O ex-presidente admitiu que as vaias a Dilma no Itaquerão podem ser culpa do governo, conforme sugeriu o secretário-geral da Presidência aos blogs no Planalto

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Vaia a Dilma Rousseff no Itaquerão não foi coisa apenas de elite branca, reconheceu o secretário Gilberto Carvalho

Não houve razão para o susto entre cabeças coroadas do PT quan­do o secretário-geral da Presidência, Gilberto Car­valho, como se estivesse corrigindo o ex-presidente Lula, afirmou a blogueiros chapas-brancas que as vaias e xingamentos a Dilma Rousseff, no estádio em São Paulo, não vieram a­penas da “elite branca”. Ele não cor­rigia, apenas passava a limpo com Lula.

Como explicou Carvalho, as denúncias de corrupção no governo fizeram com que o estigma desça das classes altas para as debaixo, onde também se instalou a rejeição ao PT. Nessa versão, a culpa é da imprensa, que veicula denúncias diárias, mas, segundo o secretário, cabe ao partido enfrentar a questão na campanha:

“Esse cacete diário de que não enfrentamos a corrupção, de que somos um bando de aventureiros que veio se locupletar, essa história pegou. Na classe média, na elite da classe média e vai gotejando. Vai descendo!”

Lula inspirou a fala de Carvalho naquela ocasião, mas o ex-presidente assumiu o discurso do secretário exatamente uma semana depois, na quarta-feira, em entrevista na televisão ao “Jornal do SBT”. Diante das câmeras, Lula iniciou o processo de revisão de sua crítica à elite branca, antecipada pelo secretário.

“Eu digo sempre que a vaia e o aplauso é só começar que acontecem”, quis dizer que as manifestações assim se alastram depois que uma pessoa ou núcleo inicia o processo. “Mas, no estádio ocorreram também os xingamentos. Agora, aqueles palavrões me cheirou (sic) a coisa organizada, o preconceito, a raiva demonstrada”, sustentou.

A seguir, Lula reconheceu que o governo pode ter negligenciado ao não tratar devidamente a insatisfação social com o desempenho da gestão federal:

— Possivelmente a gente tenha culpa Vou repetir. Que a gente tenha culpa de não ter cuidado disso com carinho.

Então, Lula encarou diretamente, na entrevista, a questão da corrupção, a ser levada à campanha a favor da reeleição da presidente Dilma. “O PT não pode fazer uma campanha sem discutir o tema da corrupção”, decidiu. “Não pode fazer, não podemos fazer como avestruz e enfiar a cabeça na areia e falar que esse tema não é nosso. Nós temos que debater”, sentenciou.

Confiante em seu poder, Lula prometeu aplicar toda a sua “força política” para reeleger a sucessora, porque “é a melhor candidata para o Brasil”. E ele? “Não sou um coitadinho, não”, como o ex desabafou na ostentação de seu poder:

“Sou um ser político. Pertenço a um partido político. Sei da importância política que tenho no Brasil. Tenho consciência disso. Não sou humilde de falar que sou um coitadinho. Não sou um coitadinho, não. Eu tenho muita força política no Brasil e vou dedicar essa força política a eleger Dilma.”

Em sua megalomania, ele previu que Dilma terá um segundo mandato quase tão brilhante quanto o dele:

— Acho que ela vai fazer um segundo mandato extraordinário. Vai acontecer mais ou menos o que aconteceu comigo.

Quatro dias antes, na convenção do PT em Brasília. Lula já se gabara de sua relação com Dilma como algo entre “o criador e a criatura”, numa posição pouco honrosa para a sucessora. Ocorreu no momento do discurso em que se referiu a ambos no fim do discurso:

“A gente vai provar mais uma coisa neste país: que é possível uma presidenta e um ex-presidente terminarem o seu mandato sem que haja nenhum atrito entre os dois, numa demonstração de que é plenamente possível o criador e a criatura viverem juntos, em harmonia.”