Imprensa
Fla-Flu eleitoral
Xico Sá
Se no primeiro turno foi Brasileirão de pontos corridos, agora, camarada, é Copa do Brasil, mata-mata
Amigo torcedor, amigo secador, mesmo com a obviedade ululante de PT x PSDB, eleição não é Fla-Flu, eleição não é sequer Atlético x Cruzeiro, Galo x Raposa, para levar a contenda para as Minas Gerais onde nasceram os dois candidatos do segundo turno.
Eleição não é um dérbi clássico como Guarani x Ponte Preta, eleição é tão mais rico que cabe, lindamente contra o voto, meus colegas anarquistas na parada, votar simplesmente no nada, nonada, como nos sertões de Guimarães Rosa, sempre na área.
Fla-Flu, embora exista antes do infinito e da ideia de Gênesis, nego esquece em uma semana. Futebol nego esquece no 25º casco debaixo da mesa, afinal de contas, como dizia meu irmão Sócrates Brasileiro, futebol não é uma caixinha de nada, futebol é um engradado de surpresas sempre dividido com amigos de todos os clubes.
Doutor Sócrates Brasileiro que foi mais pedagógico, um Paulo Freire da bola, com a Democracia Corintiana, do que muitas escolas. Doutor Sócrates, Casagrande e Vladimir nos ensinaram mais sobre a ideia grega do "poder do povo e pelo povo" do que toda aquela imposição de Educação Moral e Cívica dos generais das trevas.
Foi-se o tempo que viver era Arena x MDB, era Brahma x Antarctica. Até porque eles hoje são a mesma coisa, a mesma fábrica, a mesma Ambev que botou dinheiro de monte até na Marina evangélica –la não queria, mas o tesoureiro, talvez neopentecostal, pegou do mesmo jeito de todo mundo, vai saber, já era.
Eleição é coisa de quatro anos, no mínimo, pois até quem diz que não quer mais compra um aninho de luxúria e sossego iluminista em Paris, como já vimos no caso do FHC, comprovado em um dos maiores furos desta Folha, reportagem do grande Fernando Rodrigues, parlamentar comprado a preço de mensalão superfaturado.
Cadê a memória, a mínima morália, como diria Adorno, jornalismo safado?
Quem dera eleição fosse apenas o Fla-Flu que dizem. Quem dera fosse apenas um cordel que poderia ser resumido na peleja do playboy danadinho contra a mulher durona. É tudo mais complexo, ainda bem, e se no primeiro turno foi Brasileirão de pontos corridos, agora, camarada, é Copa do Brasil, mata-mata.
Como sou favorável à linha dos jornais americanos que declaram voto, coisa que meu jornal aqui teimosamente não encampa, queria deixar claro da minha parte: voto Dilma, apesar do meu pendor anarquista. Perdão, Bakunin, mas meu voto é contra a imprensa burguesa.
Digo que o jornal que me emprega não encampa e justiça seja feita: nunca me proibiu de dizer nada. Nem no impresso nem no blog. "Bota pra quebrar, meu filho", lembro do velho sr. Frias nessa hora, que cabra!
Seria legal que todos os jornalistas, que têm lado sim, se declarassem. Quem se apresenta para tornar as coisas mais iluminadas?
Xico Sá nada tem de ingênuo e, por isso, sabe que as empresas privadas têm suas regras e negócios. Há pouco, para provar que a imprensa censura aqueles que apoiam a presidente Dilma Rousseff, o jornalista e escritor tentou, com certa matreirice e alguma brejeirice, publicar uma declaração de voto num artigo-crônica que escrevia na caderno de esportes da “Folha de S. Paulo”. Ciente da orientação editorial do jornal, o editor da área barrou o texto e comunicou à direção. No lugar de “punir” Xico Sá, com um possível afastamento, por descumprir normas editoriais, o editor Sérgio Dávila propôs que escrevesse um artigo, na página 3, “Tendências/Debates” — espaço nobre —, declarando seu voto na candidata do PT a presidente da República. Xico Sá, evidentemente, não quis. Porque, se aceitasse, não poderia acusar a “grande imprensa” de vendida para o tucanato. Porém, com a prova de que o jornal agiu de maneira democrática e aberta, a situação do “petista” ficou complicada. A esquerda patropi já produziu apparatchiks mais hábeis e menos trapalhões.

[caption id="attachment_18198" align="alignleft" width="400"] Tiago Henrique Gomes da Rocha: um assassino tão assustador que parece ter saído de algum romance policial dos mais exagerados l Foto: André Costa[/caption]
Os melhores romances sobre a crueldade humana — como “Crime e Castigo”, do russo Fiódor Dostoiévski, e “A Sangue Frio”, do americano Truman Capote — são, quase sempre, baseados em casos reais. Mas é a imaginação poderosa dos escritores que tendem a plasmar os crimes e a torná-los emblemáticos. Fica-se, assim, com a impressão de que os escritores exageram e até forçam a realidade. Mas o fato é que esta às vezes é mais fantástica do que a ficção.
No seu romance, Dostoiévski constrói a história de um criminoso intelectualizado, Raskólnikov, que pretende cometer o crime perfeito e lógico. Mata duas mulheres e, muito bem investigado, é preso.
Truman Capote leu no “Times”, em 1959, uma notícia sobre o assassinato brutal de uma família no Kansas e propôs escrever um texto para a revista “New Yorker”. Astucioso, percebeu de imediato que o crime continha material para uma obra mais alentada, mas que precisava ir além do jornalismo tradicional, que faz um recorte rápido da realidade e o apresenta aos leitores como se fosse um retrato preciso da realidade.
No Kansas, Capote começou uma investigação detida sobre as mortes da família Clutter (o casal Herbert e Bonnie e seus filhos Nancy e Kenyon) e a respeito dos assassinos Perry Smth e Dick Hikcock. Chegou a ficar íntimo dos criminosos, sobretudo de um deles, e em 1965, na “New Yorker”, publicou a história que, depois, foi levada ao formato livro com o título de “A Sangue Frio”. Explicar um criminoso à exaustão, suas motivações, não é perdoá-lo, e sim uma forma de entender as ações dos homens — que continuarão matando independentemente de leis flácidas ou rígidas.
Há críticas ao romance de não-ficção de Capote, sugerindo que exagerou e que imaginou mais do que devia, mas, na verdade, seu livro iluminou a história, tornando-a, trágica e humanamente, mais compreensível. Não à toa psiquiatras, psicólogos e advogados-criminalistas o estudaram e estudam detidamente.
Willian Novaes, diretor da editora Geração, sugere que um jornalista de Goiás escreva um livro sobre a história do assassino serial Tiago Henrique Gomes da Rocha, de 26 anos, que matou 22 mulheres e 17 homens (pode ser mais e pode ser menos). É possível escrever dois tipos de livros a respeito. Uma obra de oportunidade, escrita em cima da hora, relatando o básico, os crimes e o sofrimento das famílias, e uma obra mais detida, ao estilo de “A Sangue Frio”.
O momento, claro, é de consternação e a sociedade quer e exige que Tiago Henrique, que trabalhava como vigilante e tem porte de galã, seja condenado. É inescapável: não há outro caminho. A pena do assassino deve ser a mais alta possível.
Entretanto, passada a pressão inicial, talvez seja o caso de se investigar mais a fundo a história. Não se trata de apresentar muitas novidades, por exemplo novos crimes — é provável que se chegará a um número limite —, mas sim de alargar a compreensão de quem é, de fato, Tiago Henrique. A compreensão inicial, o fato de que teria sido abusado sexualmente na infância, daí sua “raiva do mundo” — matar seria uma forma de aplacá-la —, é importante, mas é possível ir além disso.
Para entender e explicar Tiago Henrique, o jornalista (ou escritor) terá de se despir de certo preconceitos e ouvi-lo várias vezes, assim como sua família, para criar um perfil para além do que afirma o criminoso (o jornalista e escritor americano Gay Talese só entendeu a fundo a máfia ítalo-americana ao se tornar amigo de um mafioso, chegando a frequentar sua casa e conviver com sua família). A “raiva do mundo”, como resultante do assédio sexual quando tinha 11 anos, explica alguma coisa, mas não tudo. O jovem criado pela mãe, sem a presença do pai, odiaria mulheres diferentes daquela mulher que o ama incondicionalmente e é seu provável modelo de perfeição feminina? Trata-se de um homem acima de tudo mau?
O rótulo “psicopata” explica muitas coisas, mas não tudo. Psicopatas têm comportamentos parecidos, mas com variantes — daí que é preciso definir o que é específico do caso de Tiago Henrique.
Aquele que quiser escrever sobre o criminoso deverá escavar mais fundo, quem sabe com a ajuda de psiquiatras, psicólogos, sociólogos, antropólogos e linguistas. Policiais e peritos devem ser consultados. O caso é de uma riqueza ímpar e sugere uma abordagem menos perfunctória.
Por que Tiago Henrique preferia atirar no peito (lembraria mãe,maternidade?) de algumas mulheres e não na cabeça? Ele apresentou uma explicação pouco esclarecedora, mas, ouvido com atenção e em circunstâncias diferentes, certamente poderá apresentar uma versão mais detida. Há detalhes, mesmo nas falas curtas publicadas na imprensa, que precisam ser examinados pelo jornalista, o que for escrever o livro, com o rigor de um legista. Entender bem o jovem criminoso possivelmente será útil para que se compreenda outros criminosos e se esclareça crimes parecidos.

O biógrafo Tom Williams diz que o filme noir deve muito à parceira de Billy Wilder e Raymond Chandler como diretor e roteirista do filme “Pacto de Sangue”. O escritor chegou a dirigir uma cena do filme “Dália Azul”. Mas reclamava da força destruidora de Hollywood
Os liberais e o alto tucanato ficaram encantados com a informação de que a revista inglesa “The Economist” prefere Aécio Neves, do PSDB, a Dilma Rousseff, do PT, porque acredita — é mais fé do que constatação, porque só o poder revela o político e o gestor — que, com o primeiro, o país voltará a crescer. É um tiro no escuro. Pode avançar ou não. A intelectualidade brasileira, notadamente a liberal, adora as diatribes da “Economist” e trata suas análises, às vezes mais opiniões, como uma espécie de bíblia laica. Nem tudo que diz a revista britânica é equivocado, mas nem tudo que publica é inteiramente sólido e inquestionável. Que “Economist” tem uma certa implicância com o Brasil, notadamente com o governo da presidente Dilma Rousseff, é fato. Pode parecer teoria conspiratória, mas a Inglaterra, pátria da revista, é forte competidora do Brasil ao posto de sexta maior potência mundial. Por enquanto, os ingleses estão na frente, mas, dada as potencialidades do Brasil, dificilmente não ficarão para trás, dentro de alguns anos. “Economist”, embora tente se apresentar como “objetiva”, reflete, aqui e ali, a disputa entre os dois países.

[caption id="attachment_18250" align="alignleft" width="300"] Amy Dunne: psicopata? Provável, mas é uma mulher quase tão encantadora quanto Gilda[/caption]
“Garota Exemplar”, ótimo filme pós-policial, está em exibição nos cinemas. É um filme de Hitchcock que não foi filmado pelo diretor britânico, e sim por David Fincher, com roteiro de Gillian Flynn, autora do romance homônimo.
A loura hitchcockiana Amy Dunne, a bela (e ótima atriz, ao menos neste filme) Rosamund Pike, é casada com Nick Dunne, o unidimensional Ben Affleck. Certa dia, desaparece e o espectador é levado a crer, pela investigação policial e pelo aparente desinteresse do marido, que tinha uma amante, que ele é o assassino.
A partir de agora, se não assistiu o filme, não leia o texto a seguir.
De repente, a enigmática Amy Dunne, que logo os especialistas, entre os quais jornalistas, que rotulam tudo com uma facilidade impressionante, chamarão de psicopata, reaparece.
Amy Dunne, glacial e durona, certamente por saber que o marido tinha outra e por outros motivos — maluquice, digamos —, queria ver o sensaborão Nick na cadeira elétrica ou cumprindo prisão perpétua.
Depois de uma fase deprê, perseguido pela imprensa e pela polícia, que chega a detê-lo, Nick intui, a partir de certa lógica, que Amy Dunne está viva. Por isso, concede uma entrevista à mídia na qual diz que está arrependido por tê-la traído e garante que a ama.
Era o ponto apropriado. Nick usou a entrevista, num canal de tevê, menos para se defender e mais para “tocar” Amy Dunne.
Ao vê-lo na televisão, com a cara “compungida” e “destruída”, pedindo desculpas, Amy Dunne mata o homem que a estava protegendo — um sujeito com cara de maluquete — e, ensanguentada, volta para casa e, sobretudo, para o marido “apaixonado”.
Nick tenta livrar-se de Amy Dunne, por entendê-la desequilibrada, mas a jovem o enreda, apresentando-se grávida e sedutora. Fica-se com a impressão de que Nick se torna prisioneiro voluntário da garota má “de” Hitchcock. O filme termina com os dois “ligados” e o mundo do espetáculo assediando-os em busca, por assim dizer, de uma novela.
Para filmes de Hollywood, o final é surpreendente — à Henry James. O mocinho e a vilã permanecem juntos, mas ninguém sabe, talvez nem a autora do livro, se são ou serão felizes.
Da tumba, contatado por poderosas forças espirituais, Hitchcock manda dizer aos leitores, inclusive aos céticos Flávio Paranhos, Cezar Santos, Ricardo Spindola, Carlos Willian, Carlos Augusto Silva, Arnaldo Bastos, Tânia Rezende e André LDC (ótimo crítico de cinema), que devem assistir o filme — com ou sem algemas.
O romance “Do Mais Longe do Esquecimento” (Rocco, 118 páginas, tradução de Maria Helena Franco Martins), de Patrick Modiano, Nobel de Literatura de 2014, mostra um escritor em pleno domínio de seu trabalho. Trata-se de um Proust minimalista, dada a reconstrução da memória, mas a forma deve muito a Raymond Queneau (“Zazie no Metrô”) e aos autores do Novo Romance.
“Do Mais Longe do Esquecimento”, tudo indica, é autobiográfico. Mas histórias reais, contadas por um escritor do nível de Patrick Modiano, são também histórias imaginárias. As elipses às vezes deixam o leitor no escuro e, quando se pensa que a história vai se tornar mais límpida, isto raramente acontece.
O texto telegráfico, às vezes parecido com o de Hemingway, mostra o que está ocorrendo, quase nada — como se fosse um sonho repetitivo —, mas sempre deixando certo mistério no ar. Mistério que nada tem de sobrenatural, pois trata-se tão-somente de mostrar que a vida é complexa e nem todas as coisas “fecham”, quer dizer, têm um belo destino, um “fim” harmônico. O Nobel de Literatura para Modiano é merecido? É. Trata-se de um grande e discreto escritor. Os romances de Patrick Modiano, pequenos, parecem novelas. Mas têm uma arquitetura muito bem articulada.
Há uma grita geral de que a polícia de Goiás demorou muito para descobrir o serial killer Tiago Henrique Gomes da Rocha. Foram 70 dias de investigação. Parece muito, e as famílias das vítimas têm o direito de reclamar, porque, se tivesse sido preso mais cedo, muitas pessoas não teriam sido assassinadas. Porém, a polícia não deve produzir um culpado ou torturar pessoas para chegar mais rapidamente, e às vezes não chega, ao criminoso efetivo.
Falta à polícia de Goiás prender os assassinos da estudante Camila Lagares e do médico Boadyr Veloso. A eficiência usada para encontrar o assassino Tiago Henrique Gomes da Rocha não foi e parece que não vai ser utilizada para encontrar aqueles que mataram Camila e Boadyr. Os inquéritos estão esquecidos em algum armário, até que as traças “decidam” destrui-los.
Na sexta-feira, 17, a “Folha de S. Paulo” publicou a reportagem “Suspeito de mortes em Goiás trata vítimas por número, afirma polícia”, escrita pela jornalista Juliana Coissi. No subtítulo, acrescenta-se: “Preso disse ter matado gays, moradores de rua e prostitutas”. A reportagem levou ao erro do editor: “Os alvos seguintes foram prostitutas e moradores de rua”. Na verdade, das 22 mulheres mortas por Tiago Henrique Gomes, de 26 anos, apenas duas eram prostitutas. A reportagem da “Folha” sugere, de maneira irresponsável e leviana, que todas eram prostitutas. Veremos se a ombudsman vai cobrar a correção.
O “Pop” cometeu uma injustiça contra a equipe de policiais que investigou e prendeu o serial killer Tiago Henrique Gomes da Rocha, de 26 anos, que pode ter matado 39 pessoas. Na verdade, ao contrário do que desinformou o jornal, o serial killer não foi preso por acaso. A Polícia Civil de Goiás fez uma investigação minuciosa, absolutamente científica, e não precisou tocar num fio de cabelo do assassino confesso.
O “Suplemento do Campo”, do “Pop”, trouxe uma foto de um pássaro-preto tomando banho num córrego de Bonfinópolis. O registro de Manoel de Sousa ficou muito bonito e mostra a sensibilidade do fotógrafo. Houve apenas um pecadinho formal no texto que explica a foto — uma crase imprópria: “... no município de Bonfinópolis, próximo à Goiânia”, Nem todos nomes de cidade permitem crase. Uma maneira fácil de não se cometer esse escorregão formal é recorrer a um macete muito simples: quando dizemos “vou a-volto da”, ocorre crase (Vou à Bahia/Volto da Bahia); vou a-volto de, não ocorre (Vou a Goiânia/Volto de Goiânia).
Mesmo com alguns textos mal escritos e uns bem escritos, o “Pop” deu um banho geral na imprensa goiana e nacional na cobertura da prisão do serial killer. As reportagens foram amplas, detalhadas, com gráficos muito bem feitos. Uma equipe experimentada costuma produzir material de mais qualidade.
Escorregada do “Pop” em título de matéria na área de economia: “Reforma não ‘sae’ antes da eleição, diz Mantega”. O verbo sair, que é da terceira conjugação (por terminar em “ir”), só muda de “i” para “e” na terceira pessoa do plural do presente do indicativo.
Parece claro que a “Folha de S. Paulo” não tentou censurar artigo do jornalista e escritor Xico Sá (foto). O colunista tentou declarar, no caderno “Esporte”, seu voto na presidente Dilma Rousseff, do PT. Porém, pelas normas de redação, o caderno esportivo não é o espaço adequado para declaração de voto político. Xico Sá, que escreve há muitos anos no jornal, por certo sabia disso, antes mesmo de escrever o artigo. Os jornalistas da “Folha” conhecem seu, digamos, “regimento interno”.
O editor-executivo da “Folha de S. Paulo”, Sérgio Dávila, diz que declarações de voto ferem a política editorial do jornal. “Os colunistas devem evitar fazer proselitismo eleitoral em seus textos. Se quiserem, podem escrever artigos em que revelam seu voto e defendem a candidatura na página A-3 da ‘Folha’. Esta opção foi dada a Xico Sá, que recusou a oferta”.
Se Xico Sá não aceitou expor sua opinião na página 3 da “Folha”, como sugeriu o editor, não se pode dizer que foi censurado. O mais provável é que o jornalista, sabendo de antemão que não poderia publicar sua opinião na coluna esportiva, tentou criar um factoide para ajudar a presidente Dilma Rousseff, reforçando a imagem de que a “grande imprensa” (expressão que deve ser mudada, com urgência, dada a reconfiguração da imprensa no pós-internet) apoia Aécio Neves para presidente.
Dada a explicação convincente de Sérgio Dávila, informando que abriu o espaço adequado (e tido como nobre), “Tendências e Debates”, a jogada — um “golpe”, diria Dilma Rousseff — para apoiar a candidatura da petista-chefe deu com os burros n’água. O Xico Sá virou Xico Só, ou uma espécie de Chicó do jornalismo patropi. Os petistas vão adorar e Xico Sá poderá comemorar com eles num boteco chique de Sampa — acompanhados pela cantoria de Eduardo Suplicy.
Xico Sá escreve bem, é quase sempre divertido, e certamente fará falta. Mas agiu como amador político. O PT e seus ideólogos são capazes de jogadas mais hábeis. Os companheiros vão admoestá-lo, certamente.