Por Redação

A nostalgia da infância é o centro da pulsão poética de Salomão Sousa, como se pode comprovar em qualquer um dos poemas reunidos em “Descolagem”

A pesquisa exaustiva de Lena Castello Branco resultou numa obra maiúscula. Sua importância extrapola as fronteiras goianas, é um clássico da historiografia brasileira

Adriana Jorge tem 52 anos, é baiana, mas trabalha em São Paulo. A artista e a arquiteta estão juntas há alguns meses
Juscelino Goulart de Oliveira
Especial para o Jornal Opção
Rio de Janeiro — Entrevistado há algum tempo, o jornalista Gay Talese, um dos mais importantes dos Estados Unidos e autor de textos impagáveis para a revista “New Yorker”, disse que gostaria de traçar um perfil da cantora Simone, de 70 anos. Ele apreciou a história da artista e sua versatilidade musical. Para o às do jornalismo literário, a brasileira é uma estrela de primeira grandeza.
[caption id="attachment_262526" align="aligncenter" width="620"] Simone e Adriana Jorge: nova paixão | Fotos: Reproduções[/caption]
Pois a estrela cobiçada por Gay Talese, para uma reportagem alentada, está de namorada nova. Trata-se de uma bela arquiteta baiana, Adriana Jorge, de 52 anos. O namoro tem poucos meses, informa o jornal “Extra!”.
“Como é de costume em toda sua trajetória, Simone mantém a discrição sobre o relacionamento, assim como a namorada, que tem suas redes sociais trancadas. Embora nunca seja vista, Adriana está sempre acompanhando a cantora em suas lives e ajudando na produção. A paixão pelo esporte e pelos animais também colaborou para a aproximação das duas”, revela o jornal carioca, do Grupo Globo.
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Adriana Jorge: paixão por esportes | Foto: Reprodução[/caption]
“Adriana Jorge vivia em São Paulo até passar esse período de isolamento no apartamento da artista no bairro de São Conrado. Ela se formou em Arquitetura na Universidade Federal da Bahia em 1992, mas fez sua vida profissional na capital paulista. Foi lá que ela se especializou como técnica em restauração, além de trabalhar como diretora de cena e de arte”, relata o “Extra!”.
Simone faz lives todos aos domingos, às 18 horas.
https://www.youtube.com/watch?v=IKwZOKZZdZM

Estudante de computação em Londres, Malgorzata Kulczyk não corta o cabelo há mais de cinco anos

Aos 78 anos, depois de competir com Roberto Carlos, para o qual compôs, o cantor vai lançar uma música na sexta-feira
Juscelino Goulart de Oliveira
Especial para o Jornal Opção
Comenta-se que, quando o cantor Benito di Paula ia dar um show, seu cabelo chegava primeiro, ainda que por um beicinho de pulga. O cabelo era quase tão famoso quanto o artista. Era seu símbolo e, até, cartão de visita. Pois é: por causa da Covid-19, o homem que encantou multidões, e já foi uma das vozes mais ouvidas no rádio brasileiro, decidiu cortar a cabeleira. Cortar, não; raspar. Ele está carequinha. De quebra, arrancou até o cavanhaque e o bigode. Mas o talento ficou? Parece que sim.
[caption id="attachment_261835" align="aligncenter" width="448"] Benito di Paula em dois tempos: com o cabelão e, agora, carequinha | Foto: Reprodução[/caption]
Benito di Paula tem 78 anos, mas com corpinho de 52 anos. O autor de “Retratos de cetim” garante que, sem o cabelão e a barba, é mais fácil escapar da Covid-19, que, igual fã ardoroso, está tentando agarrar todo mundo. O ex-campeão de vendas de discos adverte, porém, que, embora careca, não se tornará o Sansão do samba brasileiro. Na sexta-feira, 19, ele vai lançar, com o filho, o cantor Rodrigo Vellozo, a música “Lágrimas do meu sorriso”.
Você sabe quem é Uday Vellozzo? Não? Nem eu sabia, até consultar a Wikipédia. Pois está lá: Uday é, sim, Benito di Paula. Este é o nome artístico, o outro é o de batismo. Benito di Paula é cantor, compositor e pianista. E, saiba, escritor.
https://www.youtube.com/watch?v=gDXfBEfdJbU
Compôs música para Roberto Carlos e foi interpretado por Luiz Gonzaga
Veja abaixo o que a Wikipédia acrescenta sobre o grande Benito di Paula “Uday Vellozzo obteve fama nacional como Benito di Paula”, tornando-se “um dos grandes nomes da canção brasileiro dos anos 70. Foi crooner de boates do Rio de Janeiro, e depois continuou tocando na noite paulistana”, ainda “muito jovem ainda. Iniciou carreira pela gravadora Copacabana no início dos anos 70. O seu estilo musical é conhecido como ‘samba-joia’, ao combinar o samba tradicional com piano e arranjos românticos e jazzísticos. Porém” o rótulo “ samba-joia não agradou Benito, que nunca deixou de citar isto como um termo pejorativo, já que o mesmo se identifica como sendo do gênero Samba. Em 1977 lançou uma música no seu disco ‘Benito di Paula’ intitulada de ‘Osso duro de Roer’ onde dizia que não iria mudar o seu estilo único de fazer Samba. O seu primeiro disco ‘Benito Di Paula’ de 1971 foi censurado por trazer a música ‘Apesar de Você’, de Chico Buarque.

É preciso convocar o sujeito a nos contar de novo a sua versão dos fatos e, assim, se situar, numa linhagem, num contexto cultural e histórico, como sujeito do desejo

A pandemia é um convite à inovação, a repensarmos políticas e sistemas públicos. O momento é de perceber na tecnologia a saída para geração de riquezas
Bruno Netto

O exercício de olhar para trás, na busca por apoio nas elucubrações do que está por vir, me permite refletir como o mundo, ou melhor o mercado, vem se comportando. Podemos tentar construir caminhos mais prósperos, olhando os acertos e equívocos das nações no trato com os desafios que, infelizmente, a humanidade já experimentou.
Num recorte desde a Revolução Industrial, sabendo que não há uma data precisa, mas considerando 1840 como ponto de partida, temos praticamente 200 anos até aqui. É fato que as catástrofes transformaram o mundo, seja depois de cada uma das duas grandes guerras, pandemias ou revoluções. Embora algumas vezes momentos de instabilidade tenham facilitado o crescimento de regimes ditatoriais, também vimos sociedades experimentarem a reinvenção do Estado, no sentido de proteger melhor os mais necessitados e alcançar uma sociedade mais igual.
A gripe espanhola dizimou, apenas em 1918, entre 20 e 100 milhões de pessoas. A dimensão e a imprecisão dos números mostram o quanto o mundo não estava pronto para passar por uma pandemia e somados aos números de mortes da primeira grande guerra, que cessava um ano antes, temos o cenário do risco e responsabilidade, para além da economia, com a nossa espécie. Uma vez extintos, não precisamos de poder econômico. Por isso a saúde vem primeiro.
Voltando para 1918, muitos países reforçaram o papel do Estado, criando sistemas públicos de saúde e ministérios sobre o tema. Inclusive, a Organização Mundial da Saúde é fruto daquela pandemia, quando a Liga da Nações criou, em Viena, um escritório internacional para combater grandes problemas sanitários e a partir disso foi consolidando ações, até se instituir a poderosa OMS que conhecemos. Essas duas catástrofes impactaram a economia, causando um movimento obrigatório de mudança de rumos planetário.
Com isso, podemos observar que a dificuldade econômica posterior trouxe danos que foram proveitosos para uns e não tanto para outros. Temos na grande depressão da década de 30, nos EUA, uma óbvia consequência de 1918. E quando lemos o discurso do candidato democrata à presidência, Franklyn Roosevelt, em 1932, fica claro de onde vem o protagonismo americano nos anos conseguintes: "Existem duas maneiras de olharmos o papel do governo nas questões, afetando a economia e a sociedade. O primeiro procura favorecer poucos na esperança de que a prosperidade desses poucos escoe e chegue aos trabalhadores, mas essa não é, e nunca será, a teoria do Partido Democrata”. O "New Deal" (Novo Acordo ou Novo Trato) foi posto em prática a partir da eleição de Roosevelt, em 33.
O grande salto na qualidade do Estado de Bem-Estar Social ocorre como consequência da Segunda Guerra Mundial, a partir da Inglaterra, pelo governo trabalhista. Em 1942, liderada no parlamento pela maioria do Partido Liberal, a Inglaterra publicou um relatório propondo reformas sociais profundas, conhecido como “Social security from cradle to grave” (Segurança Social do Berço ao Túmulo), focado na luta contra os cinco grandes males: miséria, doença, ignorância, necessidades básicas e inatividade por falta de trabalho.
A Declaração Universal do Direitos Humanos, de 1948, que é uma reação à barbárie da Segunda Grande Guerra, traz nos seus artigos 22 a 26, a representatividade dos direitos econômicos e sociais consagrados durante o New Deal. Nessa fase, o Estado de Bem-Estar Social se tornou realidade na maioria dos países do mundo e um roteiro para toda a humanidade.
Um aspecto central do Estado de Bem-Estar Social, após 1945, foi o consenso alcançado entre as principais forças políticas para apoiar uma economia mista que combinava o público com os setores privados. Enquanto na Europa, na década de 1930, apenas metade dos trabalhadores possuía alguma forma de proteção social, na década de 1970, esse número chegou a 90%.
Revolução neoconservadora
Com a revolução neoconservadora liderada por Ronald Reagan (EUA) e Margaret Thatcher (Inglaterra), nos anos 70, o estado de bem-estar social construído nas décadas anteriores perdeu protagonismo, contaminando outras nações pelo mundo. Em uma passagem sempre lembrada de Reagan, podemos notar: “O governo não é a solução para nossos problemas; o governo é o problema” A nova visão do governo como inimigo, ou, na melhor das hipóteses, como espectador, espalhou-se.
Podemos ver que cada momento deu protagonismo para a condução de políticas públicas antagônicas, mas que se adequaram à realidade do momento. Trazendo luz para algo interessante: não há o perfeito. Porém, há o momento perfeito para se aplicar determinada visão de alicerce para a sociedade. Hoje, a partir da condição temporal, será preciso que os líderes no mundo inteiro percebam a tecnologia como aliada, a paz como fim social e a oportunidade de desenvolvimento individual seja assegurada para termos condições de existência harmônica.
Se não propusermos inovações, se não formos criativos/inventivos, assistiremos a progressão entre "quem tem e quem não tem" pelos próximos anos. As mudanças exponenciais às quais o mundo está exposto, além de enfraquecer o estado de bem-estar social, evidenciam sua fragilidade perante aos avanços tecnológicos. A verdade é que o Estado, em todas suas formas representadas ao redor do planeta, está exposto pela pandemia, mostrando sua ineficiência para cuidar de verdade das pessoas. Faltaram tantos leitos e respiradores em Nova Iorque, quanto em Manaus. Há um imenso esforço para não faltar comida a ninguém, mas os cadastros não são eficientes e mais uma vez a tecnologia existe, mas não está posta adequadamente em lugar algum como política pública abrangente.
Novos empregos
No Governo de Goiás, liderado pelo governador Ronaldo Caiado, estamos colocando de pé um dos legados orientados do Programa Goiás de Resultados, a Biometria Cidadã, que de maneira inédita está formando um único banco de dados para assegurar todos os serviços que o cidadão precisa, do nascimento ao falecimento, com dados que apoiarão políticas públicas assertivas no futuro. Assim, como também estamos trabalhando para o desenvolvimento exponencial de novos empregos, através da recém-criada Força-Tarefa, coordenada pelo vice-governador Lincoln Tejota, voltada para o Desenvolvimento Econômico Regional de todo o Estado. Momentos difíceis demandam inventividade.
O mundo mudou e ficou cada vez mais complexo manter um cinturão de proteção social e oferta de oportunidades igualitárias, com as soluções que estão postas hoje. Essa pandemia é um convite à inovação, a repensarmos políticas e sistemas públicos de forma a perceber que diretrizes políticas de esquerda ou direita fizeram sentido e foram boas para a sociedade em períodos passados. O momento é de perceber na tecnologia a saída para diversas funções que geram riqueza e que o indivíduo precisa ser orientado para o seu desenvolvimento intelectual, a fim de perceber seu lugar no mundo, como parte da natureza. Pois o maior desafio da nossa espécie é o de permanecer habitando a Terra, mas principalmente, manter o planeta saudável e equilibrado para que perdure. Isso envolve todo o ecossistema e nele, o ator principal é o ser humano.
*Bruno Netto é gestor do Programa Goiás de Resultados

O dono da R&N Esportes e Promoções vestiu-se como nazista, acrescentou até um bigode à Hitler, e depois disse que era uma “brincadeira”

Debate sobre o assassinato do americano George Floyd pode ser ampliado a partir do entendimento de como funciona a sociedade de classes

Em transe por conta de uma tripla crise, sanitária, econômica e política, o Brasil está ameaçado de se ver frente à dupla face da anarquia, semeada de dentro dos palácios

O tradutor é uma verdadeira ponte entre culturas diferentes, um integrador que universaliza e democratiza as artes

Os armadores preferem gente desprotegida por leis e a um preço o mais baixo possível. É a lógica do capitalista, exposta à violenta luz da linha do equador
Halley Margon
Especial para o Jornal Opção, de Barcelona
[caption id="attachment_260981" align="aligncenter" width="600"] "O velho marinheiro", arte de Gustave Doré[/caption]
“Errar de terra em terra é meu destino;/No momento em que vejo um rosto num lugar,/Eu sei que é o homem que precisa me escutar,/E meu caso lhe ensino.” Trecho de “A Balada do Velho Marinheiro”, de S. T. Coleridge, com tradução de Paulo Vizioli
São as maiores máquinas fabricadas pelos homens e quase ninguém as vê ou jamais viu. Não que sejam poucas. Agora mesmo são mais de 60 mil e estão por todo o planeta. Atuam mais ou menos clandestinamente ou de todo modo dentro de um sistema de leis criado para protegê-las e servi-las pelas próprias companhias às quais pertencem. Diferentemente de todas as demais cadeias do sistema produtivo não precisam de publicidade. Ao contrário, fogem da visibilidade e preferem atuar nas sombras. Quase ninguém as conhece ou sabe seus nomes, o país de origem dos proprietários ou controladores.
Ao mesmo tempo, dificilmente haverá algo que nos pertença ou que façamos uso que não tenha chegado até nós por intermédio delas. São os navios cargueiros que incessantemente cruzam os oceanos da Terra para abastecer os mercados — do que quer que tenha sido produzido pelos homens e mulheres em cada canto do planeta.
Os maiores, de tão grandes, foram se tornando paradoxalmente invisíveis: na medida em que não cabem mais nos antigos portos, onde sequer há água (profundidade) suficiente para recebê-los, são obrigados a atracarem noutros, longes das cidades, construídos especialmente para seus descomunais calados.
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Maior navio cargueiro do mundo | Foto: Reprodução[/caption]
Estamos habituados à menção de superpetroleiros, mas um dos desses gigantes recém-lançado ao mar foi fabricado para receber containers, 18 mil a cada viagem (enfileirados dariam uma estrada de 180 quilômetros de comprimento). Batizado como Triple E tem 400 metros de comprimento (quase quatro campos de futebol) e 59 metros de largura, o que é também espaço suficiente para comportar enfileirados dez Airbus A320. Suas dimensões são também um problema, porque, além de não poder atracar em muitos dos portos do mundo, não consegue passar pelo canal do Panamá. Foi construído na Coreia do Sul pelo estaleiro Daewoo e pertence a uma das maiores companhias de transporte marítimo do mundo, a dinamarquesa Maersk. Numa operação normal, essa máquina colossal emprega apenas 19 tripulantes.
Mesmo empregando tão pouca mão de obra, os armadores ou as companhias que lhes servem têm hábitos curiosos na hora de contratar. O barco pode ser alemão, americano, dinamarquês, sueco ou de qualquer outro rico país do primeiro mundo, mas os marinheiros nunca serão alemães, americanos, dinamarqueses, suecos e assim por diante. A razão é muito simples: essa é uma mão de obra protegida por legislação e direitos trabalhistas e sindicatos. Os bilionários donos das companhias não querem saber de nada disso. A eles o que importa é maximizar os lucros até a última gota. Imagine-se: navios transportando milhares de containers, milhões de toneladas, com menos de duas dezenas de trabalhadores quase todos pouco qualificados e mesmo assim o armador prefere contratar gente desprotegida por leis e a um preço o mais baixo possível. É essa a lógica do capitalista, translúcida, exposta à violenta luz da linha do equador.
O truque funciona assim. O proprietário é uma empresa digamos holandesa, mas o barco leva bandeira da Libéria. O navio sob bandeira holandesa estaria regido pelas leis da Holanda. E, por consequência, teria que obedecer à legislação trabalhista, mas também fiscal etc da Holanda. No entanto, se está registrado na Libéria...
A maioria dos navios, sejam japoneses, americanos, britânicos etc, está registrada no Panamá, Ilhas Marshall, e até Mongólia e Bolívia (que não têm acesso ao mar). Aproximadamente 1 milhão e meio de marinheiros torna possível a operação desses 60 mil barcos que neste mesmo instante estão cruzando os mares e oceanos da Terra, longe dos nossos olhos. Os filipinos representam quase 40% dessa mão de obra. Além de serem mais baratos, falam inglês. A Libéria, um pequeno país da costa oeste da África, convenientemente submetido à violência e a frequentes golpes de Estado, é outro dos grandes fornecedores de bandeira para os armadores — e um dos favoritos.
Mare Nostrum — Mare Tenebrosum
Os romanos chamavam de Mare Nostrum (o nosso mar) ao Mediterrâneo, pelo qual tinham um imenso respeito, era o mundo deles, era o mundo inteiro — poucos os que se aventuraram para além do estreito de Gibraltar (exceto, muito antes, os fenícios – mas isso foi tão antes...), onde então se descortinava o desconhecido mar de las Tinieblas, ou Mare Tenebrosum.
Essas tremendas superfícies de água são agora como telas de cristal líquido sobre as quais surgem e desaparecem com a rapidez das realidades virtuais linhas que desenham trajetórias e rotas, vetores matemáticos, cálculos financeiros e, às vezes, sugestões para prazeres os mais rasos possíveis.
Festa no mar (transatlânticos e navios de cruzeiro)
As franjas nobres de mares e oceanos foram tomadas pelos navios de cruzeiro (os transatlânticos, na verdade, deixaram de ser atrativos e desapareceram). Enfileirados uns atrás dos outros, quase todos brancos, de uma brancura gigantesca e ostensiva, se assemelham a montagens de lego nas quais a extravagância dos construtores ultrapassou seguidamente os limites de um eventual bom senso. Para chamar a atenção dos consumidores e bater a competição a cada novo modelo se acrescenta mais e mais novas peças na composição. Mas não se trata apenas de inventar chamarizes, isso é parte da trama e, como veremos, também aí os donos do negócio são imparáveis. Trata-se de concentrar numa única peça o maior número possível de casulos destinados a abrigar os seres que se disporão a pagar pela inolvidável experiência de alguns dias a bordo do brinquedo. Chama-se economia de escala e está presente nos manuais de micro economia. Quanto maior o navio maior sua capacidade de transportar gente num só tempo, numa só viagem e com basicamente os mesmos custos fixos de um barco transportando menos gente. Simultaneamente, tamanho se transforma em item adicional para impressionar o cérebro impressionável da clientela. E, voltando aos instrumentos de sedução, amplia o espaço disponível para a implantação de novos tópicos de entretenimento.
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Spectrum of the Seas | Foto: Reprodução[/caption]
Um repertório exuberante
O Spectrum of the Seas, por exemplo, tem no seu cardápio de atrações os seguintes itens: a cápsula North Star, “que se ergue a mais de 90 metros sobre o nível do mar para oferecer vistas de 360 graus do mar e da própria nave”, o SkyPad, “que oferece um mundo virtual”, o Bionic Bar, “onde é possível brincar com robôs”, o RipCord by iFly (!!!), e o simulador de surf FlowRider. Veja-se que o nome de cada uma das atrações, desde o do próprio navio, acrescenta um plus mágico aos elementos naturais da atração.
O barroquismo mais primário copula com o kitsch em cada momento da concepção.
De modo que um simulador de surf não pode, de nenhuma maneira, chamar-se simplesmente simulador de surf. Faltará o elemento que o torna único, diferente de todos os outros milhares de simuladores de surf que existem no mundo. Assim, o que o Spectrum of the Seas oferece é o simulador de surf FlowRider. O Spectrum of the Seas tem 347 metros de comprimento, um volume de 168.000 toneladas e pode transportar 4.200 passageiros. O mais que famoso Titanic (que era um transatlântico e não um navio de cruzeiro) tinha 269 metros de comprimento, 46.328 de tonelagem e podia levar 2.435 passageiros e 892 tripulantes.
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Symphony of the Seas | Foto: Reprodução[/caption]
Mas, pobrezinho do Spectrum... frente ao Número 1, o Symphony of the Seas. Uns desses incontáveis sites especializados informa, orgulhoso, que “o maior navio de cruzeiro do mundo é uma verdadeira cidade flutuante. Com 361 metros de extensão, possui 18 andares que chegam a 72,5 metros de altura” e pode transportar 6.680 passageiros. E, lá de cima, apregoam, “lá de cima, você pode sentir a vertigem no Ultimate Abyss, o slide mais longo do mercado, que desce a toda velocidade por 10 níveis”. Entre suas atrações mais interessantes está o calçadão marítimo, ou Broardwalk, os pratos e coquetéis do País das Maravilhas (Wonderland), o solarium e o animado passeio do Central Park. Pode não parecer muito, mas são apenas algumas das atrações desse espetacular colosso dos oceanos. No Harmony of the Seas (o segundo maior em operação no início dos anos 2020) encontramos: o spa Vitality at Sea and Promenade ou a Royal Suite Class de dois andares, “que possui comodidades de marca de luxo e serviço de mordomo”.
Segue toda um imemorizável repertório de invenções cujo alvo é sempre essa multidão de 30 milhões de pessoas que embarcaram em cruzeiros em 2019. Trinta milhões de seres ávidos por comer, beber e se divertir tão intensa e concentradamente quanto isso seja possível, em intervalos de tempo que variam entre três e dez dias (claro, a oferta de itinerários e tempo embarcado atende a quase todos os gostos e bolsos) — que isso aconteça numa superfície que flutua sobre mares e oceanos é apenas um detalhe que, na realidade, passa praticamente desapercebido.

Outros 10 partidos com baixo desempenho nas urnas terão R$ 43 milhões, somados

Se for para derrubar todas as estátuas de personagens racistas, sobrará pouco nas praças públicas. Quem está representado é um personagem histórico

Estar omisso é reservar para si a letra da irresponsabilidade com um mundo que nos acolheu enquanto espécie e com a sociedade que nos absorveu como sujeitos