Por Rodrigo Hirose

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Em plena pandemia, sombra de golpe institucional volta a rondar o Brasil

Historiadores e cientista político analisam o atual momento político do País, que vê a tensão recrudescer com o embate entre bolsonarista e oposicionistas

Miguel Otávio: um quadro de Debret no século 21

Tragédia ocorrida em Pernambuco escancara o tipo de mazela brasileira que teimamos em varrer para debaixo do tapete

Miguel Otávio e pintura de Jean-Baptiste Debret

De vez em quando acontece alguma coisa para jogar na cara de todos o quanto o Brasil é um país hipócrita, que varre suas mazelas para debaixo do tapete. A morte do menino Miguel Otávio é um desses momentos em que o racismo velado, a desigualdade escamoteada e a cordialidade fingida são escancarados e saem do armário com tanta força que nos obriga a abrir os olhos.

Miguel Otávio era negro, como negro é sua mãe, Mirtes de Souza, como negras são a grande maioria das empregadas domésticas neste país. E, claro, Mirtes servia uma família branca: o prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker Corte Real, e a primeira-dama do município, Sarí Mariana Gaspar Hacker Corte Real.

Apesar de ser prefeito de um município localizado a 260 quilômetros de Recife, uma viagem que pode durar quatro horas, Sérgio mantinha residência na capital pernambucana. Era lá que estavam Mirtes, Miguel Otávio e Sarí. O prédio é conhecido como Torres Gêmeas – um símbolo do provincianismo e do deslumbre da elite brasileira. Como tudo que está ruim pode piorar, descobriu-se que a mãe, agora enlutada, é registrada como servidora de Tamandaré – sem o saber.

Todo o cenário em torno da tragédia remete aos quadros de Jean-Baptiste Debret. O pintor francês deixou os principais retratos do Brasil colonial. Neles, retratou a rotina da casa grande e das senzalas, dos pelourinhos e dos mercados. É como se o caso Miguel Otávio nos transportasse tal qual uma máquina do tempo para o período em que a escravidão ainda vigorava legalmente nos tristes trópicos.

Miscigenação

Na obra-prima Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre aborda o processo de miscigenação ocorrido no Brasil colônia. Por falta de mulheres brancas, os senhores de engenho se deleitavam com as mulheres negras. Os meninos, invariavelmente, se iniciavam sexualmente com elas. Parte do caráter nacional forjou-se assim: com a exploração da força de trabalho e dos corpos de homens e mulheres trazidos à força nos navios negreiros.

O Brasil foi o último país democrático a romper oficialmente com a escravidão. Suas chagas continuam abertas: são os negros que lotam os presídios e os necrotérios nacionais. Agora, são eles que sofrem mais com a Covid-19. Nas redes sociais, chamam isso de mimimi. Não à toa Humberto Eco a caracterizou como porta-vozes de imbecis.

O caso Miguel Otávio empresta a esses contornos traços de crueldade. A mãe do menino cuidava da filha do patrão. A patroa não cuidou dele. No momento da tragédia, Mirtes não podia dar atenção ao próprio filho. Porque cuidava do cachorro dos patrões. É duro, mas é preciso dizer: a criança morreu porque o cãozinho precisava fazer cocô.

Estados Unidos

Não é mera coincidência que a morte de Miguel Otávio tenha ocorrido no mesmo momento em que os Estados Unidos literalmente se incendeiam em meio a manifestações que combatem o racismo. Lá, como cá, os negros são as maiores vítimas da polícia – sim, vítimas, porque, no caso de George Floyd, como nas favelas brasileiras, o que ocorreu foi um homicídio causado por um sádico que usava uniforme.

Nem parece, mas, 65 anos após Rosa Parks e de Martin Luther King, a maior democracia do planeta ainda carrega seus demônios raciais sobre os ombros. Os mesmos que assombram os negros brasileiros em cada esquina, em cada elevador, em cada loja de grife.

Rosa Parks, símbolo da luta pelos direitos
civis nos Estados Unidos

Mito da igualdade racial

Um dos grandes problemas do racismo no Brasil é o não reconhecimento dele. O mito da igualdade racial impede que a questão seja encarada como deve. Mas o racismo de cada um se revela em todos os instantes: nas piadas, na linguagem, no medo quando se anda pelas ruas.

Admitir, ouvir, aprender, corrigir, compreender, evitar repetir os erros faz parte do aprendizado cotidiano para superá-lo. Algumas políticas de afirmação, como as cotas nas universidades, são o primeiro passo. Porém, a mudança real só ocorrerá quando ela estiver no olhar.

É como diz o mantra dos alcoólicos anônimos: “Acima de tudo, faça-o um dia de cada vez”.

Goiânia e Aparecida adotam estratégias diferentes no combate ao coronavírus

Enquanto na capital Iris Rezende resiste à reabertura dos shoppings centers, seu colega de partido, Gustavo Mendanha, autoriza o retorno das atividades

Goiânia dá um salto no escuro, mas manter a quarentena é cada vez mais difícil

Planejamento da capital é de reabertura gradual das atividades ainda paralisadas, quando aumentam os diagnósticos de coronavírus

Casos de coronavírus aumentam mais de oito vezes em um mês na Região Noroeste de Goiânia

Em um mês, número de diagnósticos positivos para a Covid-19 saltou de 11 para 97 e o de bairros com a infecção pulou de 10 para 23

A evolução da Covid-19 na Região Noroeste de Goiânia

A observação da evolução dos casos de Covid-19 nos bairros da região Noroeste de Goiânia, em que vivem aproximadamente 160 mil pessoas, mostra como o coronavírus se espalha mais rapidamente em uma das regiões mais carentes da capital que nos bairros centrais e nobres – onde os primeiros casos foram registrados. Em um mês, o número de diagnósticos positivos passou de 11 para 97 na região (um salto de 880%). No mesmo período, o número total do município foi de 267 para 1.407 (um acréscimo também preocupante de 536%).

Os dados foram levantados pelo Jornal Opção na Plataforma Covid Goiás, da Universidade Federal de Goiás (UFG), que tem sido uma das principais fontes de informação para o comitê formado pelo governo de Goiás para monitorar e propor ações de combate à doença. No dia 27 de abril, havia casos em dez bairros da região: Residencial Barravento, Recanto do Bosque, Jardim Fonte Nova, Vila Finsocial, Setor Morada do Sol, Jardim Curitiba, Parque Tremendão, Jardim das Hortências, Jardim Colorado e São Domingos.

Agora, são 23 bairros da região Noroeste de Goiânia com casos oficiais de Covid-19. Além dos já citados, foram incluídos: Setor Alto do Vale, Residencial Brisas da Mata, Setor Estrela Dalva, Jardim Vista Bela, Setor Novo Planalto, Jardim Liberdade, Vila Mutirão, Bairro Floresta, Boa Vista, São Carlos, Bairro da Vitória, Conjunto Primavera e Jardim Primavera.

Os bairros com mais confirmações de infecção pelo coronavírus na região são o Jardim Curitiba, com nove casos; O Parque Tremendão, com oito; o Residencial Barravento, com seis; o Recando do Bosque, o Setor Estrela Dalva e a Vila Mutirão, com cinco cada. Veja a lista dos demais bairros com casos confirmados na região Noroeste:

Setor Alto do Vale4
Jardim Fonte Nova4
Setor Morada do Sol4
Residencial Brisas da Mata4
Jardim Liberdade4
Jardim Vista Bela3
São Domingos3
Boa Vista3
Bairro da Vitória3
Conjunto Primavera3
São Carlos2
Bairro Floresta2
Setor Novo Planalto2
Jardim das Hortências1
Jardim Primavera1

Universidade dos EUA projeta 893 mortes por Covid-19 em Goiás até início de agosto

Estudo da Universidade de Washington cruza informações como o índice de isolamento social e a capacidade da rede hospitalar

Pequenos e microempresários são os mais afetados pela quarentena

Impacto da pandemia de Covid-19 nos negócios deve ser duradouro, mesmo com a retomada gradual das atividades econômicas

Rua da Região da 44 com comércios fechados | Foto: Fernando Leite

A pandemia causada pelo coronavírus, que já matou mais de 22 mil pessoas no Brasil (até a noite de sábado, 22), tem causado um estrago enorme também na economia do País. As projeções dão conta de uma queda de mais de 7% do Produto Interno Bruto (PIB), o que seria o maior tombo desde 1962, início da série histórica disponível no site do Banco do Brasil. Neste cenário, os pequenos negócios são os mais afetados.

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mais de 600 mil empresas fecharam as portas definitivamente no Brasil após o início da quarentena imposta como alternativa para conter a disseminação do coronavírus Sars-CoV-2, o causador da Covid-19). Em Goiás, existem 341 mil microempreendedores individuais e 244 mil microempresas. São exatamente as que mais têm sofrido o impacto da doença em suas finanças.

É o que revela a pesquisa Impacto econômico do coronavírus nos empresários de Goiás, realizada pela divisão de pesquisa do Grupom Consultoria Empresarial. Na quarta rodada da sondagem, 64% dos MEIs tiveram as atividades completamente suspensas por causa do coronavírus. Nas microempresas, esse índice foi de 54,9% - a título de comparação, apenas 38,5% das grandes empresas tiveram de interromper completamente as atividades, segundo a pesquisa.

Em entrevista ao Jornal Opção, diretor-superintendente do Sebrae, Derly Fialho, disse que os pequenos negócios são mais vulneráveis porque trabalham com fluxo de caixa reduzido. “Os pequenos são mais frágeis, têm mais carência de recursos e clientes voláteis”, afirmou.

Dennis Egídio, do Sindac: "Como manter
empregos com 30% dos clientes?"

Este é o cenário, por exemplo, do setor de academias de ginástica, em que a presença de microempresários e microempreendedores individuais é grande – muitos deles atuam como personal trainer. A previsão do presidente do Sindicato das Academias de Goiás (Sindac), Dennis Egídio Gonçalves, é de que cerca de 50% dos 10 mil trabalhadores do setor, que trabalham em 1,2 mil academias regularizadas (700 delas na Grande Goiânia) percam seus empregos.

Após praticamente dois meses paradas, as academias puderam reabrir as portas na semana passada, graças a uma liminar concedida pelo desembargador Gilberto Marques Filho. Contudo, as restrições não permitem que o funcionamento seja pleno. “Como manter os empregos se o empresário só poderá receber 30% de seus alunos?”, questiona Dennis Egídio, cujo sindicato representa academias, estúdios de pilates, escolas de natação e similares.

Grandes também sofrem

Mas, se os pequenos e microempreendedores são os mais vulneráveis, a pesquisa do Grupom mostra que o estrago nas finanças atinge empresas de todos os tamanhos. Metade dos 1.830 empresários ouvidos pelos pesquisadores afirmaram que tiveram de parar completamente as atividades devido à quarentena.

Assim, mesmo com a liberação da retomada de algumas atividades no último decreto do governo do Estado, muitos deles ainda sentem os efeitos das medidas mais severas adotadas a partir da segunda quinzena de março para conter a pandemia. Entre os entrevistados pelo Grupom, 76,6% afirmaram que as decisões governamentais tiveram impacto forte ou muito forte em suas atividades. Com isso, 80,3% dos empresários declararam que não tinham caixa para manter as portas fechadas por mais de 60 dias.

Paradoxalmente, o apoio ao isolamento social tem aumentado entre os empresários, segundo o Grupom. Na primeira semana de abril, quando foi realizada a primeira rodada da pesquisa, 14,7% eram totalmente contrários à medida. Na última rodada, divulgada na quinta-feira, 23, o índice caiu para 4,8%. Por outro lado, os que se diziam totalmente a favor eram 20,3% em abril e, agora, são 33%.

De acordo com o diretor-técnico do Grupom, Mário Rodrigues Neto, essa aparente contradição pode ser explicada pelo próprio avanço da pandemia em Goiás. Na primeira semana de abril, apenas 9,6% dos empresários conheciam alguém – seja na empresa, entre amigos ou familiares – que apresentaram sintomas da Covid-19. Na última rodada da pesquisa, esse número saltou para 18,2%.

O resultado da crise já pode ser sentido na balança comercial de Goiás. Em abril, houve uma queda de 12% nas exportações goianas. Em março, elas somaram R$ 748 milhões. No mês passado, R$ 611,8 milhões.

Fernando Jorge, da Abrasel: crédito
não chega

Financiamento não chega

Se, por um lado, a atividade econômica demora a voltar ao normal, por outro os empresários que precisam de socorro financeiro têm tido dificuldades para acessar as linhas de créditos disponíveis. Presidente da seção goiana da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Fernando Jorge estima que até 3 mil estabelecimentos baixem as portas definitivamente no Estado, levando 12 mil pessoas ao desemprego.

Ele critica as linhas de créditos anunciadas pelo governo federal que, segundo ele, não chega na ponta, ou seja, no caixa dos empresários. Fernando Jorge afirma que que os bancos estão ainda mais exigentes em relação à burocracia. “Os bancos sabem das dificuldades dos empresários e dificultam o crédito”, afirma.

A mesma queixa é feita pelo presidente do Sindbares Goiânia, Newton Pereira. “O crédito está muito restrito”, diz. Dono de um restaurante que tem duas unidades, o empresário conta que uma está fechada e a outra funciona em sistema de delivery. O faturamento, no entanto, representa apenas 8% do que havia antes da quarentena.

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