Por Euler de França Belém
Se José Roberto Arruda — do PR do presidiário Valdemar Costa Neto — for candidato a governador do Distrito Federal este ano, por meio de alguma chicana jurídica, pode-se abolir o Poder Judiciário no Brasil. Arruda poderá ser “nomeado” para presidente do Supremo Tribunal Federal. Porém, se depender do Superior Tribunal de Justiça, o ex-governador permanece como ficha suja. Na terceira, 9, o STJ manteve sua condenação por improbidade administrativa.
Arruda foi um dos articuladores do chamado mensalão do DEM. Ele nega, apesar das fortes evidências, ter participado ou coordenado do mensalão “democrata”.
A candidatura de Arruda a governador foi barrada pela Justiça Eleitoral, mas ele recorreu. Agora depende do Tribunal Superior Eleitoral a decisão se mantém ou não a campanha. Se mantiver, o sistema judiciário brasileiro vai mal, muito mal.
O jornalista Lauro Jardim, editor da coluna “Radar”, da revista “Veja”, afirma que o doleiro Alberto Youssef (foto acima) — mais conhecido como Homem Bomba — está disposto a abrir o jogo sobre o jogo sobre os bastidores dos governos do PT e a Petrobrás.
Com a delação premiada, ele falaria tudo — ou quase —, dando as informações elementares sobre como fazia para lavar os milhões de reais extraídos de negócios com a Petrobrás e para quem repassava reais “limpinhos”.

O empresário Júnior Friboi está em Goiânia, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Opção (http://bit.ly/1qIShmT) e disse que Iris Rezende deve ser derrotado pela terceira vez. Na conversa, admitiu que está apoiando alguns candidatos, notadamente aqueles que são leais ao seu projeto político.
No Sudoeste goiano, Friboi deve apoiar talvez dois candidatos. Um deles, declarado, é o produtor rural e professor Leonardo Veloso. Mas claro que os friboizistas esperam que o candidato a deputado estadual pelo PRTB saia, até com certa urgência, da campanha de Iris Rezende, vista como o Titanic do Cerrado.

[Antônio Gomide: o candidato do PT está sendo cristianizado por aliados que, no fundo, são adversários internos]
O PT nacional pode ser convocado para resolver um problema do PT goiano: alguns líderes do partido, como o deputado Luis Cesar Bueno e o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, praticamente deixaram a campanha do candidato da legenda a governador de Goiás, Antônio Gomide, e mudaram de mala e cuia para a campanha de Iris Rezende, candidato a governador pelo PMDB.
Luis Cesar e Paulo Garcia, ao menos nos bastidores, dizem que estão apoiando Iris Rezende única e exclusivamente para tentar garantir o segundo turno. Eles avaliam, como adeptos da realpolitik, que a campanha de Antônio Gomide “rodou”. Daí terem cristianizado o correligionário. Se entrevistados, garantem que continuam apoiando o candidato petista. Só que o apoio à campanha de Iris, inclusive com a frequência aos seus comitês eleitorais, é muito maior.

[Renato Monteiro: prestes a cantar de galo na campanha de Iris Rezende, que, segundo Ronaldo Caiado, é o "galo velho do terreiro"]
O marqueteiro da campanha de Iris Rezende tende a ser trocado brevemente. Renato Monteiro pode ser o substituto de Dimas Thomas. Tese de alguns peemedebistas: Dimas Tomas é competente, entende tudo de marketing político, mas conhece pouco a política de Goiás e, sobretudo, não compreende Iris Rezende. Há poucos dias, colocou música durante quase todo o programa do peemedebista, como se o candidato do PMDB a governador não tivesse o que dizer.
Renato Monteiro diz que não, mas peemedebistas garantem que está palpitando na campanha de Iris Rezende. A pedido do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, do PT. Renato Monteiro e Paulo Garcia são carne, unha e cutícula com o candidato peemedebista.
O marqueteiro goiano já disse ao Jornal Opção que, se convidado oficialmente, aceita a incumbência de mudar o marketing da campanha de Iris Rezende — que estaria todo errado.
[Luis Cesar Bueno e Iris Rezende: o deputado petista é visto como irista por boa parte dos petistas goianos]
Numa entrevista ao repórter Jarbas Rodrigues Jr., editor da coluna “Giro” (“O Popular”, terça-feira, 9), o deputado estadual Luis Cesar Bueno (PT) praticamente rifou o candidato do PT, Antônio Gomide, da disputa do segundo turno. Para disfarçar, o petista diz que Gomide “é o melhor nome para” a “disputa”. No entanto, acrescenta o que se pode chamar de realpolitik: “Mas Vanderlan Cardoso (PSB) ou Iris Rezende (PMDB) será a nossa opção caso um dos dois vá para o segundo turno”.
Luis Cesar Bueno segue os passos do prefeito Paulo Garcia, que já está na campanha de Iris Rezende, alegando, ao menos nos bastidores, que é preciso garantir o segundo turno.
Com aliados como Paulo Garcia e Luis Cesar, o petista Gomide nem precisa ser adversários
Um dos mais complexos e interessantes políticos brasileiros, Francisco Clementino de San Tiago Dantas merece ser mais bem estudado por pesquisadores, jornalistas e biógrafos. Depois de Bilac Pinto, perfilado por uma biografia apenas razoável mas que abre fronteiras, agora chegou a vez de um político que também era intelectual. “San Tiago Dantas – A Razão Vencida” (Singular, 768 páginas, 70 reais), de Pedro Dutra, é uma biografia alentada.
San Tiago Dantas foi ministro das Relações Exteriores e da Fazenda do governo de João Goulart. Era um dos auxiliares mais moderados do presidente e chegou a aconselhá-lo a ser mais conciliador e a observar o quadro real que estava se desenhando. Jango deu mais ouvidos aos radicais de esquerda e às suas próprias “ideias” sobre o que era fazer política.
Na década de 1930, dado o confronto entre comunistas e fascistas em termos locais e internacionais, San Tiago Dantas alinhou-se com o fascismo patropi – representado pela Ação Integralista Brasileira. Na turma do anauê, ao seu lado, estavam Gustavo Barroso, Miguel Reale, dom Helder Câmara e Plínio Salgado, este era o líder máximo do fascismo verde.
Criador de faculdades, professor de Direito, deputado federal, San Tiago Dantas era apontado por todos como um homem dotado de grande inteligência e capacidade intelectual. Era tido como um político perspicaz e um hábil analista das circunstâncias políticas. Porém, numa época de efervescência, os moderados, embora eventualmente ouvidos, não têm suas ideias em geral respeitadas. Em tempos radicais, como o da década de 1960, vozes radicais são as mais acatadas. Os moderados, apontados como reacionários, são escanteados.
San Tiago Dantas morreu aos 53 anos, em 6 de setembro de 1964.
A apresentação do livro pode ser lida no site da editora (link: http://www.editorasingular.com.br/Uploads/APRESENTACOES/Apresenta%C3%A7%C3%A3o%20PDsantiago.pdf).
[caption id="attachment_14618" align="alignnone" width="612"] Sandra Persiyn e Iúri Rincon: os dois jornalistas tentam apresentar Iris Rezende como “moderno” e “arrojado”[/caption]
A equipe de marketing do candidato do PMDB a governador de Goiás, Iris Rezende, contratou os jornalistas Iúri Rincon Godinho e Sandra Persijn para cuidar da área de jornais.
Iúri Rincon e Sandra Persijn editam dezenas de jornais que são distribuídos em todo o Estado explicando o que Iris Rezende, se eleito, pretende fazer por Goiás.
Os dois jornalistas, competentes, têm uma missão inglória: “vender” um candidato que não deslancha e que ganhou o apelido de “Âncora” (tal o peso) dos próprios aliados.
Iris Rezende é um político de outro tempo, de um mundo que desapareceu ou está desaparecendo: não acredita em ciência, ou melhor, em pesquisas — qualitativas e quantitativas. Só crê em Deus e diz, aos poucos e estupefatos jovens que o acompanham, que recebeu uma missão divina.
Ao ouvir isto pela enésima vez, um ex-deputado federal, um dos coordenadores de sua campanha, pilheriou: “Será que sua missão divina é perder pela terceira vez para o governador Marconi Perillo?”. A pergunta, como dizem os colunistas sociais, faz sentido.
Os jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo lançam o livro “O Caso dos Nove Chineses — O Escândalo Internacional Que Transformou Vítimas da Ditadura Militar Brasileira em Heróis de Mao Tsé-tung” (Objetiva, 272 páginas). Os chineses, acusados de conspirar contra o governo brasileiro, foram presos e torturados. Sinopse da editora: “Na madrugada de 3 de abril de 1964, três dias após o golpe militar, policiais do Departamento de Ordem Política e Social invadiam, sem ordem judicial, um apartamento no bairro do Flamengo, no Rio, e capturavam um grupo de estrangeiros. As torturas começaram ali mesmo. “Horas depois, os homens da polícia política entravam em outro prédio, no Catete, e detinham mais pessoas. No fim do dia, nove chineses estavam presos, identificados como agentes internacionais instalados no Brasil para disseminar a revolução comunista. Mas a verdade é que viviam legalmente no país. “Dois eram jornalistas, quatro tinham vindo montar uma feira de produtos da China e os demais vieram comprar algodão. Tornaram-se vítimas da paranoia anticomunista da época, alimentada pelo governador Carlos Lacerda. Foram condenados a dez anos de prisão por subversão e, após mais de um ano detidos, acabaram expulsos do país. “O Brasil nunca pediu desculpas nem devolveu o dinheiro apreendido com o grupo — um valor que hoje ultrapassa R$ 800 mil. Em seu país, eles se tornaram heróis nacionais e ficaram conhecidos como ‘Nove Estrelas’ ou ‘Nove Corações Vermelhos voltados para a Pátria’. “Brasil e China estabeleceram relações diplomáticas dez anos depois, em 1974, mas o incidente ficou esquecido em arquivos secretos. Em ‘O Caso dos Nove Chineses’, os jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo trazem à tona agora, cinquenta anos depois, história do primeiro escândalo internacional de violação dos direitos humanos da ditadura militar brasileira.”

[caption id="attachment_14630" align="alignleft" width="200"] Donna Tartt, de 51 anos, é autora de “A História Secreta”, “O Amigo de Infância” e “O Pintassilgo”[/caption]
Autores “novos” ou pouco comentados por críticos especializados sofrem com resenhas peremptórias de jornais. Na falta de fortuna crítica categorizada, jornalistas e alguns críticos não têm informações suficientes — e parâmetros — para avaliar novos romances, contos e poesias, deixando escapar a qualidade específica e as influências literárias. O resultado às vezes são críticas rápidas, sem referências precisas à obra “examinada”, destacando-se mais aspectos perfunctórios e externos.
Abordar um autor a “seco”, sem o amparo de leituras anteriores, com críticas sedimentadas, referenciais, é o trabalho do verdadeiro crítico literário. O crítico americano Edmund Wilson publicou um livro, entre o fim da década de 20 e o início da década de 30, no qual examinou, cuidadosa e criteriosamente, a obra de, entre outros, Marcel Proust e James Joyce.
Praticamente não havia crítica consistente na qual basear-se e, por isso, ele fez uma leitura própria, específica, que muito contribuiu com a crítica posterior, ao abrir fronteiras. Publicado há mais de 80 anos, “O Castelo de Axel” (há uma bela tradução, feita pelo poeta José Paulo Paes e publicada pela Cultrix-Companhia das Letras) é a obra-prima de Wilson.
O crítico de jornal quase sempre não tem o tempo adequado para ler cuidadosamente uma obra mais alentada e, depois, não tem espaço para expor seus argumentos. Antônio Gonçalves Filho, um dos críticos mais qualificados do “Estadão”, resenhou o romance “O Pintassilgo” (Companhia das Letras, 719 páginas, tradução de Sara Grünhagen), de Donna Tartt, e nada acrescentou de relevante. De cara, implicou com o fato de Stephen King ter elogiado o romance, mas não mencionou duas críticas mais consistentes — de Michiko Kakutani, do “New York Times”, e do “The Guardian”. A Companhia das Letras recolheu um trecho do comentário de Kakutani e o publicou na contracapa: “Brilhante... Um romance glorioso, no qual todos os talentos narrativos de Tartt convergem numa arrebatadora sinfonia; um livro que nos traz de volta o prazer de passar a noite inteira lendo”. A editora publicou também um trecho da crítica do “Guardian”: “Raymond Chandler é uma presença tão grande nestas páginas quanto Dickens ou Dostoiévski. Falar mais sobre a trama seria privar os leitores do imenso prazer de ser arrebatado por ‘O Pintassilgo’. Se alguém perdeu o amor pelas histórias, este é o livro que certamente o trará de volta”. Os trechos são usados pela editora como publicidade positiva para o livro, mas fazem parte de resenhas mais densas e comparativas que permitem ao leitor uma compreensão mais perceptiva do romance.
O “Estadão” fica devendo uma crítica mais aguda ao belo romance de Donna Tartt — uma autora surpreendente que remete ao século 19, o de Dickens, Thoreau e Dostoiévski, mas também aos séculos 20 e 21 e, às vezes, à literatura de Thomas Pynchon (que ela não cita como influência literária). Não se está propondo uma crítica a favor, e sim uma crítica mais substanciosa à obra da escritora americana e a quaisquer outros romances. Uma crítica, além de apontar defeitos e virtudes, deve “entrar” na obra, escarafunchá-la a fundo. Críticas superficiais, do contra para ser do contra, servem unicamente para espantar leitores desavisados.
[caption id="attachment_14626" align="alignleft" width="150"] Eduardo Tessler: o consultor teria sugerido um jornalismo mais planejado e interativo ao Pop[/caption]
Contratado pelo presidente do Grupo Jaime Câmara, Cristiano Câmara, o consultor Eduardo Tessler, do blog Mídia Mundo, está preparando um amplo diagnóstico do jornalismo praticado pela redação do “Pop”. Ele é especialista em interatividade e convergência.
O jornalista Eduardo Tessler observou o funcionamento da redação, durante uma semana, e depois conversou com os editores e fez uma série de perguntas sobre as deficiências do jornalismo do “Pop”.
Eduardo Tessler estaria preparando o terreno para a contratação de um novo editor-chefe. O consultor teria ficado “chocado” com o fato de que a redação do “Pop” trabalha de maneira “improvisada”, sem um planejamento eficaz. De fato, fica-se com a impressão de que não há sequência editorial no jornal. Falta ritmo e a qualidade não é mantida de uma edição para outra. O jornal está cada vez mais previsível e chegando “velho” às bancas. Os editores não percebam, ou não querem perceber, que a cobertura da internet — além dos telejornais — solapou o jornalismo dos diários.
Outro problema do “Pop” é a falta de conectividade entre o impresso e o online. O GJC é multimídia apenas no “papel”.
Se os jornais diários não investirem em qualidade, sobretudo em textos que não foram repisados durante o dia em vários portais, blogs e redes sociais, serão abandonados por seus leitores. Sem a internet, o “Pop” seria, todos os dias, um jornal “vivo” e atraente. Com a internet, o “Pop” está se tornando um jornal “morto”, “frio”. Quase tudo que sai no jornal foi divulgado intensamente no dia anterior.
O mais importante jornalista brasileiro não mora em São Paulo e Rio de Janeiro, tampouco é correspondente em Paris, Londres ou Washington e não escreve nos jornais “Folha de S. Paulo”, “O Estado de S. Paulo” e “O Globo” ou nas revistas “Veja”, “Época”, “CartaCapital”, “IstoÉ” e “Piauí”. Lúcio Flávio Pinto, o Izzy Stone dos trópicos, escreve um jornal quinzenal, o “Jornal Pessoal”, absolutamente sozinho, e mora em Belém. Lúcio Flávio Pinto é perseguido por poderosos e, se quisesse, seria um homem rico. Mas recusa-se a servir ao poder — seja o público (os políticos), seja o financeiro (empresários). Durante 18 anos trabalhou no “Estadão” e publicou reportagens brilhantes sobre a Amazônia. É dos mais premiados repórteres brasileiros, no e fora do Brasil. O principal foco de suas reportagens é a Amazônia, que conhece como poucos. Seu conhecimento, pode-se dizer, vai muito além do conhecimento do jornalista tradicional. Ele certamente não aprecia o termo, mas talvez seja possível dizer que tem um conhecimento até acadêmico, na sua precisão e rigor, da Amazônia. Como Lúcio Flávio Pinto produz como se fosse uma redação de 20 repórteres experimentados — num tempo em que os jornalistas ficam “felizes” quando escrevem duas reportagens de 20 linhas por dia, acham muito e ainda reclamam que estão estressados —, o jornal provavelmente estava “pequeno” para suas ideias e textos. Por isso ele criou um blog, com seu nome e o subtítulo de “A agenda amazônica de um jornalismo de combate” O blog, afirma Lúcio Flávio Pinto, “chega assim de súbito, de improviso, como dever e destino, empenhado em fortalecer a agenda do cidadão, do homem comum, da gente simples e de todos aqueles que querem ser personagens ativos da sua vida e da história”. Ele frisa que vai atualizá-lo diariamente, mas “não com ênfase nas novidades, nas informações exclusivas, no ‘furo’. O que mais se tentará aqui será a contextualização dos fatos novos, no exame da mecânica dos acontecimentos, na desmontagem das engrenagens das decisões, na revelação do que está oculto na cena ou é omitido pelos seus narradores”. Sobre a Amazônia, seu tema, Lúcio Flávio Pinto frisa que “o objetivo é combater o ‘destino manifesto’ que se impõe à região, de ser colônia, de não interferir no seu próprio destino. Acredito com firmeza que a história não está escrita nas estrelas, restando-nos contemplá-las, à distância, como acidentes da natureza. Creio que podemos escrever também a história e, nessa escrita, sair da trilha dos colonizadores e da camisa de força em que nos colocaram os dominadores”.
O professor Romualdo Campos Pessoa lançou um livro sobre a Guerrilha do Araguaia e concedeu entrevista ao repórter Rogério Borges, do “Pop”. O doutor da Universidade Federal de Goiás, um dos mais respeitados e citados pesquisadores do assunto, disse, e não foi contestado pelo repórter, que possivelmente não conhece bem a história do período, que o major Curió “não fala” sobre a Guerrilha do Araguaia. Trata-se de uma injustiça. A versão de Sebastião Rodrigues de Moura, o major Curió, está exposta no livro “Mata! O Major Curió e as Guerrilhas do Araguaia” (Companhia das Letras), do jornalista Leonencio Nossa. Pode-se discordar da versão apresentada pelo major Curió, até afirmar que não revelou tudo ao repórter, mas não é possível dizer que “não fala” sobre a Guerrilha do Araguaia. O livro, com 443 páginas, foi publicado em 2012. Rogério Borges deveria lê-lo.
A equipe de marketing da campanha do candidato a governador de Goiás pelo PMDB, Iris Rezende, demitiu 22 profissionais de comunicação na semana passada. Um deles diz que a maioria vai recorrer à Justiça para receber o salário de setembro. Ele afirma que o marqueteiro oficial da campanha, Dimas Thomas, garantiu que só vai pagar o salário de agosto, alegando que os demitidos não vão trabalhar no mês de setembro. Os repórteres, produtores, maquiadora e locutora contrapõem: o contrato de trabalho previa pagamento até o fim de setembro.
Assim como o escritor Joseph Heller e o jornalista Rogério Lucas, a cientista política Lucia Hippolito ficou totalmente paralisada, mas está se recuperando. Seu sonho é voltar a andar
[caption id="attachment_14657" align="alignleft" width="150"] Lucia Hippolito, cientista política, diz que pensou em morrer, ao ver seu corpo todo paralisado, mas agora quer andar e viver[/caption]
O escritor americano Joseph Heller (1923-1999), autor do romance “Ardil 22” (levado ao cinema por Mike Nichols), vivia tranquilamente e, de repente, acometido pela síndrome Guillain-Barré, em 1982, teve de se internar, durante longo tempo, num hospital. Achava que não iria sobreviver, mas viveu mais 17 anos. Com o amigo Speed Vogel (apaixonado pela música do compositor brasileiro Villa-Lobos), escreveu um livro, “Não é Caso Para Rir” (Rocco, 326 páginas, tradução de Aulyde Soares Rodrigues), no qual relata que acreditava que iria morrer, tais o desconforto e a falta de mobilidade. Mas pelo menos conseguia falar. “Conversar foi a única coisa que me livrou da loucura. Eu fazia piadas, comentários, críticas, interrompia, aconselhava. Dava longas respostas a tudo o que me perguntavam e respondia também quando não era perguntado.”
No livro, Joseph Heller diz que “o descréscimo da mortalidade da síndrome Guillain-Barré foi incrível, devido ao aperfeiçoamento do diagnóstico e dos respiradores artificiais, que se tornaram parte do equipamento padrão de todo hospital [note-se que o escritor está se referindo a hospitais dos Estados Unidos]. Grande parte das mortes é causada por parada respiratória, provocada por paralisia dos músculos usados inconscientemente para expandir e contrair o peito ao respirar. (...) Em muitos casos, a paralisia começa nas extremidades inferiores dos membros, os pés, e progride para cima, mas em muitos outros não é esse o processo. O meu começou no centro, movendo-se para cima e para baixo, simultaneamente”.
Segundo Joseph Heller, que não é cientista nem médico, “cerca de 1,6 a 1,9 americanos, entre cem mil, são vitimados a cada ano, ou seja, de dezesseis a dezenove, em 1 milhão. Em uma população de mais de 200 milhões, significa mais de 4 mil casos anualmente” (o livro saiu nos Estados Unidos em 1986 e, no Brasil, em 1987).
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Livro conta a história de como Joseph Heller enfrentou e superou a síndrome Guillain-Barré[/caption]
Durante vários meses, amigos de Joseph Heller, como o escritor Mario Puzo (autor do livro “O Poderoso Chefão” e roteirista do filme homônimo), o ator e diretor Mel Brooks, o ator Dustin Hoffman e o crítico literário e biógrafo Frederick R. Karl, acompanharam seu tratamento no hospital. Mel Brooks e Frederick Karl eram bem informados e sabiam que a recuperação era possível. A maioria, vendo o amigo imobilizado, praticamente sem se mexer, pareciam acreditar que ele não tinha salvação. Depois da doença, recuperado, escreveu os livros “Não é Caso Para Rir”, “Só Deus Sabe”, “Imaginem Que...”, “A Hora Final” e “Retrato do Artista Quando Velho”. Sua literatura, cáustica e satírica, busca mostrar os absurdos do mundo, das ações do homem.
Há pouco tempo, o jornalista goiano Rogério Lucas foi acometido da síndrome Guillain-Barré. Ficou internado durante vários dias no Hospital Lúcio Rebelo, em Goiânia, e chegou a ir para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Visitei-o semanalmente. Estava quase que inteiramente imobilizado e com dificuldade para respirar. Mas não perdeu a lucidez. Recuperou-se e, em seguida, foi encaminhado para o Centro de Reabilitação e Readaptação Henrique Santillo (Crer).
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Rogério Lucas ficou internado durante vários dias, mas se recuperou, anda sozinho e dirige seu automóvel, um Peugeot[/caption]
Num período, Rogério usou uma bengala para se locomover. Agora, não a usa mais e dirige automóveis sem nenhum problema. Há poucos dias, almocei com Rogério (e Iúri Rincon Godinho. Falamos de tudo — livros, política, viagens e mulheres), que está lendo o doloroso e, às vezes, divertido livro de Joseph Heller. Ele está bem — bem-humorado, cáustico e tranquilo. A síndrome o ensinou a ter uma visão menos estressada do mundo e do homem. Há um novo Rogério no velho Rogério — mais light, menos apressado, mais relaxado e jovial. Ele brinca e ri mais. A lucidez é a mesma.
Joseph Heller e Rogério Lucas têm algo em comum com a cientista política Lucia Hippolito — a síndrome Guillain-Barré.
Cientista política brilhante, a paulista Lucia Hippolito, de 64 anos, é autora do livro “PSD — De Raposas e Reformistas” (o PSD, legenda de Juscelino Kubitschek e, em Goiás, de Pedro Ludovico e Mauro Borges, era o maior adversário político da UDN de Carlos Lacerda).
Depois de uma carreira notável na academia, com tese de doutorado, Lucia Hippolito se tornou comentarista política do primeiro time na Rede Globo, notadamente no Globo News e na Rádio CBN. Participou ativamente do programa de Jô Soares (do quadro “As Meninas do Jô”), ao lado de Lilian Witte Fibe, Cristiana Lôbo e Ana Maria Tahan, discutindo basicamente política. Além de informadíssima, a cientista política falava muito bem, com clareza, até sobre assuntos espinhosos. Aqui e ali, dada a pressa dos comentários, era superficial, mas sempre tinha algo a dizer.
Em 2008, Lucia Hippolito recebeu o prêmio de Mulher do Ano nos Meios de Comunicação e ganhou o Troféu Mulher Imprensa 2010 como comentarista. Embora não tenha abdicado da ciência política, para entender os fenômenos partidários, com seus múltiplos jogos, é possível dizer que havia se tornado uma jornalista das mais atentas.
Porém, depois do imenso sucesso, Lucia Hippolito desapareceu dos meios de comunicação. Muitos pensaram que havia morrido. Na verdade, em 2012, em Paris, onde estava com o marido, Edgar Flexa Ribeiro, percebeu que, ao tentar levantar-se da cama, suas pernas não se moviam. Descobriu na França que tinha a famosa e rara síndrome Guillain-Barré — “doença autoimune que leva à perda da habilidade de grupos musculares”.
Depois de 47 dias internada no Hospital Raymond Poincaré, mexendo apenas os olhos e a cabeça, Lucia Hippolito desesperou-se e torceu para morrer, pois queria livrar-se do tormento.
À repórter Márcia Vieira, da coluna editada pelo jornalista Ancelmo Gois, de “O Globo” (31 de agosto), Lucia Hippolito, agora num apartamento de Ipanema, no Rio de Janeiro, e sentada numa cadeira de rodas, disse: “É uma dor solitária. A gente acorda e não quer abrir o olho. A gente abre o olho e não quer continuar vivendo aquilo. Não adianta o outro dizer que vai dar tudo certo. A gente só pensa que vai dar errado”. Seu relato não difere do de Joseph Heller. A repórter pergunta: “Como você se sente hoje?” A cientista política-comentarista responde: “Muito bem, apesar de tudo. Não ando, as mãos ainda estão tortas, mas estou feliz porque faço progressos todos os dias. A síndrome Guillain-Barré tem este lado animador. É uma conquista cotidiana. No início, as dores eram lancinantes. É como se os nervos estivessem todos expostos”.
Márcia Ribeiro inquire: “O que provocou a doença?” Lucia Hippolito: “Os médicos não sabem. Uns dizem que pode ser provocada por vacinas. E eu tinha tomado quatro vacinas num dia só, seis meses antes. Também pode ser detonada por um estresse violentíssimo. Eles não sabem direito. É desesperador. Tinha dias em que eu queria morrer. De madrugada, ficava sozinha ouvindo o silêncio da CTI. Não tinha ninguém para me dizer que eu iria melhorar. Emagreci 20 quilos, mas não recomento esse spa” (e cai na gargalhada). A história, mais uma vez, é parecida com a de Joseph Heller, que, por sinal, casou-se com a enfermeira que cuidou dele no e fora do hospital.
Lucia Hippolito não pensa mais em morrer. Na quinta-feira, 11, dará uma palestra na Casa do Saber O Globo. Com a ajuda de uma enfermeira, cozinhou um risoto de rabada. “Todo dia ela faz uma coisa que não fazia na véspera. Nem que seja o dedinho da mão que levanta um milímetro a mais do que antes”, afirma Flexa Ribeiro.
A repórter comenta sobre seu humor afiado e Lucia Hippolito concorda. “Ah, sim! É o que salva a vida da gente. Mantive o humor e me apoiei no Edgar. Eu quero voltar a andar. Hoje, eu consigo dar seis passos com o andador. Faço fisioterapia todos os dias, tenho sessão com a fonoaudióloga e, é claro, faço psicanálise, se não, não dá para aguentar. Tomo remédio para dormir porque eu não posso me mexer. E tomo antidepressivo para encarar tudo isso.”
Como Joseph Heller, Lucia Hippolito teme não voltar a andar. “E é muito duro. Hoje eu tenho dependência total. Isso me incomoda muito. Chorei a primeira vez em que um enfermeiro me deu banho. Voltar a andar é o meu sonho. Já não penso mais na morte. Gosto da vida. Viver é muito difícil, mas é bom demais. Quando a gente encara uma doença, percebe que não tem controle sobre as coisas. Ao pensar na morte, você tem a chance de pensar: que vida é esta que eu levo? Antes da doença, eu trabalhava 12 horas por dia. Dormia sempre com a cabeça a mil. Não quero mais isso. Hoje eu comemoro pequenas conquistas. Fico feliz porque consigo assoar o nariz. Ainda não penteio o cabelo, mas tiro o fio que cai na testa. Não dá para escrever direito. Mas assinei meu título de eleitor.”
O dia em que tive uma tromboembolia e quase embarquei:
Depoimento sobre como escapei de uma grave tromboembolia