Direto do Oriente Médio
O risco existe, mas é certo que os serviços de inteligência israelenses estão muito mais preparados do que os da França
Ao abater o caça russo, a Turquia mostra as garras, expõe a frágil relação com os russos e se torna mais um problema na região que está prestes a explodir

A chamada Cidade Luz está associada ao romantismo, mas quando se estuda a história do terrorismo, ela aparece como personagem principal

A queda do Airbus A321 da Rússia expõe a falta de comunicação entre os serviços de inteligência mundiais e as falhas que tornam o combate ao Estado Islâmico uma missão aparentemente impossível

Declaração infeliz do primeiro-ministro de Israel trouxe à tona um personagem que estava perdido e que de certa forma influenciou o Terceiro Reich

Putin quer "dominar" o mundo, ou parte dele, e não esconde isso de ninguém
Livro de Nobel da Paz mostrou, em 1993, como a paz chegaria ao Oriente Médio. O mundo vê agora como ele estava errado

É hora de o mundo fazer algo pelo qual nunca antes se interessou: diagnosticar o que torna as regiões do planeta tão diferentes

Chegou a hora de saber se solidariedade é apenas mais uma palavra usada para florear os discursos de líderes europeus
Em meio a rumores de negociações secretas, o inimigo pode se tornar um parceiro para a paz. Mesmo que ela tenha prazo de validade
Com o avanço dos rebeldes e do Estado Islâmico, e sem tropas suficientes, a situação do ditador Bashar al-Assad vai se complicando, e o fim parece cada vez mais próximo
[caption id="attachment_42779" align="alignleft" width="620"] Bashar al-Assad: situação
do ditador na guerra nunca esteve tão ruim e seus dias parecem estar contados | Foto: Yuri Kadobnov/AFP[/caption]
Discussões violentas no trânsito muitas vezes terminam em tragédias. Aqui em Israel, depois que um homem foi assassinado porque brigou com outro motorista por uma vaga de estacionamento num shopping center há 6 anos, a Universidade Hebraica de Jerusalém resolveu ir a fundo no assunto, e estudos mostraram que o desentendimento entre motoristas pode resultar não somente em morte violenta, como também em uma parada cardíaca tão mortal quanto a bala de um revólver. Mas, quando uma briga de trânsito acontece na Síria, o desfecho pode ser ainda pior, até mesmo catastrófico.
E foi justamente isso que aconteceu na semana passada, quando o general Hassan Mahmoud al-Shaikh foi assassinado por um parente próximo do ditador sírio Bashar al-Assad.
Segundo testemunhas, Shaik não teria permitido a ultrapassagem de Suleiman al-Assad. Quando finalmente conseguiu passar o carro do general, Assad interrompeu o trânsito, saiu do veículo apontando a arma para o militar e atirou na cabeça dele, bem em frente da esposa e dos filhos.
Nos últimos cinco anos de guerra civil, a Síria foi e é o palco de atrocidades e mortes ainda mais violentas que a de Shaik, e a morte dele certamente não repercutiu entre os familiares das 250 mil pessoas que já morreram no conflito. No entanto, para o ditador, o assassinato do general não poderia ter vindo em pior hora.
O militar de alta patente comandava voluntariamente a Força de Defesa Nacional em Latakia, região considerada o último bastião que ainda apoia o governo de Bashar al-Assad, onde praticamente toda a população é de origem alauita, o clã ao qual o presidente sírio também pertence. Eles representam 10% da população do país. A Força de Defesa Nacional tem um nome pomposo, mas trata-se de gangues armadas, conhecidas também por “Shahiba”, espalhadas por todo o país, primeiramente para conter os protestos antigoverno e, hoje, para combater os rebeldes juntamente com o exército sírio.
Para complicar ainda mais a situação de Bashar al-Assad, o assassino do general é filho de um primo do presidente, Hilal al-Assad, um ex-comandante da mesma Força de Defesa Nacional de Latakia, que foi morto pela Al-Qaeda em 2013. Hilal foi substituído pelo filho Suleiman al-Assad, que tratava a população local como sua propriedade, instalou postos de controle em vários vilarejos, ameçava e matava quem não seguisse suas ordens. Desde a quinta-feira passada, quando matou o general, que na escala hierárquica das milícias era seu chefe, Suleiman al-Assad fugiu para o Líbano e desapareceu.
O assassinato provocou protestos violentos, não somente em Latakia, mas também nas regiões que o governo sírio ainda controla, e que representam apenas 25% do que a era a Síria cinco anos atrás. Nos últimos dias o número de deserções de voluntários que lutavam junto à Força de Defesa Nacional não para de subir. Os que lutavam por Assad, agora estão se juntando aos rebeldes. Uma dor de cabeça muito maior para o ditador do que apenas acalmar a família da vítima, que exige a execução do assassino. As acusações inundaram as redes sociais, e as ameaças também. Os alauitas estão divididos entre os que apoiam o governo e os que são contra a morte dramática do general que os defendia.
Latakia é um distrito controlado por importantes famílias. A morte do membro de uma delas pode provocar reações em cadeia que certamente vão terminar em revolta, numa das poucas regiões que ainda está sob o controle geral do governo sírio. Ciente disso, Bashar al-Assad passou para sua irmã Bushra al-Assad (talvez o único membro da família que ainda tem boa reputação) a missão de acalmar o distrito. Bushra enviou o filho Basel para conversar com a família da vítima e encerrar a crise que pode incendiar Latakia.
Em outros tempos, antes da guerra que destruiu o país, se um fato como esse acontecesse, certamente nenhum dos Assad se preocuparia em se desculpar com a família do morto. Mas com a forças rebeldes se aproximando das fronteiras de Latakia, o esfacelamento do exército sírio e o número de soldados reduzido, Assad não se pode dar ao luxo de perder mais homens por deserção e muito menos abrir caminho para uma revolta em seu último território.
A situação do ditador na guerra nunca esteve tão ruim. Enquanto os rebelde do Exército Livre da Síria avançam de um lado, o Estado Islâmico, também conhecido por ISIS ou ISIL, continua a expandir na área rural do distrito de Homs e está bem próximo de conquistar a cidade de Homs. Assad não possui tropas suficientes para bloquear o avanço nem dos rebeldes nem do ISIS. Latakia ficará isolada. E foi por isso, que nos últimos dias o ditador acenou para a possibilidade de uma iniciativa diplomática encabeçada pela Rússia e Irã para tentar negociar com os rebeldes. Mas é tarde demais, os inimigos de Assad acreditam que ate o fim do verão, que termina no mês que vem, terão conquistado boa parte do território sírio. A era Assad na Síria parece estar com os dias contados.

Uso da violência funciona e quem burla a lei sai ganhando. Por enquanto, a paz continua sendo fantasia
No domingo passado, dezenas de jovens, voluntários do mundo inteiro, se reuniram no centro cultural de Amara, em Suruc na Turquia, bem na divisa com a Síria, para discutir como ajudar na reconstrução da cidade de Kobani, a dez quilômetros dali. Kobani, que durante anos esteve sob controle Curdo, foi capturada temporariamente pelo Estado Islâmico em janeiro desse ano. Os jihadistas foram expulsos com a ajuda bombardeios de forças aliadas que são lideradas pelos Estado Unidos. Mas o custo foi muito alto. Toda cidade foi destruída. O centro cultural de Suruc, devido à proximidade com a fronteira síria, acabou virando também um ponto de apoio para jornalistas e delegações de voluntários e visitantes que buscam ali informações sobre a situação na guerra civil no país vizinho. Até que uma grande explosão mudou todo o cenário. Uma mulher-bomba se explodiiu dentro do auditório. Resultado da tragédia: 32 mortos, pelo menos 100 feridos. Na mesma hora, em Kobani, a dez minuos dali, outra explosão matou três pessoas. Segundo os serviços de inteligência turco, a ação do Estado Islâmico veio como mensagem de que a batalha por Kobani ainda não terminou, mesmo agora, com a presença de forças curdas que ocupam praticamente toda a cidade. E mais, com ataque o Estado Islâmico quis deixar bem claro que a Turquia não está imune de suas ações terroristas. A Turquia, que os Estados Unidos e países europeus aucsam de facilitar a passagem de radicais islamitas por suas fronteiras em direção à Siria, até a semana passada ainda não tinha sentido na carne o horror de um atentado terrorista de tal proporção. O país já passou momentos turbulentos regados a ataques explosivos, mas com um inimigo íntimo: o PKK, o partido trabalhista curdo que luta pela independência de seu território há anos. Se até a semana passada a maior preocupação da Turquia era o terrorismo curdo, agora tudo mudou. O país, que se achava intocável por facilitar a passagem de jihadistas por suas fronteiras para se juntarem à organização criminosa que ocupa parte da Síria e do Iraque, percebeu que também está se tornando uma área de combate para o Estado Islâmico e por isso terá que mudar sua estratégia. A coalizão dos turcos com os sauditas deverá ser fortalecida. E a cooperação com os Estados Unidos também deve aumentar. Os americanos querem permissão para instalação de uma base aérea em território turco que vai facilitar os ataques contra o ISIS. Pra complicar ainda mais, os turcos ainda não sabem se apoiam ou não o fortalecimento das milicias curdas, que lutam contra o Estado Islamico. O governo sabe que depois do ISIS, os curdos vão continuar a luta pela independência. só que muito mais fortes e organizados. A Turquia está de mãos atadas, não só militarmente mas também na política. A guerra na Síria e a luta contra o Estado Islâmico vai muito além da fronteira. O país está divido, mas o próximo governo sabe que assim que eleito terá que definir se a Turquia entra ou não pra valer na guerra contra o Estado Islâmico.

O mundo festejou o chamado melhor acordo diplomático em 70 anos, mas se os iranianos estiverem blefando o futuro de Israel estará comprometido

Se Israel e países árabes trabalharem juntos pela reconstrução da região, estarão evitando uma nova guerra e pavimentando uma nova ordem regional