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Socialista não mostra desânimo com coligação pequena para sua candidatura ao governo e afirma que os goianos têm nele uma nova via política

[caption id="attachment_184" align="alignleft" width="300"] Foto: Vaticano[/caption]
O papa Francisco afirmou na 31ª edição da Conferência Internacional para o Controle de Drogas (IDEC) que é contra a legalização de qualquer tipo de droga. "A droga não se vence com a droga. A droga é um mal e, com o mal, não pode haver relaxamento ou compromissos", disse na ocasião.
O evento aconteceu no Vaticano na última sexta-feira (20/6) e contou com a presença de representantes de diversos países. Na conferência, foram discutidos os diversos problemas causados pela lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas. "As legalizações das drogas leves, quanto menos discutíveis em nível legislativo, não produzem os efeitos pré-fixados. As drogas substitutivas não são uma terapia suficiente e sim um modo velado para render-se ao fenômeno", enfatizou o pontífice.
O papa argentino falou também de jovens que querem se livrar da dependência, tentando reconstruir suas vidas. "Eles devem ter estímulo e olhar para frente com confiança", disse Francisco. De acordo com o religioso, "o flagelo das drogas continua a fazer estragos em formas e dimensões impressionantes, alimentado por um mercado vergonhoso que atravessa as fronteiras nacionais e continentais."

Itens foram encontrados somente na Casa de Prisão Provisória. Aparelhos celulares ou drogas não foram vistos na Penitenciária Odenir Guimarães A primeira inspeção no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia desde que a crise no sistema prisional se tornou evidente levou da Penitenciária Odenir Guimarães - onde ficam os presos de regime fechado - 14 churrasqueiras e nove mesas de sinuca. O objetivo principal era recolher celulares, drogas, e outros objetos ilícitos dentro das unidades, entretanto, na Penitenciária Odenir Guimarães nenhum aparelho celular ou droga foi apreendido. Já na Casa de Prisão Provisória (CPP) foram encontrados 46 aparelhos celulares e 2,4 kg de maconha. [relacionadas artigos="7521"] Em entrevista ao Jornal Opção Online na manhã deste sábado (21/6), o superintendente-executivo da Secretaria da Segurança Pública (SSP-GO), coronel Edson Costa de Araújo, afirmou que viu a inspeção como uma grande avanço. "Essas mesas estavam lá há anos, o que mostra que o governo de Goiás está inovando. Uma crise sempre é ruim, mas serve para que haja melhorias." Entretanto, questionado se a permanência de churrasqueiras e mesas de sinuca eram ilegais, o coronel afirmou que não, e disse: "Olha, sinceramente, não é ilegal, mas não convém. Eu não concordo com uma mesa de sinuca na prisão. Existem outras atividades que podem ser praticadas pelos detentos." De acordo com ele, é melhor exagerar do que não realizar ações. "Podemos até estarmos exagerando agora, mas é apenas para estabelecer a ordem no sistema", explicou. O coronel Edson Costa afirmou que na próxima semana irá estabelecer uma equipe para estudar as leis a fim de regulamentar o que pode ou não ficar em todas as prisões do Estado. De acordo com ele, um recadastramento das pessoas que visitam detentos será feita. "Queremos ter certeza de que somente familiares estão entrando no complexo", disse o superintendente, que explicou que pretende deixar um prazo de 45 a 60 dias para que as pessoas se recadastrem. Edson afirmou que irá se reunir na próxima segunda-feira (23/6) com um grupo da secretaria para estabelecer um cronograma para tudo que ainda deve ser feito para a melhoria do sistema, como por exemplo a compra de equipamentos eletrônicos. "Esses equipamentos evitam o constrangimento dos presos, além de ser mais seguro, já que mesmo com a revista eles escondem em alguns lugares que não tem como o agente ver", disse o coronel.
A crise
As medidas estão ocorrendo após a veiculação no último domingo (15) de uma reportagem no programa “Fantástico”, da Rede Globo, mostrando presos goianos tendo acesso a regalias dentro da Penitenciária Odenir Guimarães (POG), em Aparecida de Goiânia. Na segunda-feira (16), Edemundo Dias, então secretário de Administração Penitenciária e de Justiça de Goiás (Sapejus), e do superintendente-executivo da pasta Antônio Carlos de Lima, foram exonerados. Ainda na segunda-feira (16) o governador Marconi Perillo (PSDB) decretou estado de emergência em relação ao sistema prisional goiano. De acordo com o tucano, os fatos ocorreram concomitantemente, mas o decreto não foi motivado pela matéria. A crise que foi colocada em evidência resultou em uma reunião na última quinta-feira (19) com diretores da Secretaria de Administração Penitenciária e Justiça (Sapejus) para discutir medidas relacionadas à organização do sistema prisional. Na ocasião o grupo estabeleceu metas que começaram a ser cumpridas ainda na quinta-feira, sendo uma delas as inspeções manuais enquanto o equipamento eletrônico não fosse adquirido.
A principal característica do Prêmio Nobel de literatura Mario Vargas Llosa é que não perde o rigor de sua narrativa nem tem medo de enveredar por experiências formais
Apontadas como favoritas, Argentina e Alemanha entram em campo hoje (21) de olho na classificação antecipada para a segunda fase da Copa. Depois de vencer, com dificuldade, o primeiro jogo contra a Bósnia, no Maracanã, a equipe de Lionel Messi vai ao Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, para jogar contra o Irã, às 13h. Os iranianos ficaram no empate contra a Nigéria, por 0 x 0, na primeira rodada. Já a tricampeã Alemanha, que goleou a seleção portuguesa na estreia por 4 x 0, volta a campo contra Gana, às 16h, no Estádio Castelão, em Fortaleza. Os ganeses buscam a recuperação e a sobrevivência no mundial depois de perderem para os Estados Unidos. Bósnia e Nigéria complementam a rodada de hoje, às 19h, na Arena Pantanal, em Cuiabá. Em último no Grupo F, os bósnios tentam a recuperação depois de quase surpreenderem a favorita Argentina na estreia. Já os nigerianos, em segundo no grupo, jogam para se manter como a segunda força entre os quatro e passar para as oitavas de final. Ontem (20), em jogo que definiu a liderança do Grupo D, a Costa Rica venceu a Itália por 1 x 0, no Recife. Já pelo Grupo E, a França venceu a Suíça por 5 x 2, em Salvador, e o Equador assumiu o segundo lugar do grupo ao derrotar Honduras por 2 x 1, de virada, em Curitiba.
Na disputa do Mundial no Brasil, diferenças de gênero, raça e etnia no futebol ganham projeção e estão ligadas ao sentido político que atribuímos aos corpos
Cristina Vianna
Especial para o Jornal Opção
Morar sozinha é um estilo de vida que me conduz sempre a uma boa padaria. Você sabe que ir a padaria é frequente em sua rotina quando passa a ser chamada por seu nome pela atendente. Esta semana vi uma cena que capturou minha atenção enquanto tomava café e comia distraidamente um pão integral. Um garoto trocava figurinhas com o rapaz do balcão, e eles analisavam o álbum de craques com muito interesse. Fiquei surpresa e pensei: isso ainda existe? Lembrei-me de um texto que li tempos atrás, em que um jornalista descrevia como descolava figurinhas dos jogadores da Copa do Mundo de 1982, comprando dezenas de chicletes. Hoje, creio que talvez haja um jeito mais fácil, como um álbum virtual. De toda forma, álbum de craques é considerado um verdadeiro clássico.
Com a Copa do Mundo em casa, milhares de brasileiros formam grupos de torcidas organizadas, não organizadas, espontâneas, combinadas, enfim, uma variedade de modos de se juntar e torcer pelo País e por nosso futebol. Temos o favoritismo de vencer, por jogar em casa. Só que não. Pensamos que o Brasil poderia ter recebido melhor os convidados que, afinal, disputam a picanha do churrasco com os donos da casa. No último jogo da seleção, contudo, o goleiro mexicano saiu na frente, jogou chili na carne e ninguém comeu nada.
Preciso dizer com franqueza. Faço parte mesmo é daquele grupo sem time certo que só torce pro Brasil na Copa do Mundo. Antes era mais fácil torcer, todos pelo Brasil e contra o adversário. Torcer e entoar uma só voz parece ser a prova de união por algo que extrapola o individualismo. Entretanto, o que mais temos ouvido são vozes dissonantes que se projetam em direções distintas e denotam uma insatisfação disseminada pela Copa gerada por denúncias de corrupção, com reações de protestos e paralisações. A Copa do Mundo em casa tornou o solo fértil para pautar questões sociais. Esse é um importante ganho do evento, que reforça o futebol como tópico político. Paradoxalmente, a gente pode torcer pela seleção, e ao mesmo tempo apoiar as reivindicações e pautas sociais, por que não? Torcer não invalida a ação política, ou pelo menos não deveria, já que a Copa do Mundo não apaga as diferenças entre nós. Interessante seria a gente refletir sobre como muitas dessas diferenças estabelecem relações de desigualdade.
[caption id="attachment_7776" align="alignleft" width="300"] O atacante italiano Mario Balotelli, em sua pose mais memorável: corpo do jogador é um corpo ideal, de uma masculinidade hegemônica | Foto: Divulgação[/caption]
Diferenças de gênero, raça e etnia no futebol ganham projeção na Copa e estão ligadas ao sentido político que atribuímos aos corpos. Vejamos o caso do futebol, que tem como peça fundamental o jogador. O corpo do jogador é domesticado para treino e jogos em campeonatos. É um corpo quase inatingível para se manter como padrão, posto ser um corpo treinado para ser atlético. Esse corpo é medido, calculado, negociado, vendido, é moeda de troca internacional. O corpo do jogador é um corpo masculino ideal, de uma masculinidade hegemônica, uma supermasculinidade, ligada ao sentido de vitória, poder e sucesso. No caso da banana de Daniel Alves, o mesmo corpo de jogador marcado pelo racismo europeu chega ao Brasil como corpo nacional, marcado pelo talento da Pátria mãe querida. Se o jogador é brasileiro, a centralidade dessa identidade nacional passa a ser a suposta garantia que tudo vai dar certo, que vamos vencer ao final.
Como as mulheres, de modo geral, se apropriam dos corpos de jogadores na Copa? Elegem pernas, coxas, bundas, braços, partes de homens e também homens inteiros. É verdade que pode haver uma “preferência nacional”, mas nesse aspecto vale mais a democracia — corpos de jogadores são desejáveis independentemente do time. Obviamente, algumas seleções costumam ser campeãs nesse quesito. Como disse, muitas mulheres, mas nem todas, se divertem com essa apreciação, e muitos homens também apreciam essa prática cultural em época de Copa. Depois de campanhas antirracismo no futebol, o combate à homofobia tem sido promovido por campanhas nacionais sobre orgulho gay e a libertação dos homens das amarras do gênero.
Pensamos nos corpos dos jogadores sob uma ótica de gênero e raça. E como pensar os corpos das mulheres durante a Copa do Mundo no Brasil? Estereótipos de gênero e etnia reforçam o lugar dos corpos das mulheres brasileiras como corpos desfrutáveis. Para a gente entender como a desigualdade de gênero é universal, basta observar como muitos estrangeiros têm se aproximado de brasileiras com conotação sexual explícita, sem que isso seja considerado como violência. Na contramão, campanhas nacionais promovem o combate ao turismo sexual e a exploração sexual de crianças e adolescentes. Sobre a apropriação dos corpos das mulheres durante a Copa, também não podemos esquecer a eleição de musas da Copa, o que inclui musas das arquibancadas, musas das equipes de reportagem, musas esposas de jogadores, e por aí vai.
Mulheres são tratadas com desvalorização e desqualificação no futebol e pelo jornalismo esportivo. Na semana passada, uma amiga psicóloga publicou um breve texto sobre Psicologia do Esporte em um conhecido blog sobre esportes. Curioso foi que as únicas mulheres que fizeram comentários elogiaram o teor do texto, alguns poucos homens fizeram elogios ao texto e ao blog, mas a maioria dos leitores — se é que esse termo se aplica nesse caso — comentou que ficou só na foto mesmo, nem leu o texto, porque com uma psicóloga assim é preciso um tratamento “extensivo”, para não sarar nunca, já ela era “gata”, “linda”, “maravilhosa”, “uma beleza”. Fico pensando na naturalidade com que encaramos essa discriminação, pois em uma situação contrária, em espaços onde mulheres dominam mais assuntos do que homens, a opinião de um homem com expertise tende a ser tratada com respeito e até deferência, e não com deboche.
Refletir sobre como os corpos dos jogadores estão inscritos no sentido de masculinidade hegemônica, como esse sentido de masculinidade exclui corpos não heterossexuais do tema futebol e ainda como as mulheres são tratadas com misoginia e machismo — com ou sem Copa — é pensar em uma perspectiva de gênero e feminista. Recentemente estive no 2º Colóquio de Estudos Feministas e de Gênero realizado na Universidade de Brasília (UnB). Participantes dialogaram sobre estudos e pesquisas feministas no cenário brasileiro nas áreas de Psicologia Clínica e Cultura, Literatura, História e Sociologia. Em um encontro como esse de trocas e interlocução, embates e confraternização, me sinto feliz de participar de uma dentre as muitas redes compostas de mulheres e homens que questionam e combatem a desigualdade de gênero e outras formas de opressão.
Acho que agora preciso de mais um café, o meu esfriou. Isto me acontece muito, me distraio quando reflito sobre coisas. De novo eu aqui na padaria, fazendo mau uso do tempo, alimentando a dispersão e a criatividade. Escrever sobre isso pode ser a saída para a “mea culpa” de tomar café tão demoradamente.
Cristina Vianna é doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília, psicoterapeuta e professora universitária.

O secretário-geral da Presidência deu o mote e os petistas, em autodefesa, podem confrontar a corrupção no governo, numa operação de alto risco

“Widmung” é uma declaração de amor invulgar, cuja letra foi extraída dos versos do poeta Friedrich Rückert. Tornou-se especialmente famosa entre os cultores da música erudita, sobretudo, por sua popularização crescente como peça fundamental do canto lírico mundial

J.C. Guimarães
Especial para o Jornal Opção
Martiniano Almeida Rossi, 61 anos: não inventarei um personagem. É este aí mesmo. Militante político, publicitário e engenheiro (gostaria nessa ordem, provavelmente), foi um dos fundadores do nosso partido. Foi também um líder de caráter, idealista e coerente.
Faleceu num sábado, 29 de agosto. Um dia antes me ligara: era o último de sua vida — como poderia saber? —, mas estava interessado numa coisa de somenos importância, diante da enormidade do passo seguinte. Queria saber se eu topava pleitear uma vaga na direção municipal. Com a voz estrangulada pela rouquidão, quase não entendi o que falava. Propora indicar o meu nome para a chapa vencedora; se dispôs a defendê-lo como postulante do grupo. Aceitei sua ilusão e respondi-lhe com firmeza, como se travássemos um despreocupado diálogo entre Esculápio e Ganimedes. Foi a última vez que nos falamos.
Antes que morresse nos encontramos algumas vezes, em sequência. A quarta vez foi há duas semanas, em sua casa, nas proximidades da Praça Cívica. O motivo, ordinário, era o partido: o partido era o elo que nos unia e nos separava. Marcus Messner, o egoísta, não tinha mais o gosto religioso das confrarias, como seu amigo de outros tempos, que se tornava, gradativamente, uma relíquia histórica. Messner achava insuportável a ideia de viver e morrer em função do grupo, como se o mundo permanecesse dividido entre comunistas e capitalistas: talvez o quiséssemos; talvez fosse insuportável perder o chão, mas a vida não liga. A história é a maior potência da história. Desenraiza-nos, atropela nossas paixões. É invencível.
Entre debiques e fumaradas, Martiniano se divertia com reuniões muito mais do que eu — como aliás se divertiu, naquele dia, no início da tarde. Na roda encontrávamos eu, ele, uma professora do primário, um casal de funcionários públicos, uma empregada doméstica e um jornaleiro gordo e bonachão, que descia de Nerópolis: Daniel, a erva daninha.
Quase nunca dava certo de nos encontrar: éramos poucos e pouca a motivação. Suspeitei, por isso, que a urgência do seu caso foi mais interessante do que o pretexto original: pela primeira vez havia um acordo mútuo, entre nós. Com muito custo nos encontrávamos durante o ano e, agora, num único mês conseguimos articular duas reuniões em sequência: foram o terceiro e o segundo encontros. Se morresse um de nós a cada mês, em breve passaríamos de uma centena. Tentamos trazer outros elementos e a conversa estendeu-se até a uma importante entidade de trabalhadores rurais. Vislumbramos uma terceira reunião com um número dobrado de participantes. Só que não houve a terceira reunião, nem houve mais planos. As adesões não se confirmaram. Fracassamos pela enésima vez, admiravelmente quixotescos.
Na noite seguinte retornei sozinho à casa de Martiniano, a seu pedido, pois ele queria avaliar o quadro. Recolhemo-nos na área dos fundos, de parelha com a cozinha. A empregada trouxe à mesa pães de queijo assados na hora e um saquinho de soja torrada. Martiniano abriu uma Bohemia e tomamos juntos.
Bem baixinho, ouvi uma valsa de Strauss vindo de seu escritório (por alguma motivo eu me lembrei das músicas incidentais, nos filmes). Não era na verdade uma valsa de Strauss, mas eu não sabia que música era aquela e acreditei que ele poderia gostar de Strauss. Tinha seus refinamentos burgueses, apesar da filiação comunista. Sua casa era enorme e ele possuía um Fritz Dobbert, jazendo solenemente num dos cômodos espaçosos. Uma litografia de Siron, quadros de Antônio Poteiro e de outros artistas de renome enfeitavam as paredes da sala de visitas.
Martiniano vivia bem, da forma que se merece, e eu não poderia censurar aquele amigo dos pobres por ter conquistado alguma dignidade. Na estante destacavam-se, ao primeiro golpe de vista, as grossas lombadas vermelhas das biografias de Che, Stálin e Mao, vidas pelas quais nunca me interessei. Enquanto degustávamos os aperitivos, olhei para ele e sugeri:
“Vamos esquecer a formação do grupo. Já há muitos partidos no partido, não acha?”
Preparei-me para ser duramente altercado, pois ele envolvera-se na causa a ponto de ainda mandar tomar no cu, como fazia todas as vezes em que se sentia contrariado. Era bom sinal que me mandasse tomar no cu, coisa que eu não tinha coragem de mandá-lo fazer. Era bem mais velho do que eu e, apesar de ser liberal e curtidor, uma espécie de respeito se me impunha e eu não conseguia tratá-lo com tanta intimidade.
Apesar da doença Martiniano teimava em viver com certa normalidade seus últimos dias, e por isso portava-se como um imaculado. Tentando enganar-se, acho, ele agia como se tudo estivesse sob controle, embora porcaria nenhuma estivesse mais sobre controle. Ainda me ligava com a frequência habitual, passava e-mails, jogava paciência em seu computador, bebia cerveja e interessava-se pelos destinos do grêmio. E continuava fumando um cigarro atrás do outro, mais ansioso do que nunca. Eram expressões de seu interesse pela vida. Como repreendê-lo pela anestésica carteira diária de Carlton?
Se tinha medo, não é o que desejava transparecer, irônico ainda, risonho ainda. Um lapso e a certeza: vai se recuperar, por que não? Com tal interesse pela vida, eu poderia jurar que daria a volta por cima e faríamos muitas outras reuniões — quem sabe ainda viraríamos o mundo de pernas pro ar, como ele sonhava! Erámos sete personagens típicos, que lembravam o germe das revoluções inacabadas. Que me lembravam “A Jangada”, de Gericault... De qualquer modo achei sinceramente que seria possível: a vida não é um amontoado de absurdos? Tudo pode mesmo acontecer, se você acredita, se você se empenha.
Para minha surpresa, ante a ideia de abortar nossos movimentos, Martiniano apenas olhou para mim e deu um sorriso de aceitação. Isso não fazia parte do script.
Tive a impressão de que o sorriso dele flutuara fora do tempo. Pensamentos terríveis minavam a atenção de Martiniano, enquanto ele sorvia a cerveja e tragava um cigarro, que o tragava. A intervalos tossia e pigarreava, massageando a garganta enfermiça. O pijama de seda deixava seu aspecto ainda mais lívido e convalescente: quase morto. Não respondeu nada durante alguns minutos, sentado, quieto. Limitou-se a contemplar o que já não cabia em pensamentos. Dado instante, fechara os olhos e roçara a testa, afogando-se para dentro de si. Eu estava vendo derreter uma estátuas de cera, como aquelas dos museus. Novo trago. Olhei de novo; novo e discreto sorriso, eloquente de doer (um amigo por perto pode servir de boia no pânico, eu recordaria nas próximas horas).
Deixar tudo de lado já não soava uma perda tão importante assim. Dali a pouco eu me despedi com a trivialidade de sempre, sem saber, ignorante, que nunca mais apertaria a sua mão. O último contato e a última palavra entre amigos podem ser de uma banalidade impressionante. Assim aconteceu entre eu e ele.
Na segunda-feira, 31, ao chegar ao trabalho, meu diretor me surpreende ao dizer que Martiniano “morreu”. Incrédulo, fui ao jornal do dia, olhei e lá estava ele, Martiniano, estampado sob a nota ruim e inequívoca, despertando-me para a realidade, mais irreal do que o sonho. Era mesmo ele: o homem de chapéu de feltro e barba destruída pela quimioterapia — um líder perdido para a doença. Mas, alegre, continuava sorrindo para nós, como se fosse imune. A alegria que é a maior recusa, o maior protesto. Vá lá o corpo — mas o que são feitos dos sentimentos de uma pessoa, quando ela morre? Caberá mesmo numa cova o coração de um homem?
Leio o conteúdo inacreditável, conheço sua agonia e descubro que tinha sido sepultado no dia anterior. Enquanto morria eu traçava planos de futuro, sem nunca imaginar como foi duro o seu final de semana. Hemorragia, parada cardíaca e óbito.
Conhecia Martiniano há três anos. Apesar da diferença de idade que nos separava, quis de mim um amigo, desses de sair para o boteco. Fiquei devendo a ele uma rodada, que para sempre teceu um vínculo de afeto entre nós. Nunca lhe perguntei se acreditava na vida após a morte (não sofria a doença da gravidade, como eu). Se ela existe, saberá agora que não resisti de fazer esse conto, com feitio de crônica, em sua homenagem. As palavras me atormentaram e tive de me livrar delas, para sobreviver sem omissão. Naquela mesma segunda-feira, à noite, eu conferi no celular as chamadas recebidas e lá estava, pela última vez, o seu nome: “Martiniano 28/08/09 15:22”.
Fiquei olhando seu nome, o dia e a hora cravada. Deti-me por um momento, perplexo com esses dados, aparentemente insignificantes. Eu estava agora diante do último criptograma, diante já do mistério insondável e surpreendente que nos assusta feito crianças.
J.C. Guimarães é escritor e crítico literário.

[caption id="attachment_7677" align="aligncenter" width="610"] Adolescentes se mostram menos propensos a votar, reflexo direto do baixo nível da política na campanha pré-eleitoral[/caption]
Quanto mais os caciques políticos trocam acusações entre si, maior o desencanto dos eleitores. A constatação é autorizada pela mais recente pesquisa do Ibope sobre a sucessão, que manteve estáveis as cotações dos dois principais concorrentes, presidente Dilma Rousseff e senador Aécio Neves (PSDB), mas inchou a rejeição a ambos e ao socialista Eduardo Campos. A pesquisa foi às ruas no dia seguinte às hostilidades contra Dilma, há dez dias, na abertura da Copa do Mundo, em São Paulo. Assim o Ibope entrou em campo no dia 13, sábado, e ficou ali até a segunda-feira, 15. Nesse espaço de três dias, flagrou a reação inicial da massa de eleitores no momento mais explosivo do choque entre o PT e a oposição.
A rejeição dos eleitores atingiu Dilma, proporcionalmente, menos do que a Aécio e Campos. Era de 38% na última pesquisa, divulgada em 10 de junho, dois dias antes do início da Copa. Agora chegou a 43% — subiu menos, mas é a taxa mais alta entre todos. A rejeição a Aécio era de 18% e quase dobrou, com 32. Com Campos, mais do que dobrou ao passar de 13% para 33.
A discrepância de Campos em relação aos outros dois confirma a tendência à polarização da disputa entre o PT de Dilma e o PSDB de Aécio, seguindo o costume que Lula se impôs de procurar, nas campanhas, chocar-se preferencialmente com tucanos, para os quais perdeu duas eleições presidenciais, mas depois venceu outras três, incluindo-se a de Dilma.
Outra diferença interessante em relação a Campos está no seguinte. Sendo o mais desconhecido entre os três candidatos, ele era o menos rejeitado na pesquisa do Ibope de 10 de junho, com aqueles 13%. Mas, por ser o mais desconhecido, pagou com a maior elevação proporcional de rejeição num espaço de nove dias, ao conquistar os novos 33%.
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Entre os três candidatos, Eduardo Campos e Aécio Neves têm menos rejeição[/caption]
Há uma coerência num movimento tão brusco em pouco mais de uma semana. Campos paga o pato pela indução do eleitor, conscientemente ou não, à polarização entre os adversários Dilma e Aécio. Trata-se de um fenômeno que se reflete na mudança na cotação de votos a favor de Campos, que tinha 13% das preferências e agora foi a 10.
Dilma se manteve estável ao subir um ponto na preferência do eleitor: passou de 38% a 39. A mesma coisa com Aécio ao descer um degrau, de 22% para 21. A oscilação deles está dentro da margem de erro da pesquisa, 2%. Também estão os outros tipos de voto. Os indecisos eram 7% e foram a 8. Os brancos continuam com 13%.
Portanto o reflexo negativo da discussão está mesmo no incremento da rejeição aos candidatos nos quais o eleitor, no calor da batalha, afirmou que não votaria de jeito nenhum. Ao mesmo tempo, a estabilidade relativa do voto a favor de Dilma e Aécio indica posições que não se perturbaram entre uma semana e outra, apesar de toda a agitação entre eleitores e políticos.
A propósito do desencanto com a política, a semana revelou outra tendência a se projetar no futuro. É o desinteresse de adolescentes em se alistarem como eleitores. Um ano depois dos protestos de junho, somente um quarto dos jovens com 16 e 17 anos se inscreveu para votar, exatos 25%.
As estatísticas expostas pelas repórteres Paula Ferreira e Thalita Pessoa demonstram que o número dos adolescentes que renunciam ao voto facultativo está em alta desde as eleições de 2006, ano marcado pela evolução da apuração do mensalão, revelado em 2005. A partir daí a mídia apresentou questionamentos sucessivos sobre corrupção no governo.
Em 2006, quando Lula se reelegeu, os eleitores entre e 16 e 17 anos equivalia a 39% da população com essa idade. Nas eleições de 2010, a proporção caiu para 32%. Agora, chegam aos 25%. Numa manifestação paralela, os números demonstram a falta de lideranças políticas ou partidos capazes de tocar a adolescência no sentido de levá-la à participação nas urnas.
A TV Anhanguera conta com bons profissionais, seu jornalismo está mais agressivo, com o objetivo de superar a concorrência — que tem mais pegada, e com equipes menores, porém mais azeitadas —, mas continua pouco motivado. No afã de se “aproximar” da TV Serra Dourada — que supera o jornalismo da rival com frequência, segundo dados do Ibope — e da TV Record, a Anhanguera perdeu identidade com a Globo. Às vezes, em termos de seriedade jornalística, segue-se a Globo. Porém, em seguida, faz-se opção por um jornalismo modorrento, nada criativo, antigão — distanciando-se da rede. A Anhanguera, que permanece séria e tem uma equipe competente, precisa, com certa urgência, de um choque de criatividade e motivação (nada de otimismo em gotas, e sim no sentido de se fazer jornalismo com prazer e, portanto, com alegria). Jornalismo burocrático espanta telespectadores, que hoje têm dezenas, até centenas de opções, tanto em termos de televisão quanto de internet. A “fuga” para a internet — nem se fala dos canais por assinatura (cresce o número de pessoas que falam de séries e diminui o número de pessoas que falam de novelas) — parece que ainda não foi devidamente dimensionada pelos dirigentes do Grupo Jaime Câmara. Outro problema ao qual a Anhanguera precisa prestar mais atenção é a respeito da qualidade e da atualidade das informações de seu noticiário. Dada a rapidez do jornalismo que se faz na internet, e até nas emissoras de rádio e nos canais de jornalismo por assinatura, quando a Anhanguera noticia os fatos, por ser engessada pela grade de programação da Globo, eles estão “velhos”, pois foram comentados à exaustão em vários sites e portais o dia todo. A Anhanguera pode dar as mesmas informações, é claro, mas precisa nuançá-las. Porque, no momento, está chegando às casas dos telespectadores com um ar, digamos, déjà vu.

A nova legislação dizia bem assim: que cada família se virasse e tomasse tento dos seus doentes mentais, ao invés de atirá-los à clausura, ao abandono, ao esquecimento de um hospício cujos corredores tinham um cheiro de fezes mesclado ao eucalipto dos desinfetantes”
[caption id="attachment_7680" align="alignright" width="269"] “Teimosas Lembranças” contém histórias incríveis, como a do tenente brasileiro que desafiou o exército americano, na Itália, para liberar um pracinha rebelde[/caption]
Um belo livro acaba de ser publicado, mas não terá lançamento e possivelmente não será vendido nas livrarias — por desinteresse do autor, que não se considera escritor, quando, na verdade, o é e, mais, é um estilista da Língua Portuguesa. “Teimosas Lembranças”, do ex-governador de Goiás Irapuan Costa Junior, contém aquilo que se pode chamar de contos (ou crônicas) da vida real, ou, à maneira de Truman Capote, é possível indicar que são contos de não-ficção.
Usando a imaginação de maneira poderosa, Irapuan recria histórias reais, sem distorcê-las, mas tornando-as muito mais interessantes do que, possivelmente, foram na vida real. Para não ferir suscetibilidades, às vezes muda o nome das pessoas. Há uma delicadeza ímpar ao se contar histórias espinhosas. Pode-se dizer que há algo de insípido na vida cotidiana, isto para um observador desatento, o que não é o caso.
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Irapuan Costa Junior: o ex-governador de Goiás é um escritor nato, com imaginação poderosa[/caption]
Leitor frequente de livros em língua estrangeira (seu forte é o francês) — como um recente sobre Fidel Castro, o ditador cubano que adora mordomias —, Irapuan comprou num sebo o romance “The Fowler”, da inglesa Beatrice Harraden. Ao chegar em casa, percebeu que havia um dedicatória breve, de um homem para uma mulher. A partir daí, Irapuan, mostrando-se escritor consumado — senhor da forma e dono de uma imaginação fumegante —, recria a história de Neda e de M. Aranha. “Reflexões sobre uma pequena dedicatória” é o conto mais imaginativo e bem escrito do livro. É literatura pura. Puríssima.
“Chico Paraíba” merece figurar nos livros de história da Segunda Guerra Mundial. O pracinha Chico Paraíba foi preso pelos americanos, na Itália. O tenente Ithamar, oficial corajoso, enfrentou a arrogância dos militares de Roosevelt e Eisenhower, e libertou-o. A história é contada com graça e sutileza.
A história da cachorrinha Fumaça lembra, na maneira de contá-la, um conto do russo Anton Tchekhov.
A odisseia lancinante de Emília e André parece saída de um conto (ou romance; “Dom Casmurro”, por exemplo) de Machado de Assis, tal a perspicácia do narrador, que vai nos enredando, conduzindo-nos para um rumo e, no fim, a história toma outro caminho — doloroso, trágico.
“O Vulto da Outra” é um conto da vida real que, nas mãos de Hitchcock, daria um filme de suspense (ou, talvez, dramático), como “Um Corpo Que Cai”. Ou, quem sabe, “Rebeca — A Mulher Inesquecível”. O engenheiro Alexandre apaixona-se por Marta, mas ela morre. Deprimido, passa a beber. Tempos depois, casa-se de novo, com uma nova Marta, ao menos na aparência. Entretanto, se era semelhante, dado ao estilo sugerido (ou imposto) por Alexandre, Irene não era Marta — e tudo acabou mal.
Poderia dizer ao leitor: “Nasce um escritor”. Mas seria impreciso. Irapuan é escritor há muito tempo — o que provam seus textos publicados no Jornal Opção. Só não havia publicado um livro, por falta de vaidade.
Fica-se na torcida para que nos dê outros livros. Há algum tempo que tento convencê-lo a escrever um livro sobre Jack London. O escritor norte-americano não é nenhum James Joyce ou William Faulkner. Mas é daqueles autores que quando se pega um de seus livros e se lê as duas primeiras páginas não se para mais. Trata-se de um notável contador de histórias, que puxa o leitor para uma espécie de imersão profunda, sugerindo que também está participando delas. Irapuan é um jacklondófilo. Sabe tudo sobre a obra e sobre a vida do autor de “Caninos Brancos”, “O Chamado Selvagem” e “O Lobo do Mar” (um belo romance filosófico).
A obra é apresentada pelos escritores Hélio Moreira (autor de um ótimo romance sobre Couto Magalhães) e Aidenor Aires. As ilustrações são de Amaury Menezes.

Com saída do ministro Joaquim Barbosa do Supremo, a expectativa é de que o ministro Roberto Barroso vá dar vida mais fácil aos mensaleiros condenados
Depois de distorcer as palavras de Ana Paula, filha de Iris Rezende — a jovem teria atacado Júnior Friboi quando as gravações indicam que estava criticando o governo tucano —, o “Pop” comete mais um erro. No seu lançamento como vice de Iris, o deputado federal Armando Vergílio não disse que o governador Marconi Perillo promete e não entrega. Basta checar as gravações para verificar que não há nenhuma fala do presidente do Solidariedade a respeito. O “Pop” tem como apresentar gravações para se defender? Não tem, garante Armando Vergílio. Na verdade, a fala é de Silvio Souza, aliado de Armando Vergílio. A suposta fala do deputado foi a deixa para o vice do governador Marconi Perillo, José Eliton, ser acionado rapidamente por Jarbas Rodrigues Jr., da coluna “Giro”, e fazer a defesa do governo. Como a editora-chefe Cileide Alves sabe, tudo está muito ensaiadinho para ser jornalismo. Mas não sabe o que está realmente acontecendo debaixo de seus olhos de Capitu. As competentes editoras Cileide Alves e Silvana Bittencourt precisam ficar mais atentas àquilo que as empresas às vezes chamam de controle de qualidade. A editoria política tem falhado com frequência e o jornal raramente publica correções.