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Adelto Gonçalves
Especial para o Jornal Opção
[caption id="attachment_31722" align="alignleft" width="250"] Herberto Helder foi o autor de uma obra consistente, mas que viveu uma vida em construção | Foto: publico.pt[/caption]
Se Fernando Pessoa (1888-1935) foi a figura de proa da poesia portuguesa na primeira metade do século XX, na segunda esse espaço foi ocupado por Herberto Helder (1930-2015), um poeta fascinado pelo poder encantatório da linguagem, decorrente do uso ritual da palavra, como observou Maria Estela Guedes num dos dois livros que escreveu sobre essa personagem mítica, “Herberto Helder, o poeta obscuro” (Lisboa, Moraes Editores, 1979).
De fato, como observa a autora no segundo livro que dedicou à produção do poeta, “A obra ao rubro de Herberto Helder” (São Paulo, Escrituras, 2010), em todos os seus poemas está presente um tipo de magia fundada no trabalho poético sobre as palavras. E que, especialmente, procura imagens na Natureza. Esse trabalho pode ser sintetizado nestas palavras de Helder, que estão no o prefácio de seu livro “As magias”: “(...) Mas as palavras não são apenas palavras. Tem longas raízes tenazes mergulhadas na carne, mergulhadas no sangue, e é doloroso arrancá-las”.
Arrancar palavras da alma parece ter sido a obsessão desse poeta que, a exemplo de José Saramago (1922-2010), único Prêmio Nobel da Literatura Portuguesa, não colocou na parede diploma de nenhuma universidade. Se Saramago, que também foi bom poeta, além de excepcional romancista, não frequentou os bancos de nenhuma faculdade, Helder chegou a matricular-se na Universidade de Coimbra, mas não concluiu nenhum dos cursos que fez. Formou-se, isso sim, na universidade da vida. Sem contar que sempre foi um ávido leitor, não só de poetas e romancistas europeus, como de poetas latino-americanos como o mexicano Octavio Paz (1914-1998), o argentino Jorge Luís Borges (1899-1986) e o chileno Vicente Huidobro (1893-1948).
Como se lê na biografia “Herberto Helder, a obra e o homem” (Lisboa, Arcádia, 1982), que escreveu a professora Maria de Fátima Marinho, vice-reitora da Universidade do Porto, o poeta, nascido no Funchal, sempre esteve na contramão da sociedade bem comportada. Por isso, sua figura, a partir da notoriedade de seus versos, passou a ganhar uma aura mítica, que só aumentou nos últimos anos, depois que se refugiou num pretenso anonimato, recusando-se a receber prêmios literários, como o Fernando Pessoa, na década de 90, e a conceder entrevistas e até a deixar-se fotografar.
Em linhas gerais, viveu uma vida em construção, sem muito apego a valores burgueses: foi propagandista de produtos farmacêuticos, redator de publicidade e outros ofícios. Sabe-se também que viveu precariamente como imigrante em países como França, Holanda e Bélgica, onde igualmente desempenhou trabalhos que os naturais do lugar se recusam a fazer. Em Antuérpia, teria sido guia de marinheiros e turistas nos meandros da zona do meretrício. E até cantor de tangos. Só em 1960, depois de voltar a Lisboa, conseguiu um emprego mais estável como encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian que viajavam pelas vilas e freguesias do país. Foi ainda repórter e redator por dois anos de uma revista em Angola, às vésperas da derrubada do regime colonial.
Morto o poeta, naturalmente, agora abundam os elogios das fontes oficiais, mas a verdade é que Herberto Helder, ainda que tenha publicado uma vasta obra, foi um poeta marginal e desconhecido em Portugal por muito tempo – e mais ainda pelo público e até mesmo pelos acadêmicos brasileiros. Só nos últimos tempos passou a ser mais reverenciado e seus livros procurados – um ou outro chegou a alcançar tiragem de cinco mil exemplares, o que é surpreendente em se tratando de poesia. Se sua poesia transcendeu a de Fernando Pessoa, ainda não se pode dizer. Se não chegou a tanto, passou perto.
Adelto Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela USP

o beijo de Klimt – Yêda Schmaltz
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Canção do Pont Neuf – Afonso Félix de Sousa
Como a juntar meus próprios ossos debrucei-me sobre lembranças que acreditava em frias poças mas nunca em águas assim mansas nem neste rio longe e próximo. É tão bom quedar-me em tais margens junto de águas que nunca bebo, onde por muito contemplar-se o céu da tarde ficou bêbado e entortaram-se aquelas árvores. Meu Sena amigo, tantas vezes parei neste cais dolorido, que uma possível correnteza levará em meio a detritos, toda minha alma pelo avesso. Perguntas, silêncios e fomes - tudo te trago qual um filho. E algo de mim se desmorona aqui nestas bordas tranqüilas, pois ci-gît mon coeur vagabond Barcos de solidões flutuam sobre tuas noites - e afogas louros fantasmas de uma lua mais longínqua, mais melancólica, mais de outro mundo do que a Lua. De ti me abeiro, e me dissolvo, mas nunca me sinto sozinho. Os que têm ouvido aqui ouvem palavras que um dia o destino prendeu a trechos de Beethoven. Ou são falas de amar que escuto? Meu rio, de mim o que guardas? Sei de meu coração sepulto nalgum ponto de tuas margens, mas sei que de há muito está mudo. Em volta a cidade, profunda, vai pelos dois lados do rio. Para lá da cidade, o mundo. Mais para lá, o amor que tive ... meu rio como eu vagabundo.Melodias – Gilberto Mendonça Teles
Ternas melodias de longínquas plagas, nas manhãs da vida fascinando a gente, sois o desafio de revoltas vagas pela alma ecoando como um som ausente. Ternas melodias, de que mundo ignoto, de que estranhas terras vindes me encontrar? Sois a transparência que no sonho noto? Sois a ressonância do poema, no ar? Ou vindes dos astros — de uma Sírius? Vênus? De que firmamento, de que céus surgistes? Quérulos gemidos de amarguras plenos só podem ser ecos de meus sonhos tristes. Essas melodias cheias de tristeza são talvez saudades que em meu peito eu tinha; são as confidências dessa natureza de milhares de almas que possuo na minha Essas melodias que a minh'alma douram , que a meus sonhos beijam com tamanho ardor, essas melodias tão sonoras foram de remotos tempos vibrações de amor.Sem Título – Heleno Godoy
Adentrar a casa, pelo portão: pórtico finca- do entre grades, gran- de o muro em torno; entre o porão e o ático, a casa se estende e se protege: um projeto ou uma proposta (a porta a ser fechada), a casa se constrói no que acumula — um cedro no jardim e outro na sala, cortado e revestido; como o musgo a recobrir a casa e seus súditos: um súbito susto, de medo — sua medida.As Escarpas do Olimpo – Valdivino Braz
Os dias, os dias e os dias. Os dias-ossos, duros de roer, que o dentro é o que rói seus dias de cão. As letras, moscas, máculas de ósseos ofícios. Os degraus da rocha por onde desço: Sísifo, cansaço de artifícios. Ombros de chumbo, como nas costas de Atlas a bola do mundo. Nas escarpas do Olimpo, carrego a pedra dos rins e bebo a água do (ab)sinto: a ilusão de consolidar-se uma obra, toda uma vida, que se tira do nada pérolas de madrepérola, ou leite das pedras, ao avesso das cabras. Sobras de uma, sombras de outra, vida e obra se consolidam na ilusão de ambas, tão certo quanto incerto o futuro, tão claro quanto surpreender-me no escuro. Mas que diabos! Há um cão mais arcaico do que lamber-se o branco, feito coito? Já devia ter-me acostumado à idéia da inutilidade de tudo — esquecer-se de si, matar-se de vida por uma obra. Tenho moído as pedras desta vida, e soprado os fantasmas do pó. Mão e mó de moer-se sozinho, o sonho é que move os moinhos. Prevalece o branco — a óssea resistência, a imponência da rocha — onde a vassoura dos ventos junta a ciscalha dos signos. Tenho varrido as folhas de tudo, as quedas do tempo, as sobras do sonho, a munha, no moinho dos ventos. Nos bolsos ainda apanho sustos, ainda alguma ilusão de Olimpo, o cisco do redemoinho das formas. Ainda uns fogos da noite, sonâmbulos relâmpagos, incendeiam meu quintal de figos efêmeros, os maduros imaginários do relógio. Ocupado em viver a morte que me vive, vivo enquanto agonizo. O tempo é um maestro de facas, e a vida o gemido rasgado de galos que morrem, mas agora a tudo tempero com a salsa da indiferença: já nem ligo para os furos nos bolsos, por onde tudo vazou: as pedras moídas nas horas desertas desta porfia à revelia de ampulheta. Toda perda, os frutos que perdi. Todo branco, a poeira que comi. Mas não se eleva do pó o Olimpo dos reveses? Vá que ainda me limpo na fortaleza dos deuses. Ah, pendurar-me o suor num prego, me banhar com a água do sossego!
Hoje, em diversos países, pessoas dedicam um pouco de seu tempo a ler a obra de um dos autores mais célebres da literatura mundial: J.R.R. Tolkien. Leia você também
Marcos Nunes Carreiro
[caption id="attachment_31506" align="alignright" width="300"] J.R.R. Tolkien: o autor é celebrado neste 25 de março[/caption]
“Num buraco no chão vivia um Hobbit”. Foi com esta frase que o mundo conheceu John Ronald Reuel Tolkien, o homem que não apenas colocou a escrita de fantasia de volta nas prateleiras de todo o mundo, como também criou as bases para que fosse considerado o “pai da fantasia moderna”.
Geralmente lembrado como o autor de “O Senhor dos Aneis”, Tolkien possui uma obra que abrange mais de 50 livros — grande parte deles publicados postumamente. Essa vasta obra contém a criação de um autor que formou uma mitologia completa para compor o mundo que mudou a forma de escrever sobre fantasia e, até os dias atuais, serve de guia para diversos autores, músicos, cineastas, pintores etc.
Por isso, Tolkien é o motivo que levou à formação de várias sociedades ao redor do mundo, como a Tolkien Brasil, que divulga o trabalho do autor no País e aglomera fãs e pesquisadores de sua obra. A principal dessas sociedades, como não poderia deixar de ser, é a internacional Tolkien Society, que tem sede na Inglaterra. Em 2003, essa organização deu início ao dia que motiva a escrita desta matéria: o Dia de Ler Tolkien.
O dia comemorativo foi escolhido pela Tolkien Society depois que um jornalista perguntou ao comitê: “Existe um dia dedicado informalmente para ler o autor, da mesma forma que o ‘bloomsday’ é dedicado a Joyce?”. Bloomsday é o único feriado no mundo dedicado à leitura de um livro não religioso, em que milhares de pessoas param o trabalho na Irlanda para ler James Joyce.
Por isso, o comitê da Tolkien Society, liderado à época por Chris Crawshaw, escolheu o dia 25 de março como o marco para ler a obra do autor britânico. Em homenagem a este dia, o Jornal Opção reproduz um dos trechos mais marcantes de “O Silmarillion”, obra central da mitologia tolkieniana, em que o autor descreve a criação das árvores que regem as histórias do mundo antigo, as Árvores de Valinor:
E enquanto olhavam, sobre a colina surgiram dois brotos esguios; e o silêncio envolveu todo o mundo naquela hora, nem havia nenhum outro som que não o canto de Yavanna. Em obediência a seu canto, as árvores jovens cresceram e ganharam beleza e altura; e vieram a florir; e assim, surgiram no mundo as Duas Árvores de Valinor. De tudo o que Yavanna criou, são as mais célebres, e em torno de seu destino são tecidas todas as histórias dos Dias Antigos.
Uma tinha folhas verde-escuras, que na parte de baixo eram como prata brilhante; e de cada uma de suas inúmeras flores caía sem cessar um orvalho de luz prateada; e a terra sob sua copa era manchada pelas sombras de suas folhas esvoaçantes. A outra apresentava folhas de um verde viçoso, como o da faia recém-aberta, orladas de um dourado cintilante. As flores balançavam nos galhos em cachos de um amarelo flamejante, cada um na forma de uma cornucópia brilhante, derramando no chão uma chuva dourada. E da flor daquela árvore, emanavam calor e uma luz esplêndida. Telperion, a primeira, era chamada em Valinor; mas Laurelin era a outra.
Leia mais: Tolkien: de fato o senhor da fantasia Jackson reinventa Tolkien O Hobbit e a eterna dualidade entre literatura e cinema Tomado pela “doença do dragão”, Peter Jackson destruiu a obra de J.R.R. Tolkien
Em seu primeiro livro, o publicitário paulista Matheus Arcaro busca o refinamento das palavras com o objetivo de significar a paisagem escarnecida ao redor de suas personagens

Matheus Moura faz, em seu romance gráfico, o que Coetzee não fez: explicita sua militância a favor dos chamados Direitos dos Animais

Yago Rodrigues Alvim
Sabe aqueles textos que te inquietam, agoniam sem sequer uma palavra estar escrita? E nem precisa ser texto. Sabe aquela coisa que te bota medo, antes mesmo que exista uma ínfima possibilidade que aconteça? Que te estremece mesmo, que te deixa perdido, sem qualquer indicação de caminho? Foi bem assim ter que elencar alguns poemas e intitulá-los como “os melhores poemas”.
Por isso, alguns jornalistas, escritores, artistas ajudaram a preencher as próximas linhas de mais puro amor. Para esclarecer, não seguem uma hierarquização de “qual é o melhor”, até porque, às vezes, o melhor poema de amor pode ser um olhar, um sorriso, um abraço. Pode ser qualquer coisa que te diga, te faça sentir que “te amo”.
Antes, bem vale dizer que só seria uma lista definitiva se todas as poesias fossem conhecidas e se fosse possível todas lê-las e, ainda, se todas escritas já tivessem sido. Como não, é efêmera a lista, breve, tal qual um susto de amor. E, ainda há o alerta: é quase impossível não repetir Drummond, não repetir Vinícius, assim como é quase impossível viver sem amar ou não ser ridículo, caro Pessoa, ao falar de amor.
[caption id="attachment_29916" align="alignnone" width="620"] "O Beijo" de Gustav Klimt[/caption]
As sem razões do amor - Carlos Drummond de Andrade
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
Quero - Carlos Drummond de Andrade
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
Um poema de amor - Charles Bukowski (Tradução: Jorge Wanderley)
todas as mulheres
todos os beijos delas as
formas variadas como amam e
falam e carecem.
suas orelhas elas todas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
maridos.
principalmente
as mulheres são muito
quentes elas me lembram a
torrada amanteigada com a manteiga
derretida
nela.
há uma aparência
no olho: elas foram
tomadas, foram
enganadas. não sei mesmo o que
fazer por
elas.
sou
um bom cozinheiro, um bom
ouvinte
mas nunca aprendi a
dançar — eu estava ocupado
com coisas maiores.
mas gostei das camas variadas
lá delas
fumar um cigarro
olhando pro teto. não fui nocivo nem
desonesto. só um
aprendiz.
sei que todas têm pés e cruzam
descalças pelo assoalho
enquanto observo suas tímidas bundas na
penumbra. sei que gostam de mim algumas até
me amam
mas eu amo só umas
poucas.
algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;
outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
malucas mas nenhuma delas é
desprovida de sentido; algumas amam
bem, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre
são as melhores em
outras coisas; todas têm limites como eu tenho
limites e nos aprendemos
rapidamente.
todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos de dormir
os tapetes as
fotos as
cortinas, tudo mais ou menos
como uma igreja só
raramente se ouve
uma risada.
essas orelhas esses
braços esses
cotovelos esses olhos
olhando, o afeto e a
carência me
sustentaram, me
sustentaram.
Eu Te Amo - Chico Buarque
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir
Poeminha Amoroso - Cora Coralina
Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...
Todas as cartas de amor… - Fernando Pessoa
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Amar - Florbela Espanca
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Amor que morre - Florbela Espanca
O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há de vir!
Elegia: Indo para o leito - John Donne (Tradução de Augusto Campos)
Vem, Dama, que eu desafio a paz,
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda, quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu aos homens.
Tu, meu Anjo, é como o Céu
De Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu Anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que a minha mão errante adentre
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra à vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha Mina preciosa, meu Império!
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo)
Sem vestes. As jóias que mulher ostenta
São como bolas de ouro de Atlanta:
Os olhos do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados, a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a qual tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-Te:
Atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante
Bilhete - Mário Quintana
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Poema XLIV - Pablo Neruda
Saberás que não te amo e que te amo
pois que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem a sua metade de frio.
Amo-te para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.
Amo-te e não te amo como se tivesse
nas minhas mãos a chave da felicidade
e um incerto destino infeliz.
O meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.
Os espaços do sono - Robert Desnos (Tradução de Eclair Antônio Almeida Filho)
À noite há naturalmente as sete maravilhas do mundo e a grandeza e o trágico e o encanto.
Nela as florestas se chocam confusamente com criaturas de lenda escondidas nos bosques.
Há você.
Na noite há o passo do caminhante e o do assassino e o do agente de polícia e a luz do revérbero e a da lanterna do trapeiro.
Há você.
Na noite passam os trens e os barcos e a miragem dos países onde é dia.
Os derradeiros sopros do crepúsculo e os primeiros arrepios da aurora.
Há você.
Uma ária de piano, um brilho de voz.
Uma porta range. Um relógio.
E não somente os seres e as coisas e os ruídos materiais.
Mas ainda eu que me persigo ou sem cessar me ultrapasso.
Há você a imolada, você que eu espero.
Por vezes estranhas figuras nascem no instante do sono e desaparecem.
Quando cerro os olhos, florações fosforescentes aparecem e murcham e renascem como carnosos fogos de artifício.
Países desconhecidos que percorro em companhia de criaturas.
E há você sem dúvida, ó bela e discreta espiã.
E a alma palpável do espaço.
E os perfumes do céu e das estrelas e o canto do galo de há 2 000 anos e o choro do pavão em parques em chama e beijos.
Mãos que se apertam sinistramente numa luz baça e eixos que rangem sobre estradas medusantes.
Há você sem dúvida que não conheço, que conheço ao contrário.
Mas que, presente em meus sonhos, te obstinas a neles se deixar adivinhar sem aparecer.
Você que permanece inapreensível na realidade e no sonho.
Você que pertence a mim por minha vontade de possuí-la em ilusão, mas que não aproxima seu rosto do meu como meus olhos fechados tanto ao sonho como à realidade.
Você que a despeito de uma retórica fácil em que a onda morre nas praias, em que a gralha voa em usinas em ruínas, em que a madeira apodrece rachando-se sob um sol de chumbo.
Você que está na base de meus sonhos e que excita meu espírito pleno de metamorfoses e que me deixa sua luva quando beijo sua mão.
À noite há as estrelas e o movimento tenebroso do mar, dos rios, das florestas, das idades, das relvas, dos pulmões de milhões e milhões de seres.
À noite há as maravilhas do mundo.
À noite não há anjos da guarda, mas há o sono.
À noite há você.
No dia também.
Monólogo de Orfeu - Vinicius de Moraes
Mulher mais adorada!
Agora que não estás,
deixa que rompa o meu peito em soluços
Te enrustiste em minha vida,
e cada hora que passa
É mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.
E sabes de uma coisa?
Cada vez que o sofrimento vem,
essa vontade de estar perto, se longe
ou estar mais perto se perto
Que é que eu sei?
Este sentir-se fraco,
o peito extravasado
o mel correndo,
essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu;
Tudo isso que é bem capaz
de confundir o espírito de um homem.
Nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga,
esse contentamento, esse corpo
E me dizes essas coisas
que me dão essa força, esse orgulho de rei.
Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música.
Nunca fujas de mim.
Sem ti, sou nada.
Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.
Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo,
minha amiga mais querida!
Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orfeu,
Orfeu cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres -
que ele, Orfeu,
Ficasse assim rendido aos teus encantos?
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
que eu vou te seguindo no pensamento
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo.
Namorados no Mirante - Vinicius de Moraes
Eles eram mais antigos que o silêncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas súbitas estátuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
Remontavam às origens - a realidade
Neles se fez, de substância, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espécie - tudo mais tinha morrido.
Caíam lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas no magma incandescente
Que milênios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galáxias da vida no infinito.
Eles eram mais antigos que o silêncio...
Soneto de Fidelidade - Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
A lista contém obras literárias de qualidade. Mas esquece "Um Defeito de Cor", talvez o romance brasileiro mais importante publicado no século 21
Bernardo Ajzenberg (foto acima, da Cosac Naify) é um jornalista que escreve bem ou é de fato um escritor a ser considerado? Ex-repórter, editor e ombudsman da “Folha de S. Paulo”, Ajzenberg venceu o prêmio cubano Casa de las Américas, na categoria literatura brasileira, com o romance “Minha Vida Sem Banho” (Editora Rocco).
A colombiana Adelayda Fernádez Ochoa levou o prêmio principal, com “La Hoguera Lame Mi Piel Con Cariño de Perro”. O colombiano Nelson Omero Guzmán, com o livro “Bajo el Brillo de la Luna”, levou o prêmio de poesia. O cubano José Ferrán Oliva, autor de “Cuba Año 2025”, ganhou o prêmio na categoria de melhor ensaio de tema histórico e social.

[caption id="attachment_21474" align="alignleft" width="620"] Chico Buarque de Holanda e Sergio Günther, seu irmão alemão: a imaginação reconstruiu” a história do misterioso filho de Sérgio Buarque de Holanda. O jornalista e cantor morreu de câncer no pulmão[/caption]
Poucas vezes um livro — o romance “O Irmão Alemão” (Companhia das Letras, 239 páginas) — mereceu tanto destaque na imprensa brasileira. Os motivos? Primeiro, o autor. Chico Buarque é, além de escritor, um dos mais importantes compositores do País. É uma estrela, embora não queira ser uma celebridade. Segundo, na atualidade, não há tantos autores de qualidade, ou de alta qualidade, no mercado literário patropi.
A “Folha de S. Paulo” concedeu três páginas ao lançamento do romance, com reportagens e duas críticas de qualidade, curtas mas sólidas, de Alcir Pécora e Marcelo Coelho. O jornal é responsável, de longe, pela mais rica cobertura da publicação de “O Irmão Alemão”. Logo a “Folha”, que empobreceu sua cobertura literária. A “Ilustrada”, aos sábados abre mais espaço para literatura, é em geral fraca, exceto quando publica as críticas mais contundentes de Alcir Pécora e Luís Augusto Fischer. As críticas dos professores da Universidade de Campinas (Unicamp) e da Universidade do Rio Grande do Sul são consistentes, corajosas e posicionadas. Não ficam em cima do muro — o que tem provocado reações acerbas, às vezes infantis, de alguns criticados.
“O Irmão Alemão” é um romance, não uma biografia, sobre o irmão mais velho de Chico Buarque de Holanda, Sergio Georg Ernst (mais conhecido como Sergio Günther), nascido em 1930 e falecido em 1981, aos 50 anos, em decorrência de câncer de pulmão. Ele era jornalista e, como alguns integrantes da família Buarque, cantor. O jornalista, escritor e biógrafo Ruy Castro ouviu sua música, a pedido da “Folha”, e disse que “é uma boa droga, típica do pior pop europeu por volta de 1960”.
Correspondente de “O Jornal” (de Assis Chateaubriand) na Alemanha pré-Hitler, Sérgio Buarque namorou a alemã Anne Margerithe Ernst e, com ela, teve o garoto Sergio Ernst, que não conheceu. O celebrado autor do clássico “Raízes do Brasil” voltou para seu País, escreveu críticas literárias e se tornou um de seus mais importantes historiadores. Chegou a receber uma carta de Anne Ernst sobre o nascimento de seu filho, mas os jovens, na turbulenta década de 1930, perderam contato.
Possivelmente por não ter condições de criar o garoto, Anne Ernst entregou-o para a Prefeitura de Berlim, que decidiu informar Sérgio Buarque, em 1932. O historiador comunicou que poderia criar o menino ou poderia sustentá-lo em Berlim. Sem receber resposta, o brasileiro continuou tocando sua vida, até que, em 1934, com Hitler no poder, recebeu mais uma carta de uma autoridade alemã.
O casal Arthur e Pauline Günther pretendia adotar Sergio Ernst, mas, como a Alemanha estava controlada pelo nazismo, o governo pedia informações sobre a origem do pai, Sérgio Buarque. Queriam saber, lógico, se o brasileiro era ou não de origem judaica. Se era ariano. A documentação foi enviada e, aí, esqueceu-se do assunto por um longo tempo.
Em 1967, numa conversa informal, o poeta Manuel Bandeira disse a Chico Buarque que ele tinha um irmão alemão. Desde então, o compositor (e, vá lá, cantor) e escritor ficou matutando sobre a história. Queria saber mais, juntar as pontas e descobrir quem era seu irmão mais velho. Decidiu reconstruir a história, para torná-la inteligível também para ele, por intermédio de um romance. Noutras palavras, decidiu escrever uma história ficcional sobre um assunto real, acabando por iluminar uma história real que, de tão confusa e complexa, era e é meio ficcional. Pode-se dizer que a realidade é a mina de ouro da literatura, porém é preciso escavá-la o mais fundo possível para torná-la ficcional. A imaginação recria a realidade, tornando-a mais luminosa, o que não é o mesmo que copiá-la ou imitá-la (mimese não é isto).
No caso do irmão de Chico Buarque, com uma história “curta”, sem dados para sustentar uma biografia precisa, a imaginação é o instrumento mais eficaz para criar uma lógica, ou uma história. O autor de “Estorvo” e “Leite Derramado” decidiu “revelar” quem é o irmão. Adotado, Sergio Ernst mudou de nome, passando a ser chamado de Horst Günther. Aos 22 anos, retomou o prenome inicial, Sergio, mas manteve o sobrenome, Günther.
Na década de 1950, o jornalista Sergio Günther se aventurou pelas artes, na televisão estatal da Alemanha Oriental, a Deutscher Fernsehfunk. Além de gravar discos, pois era cantor — “a voz dele era única, muito grave e sonora, e as pessoas reconheciam-na imediatamente, disse o radialista Siggi Trzoss à “Folha de S. Paulo” —, participou de programas de variedade. Era tido como mulherengo — casou-se quatro vezes e teve dois filhos. “Meu avô trabalhou para a TV, cantava muito bem e tinha carisma”, diz Josepha Prügel, neta de Sergio Günther e bisneta de Sérgio Buarque. O comunista Sergio Günther não assistiu a queda do muro de Berlim, em 1989. Morreu antes. As famílias Günther e Buarque de Holanda hoje estão próximas.
A partir de certo momento, Chico Buarque sentiu um certo bloqueio e não conseguia mais escrever o romance. Pediu apoio ao editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz. Este buscou a ajuda do historiador Sidney Chalhoub, que estava na Alemanha. Chalhoub pôs o historiador brasileiro João Klug e o museólogo alemão Dieter Lange no caminho de Chico Buarque e a história “cresceu”. Para romper o bloqueio em definitivo, Schwarcz sugeriu a leitura de “Austerlitz”, do escritor alemão W. G. Sebald. O brasileiro leu também “Paris — A Festa Continuou”, do jornalista Alan Riding.
“O Irmão Alemão” chega às livrarias com uma edição de 70 mil exemplares. No domingo, 16, estive na Livraria Cultura, a do shopping Casa Park, em Brasília, e os funcionários me disseram que era um dos livros mais procurados da semana. Mas ainda não estava exposto.
Se publicado na Alemanha, o livro certamente se tornará best seller e possivelmente será adaptado para o cinema, lá, aqui ou, quem sabe, em Hollywood.

O resultado da 56º edição do Prêmio Jabuti foi divulgada na última quinta-feira (16/10) deu destaque a Marina Colasanti, que concorria na categoria de literatura infantil, e o mineiro Rubem Fonseca, na categoria de contos e crônica. A curadoria desta edição foi conduzida pela professora de Literatura da Universidade Presbeteriana Mackenzie e na Unicamp, Marisa Lajolo. Confira o resultado abaixo: Capa 1ºlugar – Título: A São Paulo de German Lorca = The São Paulo of German Lorca – Capista: Edson Lemos – Editora: Imesp 2ºlugar - Título: Graffiti fine art – Capista: Raquel Matsushita – Editora: Sesi 3ºlugar - Título: MURPHY – Capista: PAULO ANDRÉ CHAGAS – Editora: Cosac & Naify Edições Ilustração 1ºLugar – Título: BRASIL – Imagens sob a Ótica da Artista Meire de Oliveira – Ilustrador(a): Meire de Oliveira – Editora: MEIRE DE OLIVEIRA 2ºLugar - Título: Storynhas – Ilustrador(a): Laerte – Editora: Companhia Das Letras 3ºLugar - Título: DECAMERON: GIOVANNI BOCCACCIO – Ilustrador(a): ALEX CERVENY – Editora: Cosac & Naify Edições Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil 1ºLugar - Título: Bárbaro – Ilustrador(a): Renato Moriconi – Editora: Companhia Das Letras 2ºLugar - Título: NANINQUIÁ – A MOÇA BONITA – Ilustrador(a): Ciça Fittipaldi – Editora: Editora Dcl 3ºLugar - Título: Conselho – Ilustrador(a): Odilon Moraes – Editora: Gráfica Editora Stamppa/ Escrita Fina Ediçõe/ Tinta Negra Bazar Editorial Arquitetura e Urbanismo 1º Lugar – Titulo: As Minas de Ouro e a formação das Capitanias do Sul – Autor: Nestor Goulart Reis Filho – Editora: Via das Artes 2º Lugar – Titulo: Preservação e Restauro Urbano: Intervenções em Sítios Históricos Industriais – Autor: Manoela Rossinetti Rufinoni – Editora: Editora Fap-Unifesp 3º Lugar – Titulo: Cidadela da Liberdade: Lina Bo Bardi e o Sesc Pompéia – Autores: Andre Vainer e Marcelo Ferraz – Editora: Edições Sesc SP Artes e Fotografia 1º Lugar – Título: Walter Zanini: escrituras críticas – Autor: Cristina Freire (organizadora) – Editora: Annablume editora e comunicação 2º Lugar - Título: MARCELLO GRASSMANN 1942-1955 – Autor: Mayra Laudanna; Leon Kossovitch – Editora: Editora da Universidade de São Paulo 3º Lugar - Título: Norberto Nicola: trama ativa = Norberto Nicola: living texture – Autor: Denise Mattar – organizadora – Editora: Imesp Biografia 1º Lugar – Título: Getúlio – Do governo provisório à ditadura do Estado Novo (1930-1945) – Autor: Lira Neto – Editora: Companhia Das Letras 2º Lugar - Título: Wilson Baptista: o samba foi sua glória! – Autor: Rodrigo Alzuguir – Editora: Casa da Palavra 3º Lugar - Título: O castelo de papel – Autor: Mary del Priore – Editora: Editora Rocco Ciências Exatas, Tecnologia e Informática 1ºLugar – Título: Estrutura atômica, ligações e estereoquímica – Autor: Henrique Eisi Toma – Editora: Editora Edgard Blucher 2ºLugar - Título: O cerne da matéria – A aventura científica que levou à descoberta do bóson de Higgs – Autor: Rogério Rosenfeld – Editora: Companhia Das Letras 3ºLugar - Título: Ciência do futuro e futuro da ciência: redes e políticas de nanociência e nanotecnologia no Brasil – Autor: Jorge Luiz dos Santos Junior – Editora: Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Ciências Humanas 1º Lugar - Título: O Mapa que Inventou o Brasil – Autor: Júnia Ferreira Furtado – Editora: versal Editores 2º Lugar - Título: Atlântico: A história de um oceano&34; [editora Civilização Brasileira] – Autor: Francisco Eduardo Alves de Almeida, Francisco Carlos Teixeira da Silva e Karl Schurster de Sousa Leão – Editora: Editora José Olympio 3º Lugar - Título: Compêndio de Ciência da Religião – Autor: Frank Usarski e João Décio Passos – Editora: Editora Paulinas Ciências Naturais 1º Lugar – Título: Livro Vermelho da Flora do Brasil – Autor: Gustavo Martinelli e Miguel Avila Moraes (orgs.) – Editora: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial Ltda. 2º Lugar - Título: PEIXES DO RIO MADEIRA – Autor: vários – Editora: Dialeto Latin American Documentary. 3º Lugar - Título: Guia dos Anfíbios da Mata Atlântica – Diversidade e Biologia – Autor: Célio F. B. Haddad et al. – Editora: Anolis Books Ciências da Saúde 1º Lugar – Título: TRATADO DE ONCOLOGIA – Autor: PAULO MARCELO GEHM HOFF – Editora: Editora Atheneu 2º Lugar - Título: MEDICINA RESPIRATÓRIA – Autor: CARLOS ALBERTO DE CASTRO PEREIRA – Editora: Editora Atheneu 3º Lugar -Título: MEDICINA INTENSIVA FUNDAMENTOS E PRÁTICA – Autor: DANTE SENRA – Editora: Editora Atheneu Comunicação 1º Lugar – Título: Mídia e política na América Latina – Globalização, democracia e identidade&34; [editora Civilização Brasileira] – Autor: Carolina Matos – Editora: Editora José Olympio 2º Lugar – Título: Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. – Autor: Lucia Santaella – Editora: Paulus Editora 3º LugarTítulo: O rosto e a máquina: o fenômeno da comunicação visto dos ângulos humano, medial e tecnológico. – Autor: Ciro Marcondes Filho – Editora: Paulus Editora Contos e Crônicas 1ºLugar – Título: Amálgama – Autor: Rubem Fonseca – Editora: Nova Fronteira 2ºLugar - Título: Você verá – Autor: Luiz Vilela – Editora: Editora Record 3ºLugar - Título: Nu, de botas – Autor: Antonio Prata – Editora: Companhia Das Letras 3ºLugar - Título: Um solitário à espreita – Autor: Milton Hatoum – Editora: Companhia Das Letras Didático e Paradidático 1º Lugar – Título: Alfabeto escalafobético – Autor: Claudio Fragata – Editora: Jujuba Editora 2º Lugar - Título: Para ler e ver com olhos livres – Autor: Flávia Aidar e Januária Cristina Alvesibi – Editora: Nova Fronteira 3º Lugar - Título: Crônicas da norma pequenas histórias gramaticais – Autor: Blandina Franco, José Carlos Lollo e Gabriel Perissé – Editora: Callis Editora Direito 1º Lugar – Título: Como decidem as cortes?: para uma crítica do direito (brasileiro) – Autor: José Rodrigo Rodriguez – Editora: Fundacao Getulio Vargas 2º Lugar – Título: Série IDP – Comentários à Constituição do Brasil – Autor: Ingo Wolfgang Sarlet, Lenio Luiz Streck, Gilmar Ferreira Mendes, Léo Ferreira Leoncy (coords.) – Editora: Editora Saraiva 3º Lugar – Título: Fundamentos para uma teoria jurídica das políticas públicas – Autor: Maria Paula Dallari Bucci – Editora: Editora Saraiva Economia, Administração e Negócios 1º Lugar – Título: Os limites do possível – A economia além da conjuntura – Autor: André Lara Resende – Editora: Companhia Das Letras 2º Lugar – Título: O futuro da indústria no Brasil [editora Civilização Brasileira] – Autor: Edmar Bacha e Monica de Bolle – Editora: Editora José Olympio 3º Lugar – Título: MONARQUIA, LIBERALISMO E NEGÓCIOS NO BRASIL: 1780-1860 – Autor: Izabel Andrade Marson; Cecília H. de S. Oliveira – Editora: Editora da Universidade de São Paulo Educação 1º Lugar – Título: Tenho um aluno surdo, e agora? Introdução à Libras e educação de surdos – Autor: Cristina B F Lacerda e Lara F Santos (Orgs) – Editora: Edufscar – Editora Da Universidade Federal De São Carlos 2º Lugar – Título: Aberturas para história da educação – Autor: Dermeval Saviani – Editora: Editora Autores Associados 3º Lugar – Título: Na trilha da gramática – conhecimento linguístico na alfabetização e letramento – Autor: Luiz Carlos Travaglia – Editora: Cortez Gastronomia 1ºLugar – Título: EXPEDIÇÃO BRASIL GASTRONÔMICO – MG-RJ-PE-CE-RN-AM – Autor: Guta Chaves; Dolores Freixa – Editora: Editora Melhoramentos 2ºLugar - Título: Os banquetes do Imperador – Autor: FRANCISCO LELLIS E ANDRÉ BOCCATO – Editora: Senac – Serviço Nacional De Aprendizagem Comercial 3ºLugar - Título: Sou barista – Autor: CONCETTA MARCELINA E CRISTIANA COUTA – Editora: Senac – Serviço Nacional De Aprendizagem Comercial Infantil 1º Lugar – Título: Breve história de um pequeno amor – Autor: Marina Colasanti – Editora: Editora Ftd 2º Lugar - Título: Da Guerra dos Mares e das Areias: fábula sobre as marés – Autor: Pedro Veludo – Editora: Editora Quatro Cantos 3º Lugar - Título: Poemas que escolhi para crianças – Autor: Ruth Rocha – Editora: Editora Moderna Juvenil 1º Lugar – Título: Fragosas Brenhas do Mataréu – Autor: Ricardo Azevedo – Editora: Ática Editora 2º Lugar - Título: As gêmeas da família – Autor: Stella Maris Rezende – Editora: Editora Globo 3º Lugar - Título: UMA ESCURIDÃO BONITA – Autor: ONDJAKI – Editora: Pallas Editora Poesia 1º Lugar – Título: Bernini – poemas 2008-2010 – Autor: Horácio Costa – Editora: Horácio Costa 2º Lugar - Título: Jardim das delícias – Autor: Marcus Vinicius Quiroga – Editora: Marcus Vinicius Quiroga 3º Lugar – Título: XIMERIX – Autor: ZUCA SARDAN – Editora: Cosac & Naify Edições Psicologia e Psicanálise 1º Lugar – Título: O AVESSO DO IMAGINÁRIO – Autor: TANIA RIVERA – Editora: Cosac & Naify Edições 2º Lugar - Título: Antígona e a ética trágica da psicanálise – Autor: Ingrid Vorsatz – Editora: Zahar Editora 3º Lugar - Título: “Onde tudo acontece – Cultura e psicanálise no século XXI” [editora Civilização Brasileira] – Autor: Giovanna Bartucci – Editora: Editora José Olympio Reportagem 1º Lugar – Título: 1889 – Autor: Laurentino Gomes – Editora: Editora Globo 2º Lugar - Título: Holocausto brasileiro – Autor: Daniela Arbex – Editora: Geração Editorial 3º Lugar -Título: Um gosto amargo de bala [editora Civilização Brasileira] – Autor: Vera Gertel – Editora: Editora José Olympio Romance 1º Lugar – Título: Reprodução – Autor: Bernardo Carvalho – Editora: Companhia Das Letras 2º Lugar - Título: A maçã envenenada – Autor: Michel Laub – Editora: Companhia Das Letras 3º Lugar - Título: OPISANIE ŚWIATA – Autor: VERONICA STIGGER – Editora: Cosac & Naify Edições Teoria/Crítica Literária 1º Lugar – Título: Fervor das vanguardas – Autor: Jorge Schwartz – Editora: Companhia Das Letras 2º Lugar - Título: ABENÇOADO & DANADO DO SAMBA: Um Estudo sobre o Discurso Popular – Autor: Ricardo Azevedo – Editora: Editora da Universidade de São Paulo 3º Lugar - Título: Melancolias, Mercadorias – Autor: Walter Garcia – Editora: Ateliê Editorial Projeto Gráfico 1º Lugar – Título: DECAMERON: GIOVANNI BOCCACCIO – Responsável pelo projeto gráfico: ELAINE RAMOS; TEREZA BETTINARDI – Editora: Cosac & Naify Edições 2º Lugar -Título: ESOPO – FÁBULAS COMPLETAS – Responsável pelo projeto gráfico: FLÁVIA CASTANHEIRA – Editora: Cosac & Naify Edições 3º Lugar -Título: MARCELLO GRASSMANN 1942-1955 – Responsável pelo projeto gráfico: Eunice Liu; Carla Fernanda Fontana – Editora: Editora da Universidade de São Paulo Tradução 1º Lugar – Título: A anatomia da melancolia – Tradutor(a): Guilherme Gontijo Flores – Editora: Editora UFPR 2º Lugar - Título: Antologia da poesia clássica chinesa – Tradutor(a): Ricardo Primo Portugal – Editora: Unesp 3º Lugar - Título: O capital: crítica da economia política, Livro I: O processo de produção do capital – Tradutor(a): Rubens Enderle – Editora: Boitempo Editorial Tradução de Obra Literaria Inglês-Português 1º Lugar - Título: Vênus e Adônis – Tradutor(a): Alípio Correia de Franca Neto – Editora: Leya Brasil 2º Lugar – Título: Contos da Cantuária – Tradutor(a): José Francisco Botelho – Editora: Companhia Das Letras 3º Lugar - Título: Ao farol – Tradutor(a): Denise Bottmann – Editora: L&PM EDITORES

A obra, recém divulgada, terá seu lançamento na próxima quarta-feira (15/10), às 17h, no Evoé Café com Livros, na Galeria Central, em Goiânia

[caption id="attachment_17718" align="alignleft" width="620"] Vassili Grosman (à esquerda): o escritor russo que foi perseguido pelo stalinismo. Lezama Lima é, disparado, o maior escritor de Cuba. E era bom poeta. Já Donna Tartt, discípula de Dickens, é autora de uma prosa refinada | Fotos: Divulgação[/caption]
Os ombudsmen Carlos Wilson e Arthur de Lucca perguntam: “Qual o melhor romance do ano?” Difícil responder, porque não li a maioria dos romances publicados no Brasil em 2014. Mas como os dois insistem e garantem que, se eu não responder, não vão mais me ajudar a escrever a coluna Imprensa, vou arriscar a apresentar um breve comentário.
O melhor romance do ano? Talvez não seja apenas um, e sim dois — “Paradiso”, de Lezama Lima, e “Vida e Destino”, de Vassili Grossman — ou talvez três.
“Paradiso” é uma espécie de “Grande Sertão: Veredas” de Cuba. É “o” romance cubano. Nenhum outro, seja de Alejo Carpentier e Cabrera Infante, chega aos seus pés de diamante. O livro chega ao Brasil em duas traduções, o que é muito bom. As responsáveis pelas versões patropis são as poetas Josely Vianna Baptista e Olga Savary. Só mesmo poetas, seres que dançam pelas palavras e dialogam com o inescrutável, têm condições de traduzir à perfeição a prosa intrincada e, às vezes, amarrada de Lezama Lima. Acima de tudo, uma prosa iluminada. Li a tradução anterior, feita por Josely Vianna Baptista, que é um primor. Ela não revisou a tradução que sai pela Editora Estação Liberdade. Fez uma tradução nova. A tradução de Olga Savary saiu pela Editora Martins.
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"Vida e Destino" talvez seja o melhor romance sobre a Segunda Guerra Mundial. “Paradiso” é o “Grande Sertão: Veredas” da literatura de Cuba. "O Pintassilgo" romance mistura de maneira brilhante “estilos” e “tempos”[/caption]
“Vida e Destino” é simplesmente o maior romance russo do século 20. Uma obra-prima incontornável. Liev Tolstói e Turguêniev, por certo, a aprovariam. “Doutor Jivago” (de Boris Pasternak), que não é ruim, apesar das críticas negativas, que às vezes não querem perceber que se trata de um romance do século 19 escrito e publicado no século 20, não chega à canela do livro de Grossman, que, perseguido pelo stalinismo, não conseguiu publicá-lo. O livro foi editado, depois de sua morte, em tempos políticos mais amenos na União Soviética.
Em segundo (ou terceiro?) lugar, embora Carlos Wilson e Arthur de Lucca não tenham perguntado, citaria o romance “O Pintassilgo”, da americana Donna Tartt. É um belo romance que mistura, prazerosamente, ideias e personagens dos séculos 19, 20 e 21. É uma catedral do século 19 com personagens do século 21. Aqui e ali, o livro pode aparecer lento e enviesado, menos leve e luminoso do que a prosa de Charles Dickens, o herói de la Tartt, mas leitores que leem por prazer, sem se preocupar com firulas acadêmicas, com invencionismos de linguagem, vão se apaixonar. Livro bom é o que nos põe de quatro, servos eternos, e nos agarra e nos força a ir até a última página, sem saltar capítulos. É o caso de “O Pintassilgo”.
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Editora Alfaguara lança o notável romance Vida e Destino, de Vassili Grossman. Stalinismo retardou a publicação do livro

Publicação, da editora Desfecho, é a primeira de uma série de quatro livros a serem lançados pelo artista Hazuk Peres. Romance narra uma história que aborda os costumes de uma época em detrimento da liberdade de 13 meninos, dos quais um começa a questionar sua condição de aprisionado e motiva os demais a refletirem sobre suas vontades

Montado pela R&F Editora, o espaço já recebe grande número de visitas. O público estimado nesta edição da bienal é de 800 mil pessoas

O autor, além de escrever prosa, poesia e teatro, era apaixonado pela literatura brasileira
[caption id="attachment_12943" align="alignleft" width="233"] Júlio Dantas, um dos maiores escritores portugueses, escreveu histórias comparáveis à melhor prosa de
Alexandre Herculano e Eça de Queiroz[/caption]
Júlio Dantas (1876-1962) foi um dos escritores portugueses de maior produção literária, embora grande parte de sua fama venha apenas de uma pequena peça teatral, traduzida para uma vintena de línguas: “A Ceia dos Cardeais” (1902).
Médico que praticava a medicina, Júlio Dantas escreveu teatro, romances, história, poesia, contos e crônicas. Traduziu Shakespeare para o português. Foi deputado e diplomata. Casou-se aos 66 anos, e viveu até os 86. Além da vasta obra que viu publicada, três livros seus são póstumos: “Revoada das Musas” (1965), “Lisboa de Nossos Avós” (1966) e “Páginas de Memórias” (1968).
Seu livro “Pátria Portuguesa” (1914) reúne um grupo de novelas históricas que vão da formação de Portugal, no século XII, até a era dos descobrimentos, contando, em linguagem entre atraente e emocionante, os principais episódios da epopeia portuguesa que elevou o pequeno país a nível de império. É uma das mais belas e importantes obras no gênero, que não fica atrás das escritas por Alexandre Herculano, Eça de Queiroz ou Henrique Lopes de Mendonça.
Júlio Dantas tinha muitos laços com o Brasil, atados pela literatura e pela diplomacia. Cultivou muitas amizades brasileiras. Viu seus livros exportados para cá ou editados aqui, onde nunca lhe faltaram leitores. Foi condecorado pelo governo brasileiro com a comenda da Ordem do Cruzeiro do Sul e era membro honorário da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Medicina do Rio de Janeiro.
No seu livro “Eles e Elas” (1918), Júlio Dantas, mais que comenta, festeja o livro de Martins Fontes — “O Verão” —, lançado naquele ano, e dedica ao poeta brasileiro todo um capítulo. Lembra, no comentário, outros poetas patrícios: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correa, Luiz Murat; e os prosadores Coelho Neto e Euclides da Cunha.
Em outro livro, “Mulheres” (1916), Júlio Dantas comenta o livro “Trovas Populares”, reunião folclórica feita por Afrânio Peixoto, e a poesia de Catulo da Paixão Cearense, que lhe causou enorme impressão, a ponto dele se referir a Catulo como “Vergílio caboclo”, adaptar algumas trovas para o português clássico e divulgá-las, quando a intelectualidade portuguesa nelas encontrou similitude com a obra do famoso poeta luso Antônio Correia de Oliveira (1879-1960).
Em “Páginas de Memórias”, Júlio Dantas faz muitas menções afetuosas ao Brasil, que visitou várias vezes, a primeira em 1923. Dedica um capítulo a sua atuação no diário carioca “Correio Da Manhã”, onde escrevia a convite de Edmundo Bittencourt, fundador do jornal e seu amigo. O escritor dizia que de todas as profissões que havia exercido, a mais gratificante ao espírito era a de jornalista. “Não sei de função mais nobre, nem de magistratura mais elevada do que aquela que se destina a dirigir a opinião, a esclarecer as inteligências, a elevar os corações, a estimular as energias coletivas, a acordar na alma do povo sentimentos generosos, a formar nas consciências o culto da justiça, da fraternidade, da ordem e da paz”, dizia.
(A opinião é diametralmente oposta à que têm os radicais de esquerda incrustados hoje no governo brasileiro. Não veem nobreza na atividade jornalística independente, a ponto de agredirem até jornalistas que lhes dedicam simpatia, como a colunista de economia Miriam Leitão. Para eles, simpatia é pouquíssimo. A orfandade do stalinismo só aceita a subserviência. Afinal, Stálin reunia no Kremlin a nata da literatura soviética, para dizer a ela o que escrever. E a desobediência acabava no Gulag, na Lubianka ou no paredão.)
Voltemos a Júlio Dantas. Ainda em “Páginas de Memórias”, o ilustre português conta como conheceu Olavo Bilac, de quem ele admirava já de sobra a obra poética. Foi na última viagem de Bilac à Europa (1916?), na visita que o poeta patrício fez à Academia de Ciências de Lisboa. A admiração, diga-se, era mútua. Festejaram terem se conhecido pessoalmente e o encontro redundou em amizade e correspondência. Mas Bilac morreu logo depois (em 1918), bem antes de Júlio Dantas.
No mesmo “Páginas de Memórias”, Júlio Dantas conta ainda como foi assinado o acordo Brasil-Portugal para a unidade da língua portuguesa escrita. Foi um trabalho de Fernando de Magalhães, presidente da Academia Brasileira de Letras, e do próprio Júlio Dantas, presidente da Academia de Ciências de Lisboa, que coroou o acordo, assinado em 30 de abril de 1931 pelos dois presidentes e pelos embaixadores José Bonifácio de Andrada e Silva, do Brasil em Portugal, e Duarte Leite, de Portugal no Brasil.
(Curiosidade: os presidentes das academias, por cuja força firmou-se o acordo ortográfico, não eram filólogos. Sequer eram homens formados em letras. Eram ambos médicos.)
No conjunto do trabalho de Júlio Dantas, parece ter sido a obra poética a parte menos expressiva. Talvez por isso apreciava muito a poesia, e seguia o que de bom se imprimia em Portugal e no Brasil. Comentava, como dissemos acima, em seus livros e trabalhos jornalísticos, a produção dos novos poetas que lhe parecessem promissores.
Em outro livro, “Abelhas Doiradas” (1920), dedica uma crônica ao poema “Juca Mulato”, de Menotti Del Picchia, impressionado ao ponto de vaticinar sobre o poeta: “Fixem este nome. Ou me engano, ou há de ser, amanhã, o de um dos maiores poetas brasileiros”. Não se enganava.
Falei antes na peça “A Ceia dos Cardeais”. Se o leitor nunca a viu representada, e se tiver a grata oportunidade, não a perca. Não é à toa que essa pequena peça, em um único ato, com três atores apenas, é um estrondoso sucesso — é a peça escrita em língua portuguesa mais traduzida e mais representada em todo o mundo, mesmo hoje, mais de um século depois de sua primeira apresentação.
Escrita em apenas oito dias, a pedido de um nobre português para uma noite de homenagens, junto com outras peças curtas, a um ator lisboeta famoso, ela é uma obra-prima de cenografia, monólogo e psicologia. Embora os personagens sejam três cardeais que ceiam em deslumbrante cenário interior ao Vaticano, o tema é o amor. E a visão que dele têm — ou teriam — e revelam em aprimorados monólogos, os espanhóis, encarnados no Cardeal Rufo, os franceses, no caso representados pelo Cardeal de Montmorency e os portugueses, no sentimento do camerlengo Cardeal Gonzaga e sua surpreendente visão amorosa. Júlio Dantas escreveu uma vintena de peças, e entre elas várias são apreciáveis. Mas “A Ceia dos Cardeais” é uma obra-prima, uma centelha perene de gênio. (No site do jornal, transcrevo a peça para deleite do leitor.) Publico, a seguir, dois poemas do escritor português.