Imprensa

A revista “Veja” continua saindo na frente das demais publicações — jornais ou revistas. Na edição desta semana, revela detalhes da “delação premiada” de Paulo Roberto Costa, o homem que, com o auxílio de um doleiro, políticos e empreiteiros, saqueou a Petrobrás.
Falam bem ou mal, mas a revista permanece pautando a imprensa, fazendo-a comentar suas reportagens. Enquanto a “Folha de S. Paulo” circulava sem o nome dos denunciados por Paulo Roberto, a Veja nominava e listava os políticos envolvidos na corrupção.
A revista publicou o listão dos que foram delatados por Paulo Roberto:
Cândido Vaccarezza, deputado federal do PT
Ciro Nogueira, senador e presidente nacional do PP
Edison Lobão, ministro das Minas e Energia, PMDB
Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, PSB — morto no mês passado em um acidente aéreo
Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados, PMDB
João Pizzolatti, deputado federal do PT
João Vaccari Neto, secretário nacional de finanças do PT
Mario Negromonte, ex-ministro das Cidades, PP
Renan Calheiros, presidente do Senado, PMDB
Romero Jucá, senador do PMDB
Roseana Sarney, governadora do Maranhão, PMDB
Sergio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, PMDB
Paulo Roberto relatou à Polícia Federal, segundo a “Veja”, que era interlocutor frequente de Lula da Silva, quando este era presidente da República.
Raymond Chandler é o James Joyce do romance policial. O escritor americano aos poucos vai entrando para a lista de escritores requintados, tais sua habilidade narrativa e sua imaginação poderosa. Sua história complexa é esmiuçada no livro “Raymond Chandler — Uma Vida” (Benvirá, 456 páginas, tradução de Fábio Storino), de Tom Williams. Chandler é tão bom quanto Dashiell Hammett, Georges Simenon, P. D. James, Ruth Rendell e Patricia Highsmit. Talvez seja um pouco mais enigmático e, vá lá, complicado. Sinopse da editora: a biografia “apresenta uma análise meticulosa dos livros de Raymond Chandler bem como um retrato inédito desse escritor que, ao lado de Agatha Christie e Arthur Conan Doyle, definiu a moderna literatura policial. “Cada um dos livros de Raymond Chandler carrega a tensão que cercou sua vida – a infância conturbada com a separação dos pais, a profunda inabilidade com sexo e mulheres e a luta contra o alcoolismo. Não para menos, seu detetive Philip Marlowe é um dos personagens mais complexos dos romances hard-boiled — herdeiro provável do temperamento de seu criador.” Entrou para minha lista penelopiana. Lista que, como indica o “nome”, é feita e desfeita com frequência.
As oposições criticam o blog Goiás 24 Horas, que é apontado como governista. Tudo bem: que seja. Mas por que as oposições não conseguem criar um blog com a mesma inteligência e rapidez para discutir, apoiar e contestar os fatos? Vanderlan Cardoso, Antônio Gomide e Iris Rezende não conseguiram montar estruturas precisas, cortantes e inteligentes na internet, sobretudo nas redes sociais.
Iúri Rincon Godinho O Terceiro Reich foi uma loucura. Enquanto dominavam a Alemanha, os nazistas desenvolveram uma predileção pelo misticismo ou por qualquer bobagem que os colocasse como uma raça superior e, daí, estavam liberados para ser a polícia e donos do mundo. Nesse caldo de esquisitices, é claro que surgiram excentricidades como Erik Jan Hanussen, um vidente que se aproximou de Hitler e de alguns de seus auxiliares. Ele fazia de tudo: adivinhava, previa e, acima de tudo, ganhava muito dinheiro. Seus feitos impressionavam e estão contados em “A Sessão Nazista – A Curiosa História do Vidente Judeu No Círculo de Hitler”. Hanussen fazia apresentações que hoje seriam chamadas de mágica e o autor, Arthur J. Magida, muitas vezes não consegue explicar como o vidente acertava algumas coisas ou fazia outras. Uma teoria, tão maluca quanto o livro, é que Hanussen sentia, ou melhor, “lia” o pulso e as respostas dos músculos das pessoas para fazer suas adivinhações. Erik chegou a ser uma das figuras mais famosas da Alemanha nazista, embora não se saiba com certeza o que era verdade e o que ele inventava — suas histórias da juventude, verdadeiras ou não, são fantásticas. Ficou milionário, dizia-se que dava homéricos bacanais em seu iate, com altos figurões do Reich. E ostentava sem medo. Fundou um jornal, que apoiava Hitler. Mas chegou perto demais da boca do lobo. Autossuficiente, confiante, achou que podia esconder seu verdadeiro nome, Hermann Steinschneider. Um judeu. E, como se sabe, os judeus não tiveram muita sorte na Europa durante o nazismo. Magida, o autor, parece fascinado pelo personagem, a ponto de procurar sua única filha viva, e que viu o pai apenas durante algumas horas. Mulherengo, o vidente trocava de mulher, de amigos e de truques. Impressionava muita gente, o que não foi suficiente, pois acabou preso e morto pelos lobos nazistas com os quais se acostumara a dançar. Iúri Rincon Godinho é publisher da agência Contato Comunicação.
A revista “Veja” publica, na edição que vai para as bancas no sábado — em Goiânia, no domingo, 7 —, uma reportagem exclusiva sobre o ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobrás Paulo Roberto Costa, parceiro do doleira Alberto Youssef num poderoso esquema de lavagem de dinheiro. “O delator fala” é o título da revista. Aceitando o recurso da delação premiada, Costa decidiu contar tudo — ou quase. É provável que tenha revelado o esquema mafioso para “sobreviver”. Certamente não quer ser um novo Celso Daniel.
Nas 42 horas de gravações — que não terminaram —, Costa contou à Polícia Federal que “três governadores, seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25 deputados federais embolsaram ou tiraram proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da” Petrobrás, revela a revista.
Costa disse à PF, segundo relato da “Veja”, “que as empreiteiras contratadas pela companhia tinham, obrigatoriamente, que contribuir para um caixa paralelo cujo destino final eram partidos e políticos de diferentes partidos da base aliada do governo”.
Ele sugeriu que suas declarações podem impedir a eleição deste ano. É um exagero. Mas possivelmente alguns políticos devem retirar suas candidaturas, pois, se não o fizeram, correm o risco de serem derrotados nas urnas.
Nas gravações, Costa lista políticos do PT, do PP e do PMDB envolvidos no esquema.
A revista Forbes lista os maiores bilionários do país. Há até um cineasta e dono da revista “Piauí”
Podem falar mal. Podem falar bem. O fato é que o site Goiás 24 Horas não deixa ninguém indiferente. Seus redatores seguem o estilo pauleira, às vezes chique, de Bernard Shaw, Karl Kraus e H. L. Mencken. São divertidos, cáusticos e inteligentes. Virou febre e, dizem, é mais lido por aqueles que amam odiá-lo.
O site é demolidor. Dizem que é parcial, que não é independente. Não é. Mas quem acredita mesmo em independência jornalística costuma acreditar em fábula, curupira, saci- pererê, mula de duas cabeças e até em alma penada.
O diretor de redação da revista “CartaCapital”, Mino Carta, assumiu que apoia a candidatura da presidente Dilma Rousseff, do PT. Não há problema algum. A revista não piora nem melhorar devido a sua adesão ao PT e ao Lulopetismo.
A “Veja” e a “Folha de S. Paulo” apoiavam Aécio Neves. Escrevi “apoiavam”? Ah, sim, os proprietários e editores das duas publicações abandonaram a candidatura do senador mineiro e não sabem se ficam com Dilma Rousseff, a previsível (apesar da tentativa de controlar a imprensa), ou, por realismo, com Marina Silva, a incógnita. Na dúvida, ficam de olho nas pesquisas.
No jornalismo televisual é difícil dizer que há alguém com mais experiência do que a mineira Alice-Maria Tavares Reiniger, de 69 anos. A qualidade o jornalismo da TV Globo deve muito à competência e ao profissionalismo de Alice-Maria, que decidiu se aposentar, nesta semana, depois de uma carreira intensa e produtiva na Rede Globo.
Alice-Maria — que, ao modo de Gustave Flaubert, poderia dizer “o jornalismo da Globo sou eu” — formou-se em jornalismo na Faculdade Nacional de Filosofia (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em 1966, e nesse ano entrou para a Rede Globo de Televisão como estagiária. Lá, dadas sua competência e responsabilidade, se tornou a primeira mulher a assumir o cargo de diretora-executiva da Central Globo de Jornalismo. A criação do Jornal Nacional, da qual foi editora-chefe, passou por suas mãos. Criou também, com outros profissionais, como Armando Nogueira, o “Hoje”, o “Jornal da Globo”, o “Globo Repórter”, o “Globo Rural”, o “Bom Dia Brasil” e o “Fantástico”.
Em 1990, deixou, ao lado de Armando Nogueira, a Globo. Mas voltou em 1996 para implantar a GloboNews, outro sucesso do empreendimento da família Marinho graças, em larga medida, ao “dedo de ouro” de Alice-Maria.
A jornalista Janete Ferreira, uma workaholic, está deixando o cargo de gerente de Comunicações Eletrônicas na Agência de Comunicação do governo de Goiás (Agecom). Ela vai se dedicar à assessoria de imprensa para advogados. Ao mesmo tempo, estuda Direito e pretende ser promotora ou juíza. Obstinada como é, será o que quiser.
Você está deixando o jornalismo para se dedicar à advocacia?
Ainda não posso advogar, pois estou no terceiro período do curso de Direito. Vou assessorar advogados (na área da imprensa).
Estou com dr. Miguel Cançado [ex-presidente da OAB-Goiás], que me apresentou ao mundo jurídico, com o dr. Flávio Buonaduce e fechando com outros escritórios.
Estou ainda trabalhando no jornalismo mas me preparando para ser juíza ou promotora. Esta é minha meta.
Atendendo apelos de sua coordenação financeira, o candidato do PMDB a governador de Goiás, Iris Rezende, autorizou a demissão de 22 profissionais de sua equipe de comunicação. A maioria dos demitidos é de Brasília. Eles vieram para a campanha a convite do marqueteiro Dimas Thomas. Um peemedebista disse ao Jornal Opção que não haverá “calote”. “Todos vão receber.” Entre os demitidos estão produtoras, repórteres, cinegrafistas, assistentes de cinegrafistas, locutor e assistentes de produção. Todos foram demitidos — ou avisados da demissão — diretamente por Dimas Thomas. Um dado curioso: alguns dos demitidos trabalham na Prefeitura de Goiânia. Com autorização do prefeito Paulo Garcia, eles tiraram férias para trabalhar na campanha. Um peemedebista disse que, além da baixa produtividade dos demitidos, a coordenação vai priorizar a estrutura de campanha e a área de publicidade. “Vamos ampliar o espaço para a área publicitária.” Ele frisa que, com as demissões, vai sobrar mais dinheiro para comprar combustível para abastecer veículos que movimentam as carreatas e para contratar motoristas. As carreatas são vistas como prioridades absoluta, porque mostram que a campanha tem algum “volume”. O Jornal Opção ouviu dois profissionais demitidos. “Não se pode falar em baixa produtividade, principalmente porque as condições de trabalho eram muito difíceis. Falta tudo na campanha de Iris Rezende — de dinheiro a respeito. Parece que todos estão perdidos e comenta-se abertamente que o governador Marconi Perillo será reeleito no primeiro turno e que é preciso salvar pelo menos Ronaldo Caiado [candidato a senador pelo DEM]. Culpar os profissionais, que estavam fazendo o impossível para melhorar a imagem de Iris Rezende, não é justo”, afirma um dos afastados. “Ouvi que, como Iris Rezende vai perder mesmo, é preciso fazer uma campanha mais enxuta”, afirma outro demitido. “Nós estamos com medo de calote”, afirma.

[caption id="attachment_13919" align="alignleft" width="620"] Zilu Godói e o cantor sertanejo Zé Henrique: relacionamento terminado, mas maledicência não deixa a empresária em paz, pelo menos é o que diz l Zezé Di Camargo e Graciele Lacerda: o novo casal não sai das revistas, sites e redes sociais. Ao contrário de Zilu, eles não parecem insatisfeitos[/caption]
A maldade, a inveja e a burrice são as maiores multinacionais de todos os tempos. Os dramaturgos gregos, anteriores a Jesus Cristo, e Shakespeare, autor que viveu entre os séculos 16 e 17, escreveram peças seminais a respeito destas “desvirtudes” tão bem distribuídas entre os homens de todos os séculos. A internet não inventou nada — só potencializa os “problemas” descritos pelos gregos, Bíblia e Shakespeare (segundo Harold Bloom, o britânico inventou o homem moderno como o conhecemos). Porém, como deu voz instantânea a todos, produz uma certa barbárie — quiçá incontrolável. Na democracia, se têm direito ao voto, todos têm direito à palavra, à opinião — estapafúrdia ou não. O limite, quando aceito, é a lei. Como quase tudo é volátil na internet, raramente alguém colhe as diatribes que são ditas e decide mover processos judiciais. Pessoas com nomes falsos — ou verdadeiros, mas praticamente impossíveis de serem localizadas — dizem barbaridades e quase nada acontece. Documentar o absurdo é possível, mas localizar o autor é uma missão mais complicada. Num romance de rara excelência, “Reprodução”, o escritor Bernardo Carvalho faz uma radiografia corrosiva do mundo sem limites na internet. Não apenas anônimos são responsáveis pelos excessos — na prática, ataques brutais, eventualmente travestidos de humor. Há também figuras conhecidas, que, quando processadas e, às vezes, condenadas, saem com essa: “Era apenas humor”. A falta de humor é quase um crime, diriam Shakespeare, Bernard Shaw e H. L. Mencken. Mas qual humor? Mau humor, por certo. Grosseria é a regra.
Zilu Godói é mais conhecida como ex-mulher de Zezé Di Camargo e, ao ter sua vida privada devassada por sites e revistas de fofoca e redes sociais, paga um certo preço pela fama que, ansiosa e desesperadamente, buscou. Os artistas não-famosos e suas mulheres criam relações com a mídia, com o objetivo de se tornarem conhecidos, e depois, em alguns casos, tentam (parcialmente) cair fora. Aí é tarde. O pacto é faustiano. A mídia faz e, não raro, desfaz. A internet piora as coisas: a fofoca levemente divulgada num site “confiável” é potencializada e, depois, volta à publicação original, revitalizada. Zilu Godói, que sempre exibiu suas plásticas e bens com prazer, agora quer “recuar”. Talvez seja tarde. Muito tarde.
Entretanto, o fato de ter se tornado socialite e feito um “pacto” (tácito) para obter sucesso — Goethe (“Fausto”) e Thomas Mann (“Doutor Fausto”) certamente vibrariam com as agruras dos famosos atuais — não significa que Zilu Godói, não mais “Di Camargo”, não tenha direito e razão ao reclamar da “maldade”, às vezes articulada, de homens e mulheres que militam na internet. Como se fosse Bernardo Carvalho, ou Guy Debord, a quase-pensadora Zilu Godói escreveu (formula muito bem suas ideias), numa rede social, que “a internet é responsável por ‘tornar públicos os monstros existentes dentro das pessoas’”. A internet é o canal, os monstros somos todos nós.
“Uma das coisas que sempre me deixa pasma e triste é a capacidade humana, na verdade desumana, de julgar os outros de maneira implacável com base em impressões superficiais, ou ofender sem motivo algum, apenas pelo simples prazer de agredir”, escreveu Zilu Godói. O que difere o raciocínio de Zilu Godói do pensamento acadêmico é admitir que fica “pasma”. O sociólogo percebe a “crise” na internet como um “fenômeno” da contemporaneidade. A espetacularização da vida privada — e não apenas dos famosos — é o novo charme da internet com suas redes sociais, sites, blogs, aplicativos.
A “socióloga”, “psicóloga” ou “antropóloga” Zilu Godói continua: “A vida social se tornou infeliz e geralmente um imenso teatro coletivo, e considerando que a internet é, ao menos para mim, uma extensão do mundo real, não é difícil nos assustarmos ainda mais com a nossa chocante realidade que exala maldade. Na internet encontramos as pessoas mais próximas de como elas realmente são, sem a diplomacia exigida pelo cotidiano da vida ao vivo, e podemos ter uma ideia mais real da dimensão da intolerância e da violência que nos cerca real e virtualmente”.
Depois de concluir sua análise da sociedade moderna, Zilu Godói praticamente grita, gerando certa inveja em redutos consumistas: ‘Miami, me aguarde!” A saída da famosa é o aeroporto; a dos “mortais”, que têm de acompanhá-la a distância, são as redes sociais, notadamente o Facebook e o Twitter — misturas de divã, hospício, programa de humor, lupanar e parque de diversão.
O que, exatamente, fizeram com Zilu Godói? Os bárbaros não param de falar do relacionamento de Zezé Di Camargo com uma bela mulher, Graciele Lacerda, bem mais jovem do que a elegante Zilu Godói, e do fim do relacionamento entre a socialite e o cantor sertanejo Zé Henrique, tão jovem quanto a nova namorada do celebrado artista goiano. O elixir da juventude é a juventude. Zilu Godói, filósofa ou não, está certa. Somos, todos, responsáveis pelo monstro e o médico nos quais, diariamente, nos transformamos na internet. Seu único equívoco é eximir-se de alguma culpa. O diabo (ou o inferno) não são os outros. Somos nós.

[caption id="attachment_14196" align="alignleft" width="300"] “André” tem 9 anos e várias passagens pela polícia. Numa parede de sua casa, desenhou uma arma (ele adquiriu uma de brinquedo) Foto: Cristina Cabral/O Popular[/caption]
Cleomar Almeida, do “Pop”, fez uma série de reportagens impactantes sobre André, nome fictício, um criminoso de apenas 9 anos de idade, e sobre sua mãe, que busca ajuda para recuperá-lo. Depois da pressão do jornal, já que a da mãe não estava resolvendo, a ajuda dos órgãos públicos foi oferecida. Espera-se que não seja tarde demais — quase sempre é. O mundo do crime às vezes é prazeroso para meninos e adolescentes, talvez dada a possibilidade de aventuras. Mas acreditar que é possível “recuperar” um ser humano, sobretudo uma criança, faz parte da saudável crença do humanismo.
André é uma criança e, como mostra o repórter Almeida, gosta de brincar. Porém, como noutros casos, convivem num único ser um menino (que chora) e, pelas ações, um adulto (duro, implacável). O repórter pergunta: “Por que você está nem aí e pega coisas dos outros?” A resposta é precisa e mostra consciência: “Porque não dá nada”. “As pessoas têm medo de mim. Sei disso porque elas abrem um olhão quando fico mais próximo”, conta, possivelmente com certo prazer. Almeida percebeu que, quando não quer falar, André simula que está com sono. Ele “já acumula 20 passagens por envolvimento com crimes em Goiânia, como tráfico de drogas, furto e roubo”.
O repórter pergunta qual é seu maior sonho e André não titubeia: “Tinha vontade de ter pai. Só vi a foto dele”. O pai foi assassinado. A mãe não consegue orientá-lo e controlá-lo.
A função de um repórter é colher informações verdadeiras e divulgá-las. Almeida, profissional rigoroso, quer, com sua série de reportagens, ajudar André e sua mãe. Planeja ampará-los. As reportagens são explícitas sobre isso. Mas há pelo menos um problema.
André quase foi linchado por populares do bairro onde mora com a mãe e um irmão de 4 anos e estaria jurado de morte por traficantes. Independentemente do que disse ao repórter, que colheu e publicou suas palavras com o máximo de fidelidade, a situação de André é complicada.
Entretanto, trechos da entrevista agudizam os problemas do menino, que possivelmente, ao contar “vantagens”, não percebe a gravidade do que diz e o que isto pode representar para sua segurança e de sua família. Almeida quer saber onde “fica em Goiânia quando sai de casa e dorme fora” e o menino não hesita: “Na casa de um homem que tem droga. Ele também tem até aquele negócio preso na perna [tornozeleira; é um preso do semiaberto] com uma luzinha que só fica piscando. Ele não pode roubar, senão a polícia pega ele. Mas ele diz que a polícia não faz nada. (...) Tem um tantão de traficante que conheço que tem isso aí [tornozeleira] na perna. O resto, que conheço, não tem”. Para a criança, é uma conversa qualquer, sem nenhuma gravidade. Do ponto de vista do traficante, que vive fora da lei, representa uma “delação”, um “crime” que deve ser punido com uma sentença: a pena de morte.
Um traficante bateu no garoto. “Eu caguetei porque ele pegou minha bola e meus brinquedos. Peguei a bola, a bola estava rasgada e caguetei ele. Se não tivesse feito isso, não teria caguetado ele para a polícia”, relata André. “Ele falou na delegacia que, quando sair, vai me matar. Mas os policiais falaram que ele não vai sair mais não”, conta, inocente.
É óbvio que Almeida quer apenas ajudar André e sua família. Mas a reportagem pode agudizar a possibilidade de traficantes matarem o menino.
Vale a pena ler um trecho do livro “O Jornalista e o Assassino”, da notável jornalista (da “New Yorker”) e escritora Janet Malcolm: “Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável. Ele é uma espécie de confidente, que se nutre da vaidade, da ignorância ou da solidão das pessoas. Tal como a viúva confiante, que acorda e descobre que aquele rapaz encantador e todas as suas economias sumiram, o indivíduo que consente ser tema de um escrito não ficcional aprende — quando o artigo ou o livro aparece — a sua própria dura lição. Os jornalistas justificam a própria traição de várias maneiras, de acordo com o temperamento de cada um. Os mais pomposos falam de liberdade de expressão e do ‘direito do público a saber’; os menos talentosos falam sobre a Arte; os mais decentes murmuram algo sobre ganhar a vida”. Almeida deveria ler o livro, assim como a editora-chefe do “Pop”, Cileide Alves.
Se André for morto, não há problema: rende mais uma manchete e, quem sabe, mais um prêmio para o jornal, que poderá dizer: “Nós avisamos”. E, ao mesmo tempo, culpar as “autoridades”.

Literatura de Néstor Sánchez começa a ser republicada na Argentina e filme vai relatar sua vida. Sua prosa era elogiada por Julio Cortázar, Severo Sarduy, Antonio Di Benedetto e Emir Rodríguez Monegal

“É um escritor em estado de deriva, que só tem sentido e encontra sentido no movimento e descobrimento de uma nova paisagem, um novo instante, uma nova experiência”
A Intrínseca põe um livro notável nas livrarias: “A Busca — Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno” (830 páginas, tradução de Ana Beatriz Rodrigues), de Daniel Yergin. A obra, que ganhou o Pulitzer, é elogiada por pesos pesados como Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, e Henry Kissinger.
Sinopse da editora: “Uma das maiores autoridades mundiais sobre o assunto, Daniel Yergin demonstra que a questão energética é o motor de transformações políticas e econômicas globais da atualidade.
“‘A Busca’ é um relato arrebatador sobre um problema que afeta o mundo contemporâneo — onde encontrar a energia que tanto necessitamos.
“Neste livro, o autor aborda as formas de energia tradicionais sobre as quais nossa civilização se ergueu e as novas fontes que prometem substituí-las.
“Yergin devassa os bastidores do mercado petrolífero, analisando o aumento dos preços, a corrida pelos estoques do antigo império soviético e as fusões colossais que transformaram o cenário mundial. E encara algumas perguntas polêmicas — o petróleo vai acabar? Seria ele capaz de provocar um conflito inevitável entre a China e os Estados Unidos? Como a turbulência do Oriente Médio afetará o futuro dos estoques globais?
“O autor relata a história surpreendente e, às vezes, turbulenta da energia nuclear, do carvão, da eletricidade e do gás natural e oferece uma perspectiva singular sobre o problema das mudanças climáticas. E também nos conduz pelo ressurgimento das energias renováveis, explorando o potencial de recursos como o vento, o sol e os biocombustíveis.
Das ruas engarrafadas de Pequim ao litoral do mar Cáspio, dos conflitos no Oriente Médio até o Capitólio e o Vale do Silício, Yergin revela as decisões que estão moldando o futuro.”