou?". + “Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha” + “Um pra lá, dois pra cá, é fogo no boné do guarda" + "Sai daí que o Jacaré te abraça, garotinho" + "Rosemiro, o namoradinho da Rachel Welch", + "No carocinho do abacate" + "Ai garotinho", "vai garotinho porque o placar não é seu" + “Ele estava curtindo amor em terra estranha" (citando impedimento) + "Tiro-lirolá Tiro-lirolí" (narrando um gol) + "E que GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL". + "Animal" (que grudou no ex-jogador Edmundo)
A repórter Dione Kuhn, do “Zero Hora”, publicou longa e importante entrevista do arquiteto João Otávio Brizola, único filho vivo de Leonel Brizola, na edição de sábado, 21. Discreto, foi a primeira vez que concedeu uma entrevista, segundo o jornal gaúcho. Ele admite que seu pai recebeu dinheiro de Fidel Castro, ditador de Cuba. “Até porque não havia outro para dar.” João Otávio diz que “Cuba era o país que estava deixando o mundo nervoso. Meu pai se agarrou no primeiro cipó. Durante os primeiros quatro meses, estava tudo tranquilo. (...) Tinha um grupo muito forte lá [no Uruguai], de umas 300 pessoas. Darcy Ribeiro e Waldir Pires foram a Cuba fazer essa gestão (de buscar o dinheiro para a organização da guerrilha). Quando eles voltaram, lembro que era tudo em moedas de 50 pesos mexicanos. Eram umas moedas de ouro. (...) Ele [Brizola] montou em uma chácara perto de Montevidéu um centro de treinamento de guerrilha”. Quanto exatamente o político que governou o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro recebeu dos comunistas cubanos? “Dizem que foi 1 milhão de dólares”, afirma João Otávio. “Lembro de um baú de madeira enorme com moedas de ouro. Ele se trancava nos quartos e, certa vez, eu entrei e viu um monte de moedas. E não era pouco.” Na chácara, João Otávio diz que “tinha armas. (...) Várias vezes chegavam cargas de armas lá”.
O corpo do antropólogo e suboficial da Marinha Antônio Duarte dos Santos será enterrado no Cemitério Parque Memorial de Goiânia (rodovia GO-020, KM 8, depois do Autódromo Internacional de Goiânia) na terça-feira, 24, às 11 horas. Antônio Duarte morreu no sábado, 21, aos 74 anos, no Rio de Janeiro, ao se submeter a uma cirurgia, no Hospital Marcílio Dias. Ele teve uma parada cardíaca. Há alguns meses, ele sofreu um infarto em Portugal, onde passou por uma primeira cirurgia. Dias antes de fazer a cirurgia, de seu leito no hospital, Antônio Duarte me disse que estava reunindo material para dois livros. Um já estava engatilhado. Era sobre o uso “imperialista” ou “neocolonialista” da geopolítica. A Marinha responsabilizou-se por trazer o corpo de Antônio Duarte para Goiânia, onde mora seu irmão José Duarte. Marinheiros, Antônio Duarte e José Duarte participaram do combate à ditadura civil-militar e foram exilados. Estiveram na Cuba de Fidel Castro e no Chile de Salvador Allende. Depois, Antônio Duarte foi para a Suécia. No seu excelente livro “Almirante Aragão – Fragmentos de Uma Vida” (Consequência, 234 páginas), há uma pequena biografia de Antônio Duarte: “Nasceu no Rio Grande do Norte em 1940. Ingressou na Escola Industrial de Natal (1952-1956) e na Escola de Aprendizes Marinheiros (1958). Participou do Movimento dos Marinheiros (1962-1964). Após o golpe militar contra o governo de João Goulart, foi condenado à pena de 12 anos de prisão. “Foi militante da resistência armada contra a ditadura. Depois, refugiou-se, primeiro em Cuba, também no chile, e depois na Suécia, onde se graduou em Antropologia na Universidade de Estocolmo. “Na volta do exílio, foi professor de Sociologia na Universidade Católica de Goiás e lecionou Antropologia na Universidade de Taubaté (SP). “Já publicou ‘Trabalhismo e Social Democracia’ pela Editora Global e ‘1964: A Luta dos Marinheiros’ pela Editora Diorama.” Em seguida, passou a morar no Rio de Janeiro. Antônio Duarte era um intelectual pluralista, mas posicionado. Quer dizer, permanecia de esquerda, mas crítico incisivo dos governos do PT. Em 2005, Antônio Duarte concedeu um longo depoimento ao Jornal Opção no qual apresenta informações interessantes sobre o Cabo Anselmo que, tendo se aliado ao delegado Sérgio Paranhos Fleury, é considerado o principal traidor das esquerdas. Parte do depoimento pode ser lida no link: https://jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/o-marinheiro-sueco-que-politizou-o-cabo-anselmo-4906/
Morreu no sábado, 21, no Rio de Janeiro, o marinheiro que, na década de 1960, contribuiu, de maneira decisiva, para politizar os demais marinheiros -- entre eles o Cabo Anselmo. Antônio Duarte dos Santos, que viveu exilado na Suécia, sofreu um infarto quando estava em Portugal. Passou vários dias internado na terra de Camões e Fernando Pessoa. Depois, foi trazido para o Brasil pela Marinha e internado no Hospital Marcílio Dias, no Rio, onde foi operado. Depois da cirurgia, sofreu uma parada cardíaca e, pouco depois, faleceu. Conversei com Antônio Duarte há poucos dias. Ele estava no Hospital Marcílio Dias e falava de suas pesquisas e de seus planos para publicar livros, um deles sobre geopolítica. Antônio Duarte era um intelectual refinado, de inteligência aguda e perspicaz -- comprometido com a mudança social. Acima de tudo, um homem decente. Permaneceu de esquerda até o fim. Em 2005, o Jornal Opção o entrevistou longamente. Um link para parte de sua entrevista pode ser conferido aqui: https://jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/o-marinheiro-sueco-que-politizou-o-cabo-anselmo-4906/
Iúri Rincon Godinho
Especial para o Jornal Opção
Dizer que guerras são terríveis é fácil. Difícil é falar dos avanços que ela traz para a humanidade em termos de inovação. A luta pela sobrevivência por meio das armas — de um país, uma religião, uma ideia — é tipo uma vitamina para o progresso. Longe de ser necessário, o conflito bélico indiscutivelmente tem seu lado positivo.
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a propaganda se beneficiou — se beneficia ainda no século 21 — de muitos ensinamentos do ministro da Propaganda do nazismo, Joseph Goebbels, agora explicitado à exaustão na bela, apurada e longa biografia do historiador alemão Peter Longerich, radicado na Inglaterra.
Muito do que se usa hoje na comunicação foi aplicado à perfeição na Alemanha dos anos 30 e 40: o reforço das boas notícias, a maquiagem do que é considerado negativo e, em especial, a insistência em uma mentira até que ela passe a ser verdade. Esquerda, direita, centro, todo mundo usa Goebbels até hoje.
Ele foi um profissional tão sofisticado que usava até a esquecida propaganda boca-a-boca, colocando os nazistas da base para espalharem nos bairros notícias que interessavam no momento. Na organização de eventos, encantava as plateias com estandartes gigantes de cores básicas e discursos sempre inflamados em amplos espaços, com vasta participação militar.
Contando a vida do ministro da Propaganda de Hitler, Longerich passa com desenvoltura pela paisagem alemã pós-Primeira Guerra (1914-1918), descobrindo a história de um jovem comum, sensível, que o destino colocou para viver em um tempo extraordinário. O Goebbels adolescente e do início da juventude em nada diferia do brasileiro cheio de sonhos, de amores platônicos, amigos e bebedeiras à procura de estudo e trabalho.
Mais tarde, já ao lado de Hitler, sua personalidade se transformará. Apaixonado pelo líder, não se importava em ser deixado fora das grandes decisões do Partido Nazista. Como gauleiter de Berlim — uma espécie de prefeito —, passou a não ter opinião própria. Sua vida significava o Partido Nacional-Socialista e, mais importante, o que Hitler pensava e mandava. Muitas vezes chegaria em frente ao Führer com uma ideia para sair de lá dez minutos depois convencido do contrário.
Essa relação homossexual sem sexo é o ponto alto do livro, em especial quando entra em cena Magda Goebbels. Nas fotos não apresenta beleza singular, mas devia ser, para definir com uma palavra antiga, “um ‘troço’”. Quando Goebbels a conheceu, já era casada. Se vivesse hoje, vários adjetivos poderiam colar na moça: vadia, fogo na roupa, maluca. Também apaixonada por Hitler como o marido, várias vezes o visitava sozinha, não raro sem avisar Goebbels — o que admite com desassombro em seu diário.
Antes de a guerra começar, em 1939, Marta quase o enlouqueceu com suas desaparecidas, discussões e encontros muito provavelmente não apenas com o Führer que, como se sabe, não era lá muito chegado na energia sexual, apesar de não haver indícios de que tenha sido homossexual. Ele apreciava a companhia feminina — pelo menos.
Depois que a Polônia foi invadida, em setembro de 1939, e começa a Segunda Guerra Mundial, a vida pessoal de Goebbels passa a segundo plano. Nos seus diários, ele se ocupa exclusivamente da política, das intrigas em seu departamento e da disputa interna que travou contra a comunicação da Wehrmacht, as Forças Armadas alemãs, que tinham independência.
Goebbels já era o censor, o cara que controlava o que a população podia saber pela imprensa. Com mestria se apoiava nos cinejornais, no rádio, nos folhetos, além de assistir e modificar os filmes de cinema — algumas vezes chegou a roteirizá-los. Workaholic, escrevia editoriais e lia muitos jornais. Ainda encontrou tempo, quando tudo estava perdido na Alemanha, para incentivar patéticos acordos com os países inimigos.
Vendo seu país invadido a Leste pela Rússia e a Oeste pelos ingleses e americanos, Goebbels ensaia uma ruptura com Hitler, o que não impede que morram juntos no início de 1945, o ministro e sua esposa dando veneno para seus filhos e depois se suicidando. Nos seus últimos textos não demonstra arrependimento, apenas pesar por não ter vencido a guerra. E por ter de abandonar Hitler, o grande amor de sua vida.
Iúri Rincon Godinho é jornalista e diretor da Contato Comunicação.
A TV Anhanguera conta com bons profissionais, seu jornalismo está mais agressivo, com o objetivo de superar a concorrência — que tem mais pegada, e com equipes menores, porém mais azeitadas —, mas continua pouco motivado. No afã de se “aproximar” da TV Serra Dourada — que supera o jornalismo da rival com frequência, segundo dados do Ibope — e da TV Record, a Anhanguera perdeu identidade com a Globo. Às vezes, em termos de seriedade jornalística, segue-se a Globo. Porém, em seguida, faz-se opção por um jornalismo modorrento, nada criativo, antigão — distanciando-se da rede. A Anhanguera, que permanece séria e tem uma equipe competente, precisa, com certa urgência, de um choque de criatividade e motivação (nada de otimismo em gotas, e sim no sentido de se fazer jornalismo com prazer e, portanto, com alegria). Jornalismo burocrático espanta telespectadores, que hoje têm dezenas, até centenas de opções, tanto em termos de televisão quanto de internet. A “fuga” para a internet — nem se fala dos canais por assinatura (cresce o número de pessoas que falam de séries e diminui o número de pessoas que falam de novelas) — parece que ainda não foi devidamente dimensionada pelos dirigentes do Grupo Jaime Câmara. Outro problema ao qual a Anhanguera precisa prestar mais atenção é a respeito da qualidade e da atualidade das informações de seu noticiário. Dada a rapidez do jornalismo que se faz na internet, e até nas emissoras de rádio e nos canais de jornalismo por assinatura, quando a Anhanguera noticia os fatos, por ser engessada pela grade de programação da Globo, eles estão “velhos”, pois foram comentados à exaustão em vários sites e portais o dia todo. A Anhanguera pode dar as mesmas informações, é claro, mas precisa nuançá-las. Porque, no momento, está chegando às casas dos telespectadores com um ar, digamos, déjà vu.
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“Teimosas Lembranças” contém histórias incríveis, como a do tenente brasileiro que desafiou o exército americano, na Itália, para liberar um pracinha rebelde[/caption]
Um belo livro acaba de ser publicado, mas não terá lançamento e possivelmente não será vendido nas livrarias — por desinteresse do autor, que não se considera escritor, quando, na verdade, o é e, mais, é um estilista da Língua Portuguesa. “Teimosas Lembranças”, do ex-governador de Goiás Irapuan Costa Junior, contém aquilo que se pode chamar de contos (ou crônicas) da vida real, ou, à maneira de Truman Capote, é possível indicar que são contos de não-ficção.
Usando a imaginação de maneira poderosa, Irapuan recria histórias reais, sem distorcê-las, mas tornando-as muito mais interessantes do que, possivelmente, foram na vida real. Para não ferir suscetibilidades, às vezes muda o nome das pessoas. Há uma delicadeza ímpar ao se contar histórias espinhosas. Pode-se dizer que há algo de insípido na vida cotidiana, isto para um observador desatento, o que não é o caso.
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Irapuan Costa Junior: o ex-governador de Goiás é um escritor nato, com imaginação poderosa[/caption]
Leitor frequente de livros em língua estrangeira (seu forte é o francês) — como um recente sobre Fidel Castro, o ditador cubano que adora mordomias —, Irapuan comprou num sebo o romance “The Fowler”, da inglesa Beatrice Harraden. Ao chegar em casa, percebeu que havia um dedicatória breve, de um homem para uma mulher. A partir daí, Irapuan, mostrando-se escritor consumado — senhor da forma e dono de uma imaginação fumegante —, recria a história de Neda e de M. Aranha. “Reflexões sobre uma pequena dedicatória” é o conto mais imaginativo e bem escrito do livro. É literatura pura. Puríssima.
“Chico Paraíba” merece figurar nos livros de história da Segunda Guerra Mundial. O pracinha Chico Paraíba foi preso pelos americanos, na Itália. O tenente Ithamar, oficial corajoso, enfrentou a arrogância dos militares de Roosevelt e Eisenhower, e libertou-o. A história é contada com graça e sutileza.
A história da cachorrinha Fumaça lembra, na maneira de contá-la, um conto do russo Anton Tchekhov.
A odisseia lancinante de Emília e André parece saída de um conto (ou romance; “Dom Casmurro”, por exemplo) de Machado de Assis, tal a perspicácia do narrador, que vai nos enredando, conduzindo-nos para um rumo e, no fim, a história toma outro caminho — doloroso, trágico.
“O Vulto da Outra” é um conto da vida real que, nas mãos de Hitchcock, daria um filme de suspense (ou, talvez, dramático), como “Um Corpo Que Cai”. Ou, quem sabe, “Rebeca — A Mulher Inesquecível”. O engenheiro Alexandre apaixona-se por Marta, mas ela morre. Deprimido, passa a beber. Tempos depois, casa-se de novo, com uma nova Marta, ao menos na aparência. Entretanto, se era semelhante, dado ao estilo sugerido (ou imposto) por Alexandre, Irene não era Marta — e tudo acabou mal.
Poderia dizer ao leitor: “Nasce um escritor”. Mas seria impreciso. Irapuan é escritor há muito tempo — o que provam seus textos publicados no Jornal Opção. Só não havia publicado um livro, por falta de vaidade.
Fica-se na torcida para que nos dê outros livros. Há algum tempo que tento convencê-lo a escrever um livro sobre Jack London. O escritor norte-americano não é nenhum James Joyce ou William Faulkner. Mas é daqueles autores que quando se pega um de seus livros e se lê as duas primeiras páginas não se para mais. Trata-se de um notável contador de histórias, que puxa o leitor para uma espécie de imersão profunda, sugerindo que também está participando delas. Irapuan é um jacklondófilo. Sabe tudo sobre a obra e sobre a vida do autor de “Caninos Brancos”, “O Chamado Selvagem” e “O Lobo do Mar” (um belo romance filosófico).
A obra é apresentada pelos escritores Hélio Moreira (autor de um ótimo romance sobre Couto Magalhães) e Aidenor Aires. As ilustrações são de Amaury Menezes.
Depois de distorcer as palavras de Ana Paula, filha de Iris Rezende — a jovem teria atacado Júnior Friboi quando as gravações indicam que estava criticando o governo tucano —, o “Pop” comete mais um erro. No seu lançamento como vice de Iris, o deputado federal Armando Vergílio não disse que o governador Marconi Perillo promete e não entrega. Basta checar as gravações para verificar que não há nenhuma fala do presidente do Solidariedade a respeito. O “Pop” tem como apresentar gravações para se defender? Não tem, garante Armando Vergílio. Na verdade, a fala é de Silvio Souza, aliado de Armando Vergílio. A suposta fala do deputado foi a deixa para o vice do governador Marconi Perillo, José Eliton, ser acionado rapidamente por Jarbas Rodrigues Jr., da coluna “Giro”, e fazer a defesa do governo. Como a editora-chefe Cileide Alves sabe, tudo está muito ensaiadinho para ser jornalismo. Mas não sabe o que está realmente acontecendo debaixo de seus olhos de Capitu. As competentes editoras Cileide Alves e Silvana Bittencourt precisam ficar mais atentas àquilo que as empresas às vezes chamam de controle de qualidade. A editoria política tem falhado com frequência e o jornal raramente publica correções.
Ricardo César e Pedro Palazzo, dois repórteres competentes e experientes, deixaram a redação do “Pop”. O primeiro escapou da “escravidão” das edições de fim de semana. Ricardo César estaria sendo “discriminado”. O segundo pretendia ficar no jornal, mas, ao assumir a assessoria do vereador Elias Vaz (PSB), candidato a deputado estadual, foi convidado a se retirar. Cileide Alves disse ao jornalista que era eticamente incompatível trabalhar como repórter e assessor. A editora-chefe tem razão. Mas por que é incompatível só para Pedro Palazzo? Em três ou quatro anos, o “Pop” perdeu alguns de seus melhores repórteres — todos eles empregados noutros lugares, e com salários bem maiores —, por falta de uma política salarial adequada e de um ambiente de trabalho menos conflituoso. Uma lista mínima inclui: Rodrigo Craveiro (saiu há mais tempo; está no “Correio Braziliense”), Almiro Marcos (Correio), Vinicius Sassine (“O Globo”), Deire Assis (trocou o jornal por uma agência de publicidade), Marília Assunção, Pedro Palazzo, Ricardo César. Uma verdadeira redação, e de alta qualidade.
O “Pop” publica na edição de terça-feira, 17, manchete explosiva, sugerindo uma guerra na capital: “Goiânia já tem 30 homicídios em cinco dias”. O jornal acrescenta: “Goiânia vive dias sangrentos. Desde o dia 12, em média, uma pessoa é assassinada a cada três horas na capital. Foram 30 homicídios em cinco dias — onze de domingo para segunda. Entre as vítimas, Taynara Cruz, 13 anos, morta no domingo por um motoqueiro em praça no Bairro Goiá”. Roberto Civita, falecido dirigente da Editora Abril, dizia que jornalista não sabe contar. Pode ser o caso da reportagem do “Pop”. Deixando de lado a matemática à Fradique Mendes do “Pop”, examinemos os dados: se foram 30 mortes em cinco dias, então são seis casos por dia. Como um dia tem 24 horas, então é um assassinato a cada quatro horas e não três como atesta a tabuada do jornal (6x3: 18; 6x4: 24 ou, se o leitor preferir, 24 horas divididas por seis, que resultam em quatro).
A secretária de Justiça do governo de São Paulo, Eloisa Arruda, disse, numa nota a respeito de refugiados haitianos, que o governador do Acre, Tião Viana (PT), estava se comportando como “coiote” (estaria “enviando” haitianos para São Paulo). O petista processou tanto a secretária quanto a jornalista que publicou a notícia, Vera Magalhães, da “Folha de S. Paulo”, alegando que cometeram crime de “injúria”. O advogado da “Folha”, Luiz Francisco de Carvalho Filho, sustenta que a repórter limitou-se a exercer “sua função de informar”. O Portal Imprensa conta que Tião Viana disse que incluiu a jornalista em cumprimento a uma exigência legal: “A desistência da ação em relação à jornalista representaria também a desistência da ação em relação à secretária”. Noutras palavras, mesmo não sendo sua intenção, o petista está praticamente “isentando” a repórter. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo divulgou nota na qual repudia a ação por considerar como “desproporcional e ilegítimo o uso do direito penal como restrição à liberdade de expressão”.
