Romance do escritor francês Patrick Modiano revela um Proust minimalista

18 outubro 2014 às 09h28
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O romance “Do Mais Longe do Esquecimento” (Rocco, 118 páginas, tradução de Maria Helena Franco Martins), de Patrick Modiano, Nobel de Literatura de 2014, mostra um escritor em pleno domínio de seu trabalho. Trata-se de um Proust minimalista, dada a reconstrução da memória, mas a forma deve muito a Raymond Queneau (“Zazie no Metrô”) e aos autores do Novo Romance.
“Do Mais Longe do Esquecimento”, tudo indica, é autobiográfico. Mas histórias reais, contadas por um escritor do nível de Patrick Modiano, são também histórias imaginárias. As elipses às vezes deixam o leitor no escuro e, quando se pensa que a história vai se tornar mais límpida, isto raramente acontece.
O texto telegráfico, às vezes parecido com o de Hemingway, mostra o que está ocorrendo, quase nada — como se fosse um sonho repetitivo —, mas sempre deixando certo mistério no ar. Mistério que nada tem de sobrenatural, pois trata-se tão-somente de mostrar que a vida é complexa e nem todas as coisas “fecham”, quer dizer, têm um belo destino, um “fim” harmônico. O Nobel de Literatura para Modiano é merecido? É. Trata-se de um grande e discreto escritor. Os romances de Patrick Modiano, pequenos, parecem novelas. Mas têm uma arquitetura muito bem articulada.