O cientista político Leôncio Martins Rodrigues verificou a existência de um processo de popularização da política no país ao comparar o patrimônio declarado por deputados federais nas quatro últimas legislaturas, o que corresponde aos eleitos desde 1998 a 2010 – em outubro próximo será eleita outra legislatura.

Professor aposentado, Ro­dri­gues constatou que a saída dos ricos abre espaço ao recrutamento de políticos mais na classe mé­dia do que entre trabalhadores. Uma das razões da mudança seria o encarecimento das campanhas, o que afastaria pessoas do auto financiamento de candidaturas. Com isso, abre espaço a candidatos apoiados por entidades como sindicatos, igrejas e ONGs.

Verificou que, em 1998, por exemplo, os empresários ocuparam 45% das cadeiras da Câmara. Doze anos depois, a porcentagem caiu para 37. O rodízio de classes no parlamento seria também uma decorrência, segundo Rodrigues, da modernização das sociedades pela massificação geral do planeta.

Porém, como o trabalho de Rodrigues abrangeu patrimônios declarados, o autor admite a existência de distorção em seu levantamento por autodeclarações com a subestimação de valores. Além disso, são comuns os políticos que aumentam a riqueza pessoal no exercício de mandato. Entram mais pobres e saem mais ricos.

A pesquisa de Rodrigues foi publicada em “Pobres e ricos na luta pelo poder”, livro recém-lançado pela Topbooks. É interessante a circunstância de que o trabalho do cientista político revela uma coincidência entre a mudança no perfil dos políticos com o crescimento do desencanto de eleitores apurado em pesquisas de opinião do Datafolha.

Nas ultimas eleições presidenciais o desinteresse dos eleitores cresceu quanto maior nível de riqueza, educação e informação entre eles. O desencanto se revela em votos em branco ou nulo e, significativamente, entre os adeptos do voto facultativo. A oposição ao voto obrigatório aumenta conforme aquela mesma escala de esclarecimento – a elite, digamos, dos eleitores.

O cruzamento entre pesquisas do Datafolha a sobre eleições presidenciais permite a conclusão de que o voto facultativo seduz àquela elite mais do que à massa popular, além de prejudicar mais a oposição do que ao governo. Torna-se desconcertante o fato de que o desencanto tem a ver com corrupção e má gestão, mas quem se desinteressa pelo voto é o eleitor esclarecido.

Sobre perdas da oposição, o Datafolha apurou em maio que, se o voto não fosse obrigatório, 43% dos eleitores da presidente Dilma Rousseff deixariam de votar nela. Aécio Neves (PSDB) perderia 58% de seus eleitores. Eduardo Campos (PSB) seria abandonado por 62% dos seus.