Nelson Rockefeller, a mão amiga do capitalista americano no Brasil
13 dezembro 2014 às 10h28
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Por que o herdeiro de uma das maiores fortunas do mundo viria a se interessar por um país subdesenvolvido? Por que ampliaria sua atuação para outras áreas, como a cultural, ao ponto de se tornar um verdadeiro mecenas? É o que procura esclarecer o professor Antonio Pedro Tota em “O Amigo Americano — Nelson Rockefeller e o Brasil”
Salatiel Soares Correia
Especial para o Jornal Opção
Se existe um país cuja religião pavimentou o espírito do capitalismo em suas fronteiras, este país não é por acaso o mais rico do mundo: os Estados Unidos da América. Bem antes de esse sistema econômico prosperar pelo mundo afora, um grande doutrinador das religiões, Calvino, via nos negócios uma forma legítima de servir a Deus, pois era por meio destes que se podiam ajudar ricos e pobres.
Trabalhar, para os calvinistas, era, antes de tudo, uma ordem de Deus. Uma virtude. Depois de Calvino, quem colocou um olhar de cientista em torno dessa questão foi o grande sociólogo alemão Max Weber. Weber, em seu seminal livro “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, percebeu algo que de fato o intrigava: as carreiras que escolhiam os filhos dos católicos e dos protestantes no Vale do Ruhr, na Alemanha. Estes últimos escolhiam profissões técnicas se tornando industriais, dirigentes empresariais e técnicos de nível superior, enquanto que aqueles primeiros se voltavam mais para carreiras de cunho humanístico. Era o espírito do capitalismo que se propagava mais entre os protestantes que entre os católicos. Basta observar, a respeito, nações nas quais prosperou a fé protestante, como Suíça, Alemanha e Inglaterra, e compará-las com religiões onde imperou a fé católica ─ Espanha, Portugal e Brasil. O patamar de desenvolvimento econômico é completamente diferente um do outro. Muito disso se deve ao espírito do capitalismo e a sua não condenação ao paraíso alcançado aqui mesmo na terra por meio do trabalho honesto que conduz à riqueza.
Na nação onde o espírito do capitalismo mais prosperou — nos Estados Unidos da América —, nenhuma família representou mais o símbolo da riqueza sem ostentação e sem culpa de ser rico do que a família Rockefeller.
Originados do calvinismo-batista, os Rockefeller, com seu um bilhão de dólares acumulados nos primeiros anos do século 20, já eram, naquela época, a família mais rica do mundo. Pasmem: se atualizarmos esse um bilhão de dólares para os dias atuais, a fortuna dessa família chega hoje à espantosa cifra de 126 bilhões de dólares. Ou seja, quase duas vezes mais que a fortuna do homem mais rico do mundo, Bill Gates, que, nos dias atuais, tem uma fortuna estipulada em 76 bilhões de dólares.
O personagem sobre o qual passarei, adiante, a comentar foi sem dúvida o líder mais proeminente da família Rockefeller. Por muitos anos se constituiu ele no parceiro mais atuante (creio que não ultrapassado até os dias de hoje) do ainda débil capitalismo brasileiro, capitalismo esse que emergia de suas bases rurais rumo à industrialização.
A presença do amigo americano no Brasil tinha, sim, uma intenção política de humanizar a imagem imperialista que se propagava naquela época entre nós a respeito dos Estados Unidos. Se era essa ou não a intenção dos americanos, o fato é que nosso personagem se tornou de fato um amigo do Brasil. Investiu seu próprio dinheiro, teve sócios brasileiros, esteve aqui uma dezena de vezes. Em algumas de suas estadas entre nós, percorreu por semanas o interior dessa nação continente.
Por que um bilionário viria a interessar-se e a trabalhar com tanto afinco pelo desenvolvimento do país? Por que ele ampliou sua atuação para outras áreas, como a cultural, ao ponto de se tornar um verdadeiro mecenas da cultura brasileira?
É para entender indagações dessa natureza que um especialista nas relações Brasil-Estados Unidos escreveu um livro que prima pela originalidade, pois resgata uma figura que teve muita importância nos anos de 1950, no desenvolvimento brasileiro, deixando entre nós um rastro do genuíno espírito empreendedor norte-americano. Certamente, o momento é mais que oportuno para a chegada ao mercado da biografia que o professor Antonio Pedro Tota escreveu. Trata-se de “O Amigo Americano —Nelson Rockeffeller e o Brasil”. Apresentemos o autor para, em seguida, mergulharmos em seus escritos. Antonio Pedro Tota é um pesquisador com ampla experiência em estudos a respeito da relação do Brasil com os Estados Unidos. Doutor em história pela Universidade de São Paulo, com passagem pela Pace University (Nova York), universidade da qual foi professor visitante. Entre seus trabalhos mais destacados, vale ressaltar “O Estado Novo”, “O Imperialismo Sedutor” e “Os Americanos”.
A formação do caráter
O caráter de Nelson Rockefeller foi moldado nos princípios do calvinismo-batista. Seu avô, John Davison Rockefeller, acreditava, tal como pregava o grande doutrinador, que ganhar dinheiro era “uma dádiva de Deus, exatamente como são os instintos para a arte, música, literatura e o talento do médico”. Pensando e agindo assim John Rockefeller enriqueceu, mas não trocou a religião batista por outras mais flexíveis e condizentes com as classes mais abastardas, a exemplo da episcopal.
Todo calvinista é muito desconfiado. Nunca diz nada a ninguém que lhe comprometa. O avô de Nelson pensava e agia assim. Impôs aos filhos uma vida desprovida de vaidades, sem luxos excessivos. Ensinou-os desde cedo a economizar e a frequentar a igreja. Conta-nos o autor em seus escritos que “a formação batista dos Rockefeller os mantinha afastados da vida social dos ricos da Costa Leste. Esse modelo de educação moldou o caráter do jovem Rockefeller, que mais tarde administraria a fortuna da família”.
Mas a figura do velho John muito se confundia com a do capitalista selvagem, fato que não deixou de manchar a imagem da família. Além disso, a maneira como o avô de Nelson perseguia o lucro na Bolsa de Valores não deixou de trazer certos constrangimentos para os Rockefeller no âmbito de seu credo batista.
Posto isso, creio ser oportuno reproduzir na íntegra o manifesto contra John Rockefeller interposto por outro homem de posses da época — Henry Lloyd. Tal manifesto transcrevo dos escritos do autor: “Ele é […] um depredador […] um tzar da plutocracia, um venerador do poder de seu próprio dinheiro sobre a raça humana. Ele nunca sacrificará seus planos em nome da lei, do patriotismo ou da filantropia […] Sua rapacidade e sua ganância atuam como uma poção mágica transformando tudo em ouro para ele próprio […] Ele só vai parar se for combatido”.
Como se vê os Rockefeller despontavam como a grande fortuna do mundo, o que não despontava na mesma proporção era a imagem da família. Uma imagem que certamente teria consideráveis mudanças a partir do momento que um novo membro alçasse a liderança do clã: John Davison Rockefeller Júnior — o pai de Nelson.
Certamente, Júnior tinha reais preocupações em mudar essa imagem de capitalista voraz herdada do pai. Ciente disso, redirecionou muitas das ações da família rumo a um novo objetivo que não fosse tão somente a perseguição do lucro pelo lucro. Nasceria assim, com dotação inicial de 182 milhões de dólares, uma das mais conhecidas instituições filantrópicas do mundo: a Fundação Rockefeller. E por meio desta instituição que se colocaram os bilionários batistas a financiar principalmente estudos e a área de saúde pelo mundo afora. Com isso, o nome Rockefeller se propagou pelo planeta. A filantropia traria não só vantagens espirituais condizentes com a crença da família, mas também consideráveis deduções no fabuloso imposto de renda que pagava o clã ao governo.
O pequeno Nelson vivenciou esse ambiente que muito caracterizaria seu modo de ser anos mais tarde. Junto com os irmãos, os pais incutiram dois princípios na educação dos filhos. O primeiro deles era o temor a Deus e a frequência, nos finais de semana, da escola dominical; o segundo era não ser perdulário com o dinheiro. Pasmem: os filhos do homem mais rico do mundo não podiam comprar o que quisessem! A simples compra de um sorvete era o resultado do controle dos gastos. Nelson cresceu e educou-se no mundo da riqueza controlada, dos princípios religiosos embevecidos por um capitalismo não selvagem como o do avô, mas adepto da filantropia e do patriotismo. A imagem da família tinha de fato mudado sob as mãos de Júnior e teria continuidade nas mãos do novo líder da família: Nelson Rockefeller. Tanto quanto no mundo bilionário dos negócios, um novo mundo entraria na vida do representante da nova geração do clã: o da política.
O amigo americano
Nelson Rockefeller chegou, pela primeira vez, no Brasil, em 1937. Fez questão de se manter anônimo o tempo todo. Naquela época, o país vivia o perigo iminente de eclosão da Segunda Guerra Mundial. O perigo presente do comunismo se constituía numa ameaça sempre presente também. Aliado a isso, a imagem dos Estados Unidos se mostrava arranhada pelo imperialismo tão propagado pelas esquerdas e tão bem-aceito por uma sociedade politizada que se urbanizava a passos acelerados.
Do ponto de vista econômico, os relatórios produzidos pelos técnicos do Rockefeller Center apontavam as imensas potencialidades da economia brasileira. Diziam estes: “O país está passando por um novo boom […] O Rio de Janeiro está crescendo num ritmo surpreendente. Em todos os lugares, veem-se novos apartamentos e casas, prédios de escritórios e suntuosas residências, a maior parte delas construída com dinheiro emprestado pela Caixa Econômica ou de investidores estrangeiros, em especial franceses”.
Nelson Rockefeller pôde constatar as imensas potencialidades da política de substituição de importações implementada pelo governo de Getúlio Vargas, bem como o imenso potencial de nossa agricultura tão carente de pesquisa como instrumento de elevação de sua produtividade.
Após tomar contato com a realidade da América Latina (em especial do Brasil), o bilionário americano retornou para seu país um homem diferente do que quando cá aportou. Seu conhecimento da região, seu espírito religioso, sua cultura alicerçada na sua alma filantrópica, aliada ao fato de os Estados Unidos considerarem a América Latina uma região estratégica em tempos de guerra, muito contribuíram para que o presidente Roosevelt, um democrata, convidasse Nelson Rockefeller, o mais liberal dos republicanos, para exercer um cargo em seu governo: dirigir uma repartição especial de relacionamento com a América Latina. “Sob seu comando, o órgão esmerou-se em conquistar o subcontinente por meio do mercado e, principalmente, por meio de corações e mentes”, relata o autor. Era a transposição do “Estado do Bem-Estar Social” de Roosevelt para terras brasileiras sob o comando do amigo americano, que agora retornaria ao Brasil fazendo questão de mostrar a visibilidade da sua presença. O empresário se transmutaria no político. E assim o amigo americano tornar-se-ia uma espécie de embaixador da construção da boa imagem de seu país junto a seu coirmão latino-americano, coirmão esse impregnado pelo nacionalismo da era getulista, pelas perspectivas de sua economia, pelos interesses estratégicos de guerra que os americanos tinham na região e, lógico, pelo sempre presente perigo de flerte com os comunistas. Afinal, conquistar mentes e corações não se tornaria uma forma mais sofisticada de dominação política para atingir determinados propósitos? Certamente, a filantropia, o patriotismo e o espírito empreendedor de Nelson Rockefeller serviram a esses propósitos.
Vale ressaltar que a diferença entre a primeira e a segunda estada dele no Brasil. Nesse sentido, o professor Antonio Pedro Tota evidencia em seus escritos com exatidão essa mudança de postura: “Da primeira vez ele veio quase clandestino, discreto, reuniu-se com poucas autoridades e homens de negócios; veio como um viajante rico e diletante, interessado em obter informações sobre nossa agricultura. Em setembro de 1942, ele desembarcou como representante especial do presidente Franklin Delano Roosevelt e precisava de muita publicidade”. Precisava de publicidade e a teve. Encontrou-se com Getúlio Vargas, com ministros, generais, prestigiou as iniciativas da primeira-dama, esteve na Associação de Imprensa, com a classe empresarial e até com trabalhadores sujos de graxa. Todos os encontros foram amplamente divulgados pela mídia. Enfim: Nelson Rockefeller era a própria simpatia em pessoa. Fez muitos amigos por aqui e, certamente, ajudou a construir uma imagem mais simpática dos Estados Unidos em terras brasileiras. Falemos um pouco de como essa imagem foi paulatinamente sendo construída em vários campos.
Conta-nos o autor em seus escritos que “em áreas tão distintas como filmes de animação, produção de borracha na Amazônia, espetáculos musicais, combate a doenças tropicais, projetos de largo espectro econômico para o progresso da sociedade brasileira, encontros e contatos com a chamada alta sociedade. Essa era a missão da agência liderada por Nelson Rockefeller. O paradigma era o modo de vida americano. Os meios, os mais diversos possíveis”.
Quem não se lembra do simpático Pato Donald, imortal personagem de Walt Disney, encontrando-se com o Zé Carioca no Rio de Janeiro? Para quem desconhece a origem do financiamento foi um filme produzido por gente de Rockefeller. Vários empreendimentos de pesquisa no Paraná, São Paulo e Minas Gerais foram financiados por Rockefeller. Até um inovador estudo de reurbanização do centro de São Paulo foi por ele patrocinado.
No campo das artes, o espírito de mecenas do amigo americano se mostrou bastante presente entre nós. Tanto é verdade que sem seu apoio dois dos principais museus do país — o Museu de Arte de São Paulo e o Museu de Arte do Rio de Janeiro — não existiriam.
Resumindo: É bem verdade que o amigo americano fazia parte de uma refinada estratégia de governo dos Estados Unidos para conquistar mentes e corações dos brasileiros. Como também creio ser verdadeira a maneira tenaz com que o bilionário norte-americano se engajou em trazer ao país os benefícios do estado do bem-estar social. Basta recorrermos aos valores do calvinismo-batista e ao filantropismo que constituíram os pilares de sua educação para constatar certa sinceridade no seu modo de agir.
É bem verdade que o amigo americano fazia parte de uma refinada estratégia de governo dos Estados Unidos para conquistar mentes e corações dos brasileiros. Como também creio ser verdadeira a maneira tenaz com que o bilionário norte-americano se engajou em trazer ao país os benefícios do estado do bem-estar social
O jeitinho brasileiro
O jeitinho brasileiro tão presente na nossa alma foi bem-definido por um de nossos maiores historiadores, Sérgio Buarque de Holanda, em seu seminal livro “Raízes do Brasil”. Para ele, somos dotados de certa cordialidade na qual a emoção sobrepuja a razão procurando com ela obtermos algum tipo de favor geralmente do Estado. Na condição de homem mais rico do mundo e tendo feito vários amigos no Brasil, Nelson Rockefeller aprendeu a lidar com essa faceta de nossa identidade. Não foram poucas as pessoas que lhe enviavam cartas pedindo favores. Mas o amigo americano era um homem vacinado. “Gostava de se sentir amigo, mas tinha a frieza de quem coloca os interesses da política de seu país em primeiro lugar; não podia agir como um amigo. Podia, como disse, até se fazer representar um, mas era frio e calculista”, relata o autor a respeito de seu modo de agir com certas informalidades típicas da alma cordial brasileira. Para cada tipo de situação, Rockefeller tinha uma maneira própria de lidar ante as várias cartas a ele dirigidas lhe pedindo favores.
Um caso típico de intimidade de nossa cordialidade se evidencia no momento em que Lutero Vargas, filho de Getúlio Vargas, separou-se de sua esposa alemã por suposta traição. Esta vivia com a filha do casal nos Estados Unidos. Lamentava-se, o angustiado Lutero, numa carta patética endereçada ao amigo americano, na qual expunha uma intimidade como se este fosse um velho companheiro de farra. “E agora que está tudo terminado, preciso da separação para proteger minha família de tal monstro [a esposa infiel] e deixá-la[a filha do casal] com minha mãe.”
Na verdade, desejava, o filho de Getúlio, que o bilionário ferisse a ética e enviasse documentos que provassem a infidelidade da esposa. Lutero sabia que a companheira tinha discretamente seus passos vigiados por suspeitas de espionagem para os alemães. Certamente, astúcia, frieza e cálculo político não se transferem geneticamente. Getúlio não agiria assim.
Nelson, por sua vez, respondeu com toda objetividade possível. Numa carta formal, sugeriu que Lutero procurasse os caminhos institucionais para resolver o problema, no caso, o departamento de Estado. Lamentava nada poder fazer, pois já não era mais o subsecretário para a América Latina, estando assim fora do governo. Era a racionalidade weberiana falando mais alto que a emoção latina na resolução de um problema tipicamente doméstico e, por que não dizer, paroquial.
Quem teve mais sorte num pedido feito ao amigo americano foi o banqueiro e político José de Magalhães Pinto. Escreveu ele a Nelson solicitando sua intervenção no processo de abertura de uma agência do Banco Nacional em Nova York. Nelson respondeu de uma forma mais próxima (my dear friend, meu querido amigo) prometendo interceder junto à agência americana responsável no sentido de facilitar os trâmites burocráticos da instalação da filial do banco de Magalhães.
Mas nem só pedidos de poderosos chegavam ao amigo americano. Vários pedidos de associações, de gente humilde e de artistas eram a ele endereçados. O Santos Futebol Clube pedia ao “irmão norte-americano Rockefeller, […] a ajuda de um empréstimo de um milhão e meio de dólares”. Solicitava esse empréstimo em nome de Pelé. O maestro Eleazar de Carvalho solicitava ajuda de Rockefeller para continuar seus estudos em terras norte-americanas; o compositor Villa Lobos pedia seu apoio para internação num tratamento de saúde que fazia em Nova York. Uns lhe pediam ajuda para montar posto de gasolina; outros empregos ou até mesmo dinheiro em espécie. E assim a cordialidade brasileira deu muito trabalho aos assessores do amigo americano, que tiveram de adotar estratégias no sentido de filtrar os milhares de pedidos que chegavam à sede do grupo no Rockefeller Center. “O Homem Cordial”, de Sérgio Buarque de Holanda, estava mais vivo do que nunca.
O canto da sereia
A partir do momento que Nelson Rockefeller se tornou governador de Nova York, cargo para o qual foi reeleito por quatro mandatos, ele começa a distanciar-se de seu envolvimento com o Brasil. Muito desse distanciamento pode ser atribuído à sua dedicação cada vez mais intensa aos assuntos da política interna norte-americana e ao seu projeto de se tornar presidente dos Estados Unidos. O amigo americano conseguiu ser vice-presidente, sem, no entanto, atingir seu verdadeiro sonho de chegar à presidência da República.
Sua sólida formação religiosa não obstruiu as fraquezas humanas a que todos, desde que humanos, estamos passíveis de nos submeter. Afinal, o grande Homero, já nos dizia isso, no momento em que o herói de seu poema, Ulisses, conscientemente lutava para não ser seduzido pelo canto das sereias. O canto das sereias de Nelson Rockefeller veio com sua própria morte de ataque cardíaco, num ato de amor com uma suposta amante numa garçonnière em Nova York. Coisas da vida que não maculam a biografia de um bilionário que se recusou a viver a doce vida dos bilionários. Foi servir ao outro com patriotismo, filantropia, mecenato e bem-estar social. O Brasil teve no amigo americano um grande benemérito.
Salatiel Soares Correia é crítico literário e mestre em Planejamento Energético pela Unicamp.