Por A.C. Scartezini

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Sonho da assessoria palaciana é que eventual desgaste atinja políticos em geral

[caption id="attachment_9727" align="alignleft" width="1232"]Aécio Neves e Eduardo Campos: na expectativa do impacto do futebol  | Foto: George Gianni/ PSDB Aécio Neves e Eduardo Campos: na expectativa do impacto do futebol | Foto: George Gianni/ PSDB[/caption] Os companheiros que se­guem de perto as aventuras e des­venturas da reeleição da presidente Dilma Rousseff aguardam pesquisas externas para verificar o impacto da decepção nacional com o futebol junto aos concorrentes Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Os petistas torcem para que o antigo desencanto com a política, se voltar, atinja a todos. A tendência natural seria a cotação de Dilma voltar ao patamar em que estava antes da Copa. Ela liderava a corrida com 34% das preferências e saltou no Datafolha para 38. Aécio também se moveu para cima, foi de 19 pontos a 20. Campos subiu de 7 a 9%. A simetria ainda seria a mesma? O nervosismo nos partidos prejudica a redefinição de rumo. A retomada do desencanto do eleitor, se acontecer, pode ser seletiva. Aí, o governo seria o mais prejudicado. Afinal, protesto de rua é contra o poder. Não há protesto contra a oposição. Nessa dinâmica, o mau humor do brasileiro pode beneficiar a oposição por via direta: o eleitor pode absolver Aécio e Campos quanto ao malogro na alma nacional e desviar votos para ambos. Em momentos assim, surgem intérpretes políticos a afirmar que o futebol não influencia eleição. Mencionam casos, como a reeleição de FHC em 1998, quando a seleção brasileira voltou da Copa com as mãos vazias. Mas havia também o Plano Real. Hoje há inflação. Em 2006, Lula foi reeleito, depois de outro fracasso no futebol e apesar do mensalão. Agora é diferente. Todos aqueles insucessos ocorreram em terras estrangeiras. Hoje o naufrágio veio em campo brasileiro, bem pertinho da nação. Aqueles sete gols alemães contra um nacional são inesquecíveis e não sairão da memória popular nos 12 domingos que restam até o primeiro turno da eleição presidencial em 5 de outubro. Outra coisa. A expectativa otimista injetada pela propaganda do governo no início da Copa não elevou o bom humor brasileiro naquela pesquisa do Datafolha? Os três principais candidatos subiram de cotação naquele momento, mas o salto da presidente foi mais expressivo. Não seria estranho se o fenômeno se invertesse agora. Além de tudo, desta vez o governo se envolveu como nunca numa Copa, desde que o presidente Lula foi à Suíça apresentar a candidatura brasileira a sede do mundial. Tanto envolvimento do Planalto despertou os protestos de rua em defesa de gastos sociais prioritários. Nem em 1950 a intervenção foi tão forte. Agora a presidente tenta se desvincular da seleção. Mas essa é outra história.

O governo deseja isolar a presidente da seleção e, ao mesmo tempo, intervir no futebol

[caption id="attachment_9765" align="alignleft" width="1319"]artigo_scartesini.qxd Crente de que a seleção brasileira iria abafar, Dilma fez divulgar foto pegando carona numa pose à la Neymar[/caption] O marketing da presidente Dilma focou com otimismo no sucesso da Copa e da seleção brasileira, mas não se preparou para um plano alternativo de comunicação. Por isso agora anda sem rumo. A primeira ideia foi aquela de sempre: blindar Dilma contra o fato desagradável, fazer de conta que a presidente não tem nada a ver com insucesso ou pessimismo. Nos protestos de junho do ano passado, o Planalto, para blindar a chefe, tentou atribuir a governadores e prefeitos as insatisfações populares. Não deu certo. Dilma foi forçada a vir ao palco, inclusive com aquele projeto de fazer reforma política a partir de uma constituinte que seria pautada previamente por um plebiscito. Antes que se escrevesse a reforma, o povo deveria ditar o que queria na escrita. Não funcionou. A presidente passou então a responsabilizar a falta de reforma pelos desacertos políticos do governo. Veio até aquela ideia de promover mobilizações sociais à altura do movimento das Diretas Já para exigir do Congresso a reforma política. Não deu certo. Ao longo da semana, a palavra de ordem entre os petistas foi retirar de cena aquele bordão que o marketing criou para a presidente como forma de injetar entusiasmo nos eleitores: a Copa das Copas. Na quarta-feira com expediente no palácio, Dilma recebeu um visitante em audiência e receitou autoajuda contra a crise na Copa: “Temos de ir em frente, temos de motivar o país.” A jogada era blindar a presidente contra a seleção, ao mesmo tempo em que se exaltaria o sucesso da organização do mundial, como se uma coisa não puxasse a outra. O bordão Copa das Copas era exatamente uma simbiose, em que o sucesso do campeonato se aliaria ao brilho da seleção. Era um símbolo de Dilma para atrair votos com o futebol rumo a outubro. Ainda na manhã de terça, antes do jogo contra os alemães, a presidente Dilma mandou o palácio distribuir aquela foto em que a própria imita com os braços o jogador Neymar ao simular a letra T. Poderia ser apenas uma simpática atitude de solidariedade ao atleta machucado, mas também era mais um gesto de identificação com a seleção, cujo fracasso na Copa pegou o governo desarmado. A blindagem é sempre uma atitude defensiva. Se houvesse um plano B para a Copa, poderia ser acionado no caso de fracasso da seleção. Então o Planalto poderia acionar um ataque. Mas atacar a quem? A tradição eleitoral do PT é acusar os tucanos, que desejariam vender estatais ou eliminar programas sociais. O que o PSDB teria a ver com a seleção? A última ideia do governo, porém, está mais para ofensiva do que para defesa: a intervenção no futebol. Há um sabor de chavismo nisso. Como intervir em sociedades privadas? Estatizar o futebol? Apenas o futebol? As outras modalidades desportivas ficariam fora ou a intervenção seria geral? Isso a cinco meses e meio do fim do governo. Se está em fim de governo sem reeleição garantida é algo menor na improvisação do governo num esforço apara conquistar o eleitor indignado com a seleção ou a Copa. “Exportar jogador é não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios”, discursou Dilma em defesa da intervenção, como quem também está indignada. A indignação ensaiada não foi produto de discurso em público. Ocorreu num pronunciamento que a assessoria do palácio gravou com a presidente e distribuiu à mídia. Se o Planalto, em seu vai e vem, atravessar este fim de semana fixado na ideia, poderá render um pronunciamento de Dilma, nos próximos dias, em cadeia de televisão e rádio. Não custa nada. Afinal, a presidente prometeu se reunir nesta semana com membros do Bom Senso Futebol Clube, no qual atletas atuais e antigos se integram na defesa de melhores condições de trabalho para jogadores de futebol. Eles levarão ao palácio sugestões de mudança de regras de trabalho, como o rebaixamento para a segunda divisão de clubes que atrasam salários na primeira. Esse aparelhamento do futebol leva outra incoerência marqueteira do governo. A ordem é retirar de cena a lembrança da Copa das Copas. No entanto o governo se encarrega de manter o futebol em cartaz, num vai e vem típico de quem não sabe o que pretende. A intervenção no futebol é mais uma atitude no sentido de levar a política para o mundial.

A melancólica cerimônia do adeus de Joaquim Barbosa no Supremo antes de aposentar

artigo_scartesini.qxd O ministro Joaquim Barbosa quer ir embora do Supremo Tribunal Federal 11 anos antes de atingir a idade limite aos 70, mas quer deixar os seus na presidência. Seria como Barbosa ir, mas não ir. Ele iria cuidar da vida em outro lugar, mas ficariam em seu lugar na presidência do tribunal os 46 funcionários que hoje trabalham com ele em cargos de comissão. Seria a herança de Barbosa para o atual vice-presidente Ricardo Lewandowski, com quem duela desde março de 2006, assim que o colega, antigo morador da paulista São Bernardo do Campo, chegou ao Supremo por indicação da família Lula da Silva com a missão de proteger os mensaleiros que começariam a ser julgados. O novo impasse com Lewan­do­wski começou em maio, quando Barbosa anunciou que sairia do Supremo mais cedo, aos 59 anos. Dede então, duas vezes ele adiou a aposentadoria, sendo que agora diz que sai em agosto depois do recesso de julho. A prorrogação seria para ganhar tempo até garantir a permanência dos seus 46 comissionados com gratificação de confiança. O vice recusa a transação. Lewandowski, como novo presidente, deseja ter na presidência gente de sua confiança, não do desafeto Barbosa. Esperto, o futuro aposentado, sendo ainda presidente, enviou um expediente ao vice comunicando que os 46 “deverão retornar” ao antigo gabinete de Barbosa como ministro assim que ele deixar a presidência – ou seja, ao se aposentar. Com a existência do expediente formal, Lewandowski, se discordar, será forçado a submeter a questão a todos os colegas na volta ao trabalho em agosto. O caso seria discutido numa das reuniões administrativas do Supremo, onde todos discutem problemas internos. Estando por perto, Barbosa poderia conversar com os antigos colegas a respeito de sua atual assessoria. Não leva chance de sucesso com os ministros. O atual presidente sai indisposto com os atuais colegas, dos quais sequer se despediu ao se retirar mais cedo antes do final da última sessão do tribunal antes das férias de julho. Em seu lugar, deixará mais uma polêmica criada na casa por questão pessoal de seu gênio irritadiço. Aposentado, terá mais tempo para discutir o desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo como antigo jogador amador. Barbosa poderá, por exemplo, defender a tese de que “técnicos brasileiros substituem mal e tardiamente, sempre”, como comentou a propósito do comportamento de Scolari ao substituir o machucado Neymar por Henrique na seleção brasileira contra a Colômbia. Se dependesse da opinião de Barbosa, a seleção entraria em campo para o trágico jogo contra a Alemanha com os volantes Luiz Gustavo e Fernandinho, mais Paulinho e Ramires (ou Willian) e ainda Hulck e Fred no ataque. O atacante Bernard, que substituiu Neymar, seria uma “arma para o segundo tempo”.

A satisfação brasileira com a Copa ajuda Dilma a reagrupar as bases que se dispersavam

O novo Datafolha aumenta a chance de um segundo turno, mas Aécio Neves deve perder bases aliadas do Planalto, como a militância do PTB

Os conselhos populares são mais importantes para o Planalto do que o controle da mídia

[caption id="attachment_9181" align="alignleft" width="300"]Votar decreto de deputados depende de Renan Calheiros | Foto: Moreira Mariz Votar decreto de deputados depende de Renan Calheiros | Foto: Moreira Mariz[/caption] É mais fácil para a presidente Dilma Rousseff continuar engavetar o projeto de controle social da mídia do que dispensar a criação dos conselhos populares destinados a participar de decisões em todos os níveis de gestão pública, inclusive a diplomacia e as Forças Armadas. A escala de prioridade estratégica entre as duas questões foi sinalizada pelo Planalto durante a semana. A opção deve agora ser consolidada com a recuperação de posições da candidata Dilma na mais nova pesquisa do Datafolha. A presidente tende a se sentir mais forte para a opção, que inclui apoio de Lula e da cabeça do PT. A verdadeira prioridade está subjacente na inclinação a favor dos conselhos: a reeleição da presidente. A criação do controle da mídia é um tema menos palatável do que os conselhos populares na campanha eleitoral a iniciar-se agora de fato. Começa que o controle da mídia não é um tema simpático, divide a base aliada do governo e exige o convencimento geral quanto à oportunidade de desenvolvimento e implantação de um sistema complexo de intervenção na comunicação privada. Enquanto os conselhos serão um tema a ser badalado pelo PT na campanha como uma fórmula charmosa de ampliação dos poderes do povo organizado – e a organização de movimentos sociais é a especialidade histórica do PT. Mesmo que o partido perca a eleição presidencial dentro de três meses, os conselhos populares poderão assegurar a manutenção de poder de fato pelo PT num sistema que já está definido em decreto baixado por Dilma no qual o Congresso não pode intervir para modificar o esquema – nem para evitar que os conselhos assumam função legislativa. O que o Congresso pode é aprovar um decreto legislativo que anule o outro decreto. Pode, mas não consegue. Ainda na quarta-fei­ra, o presidente da Câmara, deputado Henrique Alves (PMDB), não conseguiu votar o novo decreto legislativo. Faltou quórum. O momento não é favorável a votações parlamentares por causa da Copa do Mundo e da campanha eleitoral dos congressistas. Além disso, é preciso saber se o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), concorda com o decreto dos deputados preconizado pelo colega Alves. De quebra, há uma trama de bastidores que envolve a questão. Durante a semana, voltou a falar-se que o secretário-geral da Presi­dência, Gilberto Carvalho, seria removido para a campanha da reeleição. É preciso saber se Lula concorda com a remoção de seu homem no Planalto. Além disso, Carvalho dispensaria o poder que pode adquirir via conselhos a partir de sua posição como coordenador de movimentos sociais desde o PT até o Planalto? Pode ser que alguém manipulador do noticiário esteja de olho na posição. Outra coisa. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, quer se afastar da posição o mais cedo possível com o trâmite de seu pedido de aposentadoria. A pressa pode ser boa para o Planalto, que cuidaria logo de sua substituição, que depende de aprovação do Senado ao novo nome. Aquelas duas questões es­tratégicas, os conselhos populares e o controle da mídia são temas para recursos ao Supremo, onde não custa nada ao Planalto ampliar a sua bancada de amigos no tribunal para o que der e vier.

Sem o Supremo, Barbosa diz querer distância da política, e por isso pode ser político

[caption id="attachment_8739" align="alignright" width="620"]Ministro Joaquim Barbosa poderá ser candidato à Presidência da República daqui a quatro anos? Ministro Joaquim Barbosa poderá ser candidato à Presidência da República daqui a quatro anos?[/caption] Ao retirar-se precocemente do Supremo Tribunal Federal na qualidade de presidente da casa, o ministro Joaquim Barbosa afirmou que não deseja nada com a política, como quem não se seduz com a imagem de herói popular que deixa atrás de si depois de sustentar o rigor original na punição a mensaleiros. “Pode ser uma mera impressão momentânea”, questionou a resistência da imagem de prestígio que ostenta nas ruas e nas pesquisas de opinião. “Conheço bem o povo brasileiro e sei o quanto ele é, às vezes, mutante, cambiável”, ponderou a relatividade da popularidade que conquistou no julgamento do mensalão, do qual sai agora como vítima sendo presidente do Supremo. Meses atrás Barbosa admitiu a possibilidade de apresentar-se às urnas, o que não é mais possível neste ano eleitoral. Agora, esnobou o valor que atribui à política: — A política não tem na minha vida essa importância toda, a não ser como objeto de estudos e reflexões. O fato é que Barbosa deixa as portas abertas para o futuro. A estrutura básica das frases que passou ao público está no condicional: a imagem pessoal de hoje pode ser apenas momentânea; o povo, às vezes, é instável; e a política não tem muita importância pessoal, a não ser como objeto de estudos. Ele pode ser candidato mais adiante por dizer agora que não quer nada com isso. Sendo candidato no futuro, não se poderá dizer que, por oportunismo, Barbosa usou o mensalão para se promover politicamente. Além do mais, a construção psicológica de Barbosa permite a conclusão de que se afasta precocemente do Supremo por se sentir expulso pelo aparelhamento partidário da casa, montado para proteger mensaleiros. Ao mesmo tempo, o incontrolável temperamento de Barbosa colaborou para um inédito levante de advogados em desafio ao presidente do tribunal. Na realidade, ele ajudou na queda, mas é uma vítima que desafiou o poder que interveio na conclusão do julgamento para aliviar a situação dos mensaleiros que Barbosa queria na prisão. Do ponto de vista da construção da imagem de um candidato, Barbosa pode se passar por vítima de uma conspiração desencadeada por vingança de pessoas mais po­derosas do que ele. Com a saga quixotesca que descreveu em embates contra poderosos, Barbosa possui perfil para se apresentar contra o candidato presidencial do PT dentro de quatro anos. A reeleição da presidente Dilma daqui a três meses teria a vantagem de trazer os petistas para o que seria bom para um mano a mano entre o carrasco e a vítima - que pode escolher o futuro partido.

A suspeita de aparelhamento partidário do tribunal para proteger alguns mensaleiros

[caption id="attachment_9175" align="alignright" width="620"]Ministros Zavascki e Barroso: desembarque no Supremo formou maioria pró-redução de penas de mensaleiros | Fotos: Wilson Dias/ABR - Antonio Cruz/ABr Ministros Zavascki e Barroso: desembarque no Supremo formou maioria pró-redução de penas de mensaleiros | Fotos: Wilson Dias/ABR - Antonio Cruz/ABr[/caption] O processo de desgaste de Joaquim Barbosa na presidência do Supremo aguçou-se no fim de fevereiro último, quando o Supremo, ao julgar embargos infringentes, anulou a sentença que considerou o mensalão como obra de formação de quadrilha. Reduziu-se, então, a pena de oito mensaleiros, a começar pelo ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado José Genoino. O próprio julgamento de infringência já era um recuo quanto ao arquivamento do antigo sistema que oferecia uma segunda chance ao condenado por placar apertado, mas sem o direito de recorrer a um tribunal superior. As três decisões do Supremo receberam o mesmo placar estreito, seis votos a cinco. Tudo no espaço de um ano e meio concluído em fevereiro. A inversão histórica do placar foi possível pelo desembarque no Su­premo de dois novos ministros, Teori Zavascki e Roberto Barroso. An­tes, a aposentadoria compulsória retirou do tribunal dois outros juízes que ajudavam a formar a antiga maioria que concordava quanto à existência de formação de quadrilha no caso, Cezar Peluso e Ayres Britto. Barbosa detonou a revolta contra a nova maioria no Supremo ao aprovar a redução das penas no final de fevereiro, há mais de quatro meses. “Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que esse é o primeiro passo”, advertiu. “É uma maioria de circunstância que tem todo o tempo a seu favor para continuar sua sanha reformadora”, referiu-se à presença nova de Zavascki e Barroso no processo. Avançava o processo de desconforto pessoal que levou Barbosa a pedir a aposentadoria 11 anos ante de chegar aos 70, quando sairia compulsoriamente. Na terça-feira, saiu do tribunal antes dos colegas para não se despedir deles. Em seu incômodo geral, isolou-se dos outros ministros, que também o afastavam por causa das hostilidades pessoais. Fora do prédio, Barbosa se sentiu à vontade para desabafos a re­pórteres em troca do discurso de des­pedida que não houve. Indiretamente condenou aquela “sanha reformadora” que facilitou a vida de mensaleiros: — Aqui não é lugar para pessoas que chegam com vínculos a determinados grupos. Não é lugar para privilegiar determinadas orientações. A seguir, Barbosa foi mais direto ao seu alvo, ao denunciar a “tentativa de utilização da jurisdição para fins partidários” com o “fortalecimento de grupos, de certas corporações, isso é extremamente nocivo, em primeiro lugar, à credibilidade do tribunal, e também à institucionalidade do nosso país.” A visível marcha de uma ocupação política do Supremo fragilizou Barbosa numa exibição de poder capaz de intimidar outros juízes. Ao mesmo tempo ele perdia autoridade por causa da falta de controle sobre o temperamento. Há um mês, houve aquele mo­mento onde o advogado de José Ge­noino, Luiz Fernando Pache­co, intrometeu-se numa sessão do Supremo e ocupou a tribuna para pressionar pela concessão ao cliente do direito a prisão domiciliar. Antes de ser expulso, Pa­che­co bateu boca com Barbosa, am­bos agressivamente. “Foi o mo­mento mais chocante em meus 11 anos no Supremo”, definiu. Completou-se o processo de desencanto geral de Barbosa com o ambiente de trabalho pessoal. Na conversa com repórteres, deixou vazar um desabafo capaz de explicar a exaltação com advogados que exploram os desgastes de Barbosa. “A prática do direito no Brasil está se tornando um vale-tudo, uma constante quebra de braço”, queixou-se e explicou: — O sujeito perde nos argumentos e quer levar no grito, agredir, desmoralizar a autoridade.

Lula confirma a fala de Gilberto Carvalho a blogueiros e o PT leva a corrupção à campanha

O ex-presidente admitiu que as vaias a Dilma no Itaquerão podem ser culpa do governo, conforme sugeriu o secretário-geral da Presidência aos blogs no Planalto

O susto de petistas não levou em conta a missão do secretário a serviço do ex-presidente

[caption id="attachment_8542" align="alignleft" width="300"]artigo_scartesini.qxd Lula se serve do “leva e traz”de Carvalho junto à presidente Dilma[/caption] No meio da semana saiu a informação de que Gilberto Carvalho deixaria a Secretaria Geral da Presidência para atuar na campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff junto aos movimentos sociais. O secretário negou. Esclareceu que, no atual governo, o seu lugar de trabalho é no palácio, onde está há 11 anos e meio. A informação surgiu como espécie de pressão sobre Carvalho, ainda na onda de pessoas surpreendidas e agitadas com a fala dele aos blogueiros, que teria incomodado Dilma. Ela estaria surpresa, como outros petistas, com a autonomia daquele discurso dentro do Planalto em horário de expediente. As pessoas esquecem que Carvalho trabalhou como chefe de gabinete do presidente durante os oito anos de mandato de Lula, que depois o legou à sucessora como secretário-geral. Além de receber do antigo chefe a incumbência informal de ser o seu elemento de ligação com o palácio. Em outras palavras, Carvalho acompanha o que se passa por ali e relata ao ex. Era uma posição que incomodava a presidente. No início, ela queria afastar o companheiro ali presente atentamente. Não conseguiu. Tentou então ignorá-lo. Foi convencida a aproximar-se mais do secretário. Aproximou-se, mas Dilma guarda suas confidências para Giles Azevedo, conselheiro e chefe de gabinete de Dilma até março, quando se afastou para atuar na campanha. Nessa condição, Carvalho expressa muito mais as ideias e intenções de Lula do que cogitações de Dilma. Assim, reuniu os companheiros blogueiros para transmitir um recado do ex. Como se comentou aqui na semana anterior, entre a fala de Lula e a correção de Carvalho ocorreu a mais recente pesquisa do Ibope. O projeto de Lula ao atacar elites era fazer de Dilma uma vítima do processo eleitoral, num recurso para reerguer o prestígio da presidente. Não funcionou. Sondagens informais em torno dos dados preliminares da pesquisa informaram que o ataque prejudicou a presidente mais do que aos seus dois principais concorrentes, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Acionado pelo ex, Carvalho entrou em ação e, na véspera da divulgação do resultado da pesquisa, passou o recado pelos blogueiros. No outro dia, quando os meios eletrônicos espalhavam os números do Ibope, os jornais publicavam a correção de rumo feita por Carvalho como se fosse algo por conta e risco do próprio, inclusive a responsabilização da mídia pelas denúncias de corrupção.

A falta de pudor no governo e na oposição promete marcar a eleição a presidente

[caption id="attachment_8536" align="alignleft" width="300"]artigo_scartesini.qxd Aécio Neves: candidato tucano estimula deserção de aliados ao governo[/caption] A nova sucessão presidencial caminha para fazer história em matéria de confronto entre governo e o­posição. Num canto do ringue, a presidente Dilma Rousseff, em busca da reeleição, dispensou o recato e pediu lealdade aos partidos aos quais distribui cargos. No gesto, advertiu e ofereceu uma lição ao público em geral: — Engana-se quem defende a tese de que não há compatibilidade en­tre a lealdade e política. Tem uma es­pécie de esperteza que tem vida curta. No outro canto, o principal can­di­dato da oposição, senador Aécio Neves (PSDB), ouviu aquilo, afastou a austeridade mineira e abriu o jogo nu­ma recomendação à esperteza — ou falta de compostura dos políticos premiados com cargos no governo. Dirigiu-se aos governistas dissidentes e recomendou que chupem as tetas do governo e depois votem com a oposição: — Tem muita gente que já desembarcou e o governo ainda não percebeu. É porque vão sugar mais um pouquinho do governo até o final. E eu digo a eles: “Façam isso mesmo, suguem o que puderem e venham a nós.” A atitude da presidente revela insegurança. Em queda de prestígio nas pesquisas, ela tenta conter o crescimento da oposição. O desabafo de quarta-feira ocorreu na convenção do PSD, um dos aliados que não devem marchar coesos rumo à reeleição, como o PMDB, o PP e o PR, mas a carapuça cai melhor nesse último, que resgatou o fisiologismo no Ministério dos Transportes. No começo de julho de 2011, Dilma iniciou a faxina na Esplanada pelos Transportes, com a demissão do então ministro Alfredo Nasci­mento, líder do PR e senador pelo Amazonas. Agora, aconselhada por Lula, desfez a faxina e, disfarçadamente, devolveu o ministério à banda menos limpa do PR, mas representada por um ministro técnico com cara de interino, Paulo Sérgio Passos. Na onda, Aécio Neves surfa na queda da concorrente e atrai governistas dissidentes para a expectativa de poder tucana, que pode acontecer no fim do ano com a derrota da velha ordem. O senador orienta-se numa das leis informais da política que moveu o avô Tancredo Neves ao eleger-se presidente contra a ditadura em 1985: a atração da expectativa de poder futuro. A doença que Tancredo dissimulou o impediu de assumir a Presidência, mas a ditadura perdeu a posição com a vitória do can­didato do PMDB daquele tempo com apoio de dissidentes governistas que captaram o esvaziamento do poder militar e foram à eleição indireta consagrar a alternativa que brotava como viável.

Os ricos estão se afastando da política, o que coincide com o atual desencanto do eleitor

O cientista político Leôncio Martins Rodrigues verificou a existência de um processo de popularização da política no país ao comparar o patrimônio declarado por deputados federais nas quatro últimas legislaturas, o que corresponde aos eleitos desde 1998 a 2010 - em outubro próximo será eleita outra legislatura. Professor aposentado, Ro­dri­gues constatou que a saída dos ricos abre espaço ao recrutamento de políticos mais na classe mé­dia do que entre trabalhadores. Uma das razões da mudança seria o encarecimento das campanhas, o que afastaria pessoas do auto financiamento de candidaturas. Com isso, abre espaço a candidatos apoiados por entidades como sindicatos, igrejas e ONGs. Verificou que, em 1998, por exemplo, os empresários ocuparam 45% das cadeiras da Câmara. Doze anos depois, a porcentagem caiu para 37. O rodízio de classes no parlamento seria também uma decorrência, segundo Rodrigues, da modernização das sociedades pela massificação geral do planeta. Porém, como o trabalho de Rodrigues abrangeu patrimônios declarados, o autor admite a existência de distorção em seu levantamento por autodeclarações com a subestimação de valores. Além disso, são comuns os políticos que aumentam a riqueza pessoal no exercício de mandato. Entram mais pobres e saem mais ricos. A pesquisa de Rodrigues foi publicada em “Pobres e ricos na luta pelo poder”, livro recém-lançado pela Topbooks. É interessante a circunstância de que o trabalho do cientista político revela uma coincidência entre a mudança no perfil dos políticos com o crescimento do desencanto de eleitores apurado em pesquisas de opinião do Datafolha. Nas ultimas eleições presidenciais o desinteresse dos eleitores cresceu quanto maior nível de riqueza, educação e informação entre eles. O desencanto se revela em votos em branco ou nulo e, significativamente, entre os adeptos do voto facultativo. A oposição ao voto obrigatório aumenta conforme aquela mesma escala de esclarecimento – a elite, digamos, dos eleitores. O cruzamento entre pesquisas do Datafolha a sobre eleições presidenciais permite a conclusão de que o voto facultativo seduz àquela elite mais do que à massa popular, além de prejudicar mais a oposição do que ao governo. Torna-se desconcertante o fato de que o desencanto tem a ver com corrupção e má gestão, mas quem se desinteressa pelo voto é o eleitor esclarecido. Sobre perdas da oposição, o Datafolha apurou em maio que, se o voto não fosse obrigatório, 43% dos eleitores da presidente Dilma Rousseff deixariam de votar nela. Aécio Neves (PSDB) perderia 58% de seus eleitores. Eduardo Campos (PSB) seria abandonado por 62% dos seus.

A doença no coração não foi um bom negócio para Genoino, que agora ficou sem saída

[caption id="attachment_8532" align="alignnone" width="610"]artigo_scartesini.qxd Ex-deputado José Genoino, condenado no processo do mensalão: doença arranjada está complicando saída da cadeia[/caption] Como se fosse um bom conselheiro, o ministro Roberto Barroso ajudou a derrubar no Supremo Tribunal Federal o pedido de prisão domiciliar do ex-deputado José Genoino, mas sugeriu que ele peça para trabalhar fora do presídio. Seria mais uma maneira de passar pelo menos o dia fora da cela na Papuda. No entanto, o ministro não notou o disparate de sua proposta. Como novo relator no Supremo dos recursos dos mensaleiros, Barroso, há um ano no tribunal, esqueceu que um pedido de Genoino para trabalhar fora seria a desmoralização do ex-presidente do PT na época do mensalão. Desde a prisão em novembro de 2012, Genoino tenta sair da cela sob a alegação de que a cardiopatia o impede de trabalhar. E agora, pode pedir para trabalhar? A vida de Genoino complicou ainda mais desde que surgiu a história da doença ao ser preso. A complicação se iniciou em setembro do ano passado ao seguir outro conselho, de advogados espertos: pedir aposentadoria como deputado por invalidez provocada pelas coronárias. Levaria para casa o salário integral de deputado na época, R$ 26.723,13. A direção da Câmara reuniu uma junta médica e pediu um parecer sobre a invalidez do deputado, não constatada. Outras juntas vieram e mantiveram o laudo, inclusive quanto à necessidade de prisão domiciliar. Veio o novo conselho, de Barroso, na última quarta-feira. O ministro ainda lembrou que basta a Genoino esperar pelo 25 de agosto, quando cumprirá um sexto de sua pena de quatro anos e oito meses de prisão por corrupção. Teria então direito a progressão pa­ra o regime aberto, que o levaria pa­ra casa sem necessidade de arrumar em­prego. Apenas dois entre 10 mi­nis­tros votaram com Genoino, Ri­cardo Lewandowski e Dias Toffoli. Quem sabe se Genoino, na pressa em ir para a casa, aventura-se a colocar em risco a reputação e arruma um emprego? Talvez se anime, agora que cinco mensaleiros poderão assumir trabalho externo nesta semana, autorizados pelo Supremo? Os cinco voltarão à prisão apenas para dormir. Genoino que veja saírem para o trabalho os companheiros José Dirceu e Delúbio Soares, na companhia de dois ex-deputados, o paulista Valdemar Costa Neto, ainda líder do PR; e o pernambucano Pedro Corrêa, do PP. Com eles, Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, que depois Neto transformou em PR.

Os riscos de uma nova mudança de estratégia de campanha ao sabor das pesquisas

[caption id="attachment_7689" align="alignright" width="350"]Lula muda o tom e esbraveja, fazendo Fernando Henrique o responder Lula muda o tom e esbraveja, fazendo Fernando Henrique o responder[/caption] A confrontação com o PSDB quanto a corrupção seria a quarta tro­ca de foco na campanha do PT. Antes houve uma guinada quando o partido deixou de lado o seu tradicional mote para infundir esperança no eleitor e partiu para o contrário: transmitir medo quanto à volta dos tucanos ao poder, o que seria a redução de programas sociais. Como numa ejaculação precoce, a campanha do medo não funcionou porque veio antes da hora. O tema está mais para o fim da propaganda eleitoral, para uma cartada final se foi o partido quem perdeu a esperança em urnas risonhas. Além disso, a Justiça vetou o tema que antecipava acusações a possíveis posições dos adversários. A seguir veio a opção de Lula pelo ataque agressivo à oposição, aquele “partir para cima” tipo olho por olho, dente por dente. Vigorou até o episódio do Itaquerão, quando Lula radicalizou na sua antiga tendência a estimular a luta de classe com aquela história de que rico não tolera a presença de pobre na universidade ou na viagem de avião. Veio então o ódio de classe. Os riscos de troca de focos de uma campanha começam pelo fato de que repassam insegurança do partido ou candidato quanto ao sucesso nas urnas. A instabilidade de tema pode chegar ao ponto em que denota desespero. Seria o fim da picada para quem se oferece aos eleitores como líder ou comandante certo para aquele momento de cisão sobre governo. Além disso, veja-se o tema do ódio. Lula não acompanhou a presidente Dilma no desafio de ir ao estádio para o início dos jogos da Copa, mas no dia seguinte estava com a sucessora em Recife, onde inaugurou o discurso para transformar a candidata em vítima do ódio da oposição e de elites brancas. Com agressividade e mau humor maior ainda do ritmo que mantinha ultimamente, Lula defendeu ferozmente a presidente contra a hostilidade popular insuflada pela mídia. Naquela ênfase, procurou apagar a imagem de omisso que deixou no estádio. Era um esforço para mostrar presença intensa capaz de mudar a imagem de uma ausência anterior. Conseguiu. Tanto Lula conseguiu mostrar presença que a oposição reagiu, também numa escalada de tom nas discussões de campanha. Contes­tou com os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). A mudança de comportamento retirou FHC de seu sossego e o levou a duelo verbal com Lula. Deu no que deu. Conforme a pes­quisa do Ibope divulgada em se­guida, na quinta-feira, a massa de elei­tores rejeitou o bate-boca entre os políticos. Todos foram reprovados numa dimensão que ampliou o desencanto popular quanto a políticos.

Sem êxito ao transformar Dilma em vítima, o PT pode levar a corrupção para a campanha

O secretário-geral da Presidência deu o mote e os petistas, em autodefesa, podem confrontar a corrupção no governo, numa operação de alto risco

Troca de acusações entre caciques afugenta o interesse do eleitor pelo novo presidente

[caption id="attachment_7677" align="aligncenter" width="610"]Adolescentes se mostram menos propensos a votar, reflexo direto do baixo nível da política na campanha pré-eleitoral Adolescentes se mostram menos propensos a votar, reflexo direto do baixo nível da política na campanha pré-eleitoral[/caption] Quanto mais os caciques políticos trocam acusações entre si, maior o desencanto dos eleitores. A constatação é autorizada pela mais recente pesquisa do Ibope sobre a sucessão, que manteve estáveis as cotações dos dois principais concorrentes, presidente Dilma Rousseff e senador Aécio Neves (PSDB), mas inchou a rejeição a ambos e ao socialista Eduardo Campos. A pesquisa foi às ruas no dia seguinte às hostilidades contra Dilma, há dez dias, na abertura da Copa do Mundo, em São Paulo. Assim o Ibope entrou em campo no dia 13, sábado, e ficou ali até a segunda-feira, 15. Nesse espaço de três dias, flagrou a reação inicial da massa de eleitores no momento mais explosivo do choque entre o PT e a oposição. A rejeição dos eleitores atingiu Dilma, proporcionalmente, me­nos do que a Aécio e Campos. Era de 38% na última pesquisa, divulgada em 10 de junho, dois dias antes do início da Copa. Agora chegou a 43% — subiu menos, mas é a taxa mais alta entre todos. A rejeição a Aécio era de 18% e quase dobrou, com 32. Com Campos, mais do que dobrou ao passar de 13% para 33. A discrepância de Campos em relação aos outros dois confirma a tendência à polarização da disputa entre o PT de Dilma e o PSDB de Aécio, seguindo o costume que Lula se impôs de procurar, nas campanhas, chocar-se preferencialmente com tucanos, para os quais perdeu duas eleições presidenciais, mas depois venceu outras três, incluindo-se a de Dilma. Outra diferença interessante em relação a Campos está no seguinte. Sendo o mais desconhecido entre os três candidatos, ele era o menos rejeitado na pesquisa do Ibope de 10 de junho, com aqueles 13%. Mas, por ser o mais desconhecido, pagou com a maior elevação proporcional de rejeição num espaço de nove dias, ao conquistar os novos 33%. [caption id="attachment_7681" align="alignright" width="300"]Entre os três candidatos, Eduardo Campos e Aécio Neves têm menos rejeição Entre os três candidatos, Eduardo Campos e Aécio Neves têm menos rejeição[/caption] Há uma coerência num movimento tão brusco em pouco mais de uma semana. Campos paga o pato pela indução do eleitor, conscientemente ou não, à polarização entre os adversários Dilma e Aécio. Trata-se de um fenômeno que se reflete na mudança na cotação de votos a favor de Campos, que tinha 13% das preferências e agora foi a 10. Dilma se manteve estável ao subir um ponto na preferência do eleitor: passou de 38% a 39. A mesma coisa com Aécio ao descer um degrau, de 22% para 21. A oscilação deles está dentro da margem de erro da pesquisa, 2%. Também estão os outros tipos de voto. Os indecisos eram 7% e foram a 8. Os brancos continuam com 13%. Portanto o reflexo negativo da discussão está mesmo no incremento da rejeição aos candidatos nos quais o eleitor, no calor da batalha, afirmou que não votaria de jeito nenhum. Ao mesmo tempo, a estabilidade relativa do voto a favor de Dilma e Aécio indica posições que não se perturbaram entre uma semana e outra, apesar de toda a agitação entre eleitores e políticos. A propósito do desencanto com a política, a semana revelou outra tendência a se projetar no futuro. É o desinteresse de adolescentes em se alistarem como eleitores. Um ano depois dos protestos de junho, somente um quarto dos jovens com 16 e 17 anos se inscreveu para votar, exatos 25%. As estatísticas expostas pelas repórteres Paula Ferreira e Thalita Pessoa demonstram que o número dos adolescentes que renunciam ao voto facultativo está em alta desde as eleições de 2006, ano marcado pela evolução da apuração do mensalão, revelado em 2005. A partir daí a mídia apresentou questionamentos sucessivos sobre corrupção no governo. Em 2006, quando Lula se reelegeu, os eleitores entre e 16 e 17 anos equivalia a 39% da população com essa idade. Nas eleições de 2010, a proporção caiu para 32%. Agora, chegam aos 25%. Numa manifestação paralela, os números de­monstram a falta de lideranças políticas ou partidos capazes de tocar a adolescência no sentido de levá-la à participação nas urnas.