Amy Dunne: psicopata? Provável, mas  é uma mulher quase tão encantadora quanto Gilda
Amy Dunne: psicopata? Provável, mas é uma mulher quase tão encantadora quanto Gilda

“Garota Exemplar”, ótimo filme pós-policial, está em exibição nos cinemas. É um filme de Hitchcock que não foi filmado pelo diretor britânico, e sim por David Fincher, com roteiro de Gillian Flynn, autora do romance homônimo.

A loura hitchcockiana Amy Dunne, a bela (e ótima atriz, ao menos neste filme) Rosamund Pike, é casada com Nick Dunne, o unidimensional Ben Affleck. Certa dia, desaparece e o espectador é levado a crer, pela investigação policial e pelo aparente desinteresse do marido, que tinha uma amante, que ele é o assassino.

A partir de agora, se não assistiu o filme, não leia o texto a seguir.

De repente, a enigmática Amy Dunne, que logo os especialistas, entre os quais jornalistas, que rotulam tudo com uma facilidade impressionante, chamarão de psicopata, reaparece.

Amy Dunne, glacial e durona, certamente por saber que o marido tinha outra e por outros motivos — maluquice, digamos —, queria ver o sensaborão Nick na cadeira elétrica ou cumprindo prisão perpétua.

Depois de uma fase deprê, perseguido pela imprensa e pela polícia, que chega a detê-lo, Nick intui, a partir de certa lógica, que Amy Dunne está viva. Por isso, concede uma entrevista à mídia na qual diz que está arrependido por tê-la traído e garante que a ama.

Era o ponto apropriado. Nick usou a entrevista, num canal de tevê, menos para se defender e mais para “tocar” Amy Dunne.

Ao vê-lo na televisão, com a cara “compungida” e “destruída”, pedindo desculpas, Amy Dunne mata o homem que a estava protegendo — um sujeito com cara de maluquete — e, ensanguentada, volta para casa e, sobretudo, para o marido “apaixonado”.

Nick tenta livrar-se de Amy Dunne, por entendê-la desequilibrada, mas a jovem o enreda, apresentando-se grávida e sedutora. Fica-se com a impressão de que Nick se torna prisioneiro voluntário da garota má “de” Hitchcock. O filme termina com os dois “ligados” e o mundo do espetáculo assediando-os em busca, por assim dizer, de uma novela.

Para filmes de Hollywood, o final é surpreendente — à Henry James. O mocinho e a vilã permanecem juntos, mas ninguém sabe, talvez nem a autora do livro, se são ou serão felizes.

Da tumba, contatado por poderosas forças espirituais, Hitchcock manda dizer aos leitores, inclusive aos céticos Flávio Paranhos, Cezar Santos, Ricardo Spindola, Carlos Willian, Carlos Augusto Silva, Arnaldo Bastos, Tânia Rezende e André LDC (ótimo crítico de cinema), que devem assistir o filme — com ou sem algemas.