Parece claro que a “Folha de S. Paulo” não tentou censurar artigo do jornalista e escritor Xico Sá (foto). O colunista tentou declarar, no caderno “Esporte”, seu voto na presidente Dilma Rousseff, do PT. Porém, pelas normas de redação, o caderno esportivo não é o espaço adequado para declaração de voto político. Xico Sá, que escreve há muitos anos no jornal, por certo sabia disso, antes mesmo de escrever o artigo. Os jornalistas da “Folha” conhecem seu, digamos, “regimento interno”.

O editor-executivo da “Folha de S. Paulo”, Sérgio Dávila, diz que declarações de voto ferem a política editorial do jornal. “Os colunistas devem evitar fazer proselitismo eleitoral em seus textos. Se quiserem, podem escrever artigos em que revelam seu voto e defendem a candidatura na página A-3 da ‘Folha’. Esta opção foi dada a Xico Sá, que recusou a oferta”.

Se Xico Sá não aceitou expor sua opinião na página 3 da “Folha”, como sugeriu o editor, não se pode dizer que foi censurado. O mais provável é que o jornalista, sabendo de antemão que não poderia publicar sua opinião na coluna esportiva, tentou criar um factoide para ajudar a presidente Dilma Rousseff, reforçando a imagem de que a “grande imprensa” (expressão que deve ser mudada, com urgência, dada a reconfiguração da imprensa no pós-internet) apoia Aécio Neves para presidente.

Dada a explicação convincente de Sérgio Dávila, informando que abriu o espaço adequado (e tido como nobre), “Tendências e Debates”, a jogada — um “golpe”, diria Dilma Rousseff — para apoiar a candidatura da petista-chefe deu com os burros n’água. O Xico Sá virou Xico Só, ou uma espécie de Chicó do jornalismo patropi. Os petistas vão adorar e Xico Sá poderá comemorar com eles num boteco chique de Sampa — acompanhados pela cantoria de Eduardo Suplicy.

Xico Sá escreve bem, é quase sempre divertido, e certamente fará falta. Mas agiu como amador político. O PT e seus ideólogos são capazes de jogadas mais hábeis. Os companheiros vão admoestá-lo, certamente.