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A inteligência e a sagacidade de mulheres que mudaram a História

Adelto Gonçalves Especial para o Jornal Opção [caption id="attachment_29567" align="alignleft" width="620"]A professora Dirce Lorimier destaca o papel da mulher na história em seu novo livro, Rainhas da Antiguidade A professora Dirce Lorimier destaca o papel da mulher na história em seu novo livro, Rainhas da Antiguidade[/caption] I A História do Brasil, como a de tantos países, até hoje tem sido escrita sob uma ótica masculina. Neste país, quando se lê livros da época colonial, é como se as mulheres sempre tivessem vivido numa penumbra social, limitando-se a reproduzir. Até mesmo nesta função sua presença tem sido relativizada. Basta ver que os chamados bandeirantes até hoje são idealizados em gravuras e estátuas como se fossem brancos, bem vestidos, embora nos séculos XVII e XVIII a presença de mulheres brancas na América portuguesa fosse insignificante. Na imensa maioria, os bandeirantes seriam filhos de indígenas, de africanas ou de miscigenadas, pois poucas mulheres brancas enfrentaram o desafio de atravessar o Atlântico. Foi preciso que o historiador Luciano Figueiredo, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), escrevesse dois livros basilares sobre o assunto –– O avesso da memória: cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII (Rio de Janeiro, José Olympio, 1993) e Barrocas famílias: vida familiar em Minas Gerais no século XVIII (São Paulo, Hucitec, 1997) para que se descobrisse que, no século XVIII em Minas Gerais, parte significativa das mulheres negras e mestiças atuou no comércio, contribuindo decisivamente para o crescimento da economia da capitania. Muitas dessas mulheres eram conhecidas como as negras de tabuleiro, enquanto outras eram proprietárias de vendas, as vendeiras. Neste caso, sua importância foi inegável para o abastecimento das zonas mineradoras. Outras se envolveram com ofícios mecânicos, sozinhas ou, às vezes, lado a lado com seus maridos ou concubinos em padarias, tecelagens ou alfaiatarias. Se assim foi em Minas Gerais, com predominância de mulheres negras, em outras regiões, como em Goiás, a presença maior teria sido das indígenas e miscigenadas. Nenhuma delas, porém, ao que se saiba, chegou a se afirmar em patamar de igualdade no jogo do poder, embora muitas tenham tido papel relevante nas questiúnculas palacianas, valendo-se provavelmente da atração física para barganhar favores junto a governadores e outras autoridades. Na Antiguidade, porém, há alguns exemplos de mulheres que se celebrizaram em épocas, espaços e sociedades distintas, exibindo em comum a força e a ousadia do enfrentamento com os homens e o poder instituído, de que a Rainha de Sabá, talvez, seja o exemplo mais clássico, até porque aparece na Bíblia (I Reis, 10:1-13). Mas há também os casos de Elisa, Cleópatra e Zenóbia, que se destacaram na História por sua sagacidade e inteligência, personagens do livro Rainhas da Anti­guidade: sedução e majestade, ensaio de História do mundo antigo da professora Dirce Lorimier Fernandes, doutora em História Social pela USP, que acaba de ser lançado pela editora Letra Selvagem, de Taubaté-SP. II A princesa fenícia Elisa é a Dido, a imortal musa de Virgílio (70 a.C-19 a.C), aquele que foi escolhido por Dante Alighieri (1265-1321) para descer ao Inferno em A divina comédia. No livro II da Eneida, Dido acolhe Eneias em Cartago e lhe pede que conte a tragédia da derrocada de Troia. Tornam-se amantes e o idílio vai até o livro V, quando o destino obriga Eneias a seguir viagem para fundar o reino da Itália. Amargurada, a rainha africana atira-se a uma pira funerária. A segunda personagem deste livro é a rainha egípcia Cleópatra (69 a.C-30 a.C), aquela que subjugou pela paixão os imperadores romanos César (62 a.C-14 d.C) e Marco Antônio (82 a.C-30 a.C). Era descendente de Ptolomeu (366-283 a.C), general de Alexan­dre, o Grande (356 a.C-323 a.C), que depois da morte do comandante macedônio, resolveu criar um império no Egito. Cleópatra não desempenhou apenas o papel de princesa romântica, lasciva e pérfida que as lendas e o cinema lhe impuseram, mas foi uma militante política, obcecada pela restauração do reinado ptolomaico. Já Zenóbia (século III d.C), a Rainha do Deserto, três séculos adiante das duas personagens anteriores, tornou-se soberana absoluta na pequena Síria, então reino de Palmira. Apoiou o judaísmo, patrocinou poetas e pesquisadores e lançou-se a uma aventura expansionista, desafiando o poder de Roma. Proclamando-se parente de Cleópatra, conquistou o Egito, mas sucumbiu diante do exército de Aureliano (214-275). III A escolha dessas três mulheres incomuns pela historiadora Dirce Lorimier Fernandes para personagens de seu livro mostra, segundo Joaquim Maria Botelho, autor do texto de apresentação publicado nas “orelhas”, a admiração da autora “pelas mulheres fortes – mesmo as que pereceram, vitimadas pelas próprias fraquezas”. Para Botelho, “este livro é uma composição narrativa de verdades e mitos, descortinando informações que ultrapassam a frieza histórica”. [caption id="attachment_29568" align="alignleft" width="250"]Rainhas da Antiguidade: sedução e majestade (Elisa, Cleópatra e Zenóbia) / Autora: Dirce Lorimier Fernandes / Pre­ço: R$ 25 Letra Selvagem Rainhas da Antiguidade: sedução e majestade (Elisa, Cleópatra e Zenóbia) / Autora: Dirce Lorimier Fernandes / Pre­ço: R$ 25 Letra Selvagem[/caption] Na introdução, a historiadora explica que o enfoque do trabalho é “o papel dessas mulheres na História, especialmente na vida pública, fora da oika (casa), ambiente que as mulheres do entorno da nobreza continuavam dirigindo, ao mesmo tempo em que algumas privilegiadas atuavam em vários setores do saber”. Ela lembra que foram raras as civilizações antigas, com exceção do Egito, em que a mulher alcançou postos sociais importantes. Fora do círculo de Elisa e de Cleópatra, diz, na Grécia, a situação feminina era ainda mais degradante, pois, não tendo personalidade jurídica nem política, sempre estava à sombra da figura masculina que se encarregava de tratá-la como uma possessão em todos os sentidos. “Esta dependência gerava o analfabetismo e, em muitos casos, as mulheres deviam se conformar com a educação recebida de sua mãe”, acrescenta. Segundo a professora, quanto ao matrimônio, a mulher era objeto de troca, não somente do possuidor senão que, geralmente, se dotava com propriedades por parte do pai ao prometido para assegurar o acordo matrimonial, mais parecido a uma transação econômica. Aliás, um comportamento que ainda valia para o século XVIII em Portugal e suas possessões ultramarinas, pois foi só com o Romantismo que o casamento passou a ganhar outro foro com a valorização do amor, da fé, do sonho, da paixão e da intuição. IV Dirce Lorimier Fernandes é professora universitária, licenciada e pós-graduada em Letras pela Uni­versidade São Judas Tadeu (USJT) e doutora em História Social pela USP. Além de crítica literária e ensaísta, membro da diretoria da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), Dirce é coautora dos livros: Meu Nome é Zé (São Paulo, Ideograma Técnica e Cultura), Antologia de Contos da UBE (São Paulo, Editora Global, 2009) e Inquisição Portuguesa –– Tempo, Razão e Circunstância (Lisboa, Prefácio, 2007). É, ainda, organizadora e coautora do livro Religiões e Religiosidades –– Leituras e abordagens (Arké, 2008). É também autora de A literatura infantil (Edições Loyola, 2003), A Inquisição na América Latina (Editora Arké, 2004) e Rainhas da Antiguidade: entre a realidade e a imagem do poder – Teodora, a imperatriz de Constantinopla, Urraca e Teresa, duas rainhas obstinadas (São Paulo, Clube dos Autores, 2012), entre outros. Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), entre outros.

Agonia do fumante José Carlos vira bicho-papão na internet

Iúri Rincón Godinho Segue o mantra: a velhice é um tormento. Tem dias bons e muitos ruins. Isso se a pessoa tiver saúde. Quando a perde, a terceira idade — um nome e eufemismo ao mesmo tempo — é um massacre, como resumiu Philip Roth (vide “Homem Comum”). Que o diga o jornalista José Carlos Gomes, biografado por sua filha Luciana, em “A Imagem que o Cigarro lhe Deu”. Antes de morrer de trombose aos 64 anos em 2000 — novo para os padrões do século XXI —, amputou duas pernas, sofria de enfisema pulmonar e depressão. Todos os males foram atribuídos ao hábito de fumar desde os 11 anos. Ganhou o apelido de Zé Fumaça e chegava a mandar para os pulmões 80 cigarros por dia. Tanto que o então ministro da Saúde, José Serra, o convidou para uma campanha anti-tabagismo às vésperas de sua morte. José Carlos viveu em um mundo diferente, onde fumar era sinal de status e masculinidade e quando denominar afrodescendentes de “negão” era normal — Renato Aragão, em Os Trapalhões, chamava Mussum assim. Nas redações dos jornais onde trabalhava, nuvem de fumaça fazia parte da decoração. O jornalista goiano Armando Accioli, que começou a cerreira nos anos 50, tragava duas carteiras por dia. Azar de quem estava perto. O colunista social João Guimarães foi diagnosticado com um aumento nos pulmões graças ao hábito de fumar. Só que ele nunca colocou um cigarro na boca nos seus mais de 80 anos de vida. Entretanto, o livro dá pistas de que não apenas o cigarro, mas também o álcool minaram a saúde de José Carlos. Colunista social do jornal “Correio da Manhã”, viveu um período de glamour, de festas, fumaça e uísque. Combinação que passa longe de beneficiar o corpo. O também jornalista José Guilherme Schwam, do programa Pelos Bares da Vida, sabe bem disso. Com até cinco compromissos por noite, ele só bebe Coca-Cola light e não fuma. Caso contrário, diz, não suportaria a rotina de badalações. Mesmo com uma história de sofrimento, “A Imagem que o Cigarro Lhe Deu” não é um livro de revolta, mas um relato jornalístico bem-escrito e bem-editado, daqueles de se ler em uma sentada. A força da internet reduziu a obra a um libelo contra o fumo e agravantes da saúde como depressão e álcool foram deixados de lado. Tanto que José Carlos hoje virou uma espécie de bicho-papão para os fumantes, com textos até no prestigiado Instituto de Combate ao Câncer, o Inca. Serve de alerta, com certeza, mas a vida é a consequência do tempo e dos hábitos. Não apenas do cigarro. Iúri Rincón Godinho é publisher da Contato Comunicação.

A vida como ela é

Recorrendo ao nonsense e à escatologia, os contos de “Um Homem Burro Morreu” fazem retrato fiel dos desconcertos que dirigem os tempos modernos

Vidas sufocadas por segredos

Em “Fôlego”, Rafael Mendes dá voz a personagens que tentam firmar um pacto com o passado para entender a ruína familiar

Nelson Rockefeller, a mão amiga do capitalista americano no Brasil

Por que o herdeiro de uma das maiores fortunas do mundo viria a se interessar por um país subdesenvolvido? Por que ampliaria sua atuação para outras áreas, como a cultural, ao ponto de se tornar um verdadeiro mecenas? É o que procura esclarecer o professor Antonio Pedro Tota em “O Amigo Americano — Nelson Rockefeller e o Brasil”

Sebastião Salgado num retrato verbal de si

Fotógrafo brasileiro multipremiado e de renome internacional, Sebastião Salgado revela no livro “Da Minha Terra à Terra” histórias de sua vida pessoal e profissional, colhidas em suas andanças pelo mundo em busca de fotografias

O cinema se enxerga

“Todo Filme É Sobre Cinema”, é a seleta do trabalho autoral de Nei Duclós sobre obras e protagonistas de uma arte voltada para si mesma

Romances travestidos de contos

Na coletânea “Ter Saudade Era Bom”, Moema Vilela acomoda nas formas breves a densidade criativa das narrativas longas

A voz contundente, implacável e necessária da periferia

Nos 27 contos que enfeixam “Te Pego lá Fora”, distribuídos em seções como se fossem as estações do ano, Rodrigo Ciríaco realiza a gênese de uma guerra sem vencedores

A solitária contemplação de Adalberto de Queiroz

“Cadernos de Sizenando” vem de longe, com anotações tomadas no dia a dia, de um tempo que não pede lamentações, mas o fluir da mais doce alegria, contida em pequenos lembretes, cartas, e-mails, milhares de textos, blogs e grupos de amigos

Um estranho mundo que nos atrai

Em “Delirium”, Claudio Parreira apresenta uma galeria de tipos estranhos, gente que habita o reino do fantástico, da mágica, do irreal e, às vezes, do real gasto e sufocante. Gente que retrata, de certo modo, a fragilidade da nossa existência

Réquiem para uma geração

“Loja de Conveniências”, de Guilherme Smee, retrata relações interpessoais nas quais o consumo está a frente de qualquer ímpeto sentimental

Na moenda da cidade grande

“Moenda de Silêncios: Encontros & Desencantos na Metrópole”, de Ronaldo Cagiano e Whisner Fraga, relata os desafios que dois personagens oriundos do interior de Minas Gerais enfrentam na cidade de São Paulo em seus verdes anos

Vazios modernos

“Amores, Truques e Outras Versões”, de Alex Andrade, acompanha uma caçada por prazeres vulgares, na qual a tecnologia serve de motor para o abismo de sentimentos

O imaginário conveniente (parte 1)

Em “Caminhos de Goiás”, o historiador Nars Chaul procura desconstruir os conceitos de “decadência” e “atraso” para caracterizar o desenvolvimento do Estado