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O resultado da 56º edição do Prêmio Jabuti foi divulgada na última quinta-feira (16/10) deu destaque a Marina Colasanti, que concorria na categoria de literatura infantil, e o mineiro Rubem Fonseca, na categoria de contos e crônica. A curadoria desta edição foi conduzida pela professora de Literatura da Universidade Presbeteriana Mackenzie e na Unicamp, Marisa Lajolo. Confira o resultado abaixo: Capa 1ºlugar – Título: A São Paulo de German Lorca = The São Paulo of German Lorca – Capista: Edson Lemos – Editora: Imesp 2ºlugar - Título: Graffiti fine art – Capista: Raquel Matsushita – Editora: Sesi 3ºlugar - Título: MURPHY – Capista: PAULO ANDRÉ CHAGAS – Editora: Cosac & Naify Edições Ilustração 1ºLugar – Título: BRASIL – Imagens sob a Ótica da Artista Meire de Oliveira – Ilustrador(a): Meire de Oliveira – Editora: MEIRE DE OLIVEIRA 2ºLugar - Título: Storynhas – Ilustrador(a): Laerte – Editora: Companhia Das Letras 3ºLugar - Título: DECAMERON: GIOVANNI BOCCACCIO – Ilustrador(a): ALEX CERVENY – Editora: Cosac & Naify Edições Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil 1ºLugar - Título: Bárbaro – Ilustrador(a): Renato Moriconi – Editora: Companhia Das Letras 2ºLugar - Título: NANINQUIÁ – A MOÇA BONITA – Ilustrador(a): Ciça Fittipaldi – Editora: Editora Dcl 3ºLugar - Título: Conselho – Ilustrador(a): Odilon Moraes – Editora: Gráfica Editora Stamppa/ Escrita Fina Ediçõe/ Tinta Negra Bazar Editorial Arquitetura e Urbanismo 1º Lugar – Titulo: As Minas de Ouro e a formação das Capitanias do Sul – Autor: Nestor Goulart Reis Filho – Editora: Via das Artes 2º Lugar – Titulo: Preservação e Restauro Urbano: Intervenções em Sítios Históricos Industriais – Autor: Manoela Rossinetti Rufinoni – Editora: Editora Fap-Unifesp 3º Lugar – Titulo: Cidadela da Liberdade: Lina Bo Bardi e o Sesc Pompéia – Autores: Andre Vainer e Marcelo Ferraz – Editora: Edições Sesc SP Artes e Fotografia 1º Lugar – Título: Walter Zanini: escrituras críticas – Autor: Cristina Freire (organizadora) – Editora: Annablume editora e comunicação 2º Lugar - Título: MARCELLO GRASSMANN 1942-1955 – Autor: Mayra Laudanna; Leon Kossovitch – Editora: Editora da Universidade de São Paulo 3º Lugar - Título: Norberto Nicola: trama ativa = Norberto Nicola: living texture – Autor: Denise Mattar – organizadora – Editora: Imesp Biografia 1º Lugar – Título: Getúlio – Do governo provisório à ditadura do Estado Novo (1930-1945) – Autor: Lira Neto – Editora: Companhia Das Letras 2º Lugar - Título: Wilson Baptista: o samba foi sua glória! – Autor: Rodrigo Alzuguir – Editora: Casa da Palavra 3º Lugar - Título: O castelo de papel – Autor: Mary del Priore – Editora: Editora Rocco Ciências Exatas, Tecnologia e Informática 1ºLugar – Título: Estrutura atômica, ligações e estereoquímica – Autor: Henrique Eisi Toma – Editora: Editora Edgard Blucher 2ºLugar - Título: O cerne da matéria – A aventura científica que levou à descoberta do bóson de Higgs – Autor: Rogério Rosenfeld – Editora: Companhia Das Letras 3ºLugar - Título: Ciência do futuro e futuro da ciência: redes e políticas de nanociência e nanotecnologia no Brasil – Autor: Jorge Luiz dos Santos Junior – Editora: Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Ciências Humanas 1º Lugar - Título: O Mapa que Inventou o Brasil – Autor: Júnia Ferreira Furtado – Editora: versal Editores 2º Lugar - Título: Atlântico: A história de um oceano&34; [editora Civilização Brasileira] – Autor: Francisco Eduardo Alves de Almeida, Francisco Carlos Teixeira da Silva e Karl Schurster de Sousa Leão – Editora: Editora José Olympio 3º Lugar - Título: Compêndio de Ciência da Religião – Autor: Frank Usarski e João Décio Passos – Editora: Editora Paulinas Ciências Naturais 1º Lugar – Título: Livro Vermelho da Flora do Brasil – Autor: Gustavo Martinelli e Miguel Avila Moraes (orgs.) – Editora: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial Ltda. 2º Lugar - Título: PEIXES DO RIO MADEIRA – Autor: vários – Editora: Dialeto Latin American Documentary. 3º Lugar - Título: Guia dos Anfíbios da Mata Atlântica – Diversidade e Biologia – Autor: Célio F. B. Haddad et al. – Editora: Anolis Books Ciências da Saúde 1º Lugar – Título: TRATADO DE ONCOLOGIA – Autor: PAULO MARCELO GEHM HOFF – Editora: Editora Atheneu 2º Lugar - Título: MEDICINA RESPIRATÓRIA – Autor: CARLOS ALBERTO DE CASTRO PEREIRA – Editora: Editora Atheneu 3º Lugar -Título: MEDICINA INTENSIVA FUNDAMENTOS E PRÁTICA – Autor: DANTE SENRA – Editora: Editora Atheneu Comunicação 1º Lugar – Título: Mídia e política na América Latina – Globalização, democracia e identidade&34; [editora Civilização Brasileira] – Autor: Carolina Matos – Editora: Editora José Olympio 2º Lugar – Título: Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. – Autor: Lucia Santaella – Editora: Paulus Editora 3º LugarTítulo: O rosto e a máquina: o fenômeno da comunicação visto dos ângulos humano, medial e tecnológico. – Autor: Ciro Marcondes Filho – Editora: Paulus Editora Contos e Crônicas 1ºLugar – Título: Amálgama – Autor: Rubem Fonseca – Editora: Nova Fronteira 2ºLugar - Título: Você verá – Autor: Luiz Vilela – Editora: Editora Record 3ºLugar - Título: Nu, de botas – Autor: Antonio Prata – Editora: Companhia Das Letras 3ºLugar - Título: Um solitário à espreita – Autor: Milton Hatoum – Editora: Companhia Das Letras Didático e Paradidático 1º Lugar – Título: Alfabeto escalafobético – Autor: Claudio Fragata – Editora: Jujuba Editora 2º Lugar - Título: Para ler e ver com olhos livres – Autor: Flávia Aidar e Januária Cristina Alvesibi – Editora: Nova Fronteira 3º Lugar - Título: Crônicas da norma pequenas histórias gramaticais – Autor: Blandina Franco, José Carlos Lollo e Gabriel Perissé – Editora: Callis Editora Direito 1º Lugar – Título: Como decidem as cortes?: para uma crítica do direito (brasileiro) – Autor: José Rodrigo Rodriguez – Editora: Fundacao Getulio Vargas 2º Lugar – Título: Série IDP – Comentários à Constituição do Brasil – Autor: Ingo Wolfgang Sarlet, Lenio Luiz Streck, Gilmar Ferreira Mendes, Léo Ferreira Leoncy (coords.) – Editora: Editora Saraiva 3º Lugar – Título: Fundamentos para uma teoria jurídica das políticas públicas – Autor: Maria Paula Dallari Bucci – Editora: Editora Saraiva Economia, Administração e Negócios 1º Lugar – Título: Os limites do possível – A economia além da conjuntura – Autor: André Lara Resende – Editora: Companhia Das Letras 2º Lugar – Título: O futuro da indústria no Brasil [editora Civilização Brasileira] – Autor: Edmar Bacha e Monica de Bolle – Editora: Editora José Olympio 3º Lugar – Título: MONARQUIA, LIBERALISMO E NEGÓCIOS NO BRASIL: 1780-1860 – Autor: Izabel Andrade Marson; Cecília H. de S. Oliveira – Editora: Editora da Universidade de São Paulo Educação 1º Lugar – Título: Tenho um aluno surdo, e agora? Introdução à Libras e educação de surdos – Autor: Cristina B F Lacerda e Lara F Santos (Orgs) – Editora: Edufscar – Editora Da Universidade Federal De São Carlos 2º Lugar – Título: Aberturas para história da educação – Autor: Dermeval Saviani – Editora: Editora Autores Associados 3º Lugar – Título: Na trilha da gramática – conhecimento linguístico na alfabetização e letramento – Autor: Luiz Carlos Travaglia – Editora: Cortez Gastronomia 1ºLugar – Título: EXPEDIÇÃO BRASIL GASTRONÔMICO – MG-RJ-PE-CE-RN-AM – Autor: Guta Chaves; Dolores Freixa – Editora: Editora Melhoramentos 2ºLugar - Título: Os banquetes do Imperador – Autor: FRANCISCO LELLIS E ANDRÉ BOCCATO – Editora: Senac – Serviço Nacional De Aprendizagem Comercial 3ºLugar - Título: Sou barista – Autor: CONCETTA MARCELINA E CRISTIANA COUTA – Editora: Senac – Serviço Nacional De Aprendizagem Comercial Infantil 1º Lugar – Título: Breve história de um pequeno amor – Autor: Marina Colasanti – Editora: Editora Ftd 2º Lugar - Título: Da Guerra dos Mares e das Areias: fábula sobre as marés – Autor: Pedro Veludo – Editora: Editora Quatro Cantos 3º Lugar - Título: Poemas que escolhi para crianças – Autor: Ruth Rocha – Editora: Editora Moderna Juvenil 1º Lugar – Título: Fragosas Brenhas do Mataréu – Autor: Ricardo Azevedo – Editora: Ática Editora 2º Lugar - Título: As gêmeas da família – Autor: Stella Maris Rezende – Editora: Editora Globo 3º Lugar - Título: UMA ESCURIDÃO BONITA – Autor: ONDJAKI – Editora: Pallas Editora Poesia 1º Lugar – Título: Bernini – poemas 2008-2010 – Autor: Horácio Costa – Editora: Horácio Costa 2º Lugar - Título: Jardim das delícias – Autor: Marcus Vinicius Quiroga – Editora: Marcus Vinicius Quiroga 3º Lugar – Título: XIMERIX – Autor: ZUCA SARDAN – Editora: Cosac & Naify Edições Psicologia e Psicanálise 1º Lugar – Título: O AVESSO DO IMAGINÁRIO – Autor: TANIA RIVERA – Editora: Cosac & Naify Edições 2º Lugar - Título: Antígona e a ética trágica da psicanálise – Autor: Ingrid Vorsatz – Editora: Zahar Editora 3º Lugar - Título: “Onde tudo acontece – Cultura e psicanálise no século XXI” [editora Civilização Brasileira] – Autor: Giovanna Bartucci – Editora: Editora José Olympio Reportagem 1º Lugar – Título: 1889 – Autor: Laurentino Gomes – Editora: Editora Globo 2º Lugar - Título: Holocausto brasileiro – Autor: Daniela Arbex – Editora: Geração Editorial 3º Lugar -Título: Um gosto amargo de bala [editora Civilização Brasileira] – Autor: Vera Gertel – Editora: Editora José Olympio Romance 1º Lugar – Título: Reprodução – Autor: Bernardo Carvalho – Editora: Companhia Das Letras 2º Lugar - Título: A maçã envenenada – Autor: Michel Laub – Editora: Companhia Das Letras 3º Lugar - Título: OPISANIE ŚWIATA – Autor: VERONICA STIGGER – Editora: Cosac & Naify Edições Teoria/Crítica Literária 1º Lugar – Título: Fervor das vanguardas – Autor: Jorge Schwartz – Editora: Companhia Das Letras 2º Lugar - Título: ABENÇOADO & DANADO DO SAMBA: Um Estudo sobre o Discurso Popular – Autor: Ricardo Azevedo – Editora: Editora da Universidade de São Paulo 3º Lugar - Título: Melancolias, Mercadorias – Autor: Walter Garcia – Editora: Ateliê Editorial Projeto Gráfico 1º Lugar – Título: DECAMERON: GIOVANNI BOCCACCIO – Responsável pelo projeto gráfico: ELAINE RAMOS; TEREZA BETTINARDI – Editora: Cosac & Naify Edições 2º Lugar -Título: ESOPO – FÁBULAS COMPLETAS – Responsável pelo projeto gráfico: FLÁVIA CASTANHEIRA – Editora: Cosac & Naify Edições 3º Lugar -Título: MARCELLO GRASSMANN 1942-1955 – Responsável pelo projeto gráfico: Eunice Liu; Carla Fernanda Fontana – Editora: Editora da Universidade de São Paulo Tradução 1º Lugar – Título: A anatomia da melancolia – Tradutor(a): Guilherme Gontijo Flores – Editora: Editora UFPR 2º Lugar - Título: Antologia da poesia clássica chinesa – Tradutor(a): Ricardo Primo Portugal – Editora: Unesp 3º Lugar - Título: O capital: crítica da economia política, Livro I: O processo de produção do capital – Tradutor(a): Rubens Enderle – Editora: Boitempo Editorial Tradução de Obra Literaria Inglês-Português 1º Lugar - Título: Vênus e Adônis – Tradutor(a): Alípio Correia de Franca Neto – Editora: Leya Brasil 2º Lugar – Título: Contos da Cantuária – Tradutor(a): José Francisco Botelho – Editora: Companhia Das Letras 3º Lugar - Título: Ao farol – Tradutor(a): Denise Bottmann – Editora: L&PM EDITORES
A obra, recém divulgada, terá seu lançamento na próxima quarta-feira (15/10), às 17h, no Evoé Café com Livros, na Galeria Central, em Goiânia
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Vassili Grosman (à esquerda): o escritor russo que foi perseguido pelo stalinismo. Lezama Lima é, disparado, o maior escritor de Cuba. E era bom poeta. Já Donna Tartt, discípula de Dickens, é autora de uma prosa refinada | Fotos: Divulgação[/caption]
Os ombudsmen Carlos Wilson e Arthur de Lucca perguntam: “Qual o melhor romance do ano?” Difícil responder, porque não li a maioria dos romances publicados no Brasil em 2014. Mas como os dois insistem e garantem que, se eu não responder, não vão mais me ajudar a escrever a coluna Imprensa, vou arriscar a apresentar um breve comentário.
O melhor romance do ano? Talvez não seja apenas um, e sim dois — “Paradiso”, de Lezama Lima, e “Vida e Destino”, de Vassili Grossman — ou talvez três.
“Paradiso” é uma espécie de “Grande Sertão: Veredas” de Cuba. É “o” romance cubano. Nenhum outro, seja de Alejo Carpentier e Cabrera Infante, chega aos seus pés de diamante. O livro chega ao Brasil em duas traduções, o que é muito bom. As responsáveis pelas versões patropis são as poetas Josely Vianna Baptista e Olga Savary. Só mesmo poetas, seres que dançam pelas palavras e dialogam com o inescrutável, têm condições de traduzir à perfeição a prosa intrincada e, às vezes, amarrada de Lezama Lima. Acima de tudo, uma prosa iluminada. Li a tradução anterior, feita por Josely Vianna Baptista, que é um primor. Ela não revisou a tradução que sai pela Editora Estação Liberdade. Fez uma tradução nova. A tradução de Olga Savary saiu pela Editora Martins.
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"Vida e Destino" talvez seja o melhor romance sobre a Segunda Guerra Mundial. “Paradiso” é o “Grande Sertão: Veredas” da literatura de Cuba. "O Pintassilgo" romance mistura de maneira brilhante “estilos” e “tempos”[/caption]
“Vida e Destino” é simplesmente o maior romance russo do século 20. Uma obra-prima incontornável. Liev Tolstói e Turguêniev, por certo, a aprovariam. “Doutor Jivago” (de Boris Pasternak), que não é ruim, apesar das críticas negativas, que às vezes não querem perceber que se trata de um romance do século 19 escrito e publicado no século 20, não chega à canela do livro de Grossman, que, perseguido pelo stalinismo, não conseguiu publicá-lo. O livro foi editado, depois de sua morte, em tempos políticos mais amenos na União Soviética.
Em segundo (ou terceiro?) lugar, embora Carlos Wilson e Arthur de Lucca não tenham perguntado, citaria o romance “O Pintassilgo”, da americana Donna Tartt. É um belo romance que mistura, prazerosamente, ideias e personagens dos séculos 19, 20 e 21. É uma catedral do século 19 com personagens do século 21. Aqui e ali, o livro pode aparecer lento e enviesado, menos leve e luminoso do que a prosa de Charles Dickens, o herói de la Tartt, mas leitores que leem por prazer, sem se preocupar com firulas acadêmicas, com invencionismos de linguagem, vão se apaixonar. Livro bom é o que nos põe de quatro, servos eternos, e nos agarra e nos força a ir até a última página, sem saltar capítulos. É o caso de “O Pintassilgo”.
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Publicação, da editora Desfecho, é a primeira de uma série de quatro livros a serem lançados pelo artista Hazuk Peres. Romance narra uma história que aborda os costumes de uma época em detrimento da liberdade de 13 meninos, dos quais um começa a questionar sua condição de aprisionado e motiva os demais a refletirem sobre suas vontades
Montado pela R&F Editora, o espaço já recebe grande número de visitas. O público estimado nesta edição da bienal é de 800 mil pessoas
O autor, além de escrever prosa, poesia e teatro, era apaixonado pela literatura brasileira
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Júlio Dantas, um dos maiores escritores portugueses, escreveu histórias comparáveis à melhor prosa de
Alexandre Herculano e Eça de Queiroz[/caption]
Júlio Dantas (1876-1962) foi um dos escritores portugueses de maior produção literária, embora grande parte de sua fama venha apenas de uma pequena peça teatral, traduzida para uma vintena de línguas: “A Ceia dos Cardeais” (1902).
Médico que praticava a medicina, Júlio Dantas escreveu teatro, romances, história, poesia, contos e crônicas. Traduziu Shakespeare para o português. Foi deputado e diplomata. Casou-se aos 66 anos, e viveu até os 86. Além da vasta obra que viu publicada, três livros seus são póstumos: “Revoada das Musas” (1965), “Lisboa de Nossos Avós” (1966) e “Páginas de Memórias” (1968).
Seu livro “Pátria Portuguesa” (1914) reúne um grupo de novelas históricas que vão da formação de Portugal, no século XII, até a era dos descobrimentos, contando, em linguagem entre atraente e emocionante, os principais episódios da epopeia portuguesa que elevou o pequeno país a nível de império. É uma das mais belas e importantes obras no gênero, que não fica atrás das escritas por Alexandre Herculano, Eça de Queiroz ou Henrique Lopes de Mendonça.
Júlio Dantas tinha muitos laços com o Brasil, atados pela literatura e pela diplomacia. Cultivou muitas amizades brasileiras. Viu seus livros exportados para cá ou editados aqui, onde nunca lhe faltaram leitores. Foi condecorado pelo governo brasileiro com a comenda da Ordem do Cruzeiro do Sul e era membro honorário da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Medicina do Rio de Janeiro.
No seu livro “Eles e Elas” (1918), Júlio Dantas, mais que comenta, festeja o livro de Martins Fontes — “O Verão” —, lançado naquele ano, e dedica ao poeta brasileiro todo um capítulo. Lembra, no comentário, outros poetas patrícios: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correa, Luiz Murat; e os prosadores Coelho Neto e Euclides da Cunha.
Em outro livro, “Mulheres” (1916), Júlio Dantas comenta o livro “Trovas Populares”, reunião folclórica feita por Afrânio Peixoto, e a poesia de Catulo da Paixão Cearense, que lhe causou enorme impressão, a ponto dele se referir a Catulo como “Vergílio caboclo”, adaptar algumas trovas para o português clássico e divulgá-las, quando a intelectualidade portuguesa nelas encontrou similitude com a obra do famoso poeta luso Antônio Correia de Oliveira (1879-1960).
Em “Páginas de Memórias”, Júlio Dantas faz muitas menções afetuosas ao Brasil, que visitou várias vezes, a primeira em 1923. Dedica um capítulo a sua atuação no diário carioca “Correio Da Manhã”, onde escrevia a convite de Edmundo Bittencourt, fundador do jornal e seu amigo. O escritor dizia que de todas as profissões que havia exercido, a mais gratificante ao espírito era a de jornalista. “Não sei de função mais nobre, nem de magistratura mais elevada do que aquela que se destina a dirigir a opinião, a esclarecer as inteligências, a elevar os corações, a estimular as energias coletivas, a acordar na alma do povo sentimentos generosos, a formar nas consciências o culto da justiça, da fraternidade, da ordem e da paz”, dizia.
(A opinião é diametralmente oposta à que têm os radicais de esquerda incrustados hoje no governo brasileiro. Não veem nobreza na atividade jornalística independente, a ponto de agredirem até jornalistas que lhes dedicam simpatia, como a colunista de economia Miriam Leitão. Para eles, simpatia é pouquíssimo. A orfandade do stalinismo só aceita a subserviência. Afinal, Stálin reunia no Kremlin a nata da literatura soviética, para dizer a ela o que escrever. E a desobediência acabava no Gulag, na Lubianka ou no paredão.)
Voltemos a Júlio Dantas. Ainda em “Páginas de Memórias”, o ilustre português conta como conheceu Olavo Bilac, de quem ele admirava já de sobra a obra poética. Foi na última viagem de Bilac à Europa (1916?), na visita que o poeta patrício fez à Academia de Ciências de Lisboa. A admiração, diga-se, era mútua. Festejaram terem se conhecido pessoalmente e o encontro redundou em amizade e correspondência. Mas Bilac morreu logo depois (em 1918), bem antes de Júlio Dantas.
No mesmo “Páginas de Memórias”, Júlio Dantas conta ainda como foi assinado o acordo Brasil-Portugal para a unidade da língua portuguesa escrita. Foi um trabalho de Fernando de Magalhães, presidente da Academia Brasileira de Letras, e do próprio Júlio Dantas, presidente da Academia de Ciências de Lisboa, que coroou o acordo, assinado em 30 de abril de 1931 pelos dois presidentes e pelos embaixadores José Bonifácio de Andrada e Silva, do Brasil em Portugal, e Duarte Leite, de Portugal no Brasil.
(Curiosidade: os presidentes das academias, por cuja força firmou-se o acordo ortográfico, não eram filólogos. Sequer eram homens formados em letras. Eram ambos médicos.)
No conjunto do trabalho de Júlio Dantas, parece ter sido a obra poética a parte menos expressiva. Talvez por isso apreciava muito a poesia, e seguia o que de bom se imprimia em Portugal e no Brasil. Comentava, como dissemos acima, em seus livros e trabalhos jornalísticos, a produção dos novos poetas que lhe parecessem promissores.
Em outro livro, “Abelhas Doiradas” (1920), dedica uma crônica ao poema “Juca Mulato”, de Menotti Del Picchia, impressionado ao ponto de vaticinar sobre o poeta: “Fixem este nome. Ou me engano, ou há de ser, amanhã, o de um dos maiores poetas brasileiros”. Não se enganava.
Falei antes na peça “A Ceia dos Cardeais”. Se o leitor nunca a viu representada, e se tiver a grata oportunidade, não a perca. Não é à toa que essa pequena peça, em um único ato, com três atores apenas, é um estrondoso sucesso — é a peça escrita em língua portuguesa mais traduzida e mais representada em todo o mundo, mesmo hoje, mais de um século depois de sua primeira apresentação.
Escrita em apenas oito dias, a pedido de um nobre português para uma noite de homenagens, junto com outras peças curtas, a um ator lisboeta famoso, ela é uma obra-prima de cenografia, monólogo e psicologia. Embora os personagens sejam três cardeais que ceiam em deslumbrante cenário interior ao Vaticano, o tema é o amor. E a visão que dele têm — ou teriam — e revelam em aprimorados monólogos, os espanhóis, encarnados no Cardeal Rufo, os franceses, no caso representados pelo Cardeal de Montmorency e os portugueses, no sentimento do camerlengo Cardeal Gonzaga e sua surpreendente visão amorosa. Júlio Dantas escreveu uma vintena de peças, e entre elas várias são apreciáveis. Mas “A Ceia dos Cardeais” é uma obra-prima, uma centelha perene de gênio. (No site do jornal, transcrevo a peça para deleite do leitor.) Publico, a seguir, dois poemas do escritor português.
Os desconhecidos Júlio Dantas (A Manuel Penteado)
Dois cadáveres — vede — aguardam o meu corte: Um homem gigantesco e uma mulher perdida. Dormem nus, sobre a pedra, unidos pela morte, E talvez, sem se ver, passaram pela vida. Ele, o morto, na seca e descarnada espalda Tem nomes de mulher e várias tatuagens; Treme de nojo o sol na sua pele jalda E abrem-lhe a boca verde uns esgares selvagens. De tórax d’esmeralda, asa tecida d’ouro, Uma nervosa mosca, em passos indolentes, Para entrar-lhe na boca aflora o buço louro E começa a descer pela escada dos dentes. Morto há dias, olhai que a rigidez se perde E que o seu corpo está gelatinoso e elástico: Suas costelas são como um teclado verde, Digno das longas mãos dum pianista fantástico! Ela morreu de parto: entre as airosas coxas Que doira como um fruto uma lanugem pouca, Um feto mostra ao sol as suas carnes roxas, Ajoelhado, a rir, sem olhos e sem boca. Tem rugas sobre o ventre, e lembra, cada ruga, As que a pedra ao cair traça nos verdes pântanos: Os seus cabelos são dum ruivo tartaruga, O seu rictus perturba e o seu olhar espanta-nos. Bate-lhe em cheio o sol, como losango d’ouro; Tem no seio listrões de sangue que secou: E pelo flanco enorme, e pelo púbis louro, Lembra os ventres brutais que Van Miéris pintou. Dir-se-ia que o morto a olha, — reparai, E lhe espreita e deseja as carnes violadas; D’aí, quem sabe lá se ele seria o pai Daquele feto roxo a rir às gargalhadas!Virgindade Júlio Dantas
Ó gótica beleza iluminada e viva! Sê esquiva para mim; quero-te sempre esquiva! No amor, a dor é tanta e a volúpia tão pouca! Foge das minhas mãos, foge da minha boca! Ser honesta é vestir uma roupa de estrelas: Há flores no teu peito; hás de ter conta nelas. Nunca me ouças de perto as ânsias e os segredos: Quebram flores de vidro os meus impuros dedos, Rasga sedas, no escuro, o meu brutal namoro… É tão fácil quebrar uma cintura d’ouro! Magoando-te a carne, em ânsias de mordê-la, Serei sempre um leproso a babar uma estrela, Um sapo que polui, arrebentando em pragas, A santa que o buscou para sarar-lhe as chagas.A Ceia dos Cardeais (Parte I )
Peça em um ato em verso, representada pela primeira vez no antigo teatro D. Amélia, em 28 de março de 1902 Júlio Dantas Uma grande sala, no Vaticano. Paredes cobertas de panos de Arras - Amplos tectos de caixão, com apainelamentos de talha doirada - Um retrato de cardeal vermelho, sobre o fogão - À D. baixa, o cravo, o violoncelo e o violino de um terceto clássico - Estantes altas de coro - Luzes - Ao fundo, largo tamborete onde repousam as capas, os chapéus, os bastões - À E. baixa, grande armário pesado de baixela de oiro e prata lavrada - Quase a meio, bufete onde ceiam os três cardeais: toalha de holandilha, picada de rendas; serviço de Sèvres, azul e oiro; cristais. CARDEAL GONZAGA, CARDEAL RUFO, CARDEAL DE MONTMORENCY, sentados ao bufete, ceando; os fâmulos, vestidos de verde e prata, servem-nos, de joelhos. CARDEAL RUFO, visivelmente agastado. Será já amanhã! CARDEAL RUFO, a outro fâmulo Xerez. Continuando, a de MONTMORENCY: Roma! Roma! Que viu pela primeira vez, Benedito XIV, um para receber Conselhos de Inglaterras e cartas de Voltaire! CARDEAL DE MONTMORENCY, grandioso As cartas de Voltaire honram! CARDEAL RUFO, num sorriso de desdém É natural. Fala como francês. CARDEAL DE MONTMORENCY, com dignidade Falo como cardeal! CARDEAL GONZAGA, intervindo de novo Mas, perdão... Não será política demais Para uma ceia alegre? Enfim, três cardeais Não salvam Roma ... CARDEAL RUFO, numa grande atitude Pois, em minha consciência, Bastava um só para salvar! CARDEAL DE MONTMORENCY, com ironia Vossa Eminência? CARDEAL GONZAGA, conciliando docemente Deixemos isso a Deus. E, na divina mão. Roma repousará CARDEAL DE MONTMORENCY, num sorriso Vamos nós ao faisão? Trinchando, com galanteria: Se permitem, eu sirvo. É um faisão doirado, Mau político, sim, mas todo embalsamado De trufas. Nunca fez encíclica nenhuma; Não usou solidéu por sobre a áurea pluma, E, se um dia assistisse a qualquer consistório, Dormiria como eu - e como S. Gregório. AO CARDEAL RUFO: Eminência, não acha? AO CARDEAL GONZAGA, servindo: A perna? A asa? O peito? Muito superior, sobretudo em direito Canônico. _ Uma àsinha, Eminência? Talvez A possa amaciar, regando-a de Xerez. A ave é rija demais para velhinhos doentes... CARDEAL GONZAGA, formalizando Eminência, ainda tenho uns quatro ou cinco dentes. CARDEAL RUFO, provando o faisão Benedito talvez não ande muito mal Ser der ao cozinheiro o chapéu de cardeal! CARDEAL DE MONTMORENCY, ao CARDEAL RUFO Inda agora, a Eminência agastou-se comigo. Confesse... CARDEAL RUFO Eu? CARDEAL DE MONTMORENCY Agastou. CARDEAL RUFO, desculpando-se Voltaire é um inimigo... CARDEAL DE MONTMORENCY E nós amigos. São discordantes fugaces. Eminências... CARDEAL RUFO, abraçando-o Depois... CARDEAL DE MONTMORENCY, beijando-o Vem o osculum pacis CARDEAL RUFO Sobre um beijo outro beijo e sobre um ano outro ano... Como envelhece a gente, o Velho Vaticano! A política... O mal que se faz e desfaz No mistério subtil destes panos de Arrás... A intriga na sombra, os passos sempre incertos... CARDEAL GONZAGA, olhando a estante de música O que nos vale... CARDEAL DE MONTMORENCY Ah, sim...São os nossos concertos. CARDEAL RUFO Música de uma unção espiritual tão grande! CARDEAL GONZAGA, em êxtase Como a alma sobe a Deus nas fugas de Lalande! CARDEAL RUFO, a DE MONTMORENCY Depois, o seu violino... Eminência é artista... CARDEAL DE MONTMORENCY, a RUFO E o seu violoncelo... CARDEAL RUFO Oh! A perder de vista! Num sorriso de beatitude: Só com três cardeais, Roma era um céu aberto! CARDEAL DE MONTMORENCY, tristemente Tão longe a mocidade... CARDEAL GONZAGA, numa lágrima E o trêmulo tão perto!_ Caiu-nos sobre a fronte a neve dos caminhos... CARDEAL RUFO Envelhecemos tanto! CARDEAL GONZAGA, a RUFO Estamos tão velhinhos..._ Já fez sol, para nós.. Sol! Pois não é verdade? CARDEAL RUFO, como num sonho Sol! CARDEAL DE MONTMORENCY, a um dos fâmulos Mais champanhe. CARDEAL GONZAGA Sol! _ Nós que somos a saudade. O pensar que se amou, que se viveu... O amor! — Um tronco envelhecido a cuidar que deu flor! Depois, num embevecimento: Misterioso monte é neste mundo a vida! Todo rosas abrindo, ao galgar na subida, E a velhice, ao descer, toda cheia de espinhos... — Ai, tão velhinhos! CARDEAL RUFO, tristemente Tão velhinhos! CARDEAL DE MONTMORENCY, olhando os dois, com ternura Tão velhinhos! CARDEAL RUFO Relíquias. Devo ter setenta e três, já feitos. CARDEAL GONZAGA Eu tenho oitenta e um. CARDEAL DE MONTMORENCY, sorrindo a, a olhá-los São dois velhos perfeitos! Três... Três velhos sem cor, que a saudade aviventa... CARDEAL RUFO, a DE MONTMORENCY Vossa eminência tem, quantos? CARDEAL DE MONTMORENCY Tenho sessenta. CARDEAL RUFO, ao CARDEAL GONZAGA, olhando DE MONTMORENCY com inveja infantil Sessenta, só! CARDEAL DE MONTMORENCY Sessenta. E a vida já me cansa... CARDEAL GONZAGA Vossa Eminência está ainda uma criança! CARDEAL RUFO, olhando DE MONTMORENCY Também já fui assim! E que rijo que eu era! Sessenta anos! Ainda em plena Primavera! Tal qual assim... Tal qual! CARDEAL GONZAGA E eu! O que direi eu! CARDEAL RUFO Então, ainda compunha ao espelho o solidéu E via com amor, sob a seda vermelha, Uns fios de oiro a rir por entre a prata velha! CARDEAL DE MONTMORENCY Mas, Eminência, não! Com sessenta anos feitos, Não sou, precisamente, uma criança de peitos. Sou um velho, também... Um velhinho, com o ar De quem viveu feliz e envelhece a cantar... CARDEAL GONZAGA É. É uma criança. Em tendo a nossa idade, Verá que o relembrar coisas da mocidade É o prazer maior que podem ter os velhos... Para nós, recordar é cair de joelhos. CARDEAL DE MONTMORENCY Eu sei, eu também sei... Recordar é viver, Transformar num sorriso o que nos fez sofrer, Ressurgir dentro d’alma uma idade passada, Como em capela de oiro há cem anos fechada, Onde não vai ninguém, mas onde há festa ainda... Se eu não hei-de saber como a saudade é linda! Se eu não hei-de saber! _ É curioso, Eminências. Não fizemos ainda as nossas confidências, E somos como irmãos... Tão amigos! CARDEAL RUFO É certo! CARDEAL GONZAGA Confidências? CARDEAL DE MONTMORENCY Então... A morte vem tão perto! Olhemos para trás, lembremo nos da vida... A saudade de um velho é uma estrada florida! CARDEAL RUFO Confidências de amor! CARDEAL DE MONTMORENCY Porque não há-de ser? Em toda a mocidade há um rido de mulher. Contemos esse rido uns aos outros...Nós três... Recordar um amor é amar outra vez! Ninguém nos ouve... CARDEAL GONZAGA Mas, Eminência! CARDEAL DE MONTMORENCY O maior Amor da nossa vida! CARDEAL GONZAGA, com pudor, tapando a cara Oh! CARDEAL RUFO, como quem sonha O maior amor! CARDEAL GONZAGA Mas nós somos cardeais! CARDEAL RUFO, entusiasmando-se O sentimento humano Em toda a parte vive, até no Vaticano! E esta púrpura - ai não, seria crueldade! — Pode matar o amor, mas não mata a saudade! CARDEAL DE MONTMORENCY, ao CARDEAL GONZAGA Principie o mais velho... Eminência... CARDEAL GONZAGA Não, não... Por Deus! CARDEAL RUFO, a DE MONTMORENCY Seja o mais novo. CARDEAL DE MONTMORENCY, escusando-se, polidamente num gesto Oh! CARDEAL RUFO Serei eu, então. Pensando um instante Que lhes hei-de contar? Erguendo a cabeça, os olhos brilhantes, como quem encontrou: Uma aventura linda, Cheia de coração! Ai, não ter eu ainda Mocidade na voz para a saber contar! Eminências, perdão se eu acaso chorar... Se uma lágrima... _ Enfim, são tudo impertinências De velhos... CARDEAL DE MONTMORENCY, convidando-o a principiar Eminência... CARDEAL RUFO, depois de um ligeiro cumprimento a ambos Eu começo, Eminências. — Aos vinte anos, ou vinte e dois, proximamente, Fui eu, por gentileza a um fidalgo parente, Com minha capa negra e minha volta branca, Ler cânones e leis na Douta Salamanca. Era então um pequeno, espadachim e ousado, O feltro ao vento, o manto ao ombro, a espada ao lado, Tendo o instinto da frase e a intuição do gesto — Um Velásquez no trajo, um Quixote no resto _, Que seria talvez, por suprema façanha, Capaz de desafiar o próprio rei de Espanha! Nem pode calcular sequer, Vossa Eminência, Como o meu buço loiro irradiava insolência! Não matei em duelo o Sol, pelas alturas, Só para não deixar Salamanca às escuras! A respeito de amor, como essência divina, Imitei o Don Juan de Tirso de Molina: O amor, por mais ardente ou mais puro que fosse, Morria, ainda em flor, com a primeira posse! Detestava a mulher depois de conquistada: A conquista era tudo: o resto, quase nada. Queria lá saber de aventuras serenas! Para mim, o amor era o duelo, apenas, Batia-me ao acaso, enfim, por qualquer cousa, Um beijo, uma mulher, uma pedra preciosa, Uma flor que se atira, asa de oiro pelo ar, A esmola de um sorriso, a graça de um olhar... Já não tinha valor para mim nenhum bem, Se não fosse preciso ir disputá-lo a alguém, Lutar, vencer, rasgar, ardendo de desejo, Com a ponta da espada o caminho de um beijo, Pomar de assalto o Amor, ao Sol de mil perigos, Como um rubro estandarte entre mãos de inimigos! Assim vivia eu e os outros estudantes, Lendo pouco Platão, lendo muito Cervantes, Quando entrou de jornada em Salamanca, um dia, Sobre carros de bois, a maior companhia De cósmicos que eu vi ainda em toda a Espanha! CARDEAL DE MONTMORENCY, num sorriso Se visse a de Molière... Oh! CARDEAL RUFO, sem se perturbar Não era tamanha, Nem tão rica, por certo. Ah! Foi uma loucura Na Universidade! _ A primeira figura Do bando era uma viva e linda rapariga, Um Rubens precioso, uma beleza antiga... CARDEAL GONZAGA, tapando a cara Oh! CARDEAL RUFO De um loiro flamengo, a cabecita airosa, toda num garavim de seda cor-de-rosa, Como um beijo de luz, rescendia inocência... CARDEAL GONZAGA, estranhando a palavra Oh! CARDEAL RUFO Eu peço perdão se me excedo, Eminência, Mas aquela mulher era um anjo dos céus! Se Deus a pretendesse, eu desafiava Deus! Ver um anjo a dizer-me - ó natureza cega! _ Versos de Calderon e de Lopo de Vega! A representação foi sobre um pátio velho, Todo armado à fidalga em damasco vermelho, Num tapete real de capas de estudantes! Num desfalecimento, escondendo uma lágrima: Ai, o que eu sou agora! Ai, o que eu era dantes! Quanta luz, quanto fogo a velhice nos rouba!_ Representaram não sei bem se a Niña Boba, Um poemazinho leve onde a graça? Nisto, em meio talvez da representação, Ouvi ao pé de mim, dentre um bando folião De escolares, dizer em voz rouca e sumida: O rapto será logo, hem? Será à saída, Na porta dos brasões. Quando a linda “bobinha” Entrar na sua rica e leve cadeirinha, Cairemos sobe ela, e...”Não ouvi mais nada. Inda desembainhei meio palmo da espada, Mas contive-me. ”Não. Logo é melhor” _ disse eu. Quando acabou a peça era noite. Desceu Uma tapeçaria. A cadeirinha, fora, a porta dos brasões, para sua senhora, Era um ninho infantil de lúcido brocado. Perto, o bando escolar aguardava embuçado. Ocultei-me também nas sombras da viela, Desembainhei a espada, e. Nisto, assomou ela. Diz-se: espada e anel, na mão em que estiver. Mas sempre é forte a mão quando é linda a mulher! Atirei-me de um salto, e em rápidos instantes, Sozinho contra vinte e tantos estudantes, Contra uma Faculdade inteira, expondo a vida, A capa ao vento, a espada em punho, a pluma erguida, Talhei, ensangüentei, feri, numa violência... Esgrimindo, com o bastão, por sobre a mesa: Assim! Assim!Parte II
CARDEAL DE MONTMORENCY, defendendo o serviço riquíssimo Por Deus! È Sevres, Eminência. CARDEAL RUFO, sentando-se, num grande gesto fanfarrão E se não os matei a todos, na verdade, Foi p’ra não se fechar a Universidade! CARDEAL GONZAGA, profundamente admirado Sozinho contra vinte! Uma luta sangrenta! CARDEAL RUFO Vinte? Trinta! Ou talvez, contando bem, quarenta! CARDEAL DE MONTMORENCY E então a cadeirinha? CARDEAL RUFO Ah! — Desapareceu. CARDEAL GONZAGA E a cômica? CARDEAL RUFO Sei lá! CARDEAL DE MONTMORENCY Quê! Não a seguiu? CARDEAL RUFO Eu? CARDEAL DE MONTMORENCY Não tornou a ver? CARDEAL RUFO, tristemente Não. Nunca mais a vi. Foi por isso que a amei, _ porque não a possuí! CARDEAL DE MONTMORENCY No se caso, Eminência, eu... CARDEAL RUFO Diga. CARDEAL DE MONTMORENCY Se o consente... CARDEAL RUFO Seguia a cadeirinha? CARDEAL DE MONTMORENCY Imediatamente. E ao atingi-la, então, curvaria o joelho, Tiraria o chapéu em grande estilo velho, E prostrando-me junto à portinha doirada De corpo ajoelhado e d’alma ajoelhada, Diria, num olhar cheio de sonhos loucos: “Senhora, perdoai bater-me... com tão poucos!” CARDEAL RUFO Bela frase! CARDEAL DE MONTMORENCY Não é? CARDEAL RUFO Pena não me ocorrer... Com tristeza: Agora é tarde já para eu lha dizer! CARDEAL DE MONTMORENCY Tinha espírito... _ Enfim, o amor, pensando bem Não é só bravura, é o espírito também, Essa força, essa chama, imperceptível quase, Que é a alma do gesto e a nobreza da frase, Qualquer coisa de fino, e flexuoso, e ardente, Que nos faz ajoelhar irreflectidamente, Perturba, vence, infiltra, e, mal afora à boca, Veste de seda e oiro a confissão mais louca... Que seria o amor sem espírito, Eminência? Uma paixão brutal ou uma impertinência, Sem pureza, sem tudo aquilo que resume O coração num beijo e a alma num perfume! Com uns punhos de renda, até a ofensa é linda! Pode ser fina a espada; a frase é mais ainda: Uma escola subtil de esgrima delicada... Procura o coração, a frase, como a espada, E desfaz-se, ao ferir, em pedras preciosas, Como os raios de Sol quando ferem as rosas... Se ao homem vence a espada e se é belo vencer, O espírito faz mais, _ porque vence a mulher! No meu tempo, no tempo em que amei e vivi, Fui o que ainda hoje são os de Montmorency, O grande espirituoso, o leão da nobreza, Cabeleira em anéis e gola à genovesa, Passeando o meu orgulho e o meu bastão solene Pelos vastos salões da Duquesa de Maine. Ah! Como já vai longe! _ Um dia, o velho Philidor Dedilhava no cravo um certo minuete, Um mimo, o que há de mais século XVII... Querendo recordar-se e cantando: Lá-ri la-ra, la-ri... Suspendendo, tristemente: Já não me lembro bem... Tudo passa! Tentando de novo recordar-se: Lá-ri-la... — Nesse instante, alguém, Uma bela mulher que eu já tinha encontrado Nas ruas de Versalhe, em seu coche encontrado A embaixatriz da Áustria, uma deusa, um assombro, Poisou, num doce gesto, a mão sobre o meu ombro, E disse numa voz desdenhosa: “Marquês, Detesto-os”. Sorri. Nisto, segunda vez: “Aborreço-os” Ri ainda. Ah, Eminências! Uma mulher bonita a dizer insolências É a coisa mais galante e mais deliciosa Que pode imaginar-se. É como se uma rosa Soltasse imprecações, vermelha e melindrada, Contra as asas de Sol de uma abelha doirada... Nisto, terceira vez: “Marquês, tenho-lhe horror”. Já não ri. Junto ao cravo, o velho Philidor Tocava o seu minuete ingénuo e palaciano... Querendo ainda lembrar-se: La-ri, la-ra, la ... Não... La-ri... Numa expressão dolorosa: Há já tanto ano! Não me lembro... A velhice! Vendo de repente o cravo, e erguendo-se: Ah, talvez, sim... Talvez O consiga tirar neste cravo holandês. Ferindo as teclas com a mão esquerda, de pé, e continuando a falar para os dois cardeais, enquanto vai tocando: La-ri, la-ra... — então, decidi-me, Eminências. Compus a cabeleira, e em duas reverências. O pé atrás, a mão na espada, à moda antiga, Curvei-me ante essa bela e fidalga inimiga, E disse: “A sua mão. Venha minha senhora. Não me detestará daqui a meia hora” _ Dançámos o minuete. Ela _ era singular! _ Dava-me a impressão de uma renda a dançar, Uma renda ligeira, um Saxe transparente Onde se iam poisar, perturbadoramente, Como um enxame de oiro, espirituoso e leve, Desde a breve ironia ao epigrama breve, A frase à Marivanx, ardente e complicada, O eterno quase tudo _ apenas quase nada_ O espírito-mesura, o sorriso eloquência... Ao CARDEAL RUFO, que está mais próximo: Não sei precisamente o que disse, Eminência, Mas devia ter sido um requinte de graça, Galanteio que voa ou perfume que passa, Poema cor-de-rosa, apaixonado e brando, Que nos dá a ilusão de que se diz sonhando, Eloquência d’amor, que perturba a mulher, E vence quando ajoelha, e beija quando fere! La-ri-la... Terminou o minuete, por fim. Meia hora depois, nas sombras do jardim, A embaixatriz de Áustria, apaixonada, louca, Unindo à minha boca a pequenina boca, Dizia-me, a sorrir _ “Como o adoro, Marquês!” _ O espírito vencera ainda mais uma vez. E enquanto Philidor, junto ao cravo... Tocando, à procura, com ansiedade: Não sei... La-ri-la... Depois, numa expressão de súbita alegria, sentando-se ao cravo, a tocar: O minuete! Achei! Achei! Achei! La-ri-ra, la-ri-ra ,la-ra... CARDEAL RUFO , erguendo-se e aproximando-se do CARDEAL DE MONTMORENCY Vossa Eminência Perdoa-me, talvez, mais uma impertinência... CARDEAL DE MONTMORENCY , levantando-se do cravo Era belo, o minuete! CARDEAL RUFO, sorrindo É que, para vencer Nesse jogo floral uma simples mulher Parece-me demais a sua meia hora... CARDEAL DE MONTMORENCY Oh! Pois acha, Eminência? CARDEAL RUFO O espírito... demora! Trinta e tantos brigões, fortes e resolutos, Venci eu, a poder de espada, em dois minutos! CARDEAL DE MONTMORENCY, ao CARDEAL RUFO Seguisse a Niña Boba... A Eminência veria... Passava a meia hora e não a venceria! Ao CARDEAL GONZAGA, que pensa, em êxtase: A Eminência que diz? CARDEAL RUFO, acercando-se também do CARDEAL GONZAGA Em que pensa, cardeal? CARDEAL GONZAGA, como quem acorda, os olhos cheios de brilho, a expressão transfigurada Em como é diferente o amor em Portugal! Nem a frase subtil, nem o duelo sangrento... é o amor coração, é o amor sentimento. Uma lágrima... Um beijo... Uns sinos a tocar... Uma parzinho que ajoelha e que vai se casar. Tão simples tudo! Amor, que de rosas se inflora: Em sendo triste canta, em sendo alegre chora! O amor simplicidade, o amor delicadeza... Ai, como sabe amar, a gente portuguesa! Tecer de Sol um beijo, e, desde tenra idade, Ir nesse beijo unindo o amor com a amizade, Numa ternura casta e numa estima sã, Sem saber distinguir entre a noiva e a irmã... Fazer vibrar o amor em cordas misteriosas, Como se em comunhão se entendessem as rosas, Como se todo o amor fosse um amor somente... Ai, como é diferente! Ai, como é diferente! CARDEAL RUFO Também vossa Eminência amou? CARDEAL GONZAGA Também! Também! Pode-se lá viver sem ter amado alguém! Sem sentir dentro d’alma - ah, podê-la sentir! _ Uma saudade em flor, a chorar e a rir! Se amei! Se amei! _ Eu tinha uns quinze anos, apenas. Ela, treze. Uma amor de crianças pequenas, Pombas brancas revoando ao abrir da manhã... Era minha priminha. Era quase uma irmã. Bonita não seria... Ah, não... Talvez não fosse. Mas que profunda olhar e que expressão tão doce! Chamava-lhe eu, a rir, a minha mulherzinha... Nós brincávamos tanto! Eu sentia-a tão minha! Toda a gente dizia em pleno povoado: “Não há noiva melhor para o senhor morgado, Nem em capela antiga há santa mais santinha...” E eu rezava, baixinho: “É minha! É minha! É minha” Quanta vez, quanta vez, cansados de brincar, Ficávamos a olhar um para o outro, a olhar, Todos cheios de Sol, ofegantes ainda... Numa grande expressão de dor: Era feia, talvez, mas Deus achou-a linda... E, uma noite, a minha alma, a minha luz, morreu! Numa revolta angustiosa: Deus, se ma quis tirar, p’ra que foi que ma deu? Para quê? Para quê? CARDEAL DE MONTMORENCY, ao vê-lo erguer-se, amparando-o: Oh! Eminência... CARDEAL RUFO, curvando-se também para o amparar, comovido: Então... CARDEAL GONZAGA Ai! Pois não via, Deus, que eu tinha coração! CARDEAL RUFO Eminência CARDEAL GONZAGA, caindo sobre a cadeira, a soluçar Não via! Ah!, não via! Não via! Julgou que de um amor outro amor refloria, E matou-me... E matou-me! CARDEAL DE MONTMORENCY Eminência... CARDEAL GONZAGA Afinal, LITERATURA
Numa entrevista ao crítico italiano Giovanni Ricciardi, o escritor mineiro diz que o ofício de “ghost writer”, inclusive para Juscelino Kubitschek, prejudicou sua produção literária
Discretamente, os livros de Antonio Callado, um aristocrata de esquerda, estão voltando às livrarias. O romance “Quarup” (574 páginas), muito bem escrito e arquitetado, sai pela José Olympio. O livro relata a história do padre Nando que, ao conviver com uma tribo do Xingu, se torna “outro” homem.
O livro relata uma história que ocorre entre o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em agosto de 1954, e o golpe civil-militar de 1964, que levou ao poder militares e civis udenistas.
O romance volta às livrarias com cuidados especiais, como um ensaio da estudiosa Ligia Chiappini. A edição traz a biografia do escritor — que, além de escritor, foi jornalista dos bons — e excertos de sua última entrevista.
Antonio Callado é mais escritor do que o incensado Carlos Heitor Cony, porém, menos lido pela geração atual, estava num limbo injustíssimo.
Vale muito a pena reler a obra de Callado, autor de matiz clássico e, ao mesmo tempo, moderno. É um (raro) estilista da Língua Portuguesa.
