Por Euler de França Belém
O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, é do PT mas não está rezando pela cartilha do partido: está atrasando os salários dos trabalhadores públicos. Lá, o PT fica caladinho.
Em Goiás, embora o governo tucano esteja pagando os salários, o petismo reclama que nem todos os salários são pagos dentro do mês.
Paulistanos avaliam que o apresentador de telejornal José Luiz Datena (PP) pode “ser o prefeito que vai combater a criminalidade e melhorar a segurança pública”. Mas têm dúvida sobre sua capacidade de administrar. Ele é visto como uma espécie de novo Paulo Maluf. O problema é que os eleitores não percebem que o problema da segurança pública não tem como ser resolvido unicamente por um prefeito. É um problema municipal, estadual e federal. Portanto, precisa-se de um trabalho integrado. A ideia de um prefeito justiceiro é um mito populista.
João Dória, possível candidato do PSDB, é apontado como elitista. Há sempre alguém que diz que se trata de um político de proveta, quer dizer, inventado de última hora como solução milagrosa.
Celso Russomanno é mencionado como um político “problemático”. Mas é bom de voto, ainda que muitos o avaliem como cavalo paraguaio: sai na frente, mas não ganha.
Marta Suplicy (PMDB) é citada como corajosa, mas ainda é associada com o PT pelos eleitores. Está tentando se distanciar da imagem de petista, mas os eleitores temem substituir um petista por outra quase-petista.
O prefeito Fernando Haddad é rejeitado pela maioria da população. As pessoas dizem que piorou a cidade. Além do desgaste pessoal, da falta de carisma, é filiado ao PT. O PT em São Paulo está destruído. Até Lula da Silva é visto como um político que usou a política para se dar bem.
De um taxista de São Paulo para um repórter do Jornal Opção: “O Haddad? Nem ‘daddo’!” A rejeição do prefeito Fernando Haddad impressiona porque é generalizada. Ricos, pobres e classe média não querem saber do petista.
As pessoas dizem, nas ruas, que São Paulo está funcionando no piloto automático. Quer dizer, parece que não tem prefeito.
Mesmo uma boa ideia, como a abertura da Avenida Paulista exclusivamente para pedestres, aos domingos, é atacada por vários indivíduos e segmentos organizados da capital. Mas não há a menor dúvida de que sem os carros, e apenas num dia da semana, a bela avenida ficou mais democrática e tranquila, possibilitando convivência e lazer às pessoas.
Há indícios de que, mesmo quando acerta, Fernando Haddad não consegue comunicar isto às pessoas.
O vereador Vinicius Luz, do PSDB, afirma que vai disputar a Prefeitura de Jataí. “Vou mesmo para a disputa. Estou cada dia mais disposto a ser candidato. Recebo muitas manifestações espontâneas de apoio, todas sugerindo que é preciso renovar a política do município. Portanto, não há como recuar.”
Vinicius Luz diz que está costurando apoio, pois pretende constituir uma ampla frente política. “Estou afinado com o PR, o PSD e o PP. Cilene Guimarães afirma que pode disputar a prefeitura, mas, se desistir, pode me apoiar. Trata-se de um dos melhores valores políticos do município.” O PTB, dirigido por uma comissão provisória, ainda não decidiu quem vai apoiar — se Leandro Vilela, do PMDB, ou se Vinicius Luz. O presidente do partido tem dito que vai acompanhar o candidato da base marconista.
A incógnita é o ex-deputado federal Leandro Vilela (PMDB). Há peemedebistas — entre eles o prefeito Humberto Machado — que falam que será candidato e há peemedebistas que sugerem que não está animado com a disputa. “Conversei recentemente com Leandro Vilela e ouvi dele que ainda não tomou uma decisão. Frisou que está cuidando de sua vida, de sua família”, afirma Vinicius Luz. Ao Jornal Opção, há pouco tempo, disse que não iria disputar. Em seguida, o deputado federal Daniel Vilela, seu parente, garantiu que será candidato.
O empresário Vitor Priori estaria dizendo, nos bastidores, que pretende ser candidato a prefeito. No entanto, não aparece, não articula. Está apenas cuidando de seus vários negócios. Ele é milionário. “Vitor Priori é um dos nossos bons valores políticos”, afirma Vinicius Luz. “Uma campanha nasce forte quando o partido está unido. Quero o apoio de Vitor Piori para minha candidatura.” Se Vinicius Luz for o candidato a prefeito, a tendência é o empresário disputar mandato de deputado estadual ou federal em 2018. Ou até a suplência de Marconi Perillo, se este disputar mandato de senador.
Há pouco tempo, acompanhado do vereador Thiago Maggioni, Vinicius Luz esteve com o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB. “Marconi me incentivou e disse para colocar o meu nome em discussão e que o PSDB terá candidato próprio em Jataí. Ele nos disse: ‘Não vou costurar nenhuma aliança sem consulta-los’.”
No dia 21 de fevereiro, o PSDB vai eleger o novo comando do diretório municipal.

Prefeitos que não podem disputar a reeleição, mas que os eleitores de seus municípios gostariam de eleger para um terceiro mandato: Maguito Vilela (Aparecida de Goiânia) e Humberto Machado (de Jataí).
Mas uma diferença crucial entre os dois. Maguito Vilela é apontado como democrata e agregador. Humberto Machado (foto) é citado como desagregador e autoritário. Ele raramente aceita críticas. Mas, como Maguito, é tecnicamente competente.
Parte da esquerda é especialista em criar, a partir de contrainformação e distorção das informações reais, “fatos falsos” — sonegando a verdade e substituindo-a pela mentira. É quando a mentira se torna verdade. De repente, muitos começaram a repetir a cantilena: o governo de Goiás “vai” privatizar a Educação. Pessoas menos informadas mas bem intencionadas ficaram preocupadas e decidiram se posicionar contra a adoção de organizações sociais na rede pública estadual de ensino de Goiás. Acreditava-se, inicialmente, que a Educação seria privatizada. Porém, aos poucos, a verdade, restaurada, foi se impondo e a manipulação foi cedendo. Os pais e os alunos sabem, agora, que o objetivo do governo de Marconi Perillo é sobretudo melhorar e requalificar a Educação pública do Estado — aproximando-a, cada vez mais, da qualidade do ensino das melhores escolas particulares. E tudo continua público e gratuito. O que vai mudar é o gerenciamento das escolas. Vai se tornar mais eficiente, mais produtivo... para os alunos e, também, para os professores.
Na semana passada, vários pais de alunos, agora mais bem informados sobre o que significam as organizações sociais na Educação, mostraram-se preocupados com os filhos que estão acampados nas escolas (por falar nisso, em São Paulo, os acampamentos resultaram num prejuízo para o governo, sobretudo para a sociedade, que é quem financia as escolas, de mais de 1 milhão de reais). As redes sociais mostraram garotos seminus — fala-se, até, numa República Livre do Sexo e alto consumo de drogas, como maconha, e álcool. Pode ser haja algum exagero, e jovens se divertem mesmo de maneiras às vezes pouco ortodoxas, mas os pais estão preocupados.
(A pintura é de Almeida Júnior)
Comenta-se entre militantes esquerdistas que a esquerda vive e respira o dissenso, raramente o consenso. Dois trotskistas juntos, por mais de duas horas, logo surge uma dissidência — o trotskista do b e o trotskista do c. No Brasil, ao menos durante algum tempo, quase havia mais partidos comunistas — PCB, PC do B, PCBR, PCR, VPR, VAR-Palmares, ALN, Ala Vermelha, Molipo, Colina (alguns não eram partidos, e sim organizações revolucionários, guerrilheiras), entre outros — do que comunistas. Cinco esquerdistas articulados fazem tanto barulho que observador que estiver distante pensa que se tratam de 200 esquerdistas. Em Goiás, não é diferente.
Na Secretaria de Educação, Cultura e Esporte, na quarta-feira, 6, em Goiânia, militantes políticos e estudantes tentaram, mas não conseguiram esconder as divisões do movimento. Sindicalistas e militantes de partidos políticos hostilizavam abertamente a secretária Raquel Teixeira — que pode até ser tachada de vaidosa, mas é tolerante, civilizada e sempre aberta ao diálogo. A educadora queria conversar, mas tais militantes, pegos no contrapé, deixaram exposta a contradição: não querem o diálogo. Eles sugeriram, o tempo todo, que o diálogo não é eficaz. Porém, vários estudantes — que foram utilizados como massa de manobra nas invasões das escolas, mas não são alienados — mostraram-se interessados em conversar e entender de fato a proposta de compartilhamento da gestão da Educação por intermédio das organizações sociais. Curiosamente, muitos ficaram surpresos ao saber que não há, no projeto, nenhuma linha sobre privatização e que não se fala, em nenhum momento, em demissão de professores. Os estudantes, que estão mais preocupados com o ensino do que com militância política, deram uma lição de civilidade aos integrantes da esquerda.
[caption id="attachment_48332" align="alignnone" width="300"] Governador Marconi com a presidente Dilma no lançamento do BRT; fotos: Eduardo Ferreira[/caption]
Pesquisa do Instituto Paraná mostra que o governador de Goiás, Marconi Perillo, é um dos mais bem-sucedidos do país.
Ao enfrentar a crise, apostando que um governador tem margem de manobra para que o Estado não soçobre — incentivando investimentos em várias áreas —, o tucano-chefe colhe frutos positivos. Como Goiás. Os governos do Rio Grande do Sul (governado pelo PMDB) e de Minas Gerais (gerido por Fernando Pimentel, do PT) — Estados bem mais ricos — estão atrasando salários; o primeiro está praticamente paralisado, fazendo apenas cortes, sem investir. Marconi Perillo, pelo contrário, tem uma aprovação de 53,8% — índice considerado alto. É o sexto colocado no ranking geral do instituto de pesquisa.
A pesquisa e, sobretudo, o fato de que Goiás não está à deriva — ao contrário de um Estado governado pelo PT, Minas Gerais, e outro Estado governado pelo PMDB, Rio Grande do Sul — indicam que as críticas de parte das oposições são inconsistentes. Publicamente, deputados oposicionistas fazem ressalvas e, às vezes, criticam duramente o governador tucano. No entanto, privadamente, admitem que estão surpresos com os resultados das ações do governo, que antecipou-se às outras unidades da Federação, fez um ajuste rigoroso e, agora, colhe os frutos.
Os acertos do governo Marconi, que reduziram o impacto da crise em Goiás, certamente contribuirão para resultados eleitorais positivos nas eleições de 2 de outubro deste ano. Em Goiânia, por exemplo, o tucanato pode surpreender e, depois de muitos anos, eleger o prefeito. Não lidera as pesquisas de intenção de voto, mas a campanha ainda não começou.
Presidente do PRP, o empresário e marqueteiro Jorcelino Braga articula o tempo inteiro a montagem de uma chapa para tentar derrotar os candidatos da base governista em Goiânia. Ele conversa com frequência com o senador Ronaldo Caiado, do DEM, e com o ex-prefeito da capital Iris Rezende, do PMDB. Um de seus sonhos, que gostaria de transformar em realidade, é levar Vanderlan Cardoso de volta para o PMDB, e exatamente para disputar a Prefeitura de Goiânia.
Ao se aproximar da senadora Lúcia Vânia, do PSB, e do deputado federal Marcos Abrão, do PPS, Vanderlan Cardoso teria acreditado que poderia ser o candidato do governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, a prefeito de Goiânia. Descobriu que isto não será possível. Não por que o tucano-chefe o vete, e sim por que a base tem vários pré-candidatos. Portanto, não há como impor sua candidatura aos militantes do PSDB, PTB e PSD, para citar três partidos.
No PMDB, se Iris Rezende saísse do páreo, Vanderlan Cardoso seria um candidato consistente. Ao mesmo tempo, fortaleceria o projeto das oposições para 2018. Parece impossível? Aliados de Jorcelino Braga avaliam que não. Até o fim de março — quando se pode trocar de partido para disputar a eleição de 2 de outubro deste ano —, muita coisa pode acontecer. Ou, claro, não acontecer.
Pode parecer maluquice. Mas um político diz que ouviu, no escritório de Iris Rezende, que a grande jogada pode ser o lançamento da candidatura do deputado federal Waldir Delegado Soares a prefeito de Goiânia pelo PMDB.
“Parece maluquice, é maluquice, mas é o que eu ouvi. Se Iris Rezende optar pela renovação, desistindo da disputa, Waldir Soares, que está insatisfeito no PSDB, porque se sente boicotado pela cúpula, pode ser o nome do partido”, afirma o político. “Além disso, o PMDB ganharia um deputado federal.”
No entanto, três peemedebistas — um deles o deputado José Nelto — disseram ao Jornal Opção que Iris Rezende será candidato a prefeito de Goiânia. “A candidatura está praticamente selada”, afirma José Nelto. O vice-prefeito Agenor Mariano disse, recentemente, que, mesmo que não queira — e há quem acredite que não queira —, Iris Rezende deverá ser candidato. É o grande nome do partido na capital. Há quem acredite que, para ganhar, é o único nome.
O deputado federal Fábio Sousa vai disputar as prévias do PSDB. Sua discordância tem a ver mais com o prazo determinado pela cúpula do partido, 29 de janeiro. De fato, sexta-feira não é o melhor dia para um encontro político. As pessoas trabalham e, muitas vezes, não têm tempo para comparecer em eventos nos dias úteis. O ideal é que se façam encontros aos sábados ou domingos.
As relações entre Fábio Sousa e o deputado federal Giuseppe Vecci são cordiais. Eles não vão “brigados” para as prévias. Na verdade, os dois são os pré-candidatos mais sólidos do PSDB. Porque Waldir Delegado Soares não quer participar das prévias, consequentemente não tem como ser candidato do partido. Anselmo Pereira, que na verdade quer ser vice, é carta fora do baralho.
Jayme Rincón, até sexta-feira, 8, não havia aventado a possibilidade de disputar as prévias.

Poucos escritores são tão brutais quanto William Faulkner, autor de “O Som e a Fúria”, “Luz em Agosto” e “Absalão, Absalão!” Mas a brutalidade que descreve é menos uma invenção literária e mais um fato da vida. Não é um artifício para atrair leitores. Poucos autores mostraram tão bem, sem a típica retórica americana, a maldição da escravidão.
Porém, se a literatura é a arte suprema — a que mais se aproxima é a música, que às vezes é literatura oralizada —, cinema não é arte; é entretenimento. Quem o percebe como arte são os críticos, cada vez mais numerosos, dada a vitalidade da internet — a meca das oportunidades culturais. Os espectadores, se não persuadidos pelos críticos, percebem o cinema como mero entretenimento. Trata-se, por vezes, de divertimento de primeira linha.
É provável que o diretor Quentin Tarantino, narrador tão implacável quanto Faulkner, perceba o cinema tão-somente como entretenimento, ainda que saiba refiná-lo — estetizando a violência, diriam adeptos, conscientes ou inconscientes, da Escola de Frankfurt — e torná-lo artificioso.
Tarantino choca pela violência, que parece desmedida — a vida supera seus filmes, mas a violência exposta na sala de anatomia que se tornam as salas dos cinemas é mais brutal —, porque a adorna, quase repetindo as cenas, e porque parece tomá-la como um fato do cotidiano. Uma segunda pele do indivíduo.
O filme “Os Oito Odiados” é drama, comédia e western. O “Estadão”, no qual militam ótimos críticos de cinema, chegou a mencionar John Ford — o Ingmar Bergman das pradarias — e Anthony Mann como “padrinhos” do filme de Tarantino. Aqui e ali — a diligência e os personagens durões — há ecos de Ford e Mann. Ecos, porém não marcas muito acentuadas. O pai ou avô do ótimo (mesmo admitindo-se que há certa chatice palavrosa e enrolada) “Os Oito Odiados” é o excelente “Meu Ódio Será Sua Herança”, filme de Sam Peckinpah.
As cenas de violência, pacientemente montadas, dando a ideia de que o espectador examina-as com um microscópio eletrônico — pode repassá-las —, ecoam Sam Peckinpah, um grande diretor. A falta de linearidade da história lembra, e não vagamente, as histórias de Faulkner, quase sempre intrincadas e descontínuas. Tarantino nos dá a verdade aos poucos, dosando-a — como se fosse uma Emily Dickinson de calça: “A verdade há de deslumbrar aos poucos/Os homens — p’ra não cegá-los”.
Os homens de Tarantino estão cegos aparentemente pela cobiça, mas, de algum modo, buscam alguma coisa a mais — uma carta de Abraham Lincoln, falsa ou verdadeira, sabe-se lá. A verdade “chega” e é exibida, com os jogos (inteligentes e maliciosos) de todos explicitados, por meio de um poderoso strip-tease visual e palavras candentes, quase declamadas, como se as personagens estivessem num recital de poesia.
Críticos apontam que a violência é, por vezes, gratuita. E, como na vida, é. Tiros que destroem cabeças mais espantam do que chocam, quem sabe. Parecem desnecessários. Mas a Guerra Civil Americana, na primeira metade da década de 1860, que opôs o Sul, os Confederados, ao Norte, os ianques de Lincoln, Ulysses S. Grant e George Sherman, foi tremendamente brutal. Mais de 600 mil pessoas foram mortas e milhares ficaram feridas e mutiladas. As armas não eram tão poderosas quanto as atuais — mata-se hoje com certa distância asséptica, por assim dizer —, o que, paradoxalmente, reforçava ainda mais a crueldade das batalhas.
“Os Oito Odiados” conta histórias do pós-Guerra Civil — terminada em 1865, com o grande Lincoln assassinado, num teatro, por um sulista —, quando as brutalidades não haviam cessado.
Samuel L. Jackson (o major Marquis Warren) — notável mesmo quando canastrão — e Kurt Russell (John Ruth), que lutaram na Guerra Civil, são agora caçadores de recompensas. O primeiro prefere entregar os procurados pela Justiça mortos. O segundo, numa ética diferente, a dos durões relativamente honrados do Oeste, entrega suas presas vivas, para serem julgadas. John Ruth (Russell) leva a criminosa Daisy Domergue (a formidável Jennifer Jason Leigh), mulher de boca suja, cuspindo literalmente e cuspindo palavras bravias, como se estivesse atirando com a língua, para ser enforcada. Daisy é tão brutal quanto os homens — todos filhos do Oeste selvagem, com seus próprios códigos, sem dúvida vitais para sobrevivência à época. Os personagens não se chocam com nada e nem se assustam. A vida endurecia o corpo e a alma.
Tarantino parece fazer discursos, com imagens e textos — sabe casá-los às vezes com perfeição —, e, como Faulkner, percebe que a maldição da escravidão não é superável. Permanece viva em cada ser — branco ou negro. O fim da escravidão, abolida pelo presidente Lincoln — homem de gênio, leitor de Shakespeare e autor de uma prosa extraordinária, que teria influenciado a literatura enxuta norte-americana, de Mark Twain a Ernest Hemingway, na avaliação do crítico Edmund Wilson —, não eliminou as chagas profundas que dividiram os homens antes, durante e depois da Guerra Civil. Embora pareça retórico, além de dado à grandiloquência, Tarantino mais mostra do que demonstra. Ao modo de Faulkner. A violência era um fato (e fardo) da época (e de hoje) e o diretor não tem pejo em mostrá-la em toda a sua crueza — chocando os puros da aldeia, especialmente os críticos de cinema. O major Marquis Warren é uma espécie de Sherman negro. Tão virulento quanto.
Veja o trailer do filme:
https://www.youtube.com/watch?v=XI7yuHXpDbM
Os heróis são todos vilões
Não surpreende que, para recontar a história da e do pós-Guerra Civil, Tarantino tenha usado oito criminosos — os caçadores de recompensa não são, a rigor, homens da lei e o suposto xerife, Chris Mannix (Walton Goggins), parece tudo, menos um xerife. Os sete homens — o fato de serem sete é uma referência a outro filme de western — e a mulher são bandidos sem nenhuma piedade. Vítimas e sujeitos da imensa batalha que, terminada, levou, anos depois, os Estados Unidos a se tornarem uma potência industrial e imperialista. Mas, no meio tempo, prevaleceu o banditismo em várias partes do país. Lincoln queria pacificar os Estados Desunidos, mas, como morreu, sua causa resultou, num primeiro momento, relativamente perdida. Os sulistas sofreram profundamente nas mãos dos vitoriosos nortistas — tanto que muitos escaparam do país. Alguns mudaram-se para o Brasil, onde fundaram colônias em São Paulo, Rio de Janeiro e Pará. A família da cantora Rita Lee — e Lee é uma referência ao extraordinário general confederado Robert Lee — é de origem sulista. Tarantino mostra que, com a relativa falência do Estado, os homens estavam por conta própria. Eram, digamos, o mercado e, também, o Estado. A lei e a falta da lei. O western “Os Oito Odiados” conta uma história alternativa. O western é isto: uma história paralela. O lado “B” da história americana.
A bela música de Ennio Morricone “colore” o filme, tornando-o ainda mais um western (de “interiores”, como anota a crítica especializada).
Os críticos, para apreciar os filmes e para convidar os leitores e espectadores a apreciá-los, deveriam levá-los menos a sério. É o excesso de pretensão dos críticos que “piora”— e, às vezes, “melhora” — os filmes.

Vários ex-prefeitos terão dificuldades de se reeleger em 2 de outubro deste ano — daqui a nove meses e 22 dias. A situação de oito deles é difícil e, em alguns casos, muito difícil. O prefeito de Luziânia, Cristóvão Tormin (PSD), é um dos mais rejeitados de Goiás e enfrenta Marcelo Melo, uma parada federal. O prefeito de Porangatu, Eronildo Valadares (PMDB), faz uma gestão de baixa qualidade e brigou com vários de seus aliados. O prefeito de Novo Gama, Everaldo do Detran (PPL), surpreendeu negativamente os eleitores. A situação do prefeito de Águas Lindas, Hildo do Candango (PTB), não é muito ruim. Mas, se aparecer um adversário propositivo, pode ser derrotado. O prefeito de Formosa, Itamar Barreto (PSD), herdou uma dívida milionária e faz uma gestão bisonha. Deve perder para Ernesto Roller (PMDB). Lucimar Nascimento (PT), de Valparaíso, é muito mal avaliada. Miller Assis (PSD) é apontado como um dos piores prefeitos da história de Goianira. Solange Bertulino (PMDB) vai muito mal em Uruaçu.

[caption id="attachment_56073" align="aligncenter" width="620"] Issy Quinan, Evandro Magal, Chico Balla, João Gomes, Jânio Darrot, Misael Oliveira, Judson Lourenço e Jardel Sebba: alguns são favoritíssimos, como os dois primeiros, mas há outros que estão dando a volta por cima[/caption]
Mesmo quando eficientes, os prefeitos goianos têm dificuldades para administrar os municípios. Faltam recursos para investimentos e mesmo para pagar funcionários e fornecedores. O resultado é que há uma quebradeira generalizada. Oito prefeitos têm condições de serem reeleitos. Embora não sejam líderes nas pesquisas de intenção de voto, alguns deles estão em fase de recuperação. Issy Quinan, do PP, é favorito disparado em Vianópolis. Faz uma administração considerada qualitativa até por seus adversários, tanto que não tem rivais consistentes para a disputa de 2 de outubro deste ano. Evandro Magal, do PP, é favoritíssimo em Caldas Novas. É consistente tanto política quanto eleitoralmente. Tende a ser reeleito com facilidade e conta com o apoio da deputada federal Magda Mofatto (PR) e do deputado estadual Marquinho do Privê (PSDB).
Judson Lourenço (PMDB), de Santa Helena, não pretende disputar a reeleição, porém, dada sua consistência política e administrativa, é um nome forte. Pode ser empurrado para a disputa.
Jardel Sebba (PSDB), de Catalão, enfrentou uma fase difícil, mas está se recuperando. Pode surpreender Adib Elias (PMDB). Com fama de violento — numa gravação, fala em matar o empresário César da PC —, Adib Elias pode ser superado pelo afável e civilizado Jardel Sebba.
Jânio Darrot (PSDB) pôs a casa em ordem em Trindade e deve ser reeleito. Quando assumiu, em 2013, descobriu que o prefeito anterior, Ricardo Fortunato (PMDB), havia deixando a prefeitura quebrada. Aos poucos, de maneira organizada, ajeitou as contas da prefeitura e, agora, sua gestão está deslanchando. Se for reeleito, terá condições de fazer uma gestão até revolucionária. É um político decente e um gestor sério e comprometido com a sociedade. A deputada Flávia Morais, do PDT, pode apoiá-lo? É possível. Se o fizer, será imbatível.
Misael Oliveira, de Senador Canedo, não lidera as pesquisas, mas pode ser reeleito. Há um dado curioso: o prefeito do PDT é mais bem avaliado como administrador do que como político. Resta-lhe estabelecer um marketing eficiente que acoplem as imagens do gestor e do político. Zélio Cândido (PSB) é teleguiado por Vanderlan Cardoso; não tem identidade. A história de Divino Lemes (PSD), embora relativamente esquecida, não é positiva no município.
Em Itumbiara, Chico Balla (PTB), se tiver o apoio do líder José Gomes da Rocha, pode comprar o terno para a segunda posse. Não se trata de um gestor criativo e de um político popular como Zé Gomes. Porém, com o apoio do ex-prefeito, é favoritíssimo. E, até agora, a oposição não apresentou um nome sólido.
O problema de João Gomes é mais o PT do que sua gestão. O prefeito de Anápolis faz uma administração bem avaliada e articula politicamente com habilidade — tanto que mantém relação positiva com o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB —, mas o fato de pertencer ao PT o prejudica. O que o favorece é sua imagem de empresário e de que não é um petista dos mais petistas.

[caption id="attachment_45416" align="aligncenter" width="620"] Iris discursa durante o evento na sede do PMDB, ao lado dos deputados José Nelto, Bruno Peixoto e o vereador e secretário Paulo Magalhães. Ao fundo, o deputado federal Daniel Vilela; embaixo (à esquerda), o vereador Wellington Peixoto, recém-filiado ao partido | Foto: Alexandre Parrode[/caption]
Na segunda-feira, 11, os principais líderes do PMDB reúnem-se com Iris Rezende, em seu escritório, para discutir a questão da presidência do partido. A proposta coletiva é que Iris assuma o comando, com o deputado federal Daniel Vilela na vice.
“O convite é intransferível”, afirma o deputado estadual José Nelto. Quer dizer, o convite é exclusivo para Iris Rezende assumir a presidência do partido, mas não é estendido a Iris Araújo e a Nailton Oliveira. Um ex-deputado frisa que “tanto Iris Araújo quanto Nailton, se assumirem o comando, vão manter o PMDB dividido. Iris Rezende, por sua história, pode agregá-lo”.
Iris Rezende aceitaria Daniel Vilela como presidente do PMDB? “Possivelmente não”, admite um irista. Se o peemedebista-chefe rejeitar o comando, sugerindo que vai disputar a Prefeitura de Goiânia, o caminho mais factível é manter Pedro Chaves na presidência. “Iris Rezende poderia indicar o vice e o tesoureiro, por exemplo”, sugere um parlamentar. “Torço para que Iris assuma e contribua para a pacificação do PMDB”, afirma José Nelto.
Daniel Vilela, por sua vez, está de mãos estendidas para Iris Rezende. Ele quer manter e ampliar o diálogo.