A falta de pudor no governo e na oposição promete marcar a eleição a presidente

28 junho 2014 às 11h39
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A nova sucessão presidencial caminha para fazer história em matéria de confronto entre governo e oposição. Num canto do ringue, a presidente Dilma Rousseff, em busca da reeleição, dispensou o recato e pediu lealdade aos partidos aos quais distribui cargos. No gesto, advertiu e ofereceu uma lição ao público em geral:
— Engana-se quem defende a tese de que não há compatibilidade entre a lealdade e política. Tem uma espécie de esperteza que tem vida curta.
No outro canto, o principal candidato da oposição, senador Aécio Neves (PSDB), ouviu aquilo, afastou a austeridade mineira e abriu o jogo numa recomendação à esperteza — ou falta de compostura dos políticos premiados com cargos no governo. Dirigiu-se aos governistas dissidentes e recomendou que chupem as tetas do governo e depois votem com a oposição:
— Tem muita gente que já desembarcou e o governo ainda não percebeu. É porque vão sugar mais um pouquinho do governo até o final. E eu digo a eles: “Façam isso mesmo, suguem o que puderem e venham a nós.”
A atitude da presidente revela insegurança. Em queda de prestígio nas pesquisas, ela tenta conter o crescimento da oposição. O desabafo de quarta-feira ocorreu na convenção do PSD, um dos aliados que não devem marchar coesos rumo à reeleição, como o PMDB, o PP e o PR, mas a carapuça cai melhor nesse último, que resgatou o fisiologismo no Ministério dos Transportes.
No começo de julho de 2011, Dilma iniciou a faxina na Esplanada pelos Transportes, com a demissão do então ministro Alfredo Nascimento, líder do PR e senador pelo Amazonas. Agora, aconselhada por Lula, desfez a faxina e, disfarçadamente, devolveu o ministério à banda menos limpa do PR, mas representada por um ministro técnico com cara de interino, Paulo Sérgio Passos.
Na onda, Aécio Neves surfa na queda da concorrente e atrai governistas dissidentes para a expectativa de poder tucana, que pode acontecer no fim do ano com a derrota da velha ordem. O senador orienta-se numa das leis informais da política que moveu o avô Tancredo Neves ao eleger-se presidente contra a ditadura em 1985: a atração da expectativa de poder futuro.
A doença que Tancredo dissimulou o impediu de assumir a Presidência, mas a ditadura perdeu a posição com a vitória do candidato do PMDB daquele tempo com apoio de dissidentes governistas que captaram o esvaziamento do poder militar e foram à eleição indireta consagrar a alternativa que brotava como viável.